Filadélfia (1993)

Título original: Philadelphia

País: Estados Unidos

Duração: 2 h e 05 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Tom Hanks, Denzel Washington, Antonio Banderas

Diretor: Jonathan Demme

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0107818/


Posso definir “Filadélfia” com uma única e pequena frase: “um hino aos direitos humanos”. O preconceito é um câncer que, ao longo da história da humanidade, se espalhou pelas sociedades de todo o mundo e se exterioriza pelos mais diversos motivos: étnicos, raciais, físicos, ideológicos, de orientação sexual, entre outros. Preconceito é a temática principal do filme em tela, que, no caso concreto, materializa-se de duas formas, uma explícita e outra oculta. Definitivamente, sentimentos hostis desenvolvidos sem uma análise crítica e simplesmente impostos pelo meio podem causar muitos danos às pessoas. Após a audiência do filme, o leitor e/ou o espectador provavelmente corroborará a minha afirmação – se é que já não corrobora.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Um promissor advogado, Andy, que trabalha para um tradicional escritório da Filadélfia, é despedido quando descobrem que ele é portador do vírus da AIDS. Ele contrata os serviços de um advogado negro, Jon Miller, que é forçado a encarar seus próprios medos e preconceitos.”

A simples leitura da sinopse – e a utilização dela como guia – leva a um entendimento incompleto, pois mascara uma informação importante – talvez propositalmente, para que o impacto causado pela narrativa seja mais intenso. A presença da AIDS como fato gerador dos problemas, apesar de ser relevante, na verdade, é só a ponta do iceberg, e funciona como uma cortina de fumaça para o que realmente se quer expor: um pungente sexismo presente no cotidiano de todos os envolvidos da empresa onde Andy trabalha, ou seja, o problema real é o homossexualismo do protagonista, mesmo havendo uma repulsa gerada pelo medo, diga-se, falta de informação, em virtude de Andy ser portador do vírus HIV. Devemos digerir essas informações como um habitante do planeta Terra do início da década de 90 – época de produção do filme, quando uma nova doença, potencialmente mortal e sem cura, infectava cada vez mais pessoas no mundo, e o homossexualismo era muito menos aceito do que nos dias atuais. Resumindo; o contexto da época era o seguinte: a AIDS, comparada a uma sentença de morte, era uma doença atribuída principalmente à população homossexual, a qual já era bastante marginalizada e discriminada apenas por sua diferente orientação sexual.

O talentoso diretor, Jonathan Demme, aproveitando as temáticas polêmicas, utiliza como pilares de seu filme protagonistas com pensamentos e comportamentos antagônicos, para forçar uma repulsa inicial e um posterior afloramento de humanidade: um homem gay e aidético, e um advogado extremamente preconceituoso – apesar de ser negro e haver em uma das passagens do filme uma sugestão de preconceito racial contra ele. Esse desenvolvimento paulatino de humanidade, baseado principalmente na compaixão e na quebra de paradigmas preestabelecidos é a nuance mais bela que podemos ver no roteiro de”Filadélfia”. Saliento que a esse processo de humanização do personagem é atribuído um viés de sinceridade, e independe da situação fática de o advogado ter aceito o caso de Andy e defendê-lo no tribunal. É como se o filme passasse a seguinte mensagem: “se o advogado homofóbico consegue superar o preconceito, você também consegue”.

Apesar dos elogios do parágrafo anterior, os holofotes devem recair mesmo sobre Andy, cujo intérprete, Tom Hanks, ganhou o Oscar de melhor ator por viver esse personagem tão complexo. O porta-voz da bandeira do respeito e da igualdade, com sua frágil aparência e forte personalidade, abre o livro de sua vida naquele momento, sem medos ou pudores, assumindo todas as consequências de suas escolhas e seus erros, em busca de justiça até o fim, que, provavelmente chegará mais rápido pela doença. Preciso destacar uma cena primorosa, na qual Andy, na presença de Jon, em um ensaio para o julgamento, canta trechos de uma ópera, iluminado por uma luz acarminada, sob o olhar do espectador que o observa de cima para baixo, em um recurso chamado plongée, que denota sua situação de inferioridade, de vulnerabilidade naquele momento. Era o grito poético de um desesperado! É, sem dúvida alguma, a melhor cena do filme, tanto em conteúdo, como em estilo.

Nesse turbilhão de emoções, ainda há lugar para um belo e triste desfecho, dotado de muita nostalgia e uma sensibilidade única. Ao som da belíssima canção Streets of Philadelphia, de Bruce Springsteen, também laureada com o Oscar, temos uma experiência cinematográfica artisticamente diferenciada e com uma alta carga emocional envolvida, através de um roteiro pesado, mas necessário. Um ambiente propício para boas reflexões.

O trailer, bem como a música tema do filme, seguem abaixo.

Adriano Zumba

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.