Sicario: Terra de Ninguém
Em certo ponto de Sicario, um personagem diz: "Se você está com medo de operar fora dos limites, eu garanto que não vai; o limite foi alterado." Neste novo filme do canadense Denis Villeneuve, somos colocados nas fronteiras do México no meio da guerra do tráfico de drogas, onde a violência é a única linguagem utilizada.
O longa inicia nos colocando ao lado da agente do FBI Kate Macy (Emily Blunt), enquanto ela lidera uma missão de resgate. Ao final da operação realizada com sucesso, Kate é chamada por seus superiores. Devido a sua competência e destaque, ela recebe uma proposta para participar de uma força-tarefa com outras agências, liderada por Matt (Josh Brolin) e com a ajuda do misterioso Alejandro (Benicio Del Toro). Sem nenhuma hesitação, ela aceita a proposta.
É curioso notar que, apesar de ser a protagonista do filme, Kate é deslocada de seu papel de líder e passa a maior parte do filme como observadora de um mundo desconhecido, perigoso e assustador, inserida em uma equipe formada inteiramente por homens (agentes especiais e soldados experientes que participaram de guerras). Emily Blunt, que fez um ótimo trabalho em No Limite do Amanhã no papel da soldado Rita Vrataski, imprimi feições fortes à sua personagem, sempre com o rosto sério, tenso e concentrada na operação. Mesmo não estando à frente da equipe, Kate continua na linha de ação ao lado de seus companheiros, demonstrando ser uma mulher forte e competente no que faz, e sua moral a faz contestar as ordens de Matt e Alejandro, que a levam de um lado para o outro sem informá-la de nada.
Funcionando como fortes contrapontos à moral de Kate, Matt e Alejandro de Josh Brolin e Benicio Del Toro, respectivamente, são personagens importantes no roteiro de Taylor Sheridan e muito bem dirigidos por Denis Villeneuve. Brolin é o cara que possui o poder nas mãos e gosta disso. Em diversas cenas podemos ver as expressões de prazer e o sorriso arrogante em seu rosto quando está em uma situação de perigo ou dando ordens aos agentes. Del Toro dá vida a um personagem misterioso e amargurado, que cada atitude é uma surpresa e seu comportamento é extremamente controlado e pensado - desde o tom baixo nos seus diálogos até como guarda seu paletó na bolsa. Seu propósito e função na missão não ficam claros por grande parte filme, mas sua atuação o destaca em cada cena que participa, além de dominar o terceiro ato do longa.
Fotografado pelo veterano Roger Deakins, que acentua o filme com uma luz incessante, aumentando, assim, a sensação de calor intenso que envolve os personagens, Sicario também conta com a excelente direção de Villeneuve para criar uma atmosfera tensa durante todo o longa. O desenvolvimento dessa atmosfera pode ser visto em uma das sequências mais bem trabalhadas do filme que, ironicamente, se passa em um engarrafamento. Através de planos aéreos que mostram a cidade no deserto, isolada do resto do mundo, a equipe de agentes se dirige à Juarez, no México, e antes de entrar na cidade vemos o trânsito totalmente parado na mão oposta em que a equipe se dirige, o que ajuda a situar o espectador geograficamente na cena. Em seguida, o comboio de carros passa por regiões pobres que são assoladas pela violência local e o domínio dos cartéis de drogas naquela região pode ser visto através dos corpos mutilados pendurados nas pontes da cidade. Poucos minutos depois, a equipe fica presa no mesmo engarrafamento mostrado anteriormente e Villeneuve é hábil ao utilizar esse local, que se tornou hostil, para criar tensão e urgência na narrativa, com planos fechados nos rostos nervosos de Kate e dos outros agentes, enquanto estes vasculham os carros parados - tudo isso acompanhado pela trilha sonora sutil de Jóhann Johannsson, que enfatiza a atmosfera do filme sem roubar a atenção do espectador.
Sicario mostra a dura realidade de algumas cidades Mexicanas dominadas pelo tráfico de drogas e explora também se os métodos utilizados pela Lei para controlá-lo são realmente efetivos ou apenas paliativos. Esse guerra sem fim e sem sentido parece um labirinto infernal, onde a saída está longe de ser encontrada.