O motorista de táxi (2017)

Título original: Taeksi Woonjunsa

Título em inglês: A taxi driver

País: Coreia do Sul

Duração: 2 h e 17 min

Gêneros: Ação, drama, história

Diretor: Hun Jang

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt6878038/


Seguindo a linha de “Primeiro mataram meu pai“, de Angelina Jolie, que já foi objeto de crítica neste blog, temos mais um filme produzido em 2017 que retrata uma passagem sangrenta da história da humanidade a qual é pouco conhecida do grande público. Para situá-los melhor no contexto histórico, segue abaixo uma breve descrição retirada da Wikipédia – com adaptações – sobre o momento aludido no filme:

O massacre de Gwangju, também conhecido como “Movimento Democrático de Gwangju” ou “Levantamento de Gwangju”, foi um levantamento popular ocorrido na cidade de Gwangju, Coreia do Sul, de 18 a 27 de maio de 1980. As estimativas sugerem que poderão ter morrido até 165 pessoas. Durante esse período, os cidadãos se revoltaram contra a ditadura de Chun Doo-hwan e tomaram o controle da cidade. Durante o decurso da revolta, tomaram armas (roubadas de esquadras de polícia e depósitos militares) para se oporem ao governo, mas foram contidos pelo exército sul-coreano. O acontecimento é por vezes chamado 5·18 (18 de maio), em referência ao dia em que começou o levantamento. Durante o mandato de Chun Doo-hwan, o incidente foi retratado pelos meios de comunicação como se fosse uma revolta inspirada por simpatizantes comunistas.”

Um taxista de Seul é contratado por um jornalista estrangeiro para levá-lo até a cidade de Gwangju. Ao chegar lá, eles se deparam com o lugar tomado pelo governo militar e com os cidadãos, liderados por um grupo de estudantes, reivindicando liberdade. O que começa com uma simples corrida de táxi se torna uma luta pela sobrevivência em meio à Revolta de Gwangju, em maio de 1980.

O filme conta com um típica estrutura narrativa de 3 atos em seu roteiro – com sentimentos diferentes em cada um deles. No primeiro ato – a apresentação dos personagens -, temos um viés cômico, principalmente por conhecermos o taxista, que é um sujeito bastante alegre, apesar de seus problemas. Após a linha de raciocínio se instalar, começa o desenvolvimento narrativo, com a viagem a Gwangju. Nesse momento, a comicidade começa a dar lugar à dramaticidade, pelas dificuldades de acesso e a observação das primeiras imagens do conflito. E, no terceiro ato – o desfecho -, o suspense e a ação preenchem todos os segundos da história, pela luta e entrega dos personagens, que arriscam suas próprias vidas em nome de seus ideais intrínsecos ou adquiridos em virtude do contexto. O detalhe é que uma trilha sonora marcante, baseada em violinos, acompanha o ritmo da história. Roteiros dessa natureza normalmente são bem acessíveis aos espectadores, que não precisam quebrar a cabeça para acompanhar viagens temporais ao longo da narrativa.

É necessário assimilar as características do protagonista, o motorista, para uma melhor compreensão do filme. Man-seob ou Kim – ele assume duas identidades na história – é um homem viúvo, que sofreu muito pela perda de sua esposa e gastou quase tudo com o tratamento dela. Por influência da mesma, ele desistiu de tentar salvá-la com tratamentos caros e/ou experimentais e comprou o táxi para sustentar a filha do casal. Aí já temos uma das lições do filme, segundo o próprio protagonista: “quem fica tem que continuar vivendo”. Ademais, ele é uma pessoa do bem, engraçada, feliz com sua vida, até um pouco desonesto – nota-se isso na cena na qual ele consegue a “corrida beligerante” – e preocupado com sua filha. O pôster já transmite a personalidade de Man-seob. Um personagem leve para contrapor à história pesada. É bom frisar que a história é baseada no fato histórico já aludido e os personagens realmente estavam inseridos no contexto.

O objetivo principal da narrativa é levar o repórter Jürgen Hinzpeter de volta ao Japão para divulgar as imagens obtidas do massacre, para desmentir o governo coreano e mostrar ao mundo a barbárie que estava em curso. Na busca dessa finalidade, a humanidade abraça a narrativa e transforma vários personagens em heróis anônimos, os quais até entregaram suas vidas. Tenho que destacar a união da classe de motoristas de táxi na história e a força dos estudantes que capitaneavam o movimento. Também, Hinzpeter e Man-seob, pessoas inicialmente alheias à motivação do levantamento, abraçaram a causa e entraram para a história como grandes contribuidores para o fim do conflito e para a construção da atual Coreia do Sul. De tudo isso, restaram uma amizade indissolúvel, apesar da ausência, e a emoção do compartilhamento de momentos difíceis e marcantes para a vida de ambos. Hinzpeter morreu em janeiro de 2016, e, ao fim, é exibida uma entrevista com o próprio, falando sobre seu grande e passageiro amigo, que lhe concedeu a possibilidade de viver até aquele momento. Uma vida residual marcada por boas e más lembranças daqueles tempos. É um dos maiores momentos de emoção do filme.

Mais uma vez, o cinema nos mostra passagens perversas da história e pessoas comuns e corajosas transformadas em heróis em nome de causas alheias. Que a humanidade, o amor e a família norteiem nossos comportamentos e nos façam pessoas melhores. São as mensagens do filme, que, agora, recomendo com muita satisfação a todos, pois é uma ode a valores humanos do bem.

Infelizmente, o filme ficou de fora dos indicados a Melhor Filme Estrangeiro em 2018, mas possuía qualidades abundantes para estar lá.

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba


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