Hiroshima, meu amor (1959)

Título original: Hiroshima, mon amour

Título em inglês, Hiroshima, my love

Países: França Japão

Duração: 1 h e 30 min

Gêneros: Drama, romance

Diretor: Alain Resnair

IMDB: www.imdb.com/title/tt0052893/


Através desta linguagem única que é o cinema, o que é para ser apenas um encontro casual – e sexual – entre um homem e uma mulher adúlteros que acabam de se conhecer, transforma-se em algo quase transcendental. Enquanto dois corpos desnudos e brilhantes se entrelaçam nos primeiros 15 minutos da narrativa, surge um forte envolvimento emocional que traz à tona velhas memórias de quem perdeu seu maior tesouro durante a guerra: o primeiro grande amor. Nesses 15 minutos mágicos, a sensualidade da cena se contrapõe aos horrores causados pela bomba atômica lançada em Hiroshima na Segunda Guerra Mundial. À medida que vídeos reais de corpos mutilados e deformados de adultos e crianças são exibidos; ao passo que são revelados os corredores de um museu que conta a história da barbárie; conforme o rastro de destruição causa perplexidade no espectador, apenas um diálogo entre ela, que lembra suas memórias tristes, e ele, que faz questão de demovê-la do direito de lembrar, é ouvido como uma poesia. Uma poesia de dois versos – o que traz as lembranças e o que faz esquecê-las. Uma repetição tão infinita quanto as consequências àquela população. Talvez, os minutos mais belos da história do cinema. Uma das representações mais perfeitas da palavra arte.

Uma atriz francesa vai a Hiroshima para gravar um filme sobre a paz. Lá, envolve-se amorosamente com um japonês que lutou no Pacífico durante a guerra. A partir dessa união fortuita, o filme mostra, em flashbacks e alusões, as trágicas recordações da mulher, que funcionam como uma barreira entre o casal.

O diretor, Alain Resnair, um dos maiores nomes do cinema francês, sabiamente, não concedeu nomes a seus personagens. No filme, são tratados apenas como Ele e Ela. Essa impessoalidade narrativa denota generalidade, pois são incontáveis as pessoas que compartilharam memórias tão infelizes quanto aquelas da protagonista, naquela época e naquela zona de conflito. Entre encontros e desencontros da dupla de protagonistas, de maneira não linear e até desconexa – o que torna o roteiro bastante complexo -, flashes de acontecimentos pretéritos misturam o evento histórico da guerra e o momento emocional e psicológico que está em curso. É um filme bastante sensível, que requer do espectador sensibilidade na mesma medida, para conseguir absorver o conteúdo oferecido e fazer as reflexões adequadas e necessárias.

Em algum post aqui no blog, comentei, há algum tempo, que as memórias possuem uma capacidade magnífica para dar um afago no coração das pessoas, se elas forem felizes; por outro lado, memórias tristes podem deixar sequelas incuráveis até o fim da existência, trazendo sempre uma negatividade corrosiva à alma. No filme em questão, vemos que a memória é inseparável do sentimento de tempo, ou da percepção do tempo como algo que flui ou passa. Nesse caso, o tempo não curou as feridas, e um contexto propício à lembrança desencadeou uma desordem nos sentimentos e pensamentos da mulher. Ao fim, a personificação do amor presente acaba por corroborar toda essa discussão sobre o poder das memórias, pois Hiroshima muda de lugar, e Nevers, cidade natal da protagonista, segue o mesmo caminho. O certo é que, com todos os seus simbolismos, “Hiroshima, meu amor” é puro coração, pura emoção.

Para quem não conhece, a protagonista desse filme é a atriz Emanuelle Riva, um dos símbolos do amor da Nouvelle Vague francesa, falecida aos 89 anos no início deste ano de 2017 e conhecida atualmente pelo seu papel em “Amor” (2012) – filme ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro. Para mim, assistir a “Hiroshima, meu amor” foi uma viagem no tempo, um momento nostálgico, por ver essa grande atriz, a qual admirei bastante por sua atuação em “Amor“. Constatei que seu talento é intrínseco, independentemente de sua idade. Por coincidência, no título de ambos os filmes consta a palavra que a simbolizou no movimento cinematográfico da década de 60. São seus 2 maiores trabalhos no cinema. É uma atriz inesquecível!

Por tudo que foi exposto acima, “Hiroshima, meu amor” é o cinema em sua mais bela expressão artística. É o chamado cinema de arte, que encanta legiões de espectadores ao redor do mundo. É o cinema para refletir! É o cinema para amar!

O trailer, legendado em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.