Papillon (1973)

Países: França, Estados Unidos

Duração: 2 h e 30 min

Gêneros: Biografia, crime, drama

Elenco Principal: Steve McQueen, Dustin Hoffman, Victor Jory

Diretor: Franklin J. Schaffner

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0070511/


Antes de tudo, é necessário informar ao leitor que o filme em tela foi adaptado a partir de um livro, que supostamente foi escrito por Henri Charrière – o protagonista da história. Há bastantes controvérsias em relação à propriedade intelectual e aos fatos apresentados na obra literária. Para saber a verdadeira história de Papillon, clique aqui – trata-se de um artigo da Revista Isto é publicado no ano de 2015. Independentemente desses detalhes, vou me ater aos fatos aludidos no filme, que são o objeto de minhas impressões. “Papillon” tem uma temática recorrente nas mais diversas produções cinematográficas ao longo da história: a fuga da cadeia, porém não é uma cadeia comum; é simplesmente um complexo de presídios localizado num complexo de ilhas na Guiana Francesa, e uma dessas ilhas é chamada de Ilha do Diabo – um nome bem sugestivo para o que é mostrado na narrativa.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Papillon, que em francês quer dizer borboleta, mostra a saga de um homem que, na luta contra um sistema desumano e cruel, jurou a si mesmo buscar sua liberdade a qualquer preço, mesmo que para isso tivesse que fazer o impossível: fugir da terrível Ilha do Diabo, a qual era cercada por uma floresta impenetrável na Guiana Francesa.”

É necessário apresentar os dois protagonistas da história para um melhor entendimento: Papillon (Steve McQueen), um homem que presumidamente foi preso por engano, ousado, perspicaz e ávido por recuperar a sua liberdade de qualquer maneira, e Louis Dega (Dustin Hoffman), um golpista e falsificador inteligentíssimo, porém fisicamente frágil, contido e tímido – um homem que prefere usar a cabeça em vez da força para resolver os seus problemas. Por obra do destino, esses dois homens acabam desenvolvendo uma amizade na cadeia – primeiramente por interesse mútuo, depois pela própria dificuldade imposta pelo lugar em que estavam inseridos. As personalidades diferentes dos protagonistas são um foco de tensão na narrativa, pois normalmente os separam, mesmo sendo amigos. Esse equilíbrio entre força e inteligência é uma variável bem interessante a ser considerada. Em tempo, as atuações de McQueen e Hoffman são excepcionais. A linguagem corporal utilizada por Dustin Hoffman na interpretação de Luis Dega me lembrou bastante a utilizada em seu personagem autista de “Rain Man“, apesar de serem personagens intelectualmente bastante diferentes.

Por se tratar de uma história real, a angústia é pungente. A prisão é um ambiente degradante, cheia de regras severas e para a qual os prisioneiros franceses são enviados literalmente para a morte, ou seja, é um local que não funciona como reabilitação para os que cumprem pena, e sim como o pior dos castigos. Só a presença de uma guilhotina já evidencia o objetivo do complexo prisional. Por esse e outros motivos, o espectador adquire uma automática empatia pelos personagens principais: Papillon pela suposta injustiça contra ele e a grande necessidade por liberdade que exala a cada ação, e Dega, principalmente pela aparência frágil, franzina e intelectual que é exibida, apesar de ser conhecido o seu passado. A torcida pelos prisioneiros é inevitável e aos poucos ganha corpo à medida que a narrativa vai se desenvolvendo – algo como os filmes do faroeste spaghetti, nos quais os bandidos se tornam os mocinhos do coração dos espectadores. São nuances da linguagem cinematográfica, que têm o poder de guiar as emoções dos espectadores por caminhos nem sempre salutares.

O desfecho é interessantíssimo e relaciona palavras que semanticamente se repelem e estão em conflito ao longo de todo o filme: a liberdade, que não poderia ser melhor representada por um homem que possui uma borboleta tatuada no peito, Papillon; e a prisão. A borboleta, que voa livre e soberana pela natureza, metaforicamente, perde a alegria de suas cores ao ser submetida a qualquer tipo de cárcere. Melhor morrer buscando a liberdade do que viver uma vida moribunda. Talvez, por isso, as cenas transcorridas na solitária, que, diga-se de passagem, são tecnicamente excepcionais, sejam tão escuras e sem cor. Nesse contexto, a borboleta estava dentro do casulo, era uma simples lagarta sem alma, sem vontades, porém, quando ela consegue romper o invólucro, ela deseja voar e voar, viver e viver, sonhar e sonhar.

O trailer, narrado em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba

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