Nocaute

Diversas histórias de redenção foram contadas no Cinema através do boxe. Touro Indomável, de Martin Scorsese, entrou para história com suas lutas intensas e a atuação única de Robert De Niro. Nocaute, de Antoine Fuqua, no entanto, está longe de chegar ao primor que Scorsese conseguiu, mas acerta ao contar a história de um boxeador que acha no esporte a sua salvação.

Billy Hope (Jake Gyllenhaal) é um lutador de boxe campeão que se aproxima do final de sua carreira. Após defender e manter seu título em uma luta dura e sangrenta, Maureen (Rachel McAdams), sua esposa, pede para que ele tire um tempo para descansar e ficar com ela e a filha Leila (Oona Laurence). No entanto, um novo lutador, Miguel Escobar (Miguel Gomez), aparece para desafiar Billy, mas Jordan Mains (Curtis ‘50 Cent’ Jackson), agente de Billy, aconselha que ele espere mais dois anos e consiga mais algumas vitórias antes de aceitar o desafio – além de ganhar mais dinheiro com essas lutas. Fica evidente que Billy quer a luta contra Escobar, mas tudo muda quando um incidente entre os dois acaba em tiroteio.

Billy não conhece nada fora do mundo dos esportes. Criado em orfanatos e dependente dos serviços sociais, tudo que ele tem são seus amigos, sua esposa, sua filha e o boxe. De um momento para o outro, ele perde tudo e fica totalmente desamparado. Ele não sabe fazer nada além de lutar, e ficar longe dos ringues só vai afastá-lo ainda mais da sua sanidade. Apesar de sua tendência autodestrutiva, Billy vai atrás do treinador veterano Tick (Forest Whitaker) em busca de ajuda para encontrar o equilíbrio que precisa para retomar sua carreira e recuperar sua família.

É interessante observar o comportamento de Billy dentro e fora do ringue. Quando está lutando, vemos toda sua agressividade, o sangue espirrando e escorrendo pelo seu rosto e como ele se sente a vontade naquele ambiente. Ao sair dessa zona de conforto que o boxe lhe proporciona, Billy se torna inseguro e tímido ao falar sobre assuntos pessoais e emocionais, é carinhoso com a esposa, a filha e encontra nelas o suporte que precisa para manter a cabeça no lugar. Essas mudanças de comportamento e nuances sutis no temperamento de Billy são possíveis graças a mais uma ótima atuação de Gyllenhaal.  Nos últimos anos, ele desenvolveu personagens complexos e que exigiram bastante de seu físico. Se em O Abutre ele estava com a aparência magra e frágil, aqui ele intimida com o seu porte físico e presença dentro do ringue.

Antoine Fuqua recorre novamente a um tema trabalhado na sua filmografia e explora a figura do homem com temperamento agressivo e explosivo. As subtramas que tentam mostrar as dificuldades sociais étnicas ficam um pouco apagadas, apesar do bom elenco coadjuvante. Fuqua não foge da fórmula narrativa dos filmes esportivos e não é difícil prever o caminho de Billy – desde sua autodescoberta, até a luta revanche no terceiro ato. No entanto, o diretor sabe utilizar a seu favor alguns clichês narrativos para estruturar a história de redenção que o filme se propõe a contar e valoriza a atuação de Gyllenhaal ao máximo.

Nocaute não apresenta nada novo e segue à risca o mesmo caminho que outros filmes esportivos já trilharam, mas a atuação de Jake Gyllenhaal e seu drama pessoal mantêm o espectador interessado – mesmo que a história pareça familiar desde o início.

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