Repulsa ao sexo (1965)

Título em inglês : Repulsion

País: Reino Unido

Duração: 1 h e 45 min

Gêneros: Drama, horror, thriller

Elenco Principal: Catherine Deneuve, Ian hendry, John Fraser

Diretor: Roman Polanski

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0059646/


Um tema bastante interessante, a repulsa ao sexo, foi manipulado pelo diretor, Roman Polanski, para transmitir medo, tensão e um perigo que ameaça se materializar a qualquer momento. Uma atmosfera de tormento, inquietude e aflição, construída através da junção harmônica de todos os recursos disponíveis para a produção de uma obra cinematográfica, é montada para tentar simular o ambiente perturbado que preenche a mente da protagonista, na tentativa de transmitir essas mesmas sensações a seus espectadores. É um trabalho primoroso e detalhista, que faz valer todo o tempo dispensado para assistir ao filme em tela. “Repulsa ao sexo” é o primeiro filme da “Trilogia do Apartamento“, que ainda tem como integrantes os filmes “O bebê de Rosemary “(1968) e “O inquilino” (1976).

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Em Londres, a bela Carol Ledoux (Catherine Deneuve) é sexualmente reprimida e vive com sua irmã mais velha. Ela constantemente resiste aos assédios do seu namorado e também desaprova o amante da irmã, que é casado. Quando esta viaja com ele em férias, Carol fica sozinha no apartamento e se afunda em uma profunda depressão, passando a ter várias alucinações.”

As cenas são mostradas lentamente, os ambientes internos são escuros, silenciosos e misteriosos, a protagonista, ao passo que floreia a tela com sua beleza jovial, exala uma insegurança pungente em seu semblante, que gera angústia em quem assiste, ao presenciar sua fragilidade. A narrativa é montada de modo a oferecer em abundância a Carol situações que ela considerada muito desconfortáveis – ou seja, situações que remetem à prática sexual – e esperar suas reações, que geralmente são de fuga ou autoproteção, até que a solidão se instale em sua vida e seus problemas psicológicos se apossem de sua mente e passem a controlar as suas atitudes. Notem que a autoproteção aludida, normalmente, concede uma grande força interior que se esconde na alma das pessoas. Temos uma mulher beirando a loucura, cobiçada pelo sexo oposto por seus atributos físicos, defendendo-se instintivamente e irracionalmente de seus fantasmas, com facas, navalhas e objetos dos mais diversos à disposição em seu apartamento – esse conjunto de fatos só pode resultar em sangue e tragédia. Segundo o poster, “o mundo de pesadelo dos sonhos de uma virgem se torna realidade”.

Os motivos do transtorno apresentado pela protagonista não são evidenciados, porém, a sociedade na qual ela está inserida é eminentemente machista. Essa constatação pode ser vista ao longo de toda a narrativa: a cobrança dos amigos do namorado de Carol – com cara de bullying – por uma aproximação carnal entre ele e sua namorada; as palavras impertinentes utilizadas sob forma de assédio por um homem quando Carol caminha pelas ruas; a fácil aceitação de um caso extraconjugal que envolve um homem casado; a tentativa de estupro do locador do apartamento em que Carol reside, ao vê-la sozinha e desamparada; entre outros acontecimentos. Há uma objetificação escancarada do sexo feminino, que torna o contexto do filme insalubre e incômodo para a bela jovem.

Há um detalhe que talvez não tenha chamado a atenção dos espectadores.  Há um coelho assado, que fica aparente no ambiente, de modo persistente, em várias cenas – principalmente durante o período do martírio de Carol -, que incomoda por sua imagem singular – até parecida com a de um ser humano – e pela sua deterioração, por estar exposto aos agentes naturais sem nenhum tipo de proteção. Esse apodrecimento físico do animal acompanha a decomposição da alma da protagonista, que, à medida que as situações são postas a sua frente, tem a sua condição mental piorada e age cada vez mais de forma irracional. Achei um “caminho metafórico” de analogia bastante inteligente. Apenas mais um recurso para destacar o perfeccionismo de Polanski na construção desse horror psicológico, que, ainda hoje, é um dos marcos desse gênero cinematográfico. Parafraseando o título de um famoso filme do diretor canadense David Cronemberg: “sua mente pode destruir”.

O trailer, narrado em inglês, segue abaixo, porém recomendo que, se você, caro leitor, está com a pretensão de assistir ao filme, não assista ao trailer, pois ele revela bastante sobre o enredo.

Adriano Zumba


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