O cineasta Martin Scorsese deu um depoimento sobre o filme Mãe! (Darren Aronofsky) e sua repercussão em uma coluna do Hollywood Reporter, confira o texto abaixo:
*contém spoilers
"Antes de ter visto Mãe!, eu fiquei perturbado por quantas reações radicais vieram na direção dele. Muita gente queria definir o filme, colocar numa caixinha, procurar sentido nele e condená-lo. E muitos pareceram muito felizes de ver que o filme tinha recebido uma nota F do público no Cinemascore. Isso virou notícia: Mother "apanhou" do Cinemascore, uma distinção horrível que ele divide com filmes dirigidos por Robert Altman, Jane Campion, William Friedkin e Steven Soderbergh.
Depois de assistir Mãe, eu fiquei ainda mais preocupado com essa pressa para julgar o filme. E é por isso que eu queria compartilhar os meus pensamentos aqui. As pessoas saíram querendo sangue, simplesmente porque o filme não podia ser facilmente definido ou resumido em uma frase de duas palavras. É um filme de terror, ou uma comédia de humor negro, ou uma alegoria bíblica, ou uma fábula sobre decadência moral e destruição ambiental? Talvez seja um pouquinho de cada coisa. Mas certamente não é só uma delas.
É um filme que precisa ser explicado? E quanto à EXPERIÊNCIA de assistir Mãe!? É um filme tão lindamente filmado e atuado, com a câmera subjetiva e os ângulos de ponto de vista reversos... O desenho de som, que leva o espectador aos cantos da casa e te conduz mais e mais profundamente no pesadelo que é o desenvolvimento da história, que se torna cada vez mais desanimadora à medida que o filme passa. O horror, a comédia de humor negro, os elementos bíblicos, a fábula, estão todas ali, mas eles são elementos de uma experiência maior, que engole os personagens e o espectador ao longo dela. Só um cineasta verdadeiro e apaixonado poderia fazer esse filme, que eu ainda estou experienciando semanas depois de tê-lo visto.
Bons filmes de cineastas de verdade não foram feitos pra serem decodificados, consumidos rapidamente ou compreendidos instantaneamente. Alguns não são nem feitos para ser gostados imediatamente. Eles são feitos, porque a pessoa atrás da câmera sentiu a necessidade de fazê-lo.
E qualquer um familiar com a história do cinema sabe que uma lista muito longa de filmes - O mágico de Oz, A Felicidade Não se Compra, Um Corpo Que Cai - foram rejeitados na estreia e hoje viraram clássicos. Notas da crítica no Rotten Tomatoes e do público em Cinemascores vão desaparecer em breve. Talvez elas sejam substituidas por algo ainda mais cruel.
Ou talvez elas vão desaparecer e se dissolver numa nova forma de enxergar os filmes. Enquanto isso, filmes feitos tão passionalmente como Mãe! vão continuar a crescer em nossas mentes."
Texto traduzido por Dias de CinefiliaImagem: Divulgação