<
>

Corinthians relembra festas em estádios rivais, invasões da torcida e todas as suas casas em novo filme

Durante décadas e mais décadas, o Corinthians batalhou para ter um estádio capaz de comportar a própria torcida. Ainda que tivesse o Parque São Jorge e alugasse o Pacaembu, mesmo empilhando taças nas casas dos adversários, era alvo de provocações, chamado de "time sem estádio". Não foram poucos os projetos, maquetes ou promessas para a torcida até que a Arena, em Itaquera, que completou no último 18 de maio cinco anos, fosse finalmente erguida.

O retrato dessa história, uma labuta que atravessou os 103 anos de história do clube (de 1910 até 2014), chega a partir do dia 6 de junho às telas dos cinemas com o título "A História de Um Sonho - Todas as Casas do Timão".

São mais de 40 entrevistados, entre ídolos (como Ronaldo, Zé Elias, Basílio, Marcelinho Carioca, Rivellino), jornalistas (tais como Vitor Guedes), artistas (Rappin Hood), dirigentes (Andres Sanchez e Mário Gobbi) e torcedores.

Eles relembram as aventuras atrás do time no Pacaembu e também no Morumbi, casa do São Paulo e onde o Corinthians conquistou três dos sete títulos do Campeonato Brasileiro. Mas também estão presentes partidas memoráveis dentro do Parque São Jorge (estádio que comporta menos de 20 mil pessoas) e campos até mais antigos.

As invasões da torcida corintiana também são registradas. A mais conhecida é a do Rio Janeiro, em 1976, mas ocorreram outras. Uma delas na Vila Belmiro. Outra no Japão, em 2012.

A direção tem uma estreia, com a jornalista Marcela Coelho, que foi produtora de longas como "1976, O Ano da Invasão Corinthiana", "Libertados", "Preto no Branco, o Clássico do Século", "Meninos da Vila", "Palmeiras, o Campeão do Século", "12 de Junho de 1993, O dia da Paixão Palmeirense" e o documentário "Garrincha do Timão".

"É um filme que retrata também a paixão do corintiano pelo time independentemente do local onde joga. Aliás, não ter uma casa é algo até que divide a opinião deles. Muitos entendia que o clube tinha várias casas. Outros queriam acabar com a agonia de serem alvo de provocação", disse Marcela Coelho, que assina o filme com Ricardo Aidar.

"Não importava o local, o torcedor corintiano sempre lotou os estádios para acompanhar o time", completou.

O filme estreará dia 30 de maio em 20 cinemas espalhados por 19 cidades do Brasil, tais como São Paulo, Santos, Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Goiânia, Londrina, Natal, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Salvador, São José dos Campos, Rio de Janeiro e Vitória.

Na capital paulista, as exibições farão parte do "Projeta às 7", parceria da Elo Company com a Cinemark, com exibições durante a semana às 19h (de Brasília) no Eldorado e no Shopping Santa Cruz, em São Paulo.

Veja a entrevista com a diretora do filme

O que um filme que fala sobre estádios apresenta ao público?
Marcela Coelho: O filme trata a contradição existente entre os próprios torcedores corintianos sobre a falta da casa própria do Corinthians ao longo dos anos. Alguns entendem que o clube tinha estádio e não havia motivo para se sentir incomodado, enquanto outros sentiam falta de uma casa do tamanho do clube e reclamavam das piadas dos rivais. A gente tem de lembrar que o Corinthians começou na várzea, teve um campo nessa época [Lenheiro]. Depois construiu o estádio na Ponte Grande, em um terreno que era alugado, até migrar para o Parque São Jorge. O clube tinha sim um estádio próprio, mas, como a Fazendinha não comportava a torcida, havia o sentimento de falta da casa própria.

O filme vai abordar a emoção do torcedor nas casas corintianas?
Marcela Coelho: A narrativa trata como o corintiano se sente nos estádios onde o time jogou e como a torcida faz para o time se sentir à vontade, acolhido, em outros estádios. Começamos a narrativa na Arena Corinthians, que é a casa tão esperada, mas depois dá um salto de Itaquera para o terrão, voltando no tempo para contar a história dos outros estádios. O filme explora a sensação de estar dentro campo. É uma declaração de amor do torcedor ao time e do time ao torcedor. Muitos corintianos falam que se o clube jogar em Marte eles vão dar um jeito de ir para lá assistir.

Os campos adversários têm espaço dentro do filme, então?
Marcela Coelho: Estão presentes o Parque Antarctica, onde o Corinthians fez muitos jogos no início do século passado, e outros porque o Corinthians e o corintiano foram fazendo de outros campos a sua própria casa. Vide o Maracanã em 1976 e em 2000. No Morumbi, muitos torcedores brincam chamando o estádio de salão de festas. Também narramos a primeira invasão da torcida, que foi na Vila Belmiro. E está também o Pacaembu, palco de muitos jogos e a casa onde o Corinthians mais se sentiu identificado até a construção da Arena. Nos últimos anos houve uma sequência de títulos importantes lá, como o Brasileiro, a Libertadores...

O Pacaembu ainda é para muitos corintianos um solo sagrado...
Marcela Coelho: Essa sensação é retratada no filme, inclusive com a filmagem da despedida do Pacaembu, em um jogo contra o Flamengo, em 2014. Depois saltamos para a Arena e para o jogo de estreia, que foi Corinthians contra Corinthians. O gol da inauguração é do Rivellino e é algo até curioso. A diretoria desejava ver um gol dele, até como uma homenagem e um agradecimento. O Rivellino é talvez o jogador mais importante revelado pelo clube, mas não conseguiu ter uma conquista importante. E nesse jogo de festa o time do Riva comete um pênalti. Os jogadores então fazem ele trocar de camisa para que ele faça a cobrança e o gol. Ele mesmo fica bem emocionado.

Imagino que um filme sobre estádios do Corinthians deve ter também ter os inúmeros projetos que fracassaram, não? Estou lembrando das maquetes da era Vicente Matheus em diante...
Marcela Coelho:
As maquetes estão no filme... O Vicente Matheus é uma figura muito querida pelos corintianos. Usamos imagens das maquetes, depoimentos de torcedores. A ideia foi mostrar os planos que, se hoje parecem loucura, naquele momento da história pareciam possíveis de serem alcançados, como um estádio para mais de cem mil pessoas bancado pelos torcedores e construído no sistema de multirão. Esse era o Corintião, ideia do Matheus e que nunca saiu do papel. Assim como ele, estão lá outros projetos que acabaram fracassando na história.

Qual o recado que o filme vai passar para quem assistir?
Marcela Coelho: Não sei se é um recado, mas foi dada muita ênfase para o comportamento do torcedor. Fosse onde fosse, a torcida do Corinthians lotava os campos para ver o time jogar e o time sempre se sentiu em casa.