The Great Buddha+ (2017)

Título original: Da fo pu la si

País: Taiwan

Duração: 1 h e 42 min

Gênero: Drama

Elenco Principal:

Diretor: Huang Hsin-yao

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt7010412/


Um filme repleto de simbolismos que faz críticas à sociedade e à classe política de Taiwan, revelando graves problemas sociais e, através de um humor negro inteligente e de excelente qualidade, constrói uma trama de forma bastante artística, baseada em uma série de temáticas e variáveis, que, à princípio não se relacionam, mas que fecham um ciclo narrativo excepcional, finalizado de forma magistral. Ahh! Esse + que está explícito no título é uma brincadeira com o Iphone 6. Como o filme foi inicialmente planejado para ser um curta-metragem e se tornou um longa, surgiu a idia de acrescentar o símbolo para fazer uma analogia ao Iphone 6+. Apenas isso! Sem significado na narrativa.

A sinopse retirada da internet é a seguinte: “Picles é vigia noturno numa fábrica de estátuas de bronze. Seu colega, Umbigo, coleta material reciclável durante o dia. O maior prazer na vida de Picles é folhear durante as madrugadas as revistas pornô coletadas por Umbigo. Lanches tarde da noite e assistir televisão são parte integral de suas vidas monótonas. A história envolve deuses, desejo sexual de homens de meia-idade e conversa entre fantasmas e humanos. Talvez a audiência a ache ridícula, mas a própria vida não é uma farsa?”

Essa suposta relação entre a vida e a farsa já denota a magnitude da subjetividade implícita na obra, evidenciada, principalmente, pela atuação dos dois protagonistas pobres: Picles e Umbigo – nomes um tanto quanto sarcásticos. A eterna luta de classes e a desigualdade social podem ser consideradas como os principais pontos de interesse, entretanto, o filme foge do convencional em relação ao tratamento concedido a essas temáticas já tão exploradas pelo mundo do cinema. O diretor promove uma série de situações no mínimo jocosas, que relacionam o topo e a base da pirâmide social, e provocam uma série de frases de impacto – deveras engraçadas e dotadas de um quê de realidade – ditas pelos miseráveis: “o nascimento é 80% do destino”, “olha só a vida dos ricos, é tão colorida” – como o filme foi filmado em preto e branco, as cores são sabiamente utilizadas em determinadas cenas  -, “quando eu for rico, vou escolher um nome em inglês para mim”, “para alguém ficar rico, é preciso 30% de mentiras e 70% de passado”, “se você é pobre, como pode manter um gato”, etc. Nota-se prontamente, apenas por esses exemplos, o grau de esperança quanto à vida dos protagonistas. Provavelmente, a vida é mesmo uma farsa para a maioria das pessoas, principalmente aquelas residentes na base da pirâmide social alhures referenciada.

Nem só de queixumes vivem os protagonistas renegados pela sociedade. São homens com seus desejos individuais, tanto materiais quanto sexuais e, a partir dessa premissa, o filme monta a sua trama, através do extravazamento da curiosidade, regada a um certo voyeurismo, que é intrínseca do ser humano. Umbigo e Picles passam a percorrer suas madrugadas assistindo aos vídeos da câmera de segurança da Mercedes de Kevin – proprietário da loja de estátuas de bronze na qual Picles trabalha como vigilante noturno. Kevin é um homem bem sucedido, amigo de políticos, e ávido por mulheres. Nessas audiências sexuais noturnas, hormônios efervescem ao passo que a intimidade e alguns segredos nefastos do “big boss” são revelados – até a sua peruca. Nesse contexto, entra em cena um viés exotérico, divino, que julgo desnecessário, mas que desmascara mais uma nuance da vida dos pobres: o apego às causas espirituais como uma maneira de buscar ajuda para a resolução de seus problemas.

O final é um tanto quanto fantasmagórico, sobrenatural ou algo parecido, mas é impactante e surpreendente ao extremo. A constatação é que a quebra de braço entre ricos e pobres normalmente acaba da mesma maneira, pois a corda arrebenta do lado mais fraco, e só resta uma grande dose de inveja e a constatação que a vida é mesmo uma farsa, entretanto essa farsa às vezes pode passear entre as classes sociais. Um dia a casa pode cair! Só não são dadas respostas límpidas ao final, mas quem disse que tudo em um filme deve ser evidenciado. Vamos pensar que é melhor, afinal já recebemos muita coisa mastigada e de fácil digestão em nossas vidas contemporâneas. “Morda” essa narrativa e a digira aos poucos, porque ela tem muita a oferecer. É um filme brilhante! Sexo “no rádio” é a nova moda!

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Obs.: A trilha sonora também é brilhante!

Adriano Zumba

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