It, uma Obra-Prima do Medo (1990)

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It - Uma Obra-Prima do Medo
Original:It
Ano:1990•País:EUA
Direção:Tommy Lee Wallace
Roteiro:Lawrence D. Cohen, Tommy Lee Wallace
Produção:Allen S. Epstein, Jim Green, Mark Bacino, Matthew O'Connor
Elenco:Anette O'Toole, Brandon Crane, Dennis Christopher, Emily Perkins, Harry Anderson, John Ritter, Johnathan Bradis, Richard Masur, Richard Thomas, Seth Green, Tim Curry, Tim Reid

Às vezes Stephen King pode ser acusado de prolixo, mas alguns de seus livros mais longos estão entre os seus melhores. It (lançado no Brasil como A Coisa) é um deles, com personagens ricos e fascinantes, e vários momentos genuinamente assustadores. Além, é claro, de apresentar um desafio para ser adaptado.

Eu li It aos 15 anos, e na época sofria de coulrofobia. Para quem não sabe, este nome denomina a fobia de palhaços. Poder parecer bobo (e até é), mas é uma condição que atinge muita gente, que fica simplesmente apavorada só de ver um destes seres de nariz vermelho e sapatos grandes. Pois foi justamente o livro que me curou: depois de confrontar o demoníaco palhaço Pennywise nas suas páginas, eu nunca mais tive problemas relacionados a coulrofobia.

Mas acabo divagando. Retomando: como 99% da obra de Stephen King, é claro que It não iria escapar de uma adaptação para a tela. Só que desta vez, para a telinha. Produzido para a TV em 1990, e lançado posteriormente em vídeo, a minissérie It: Uma Obra-Prima do Medo tenta (e na maior parte do tempo consegue) trazer para o público a essência do livro. Mas é claro que mesmo com suas três horas de duração, era impossível fazer um filme totalmente fiel ao calhamaço de 700 páginas.

It se passa na cidade fictícia de Derry no Maine. Logo na cena inicial somos apresentados ao vilão do filme. Uma garotinha brinca no quintal de sua casa, quando surge, entre os lençóis do varal, um amigável palhaço. Mas logo o sorriso simpático se transforma, e a menina é atacada, e seu cadáver é encontrado pela mãe. Junto com a polícia, surge Mike Hanlon (Tim Reid), um bibliotecário que parece saber bastante sobre este e outros assassinatos que ocorrem em Derry há um bom tempo.

É perfeita a forma como, em cinco minutos de filme, já é possível entender o que está acontecendo: o palhaço Pennywise é um assassino sobrenatural de crianças, e já vem aterrorizando a cidade há bastante tempo. Mike então decide que é a hora de telefonar para seis amigos, espalhados pelos EUA e Inglaterra, e lembrá-los de uma promessa que fizeram há bastante tempo.

O primeiro é Bill (Richard Thomas), um escritor casado com uma estrela de cinema, Audra (Olivia Hussey, a eterna Julieta de Zefirelli). Depois Ben (o falecido John Ritter), um arquiteto famoso; Beverly (Anette O’Toole), que vive com um marido violento; Eddie (Dennis Christopher), que mora com a mãe dominadora (Sheila Moore); Richie (Harry Anderson), um comediante bem sucedido e Stan (Richard Masur).

A medida que cada um deles recebe sua ligação, começam a relembrar a sua infância. E se lembram do palhaço Pennywise, que surgiu na cidade e começou a matar crianças. O palhaço na verdade é apenas uma das aparências da Coisa, um demônio que vive nos esgotos de Derry, e que devora crianças. A Coisa pode aparecer quando quiser, em várias formas, como um lobisomem, uma múmia ou uma velhinha. Bill em especial alimenta um ódio contra ela, que matou seu irmão menor Georgie (Tony Dakota). Ele e seus seis amigos são um bando de desajustados, assombrados pelo valentão Henry Bowers (interpretado por Michael Kole quando adulto e por Jarred Blancard quando criança) e sua gangue. E ao mesmo tempo que lidam com seus problemas pessoais, têm que livrar a cidade do horror de Pennywise.

Os sete amigos se unem durante um verão, quando ainda têm doze anos, e decidem destruir o mal que assombra a cidade. Depois de uma série de eventos (que não vou esmiuçar para não entregar spoilers) eles acreditam ter matado o palhaço. Mas fazem um pacto de que, caso a Coisa não tenha morrido, voltarão para destruí-la novamente.

It (1990) (1)

Infelizmente, apesar de esta primeira parte ser a alma do filme, ela carrega o maior erro da adaptação. Enquanto no livro os acontecimentos da infância e da vida adulta dos heróis são apresentadas paralelamente, o filme dedica sua primeira parte para narrar o confronto entre as crianças e Pennywise, e depois se foca no segundo confronto, quando eles já são adultos. Mas acontece que depois de uma primeira parte excelente, a segunda é bem meia-boca: os personagens ficam menos carismáticos, e os atores não tem um décimo da química do elenco-mirim. Enquanto os jovens atores Johnathan Bradis (Bill), Seth Green (Richie), Emily Perkins (Bev), Adam Faraizi (Eddie), Marlon Taylor (Mike), Brandon Crane (Ben) e Ben Heller (Stan) parecem amigos de verdade (e não duvido que tenham se divertido muito durante as filmagens), os adultos parecem deslocados em grupo, e alguns têm pouca ou nenhuma semelhança física com sua contraparte infantil.

Mas chega a segunda parte, quando os adultos voltam para Derry, para pôr um fim na Coisa de uma vez por todas. Longe de serem heróis hollywoodianos, eles se questionam se devem realmente arriscar suas vidas para destruir a Coisa novamente. O primeiro baque acontece quando cada um deles é recepcionado pelo palhaço Pennywise em pessoa, que os ameaça para que voltem para casa. O segundo baque vem quando eles descobrem que Stan, ao receber a mensagem de que a Coisa ainda estava viva, preferiu se matar a ter de enfrentá-la novamente. Serão os amigos fortes como antes agora que um deles se foi?

Este resumão acima não cobre nem uma fração do filme: são tramas e subtramas demais para tentar citar. E olha que faltaram muitos pontos capitais do livro. O que faz mais falta são as anotações feitas por Mike e que apontam que a Coisa vive em Derry há mais tempo do que se imagina. Outros momentos não fazem falta, como o ritual do buraco esfumaçado e uma cena delicada em que os sete amigos perdem a virgindade…

It é mais que uma simples história de horror. Na verdade, o que mais se destaca na trama do livro e do filme é a história do crescimento pessoal de seus sete personagens principais: Ben, Bill, Ed, Stan, Bev, Mike e Richie. Cada um destes personagens é trabalhado sem pressa, e apresentado com riqueza de detalhes, assim como diversos outros que aparecem no caminho. Para juntar tudo isso seria necessário um filme ainda mais longo que os 190 minutos desta minissérie.

Mas mesmo que roteiro de Lawrence D. Cohen (roteirista de Carrie, A Estranha) às vezes condense demais e às vezes corte momentos preciosos do livro, o filme como um todo funciona perfeitamente. E é claro que a produção são sobreviveria a menos que tivesse um grande ator no papel do vilão. É aí que entra Tim Curry. Ele interpreta Pennywise magistralmente, com um misto de maldade e diversão, fazendo o público lamentar o seu pouco tempo em cena. Curiosamente, alguns anos antes, ele havia perdido para Jack Nicholson o papel do Coringa no primeiro filme do Batman, mas encarnou aqui outro palhaço diabólico à perfeição.

Como não poderia deixar de ser nos dias de hoje, uma nova versão de It está prometida para estrear num futuro próximo, desta vez no cinema. Não há nada oficial ainda, apenas a confirmação que o filme terá censura 18 anos, e um rumor (felizmente desmentido) de que o fortão Tyler Mane (o Michael Myers de Rob Zombie) fosse assumir os trajes de Pennywise. Graças a Deus não passou de um boato, já que um lutador de luta livre de dois metros de altura está longe de ser o tipo certo para o vilão imaginado por Stephen King. Na minha singela opinião, a coisa certa a se fazer seria uma nova minissérie, mais longa e detalhada, ainda mais agora que a qualidade dos filmes para a TV supera, e muito, as produções para a telona. Se a nova versão conseguirá trazer para a tela mais detalhes do livro, ou seguirá na direção de outros remakes recentes, se focando no banho de sangue, só o tempo dirá. Enquanto isso, teremos o original. Se não a obra-prima do medo que o título promete, pelo menos um filme danado de divertido.

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Matheus Ferraz

Mineiro, autor publicado e mestre em Biografia pela University of Buckingham

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