Glória feita de sangue (1957)

Título original: Paths of glory

País: Estados Unidos

Duração: 1 h e 28 min

Gêneros: Drama, guerra

Elenco Principal: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou

Diretor: Stanley Kubrick

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0050825/


Em uma guerra, há vários batalhões espaçados geograficamente ao longo do chamado front. O genial Kubrick, um dos mais brilhantes cineastas que o cinema já produziu, mostrou, no filme em tela – sua primeira obra-prima -, que a distância entre determinados batalhões não é representada apenas por uma unidade de medida, como metros ou quilômetros, pois há dois tipos de militares, os que mandam e os que obedecem, os oficiais, que são a classe privilegiada, e os soldados, que colocam suas vidas à disposição de uma causa que muitas vezes é desconhecida ou indeterminada. Esse espaçamento invisível leva alguns à gloria, com todas as reverências militares embutidas, e leva muitos à morte – ou ao fim, ou ao sangue, para explicar o título. Considero “Glória feita de sangue” um dos filmes mais humanistas e mais antibélicos ou antibelicistas da história do cinema, por considerar os soldados como seres que têm alma, ou seja, seres humanos, e não como simples peças num jogo de xadrez ou de estratégia.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Durante a Primeira Guerra Mundial, o General Comandante Broulard ordena que seu subordinado, o general Mireau, ataque a trincheira alemã, oferecendo-lhe uma promoção como incentivo. Embora a missão seja quase suicida, Mireau manda seu subordinado, o coronel Dax, planejar o ataque. Quando o plano termina em desastre, como já se previa, o General Mireau exige da corte marcial, que é o tribunal ou o conselho de guerra,  o julgamento de três soldados  escolhidos aleatoriamente para manter as aparências.”

Não há explicação plausível para que uma pessoa deixe sua família, as pessoas que ama, seu conforto, sua vida, para expor a sua integridade física a tiros e explosões de todos os tipos em um front de guerra. Além do mais, historicamente, as guerras e conflitos que já assolaram a história do mundo foram motivados pela busca de poder e por interesses financeiros, que se localizam deveras distantes da vida das pessoas que são submetidas à morte num campo de batalha. Por conta disso, Kubrick, sabiamente, humanizou a maioria dos personagens do filme, mostrou que eles eram pais de família e pessoas oprimidas, as quais só estavam naquela situação por imposição do Estado. Mostrou também a “elite do serviço militar”, em ricos ambientes, tomando caras bebidas alcoólicas e interagindo com belas mulheres. Essas pessoas, que têm o papel de mandatários e/ou observadores, obtêm os louros das vitórias de todo um exército e têm seus egos massageados deitados em seus berços esplêndidos à custa do sangue de inocentes. Há também um personagem que pertence aos dois lados, o coronel Dax, interpretado pela lenda Kirk Douglas, que transmite humanidade, compaixão e respeito a seu próximo, mesmo tendo uma posição de destaque. Esse é o personagem chave da história – o que desenvolve e exterioriza, por meio de suas ações, o mote narrativo sugerido pelo diretor, que é justamente o descrito no título do filme. Os caminhos para a glória são construídos a um preço imensurável: uma série de vidas humanas.

Chama a atenção a falta de relação de confiança entre os oficiais e o jogo de interesses e vaidades/futilidades que norteiam suas decisões. No fim das contas, nota-se que a função deles é eminentemente política. Talvez, por isso, já nessa época, enxergamos tanta podridão ao assistir apenas a uma obra ficcional que conta com personagens com essas características. O termo política é sinônimo de corrupção, deslealdade e desconfiança, mesmo num filme de guerra. Qualquer semelhança com a realidade…

… nem preciso completar a frase.

Ao fim, para a tristeza do público e para denotar fidelidade à realidade, fica uma sensação de continuidade e falta de esperança, por contemplarmos uma poesia à injustiça e uma hipócrita comoção, que apenas manifestam uma perturbadora irracionalidade de seres que foram dotados de inteligência, mas que, por mais que o tempo passe, insistem em usar esse dom de maneira perversa e egoísta. Na guerra, a vida nada vale. Ela está inserida no contexto apenas para ser perdida, contou o mestre Kubrick!

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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