Por Felipe Mendes

45 anos é uma história sobre passado e desintegração no casamento. Na trama, Geoff (Tom Courtenay) e Kate Mercer (Charlotte Rampling) mantém um relacionamento sólido e duradouro, prestes a celebrar mais um aniversário. Porém, mudanças climáticas provindas de uma pequena cidade suíça prometem testar a confiança e a harmonia dessa união. O longa de Andrew Haigh, adaptado do conto “In Another Country” de David Constantine, mergulha na intimidade do casal às vésperas do período de renovação de felicidades.

O cancelamento da celebração do 40° aniversário de casamento – devido a uma cirurgia em que Geoff é submetido – impulsiona Kate a programar a festança novamente anos mais adiante. O casal promete se redimir do atraso com uma grande comemoração em um tradicional salão de eventos da pacata cidade. Aquela que deveria ser a semana para planejar a grande festa, encontrar amigos, comprar vestimentas e trocar presentes, se transforma em pesadelo no instante em que uma carta de autoridades suíças destinada a Geoff apresenta uma revelação indigesta. O corpo de Katya, amor antigo dele, fora encontrado após meio século preso nas geleiras dos Alpes.

A imagem fantasmagórica do corpo de Katya, intacto pelo tempo, desperta o interesse, curiosidade e a preocupação por parte de Geoff. Ele passa a se sentir obcecado por livros e documentários que falem sobre mudanças climáticas, com o intuito de ter uma noção sobre o estado físico em que o corpo fora descoberto. Geoff retoma o vício do cigarro e ameaça visitar o local onde as geleiras se derretem. Kate, por sua vez, se encontra à deriva em um mar de dúvidas e insegurança mediante o comportamento oscilante do marido; assombrada por uma disputa inigualável contra o tempo.

A simplicidade, sutileza e a naturalidade residentes em 45 Anos são marcas que denotam a franca evolução de Andrew Haigh como diretor. Em seu terceiro longa, o inglês consegue suprir as falhas de seu último trabalho para as telonas. No romance Weekend, a necessidade do casal em aproveitar o tempo e se jogar em um amor com prazo estabelecido faz com que os diálogos sejam carregados e, por vezes, depreciáveis. Em 45 Anos, Haigh explora melhor o roteiro, os conflitos dos personagens, a construção dos diálogos e a trilha sonora; o resultado é magistral.

As interpretações de Courtenay e Rampling foram ovacionadas ao redor do mundo, sendo reconhecidas por algumas das premiações mais relevantes. Ambos foram aclamados pela sintonia vista em cena nas categorias Melhor Ator e Atriz em Berlim. A performance de Charlotte Rampling foi ainda além, atravessou o oceano para conquistar prêmios dos críticos de Boston e Los Angeles. Além da clássica dupla de atores, houve reconhecimento ao trabalho de Haigh. A simplicidade na condução da história levou a imprensa mundial a comparar 45 Anos com obras-primas de diretores lendários como David Lean e o sueco Ingmar Bergman.

O apêndice na trajetória vitoriosa de Charlotte Rampling em solo americano pode ser consumado com a premiação mais conhecida da indústria do cinema. A atriz está brilhante, é possível sentir as emoções da personagem em suas expressões. Acompanhamos a trajetória de Kate em busca de desvendar os mistérios do marido; entre sentimentos como desconfiança e insegurança, a atuação de Rampling faz jus a indicação do Oscar. A cena derradeira é esplendorosa, a ilustre celebração ao som de The Platters nos deixa com um olhar de suprema admiração. A obra de Haigh emociona, inspira, encara com sutileza as nuances do amor e da vida.

45 Anos - Capa45 Anos (45 Years)

Ano: 2015

Direção: Andrew Haigh

Roteiro: Andrew Haigh, baseado no conto de David Constantine

Elenco Principal: Charlotte Rampling, Tom Courtenay

Gênero: Drama, Romance

Nacionalidade: Reino Unido

 

 

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