Missão Mangal (2019)

Título original: Mission Mangal

País: Índia

Duração: 2 h e 10 min

Gêneros: Drama, história

Elenco Principal: Akshay Kumar, Vidya Balan, Sonakshi Sinha, Taapsee Pannu

Diretor: Jagan Shakti

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt9248972/


Opinião: “Shallow!


Desde sempre, filmes que lidam com a astronomia são bastante atrativos pelo magnetismo que o tema possui, por lidar com um espaço infinito e deveras desconhecido. O desconhecido é sempre aliciante! Nesse mesmo pensamento, a busca por vida fora da Terra, por exemplo, é uma obsessão para muitos em todo o mundo e o desbravamento do Cosmos, aliado ao desenvolvimento de tecnologia de ponta para esse fim, consome uma infinidade de recursos financeiro dos países que adentram nessa seara. “Missão Mangal” dramatiza uma passagem importante e surpreendente da corrida espacial internacional, a qual foi protagonizada por um país que se pode considerar incipiente nesse contexto, a Índia, com um órgão governamental que trata do assunto possuindo pouco mais de meio século e vida. É uma excelente oportunidade para o mundo conhecer através do cinema a primeira grande “peripécia” espacial do país dos elefantes, a qual, a história mostrou que ao passo que atraiu uma gama de elogios, aplausos e reconhecimento, também obteve muita repulsa, principalmente da população local, por o país possuir sérios problemas sociais que poderiam ser amenizados ou atenuados com o dinheiro gasto nessa missão, entretanto, essa conjuntura está fora dos assuntos abordados no filme em tela.

Eis a sinopse: “Os cientistas Rakesh Dhawan e Tara Shinde, juntamente com uma equipe de apoio brilhante, colocaram com sucesso e com um orçamento reduzido um satélite na órbita de Marte, em sua primeira tentativa – um feito astronômico nunca antes realizado por outra nação. Um filme inspirador, baseado em fatos reais, que mostra como os sonhos se tornam realidade com coragem e determinação.”

O feito astronômico ora citado – a matéria prima para a produção do filme – foi de primeiríssima qualidade e indubitavelmente fantástica, no entanto, como todos sabemos, há diversas formas de se contar uma história: com diversos enfoques, com diversas estrategias narrativas, etc. Talvez, por a ciência ser uma área do conhecimento complexa, e, portanto, às vezes, dependendo do tema, faz-se necessário “suavizar”, explicar, desmistificar ou facilitar seu conteúdo em nome da inteligibilidade, escolheu-se um caminho narrativo o qual proporciona uma concorrência entre o fio condutor da história, o fato histórico, e o desenvolvimento do microcosmo particular de cada um dos 6 cientistas envolvidos no projeto, ou seja, 6 arcos dramáticos são inseridos no contexto. Essa abordagem inevitavelmente enfraquece o argumento principal do filme, porém, aproxima-o do grande público, por mostrar dramas humanos mais próximos da realidade, e retira a obrigatoriedade da exibição de detalhes tecnológicos/científicos inacessíveis à compreensão. Contudo, essa humanização faz com que o foco na Missão seja perdido com uma frequência que fere a razoabilidade, comprometendo sobremaneira a experiência cinematográfica. Não seria necessário produzir um filme semi-documental, mas, também, não seria necessário perder tanto tempo com tantos dramas pessoais. Ao fim, percebe-se que os dois lados trabalhados pelo roteiro tiveram desenvolvimentos insuficientes. Deve-se salientar que o foco nas pessoas é característica intrínseca do cinema indiano. A mesma história produzida por outra indústria cinematográfica teria certamente uma abordagem diferente.

Um dos grandes atrativos de um filme que trata do espaço são os efeitos especiais. Confesso que fiquei mal acostumado com a excelência de Kubrick em “2001: Uma odisseia no espaço” (1968) e não consigo aceitar nada muito distante visualmente daquelas imagens fantásticas exibidas pelo mestre e também daquelas exibidas pela indústria cinematográfica americana em geral em outros filmes espaciais mais conhecidos. A experiência visual proporcionada por “Missão Mangal” é mediana, mas competente e aceitável. Nessa seara, a indústria indiana realmente ainda persegue um melhor desempenho, mas o nível atual não compromete suas produções. É bom ressaltar que as cenas espaciais são escassas, justamente por o filme possuir outros focos, como já salientado. Nota-se uma similaridade maior com o filme americano “Estrelas além do tempo” (2016) do que com a obra-prima de Kubrick. Em relação ao elenco, o filme conta com dois astros de Bollywood, Akshay Kumar e Vidya Balan, e isso abrilhanta bastante sua exibição pela autoridade que eles transmitem em suas interpretações. O elenco de apoio, diga-se, os demais cientistas, também cumprem bem seus papeis determinados.

Em resumo, “Missão Mangal” dramatiza uma história interessante, possui um elenco que entrega um trabalho digno e pleno, mas é formatado da maneira indiana, isto é, concedendo calor humano à narrativa. Isso pode ser interessante para alguns. Para mim, restou uma experiência satisfatória, mas sintética. Um projeto espacial de tamanha magnitude apresenta inúmeros desafios e detalhar as suas partes analiticamente teria sido mais oportuno, mas, de qualquer forma, a grande ênfase dada à criatividade na consecução desses subprojetos já concede à obra um caráter responsável e necessário, pela importância dessa qualidade nas mais diversas passagens da vida. Apesar da superficialidade no desenvolvimento de suas temáticas, vale a recomendação.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


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