Seduzida e abandonada (1964)

Título original: Sedotta e abbandonata

Título em inglês: Seduced and abandoned

Países: Itália, França

Duração: 1 h e 55 min

Gêneros: Comédia, drama

Elenco principal: Stefania Sandrelli, Saro Urzi, Aldo Puglisi

Diretor: Pietro Germi

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0058564/


Típico representante da commedia all’italiana, “Seduzida e abandonada” é um filme que proporciona gargalhadas fáceis e abundantes, através da simples dramatização, com o italian way of life, da aplicação das leis vigentes no país da velha bota, sejam elas formais ou informais; ou seja, é um filme baseado em julgamentos, por conta de atos ficcionais, que são passíveis, pela conjuntura temporal da narrativa, de apreciação à luz da legislação e das tradições e costumes nem sempre saudáveis da sociedade italiana daquela época – no caso, a década de 60, entretanto a seriedade absorvida automaticamente da palavra julgamento é apenas um engodo, pois o negócio é divertir, divertir e divertir.

O roteiro é simplório, mas eficiente, como se depreende da leitura da sinopse que se segue: “Uma linda garota de 16 anos, Agnese, é seduzida e desvirginada pelo noivo de sua irmã mais velha, Peppino. Após isso, o “violador” foge para não se casar com a jovem, por considerá-la impura – notem que ele foi o causador dessa impureza. Tudo isso cai como uma bomba sobre a tradicional família de Agnese, cujo patriarca, Don Vincenzo, absorve toda a vergonha proporcionada pela perda da honra de sua filha – e, por conseguinte, de toda a sua família – e parte para tomar as providências cabíveis até as últimas conseqüências.”

Talvez 90% do viés cômico do filme possa ser atribuído às atitudes e ao comportamento de Don Vincenzo. Em uma busca literalmente implacável pela manutenção da honra de sua família, ele não mede esforços para, primeiramente, ocultar o acontecido e, depois, buscar uma lavagem de alma, que resulta em um possível casamento forçado entre Peppino e Agnese, ou até em um homicídio planejado, sob a égide das leis penais vigentes, através de um plano arquitetado com seu primo, que é advogado. Tudo isso com aquela expansividade intrínseca do povo italiano, que, por si só, já concede a graça necessária para atenuar o trágico recorte social que o filme se propõe a mostrar. Naquela época, a honra era tudo, e as pessoas mais tradicionais faziam o impossível para que ela se mantivesse incólume.

Percebem-se claramente os alicerces sobre os quais as famílias italianas estavam dispostas na época da produção do filme em tela: uma sociedade patriarcalista ao extremo, cuja última palavra era sempre da figura masculina que conduzia, com mãos de ferro, as rédeas de sua entidade familiar, a qual representava o reduto total e absoluto de sua autoridade. É até desnecessário comentar o tratamento dispensado às mulheres, porém apenas uma palavra já resume bem a condição delas: submissão. Tal condição impunha, entre outras situações, a decência como uma característica obrigatória e, por vezes, a sujeição a um casamento arranjado com um homem de boa família – ou detentor de um título, como, por exemplo, o feio (horrível) barão falido que aparece na narrativa -, independentemente da presença de sentimento – tudo em nome da honra! Deve-se destacar também o contexto desprovido de humanidade que as leis do país denotavam, pois o casamento absolvia os “crimes de honra” e o divórcio não era permitido. Depreende-se que um casamento ruim concedia à parte insatisfeita uma “pena de prisão perpétua”, pela impossibilidade formal de abandonar o relacionamento. Enfim, são nuances comportamentais da coletividade italiana da década de 60, que, no filme em destaque, são mostradas de forma a maximizar o divertimento. É a jocosidade extraída do desastre social – uma grande característica da commedia all’italiana, que, entre outros motivos, trouxe fama mundial a este sub-gênero da comédia.

Seduzida e abandonada“, com certeza, influenciou o grande diretor Mario Monicelli na produção de um dos seus filmes mais cômicos: “A garota com a pistola“, cuja crítica pode ser acessada clicando-se aqui, pois as espinhas dorsais das duas obras são bastante parecidas – a diferença recai apenas no agente que pretende fazer justiça com as próprias mãos.

Uma obra cinematográfica não precisa necessariamente ter uma narrativa complexa e rebuscada para exibir qualidade. A simplicidade bem trabalhada – e condimentada com o tempero ácido e cômico italiano – agrada bastante e proporciona um excelente entretenimento. Esse filme é diversão garantida!

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba


1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.