Sexta-feira, 3 Maio

Entrevista a Giuseppe Tornatore, realizador de “A Melhor Oferta”

O oscarizado realizador de ‘O Cinema Paraíso’ filma em inglês um singular romance sublimado pela arte. Com Geoffrey Rush, Donald Sutherland e a revelação holandesa chamada Sylvia Hoeks. Falámos com Tornatore em Berlim.

O que o atraiu para esta história de amor e arte e para voltar a filmar em inglês?

Adoro a história. A evolução da história fez-me perceber que seria um bom filme. Quando à língua inglesa é a segunda vez que filmo em inglês, depois de ‘A Lenda de 1900’ (1998).

Mas é verdade que gosta de aproveitar pequenos pedaços que acaba por formar a história. Como aqui a ideia dos leilões e da rapariga que sofria de agorafobia?…

Gosto de trabalhar com várias histórias ao mesmo tempo. Por vezes, apenas com uma personagem e uma ideia. Mas com o tempo, algumas coisas desaparecem. Contudo, em outras ocasiões, têm a sua evolução. Neste caso, foram dois elementos distintos separados por vários anos que um belo dia se aproximaram. Às vezes, a história segue sozinha.

E quando é que se tornou num filme inglês?

Depois da história ficar definida, restava encontrar um local para se desenrolar. E Itália foi a primeira ideia, mas a atmosfera não era a melhor. Certos elementos da história ficariam cómicos na sociedade italiana. E eu gosto de seguir o que a história me pede.

É verdade que visitou leilões? É pessoa para licitar peças também?

Até há oito anos atrás nunca tinha ido a leilões, mas de um dia para o outro começo a receber catálogos no meu escritório. Com uma linguagem muito precisa.

Como encara o poder do leiloeiro?

É um homem com uma forte carga alegórica. É ele que decide o valor da peça e, por vezes até, o destino da peça?

Quando pensou em Geoffrey para entrar neste quadro?

Foi na escrita. Estava a lidar com várias hipóteses e uma delas era o Geoffrey. Quando lhe enviei o guião e ele me disse que estava disponível, percebi dez minutos depois que seria o indicado.

No filme, é abordada a proximidade entre a obra de arte e o amor. Como classifica esta ideia?

É impossível classificar… (risos). Mas aqui a ideia é colocar num homem a possibilidade de identificar a diferença entre o original e o autêntico. Ele consegue fazê-lo na sua profissão, mas não na vida privada. É que apesar da idade dele, ele é incapaz de amar. Através da história aprenderá fazê-lo. Mas com algum sacrifício, como saberemos no final… (risos)

Uma cena de “A Melhor Oferta”

Prefere estas histórias de amor pouco convencionais?

Sim. Agrada-me a ideia de mostrar uma história romântica como um ‘thriller’. A ideia era mostrar o processo de alguém se apaixonar através da estrutura de um ‘thriller’.

O que lhe parece similar?

É o momento em que percebemos que o amor é possível. A partir daí tudo muda. E quando o comportamento da outra parte muda, parece que perdemos tudo.

Calculo que a música do Morricone também ajuda?

Não sei se ajuda, mas contribui com alguma emoção e encurta certos momentos. Há uma ligação entre a música e as imagens que altera a perceção da ação.

Foi difícil convencer o Morricone para fazer o ‘score’ do seu filme? Numa altura em que não está a ficar mais novo…

Não… Acho que foi mais difícil há 25 anos atrás, quando fizemos o primeiro filme juntos (risos). A partir daí tivemos sempre uma ligação muito agradável e muito antiga. É um homem muito estranho. Veja bem, ele é capaz de extrair um som do meio ambiente e usá-lo na sua música. Isto com 84 anos…

Notícias