• Redação Galileu
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Isso é tãaaao vida real! (Foto: Reprodução / Black Mirror)

Isso é tãaaao vida real! (Foto: Reprodução / Black Mirror)

Em 2016, ano de lançamento da terceira temporada de Black Mirror, tudo que parecia um futuro distópico logo era seguido da frase “isso é tãaaaaaao Black Mirror”. Às vésperas do lançamento da quarta temporada, é bom que os produtores tenham caprichado, pois a vida real já está perto de superar — de forma nada agradável — algumas das visões de futuro apresentadas na série.

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O 1º episódio da terceira temporada trazia um mundo onde todos eram avaliados por todos, e sua nota era usada em todas as situações sociais, como entrar em um restaurante chique ou alugar um carro melhor. A partir de 2020 deve entrar em ação um sistema semelhante, mas não são as pessoas que avaliam o próximo, e sim suas ações que são avaliadas pelo governo chinês.

Anunciado ainda em 2014, o SCR (sigla em inglês para Pontuação de Crédito Social) começou a ser testado neste ano. Com ele, cada um dos 1,3 bilhões de chineses serão constantemente avaliados por suas ações, monitorados por meio de dados recolhidos das mais diversas fontes - onde compra, o que compra, onde vai, quantos amigos tem, se tem filhos, se paga as contas em dia.

A pontuação final será pública, usada para medir seu grau de confiabilidade. Com base nessa nota será determinado se você é bom para uma vaga de trabalho, se serve para determinada escola, se pode pegar ou não um empréstimo no banco.

Esse futuro aterrador ainda estão a um par de anos de distância, afinal não é fácil implementar um processo de análise de dados para tanta gente assim, mas grandes empresas locais  ajudam a azeitar os algoritmos da engrenagem de controle social.

Já coletam dados do WeChat, uma espécie de Whatsapp chinês com 850 milhões de usuários ativos. Planejam começar a fazer o mesmo com o AliPay, serviço de pagamento da Alibaba, uma das maiores plataformas de e-commerce do mundo.

De acordo com a imprensa local, uma das parceiras do projeto, a Tencent, dona do WeChat, já começou a classificar os usuários de outro de seus aplicativos de comunicação, o QQ Chat. Com uma pontuação que varia entre 300 e 850, seus usuários são avaliados por suas conexões sociais, comportamento de consumo, segurança, renda e cumprimento das regras.

Em entrevista à revista Wired, Li Wingyun, diretor de tecnologia de uma das empresas associadas do governo no projeto, a Sesame Credit, o sistema é simples. “Alguém que joga videogame dez horas por dia, por exemplo, seria considerado alguém preguiçoso. Alguém que compra fraldas, provavelmente tem filhos, e é considerado alguém mais responsável”, conta.

O diretor vê isso como algo bom, já que incentivaria as pessoas a assumir hábitos que os façam ter uma melhor nota e, consequentemente, ser mais confiável. Fontes do governo disseram ao jornal The Wall Street que o SCR “vai permitir às pessoas confiáveis a vagar pelo céu, enquanto os desacreditados vão ter dificuldade para dar um único passo”.

Não é preciso pensar muito para entender o risco de uma iniciativa como essa. Afinal, quem vai determinar o que é uma atitude positiva ou negativa? O governo chinês.

Mas e se a pessoa que passa o dia jogando videogame, no lugar de ser preguiçoso, trabalhe testando novos jogos? E a pessoa que decide não ter filho, ela não pode ser considerada responsável? E os casais do mesmo sexo, como seriam avaliados? Só o tempo vai responder.

A tendência, porém, é que a China se efetive de vez como um totalitário Estado policial, decretando de vez o fim da privacidade, e punindo quem não siga um modelo de vida que lhe garanta boas notas. Queremos ver superar essa Black Mirror.

(Com informações do Futurism)

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