Feios, sujos e malvados (1976)

Título original: Brutti, sporchi e cattivi

Título em inglês: Ugly, dirty & bad

País: Itália

Duração: 1 h e 55 min

Gêneros: Comédia, drama

Elenco Principal: Nino Manfredi, Maria Luisa Santella, Francesco Anniballi, Maria Bosco

Diretor: Ettore Scola

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0074252/


Uma representação grotesca e satírica da marginalização de parte da sociedade italiana da década de 70. Um recorte social all’italiana de um peculiar cortiço, que foca principalmente em uma família específica, com personagens sujos, feios e malvados, em busca de formas nem sempre éticas e/ou honestas de sobrevivência. Humor negro de primeiríssima qualidade, que utiliza a degradação do ser humano como atrativo para contar uma história cômica com ares de tragédia. Considero o filme em tela como um dos melhores trabalhos de Ettore Scola, que ganhou até o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes por ele, e uma das melhores obras pertencentes à commedia all’italiana, cuja lista de melhores filmes pode ser acessada clicando-se aqui.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Giacinto mora com a esposa, os dez filhos e vários parentes num barraco de uma favela de Roma. Todos querem roubar o dinheiro que ele ganhou do seguro por ter perdido um olho quando trabalhava. A situação fica ainda pior quando ele decide levar uma amante para dentro de casa.”

A região Nordeste do Brasil, da qual sou originado, possui um vocabulário próprio e constituído de vários termos incomuns que preenchem o cotidiano das pessoas. Uma delas é a palavra “mundiça”, que, para quem não conhece, é aplicada a pessoas sem educação, sem cultura, que, por onde andam, chamam a atenção pelo seu modo de agir, principalmente pela fala, que geralmente é cheia de palavras mal pronunciadas e de baixo calão, e pelo tom de voz, que em regra é alto, entre outras características São pessoas comumente pertencentes à base da pirâmide social, que costumeiramente encontramos em favelas e em ambientes pobres – apesar de terem representantes em todas as classes sociais. São anomalias da desigualdade social causada principalmente pela má distribuição de renda. O filme em destaque trata da “mundiça” italiana, que, ao passo que diverte o espectador com suas performances, leva-o à reflexão em razão dos motivos pelos quais ela apresenta esses hábitos e ações nada saudáveis. No frigir dos ovos, o poder público abandona tais pessoas e elas acabam se transformando em animais irracionais, que visam apenas à subsistência, sem se importarem com os meios para conseguirem tal objetivo.

Temos um exemplo de família disfuncional, que destoa completamente daquele conceito romântico que considera a família como uma entidade movida sempre pelo amor e pela compreensão. Sabemos que nenhuma família é perfeita, mas a do filme é singular. O próprio Giacinto, em uma das passagens do filme, solta uma frase engraçada sobre seus “entes queridos”: “os parentes são como as botas, quanto mais estreitos, mais machucam”. A violência doméstica abunda, o desrespeito impera e a promiscuidade sexual – regada a uma enorme permissividade – impressiona. É uma família com único objetivo: roubar o dinheiro do patriarca.

Preciso dar destaque a alguns personagens bastante caricatos do filme, os quais garantem ótimas gargalhadas: a vovó – que na verdade é interpretada por um homem -, com todas as suas caras e bocas; a amante, com muito peso, grandes tetas e muita imoralidade; a esposa de Giacinto – muito ranzinza e com um ralo cavanhaque. Além desses, há os filhos, genros e noras do protagonista, que possuem as mais diversas características: o travesti, a desinibida, a sem oportunidades, o golpista, o ladrão, etc., ou seja, a maioria deles são pessoas em situação de vulnerabilidade social e por vezes malvistas pela sociedade. Por fim, preciso destacar também que há muito sexo entre eles, independentemente do parentesco e/ou afinidade. Tudo movido pelo instinto e pela falta de educação sexual – algo muito próximo dos animais irracionais, como já citado anteriormente. Resumindo, é uma realidade muito nefasta e até utópica para muita gente, porém, muitos fatos mostrados nesse filme, apesar de toda a hiperbolização narrativa intrínseca do modo italiano de fazer cinema daquela época, são o cotidiano de muitos em toda parte do mundo onde o braço do Estado não consegue prover condições humanas de subsistência para as pessoas. É triste, mas real! “Feios, sujos e malvados” é uma tragicomédia a que todos deveriam assistir, pois o grande mundo real, muitas vezes, está muito distante do mundinho particular no qual muitas pessoas estão inseridas, e nada melhor do que degustar uma excelente comédia para conhecê-lo.

O trailer está mostrado abaixo.

Adriano Zumba


1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.