Pari (2018)

Título em inglês: Pari: Not a fairy tale

País: Índia

Gêneros: Mistério, terror

Elenco Principal: Anushka Sharma, Parambrata Chatterjee, Rajat Kapoor

Diretor: Prosit Roy

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt7329858/


O terror é um gênero que possui um público cativo em todo o mundo, o qual, normalmente não é muito exigente em relação aos mais diversos aspectos que compõem uma obra cinematográfica. Importantes mesmo são os sustos, o sangue e talvez alguma dose de medo. Pela falta de um cuidado mais aprimorado em relação ao roteiro, filmes de terror adquirem uma roupagem um tanto quanto underground e não é raro serem classificados como um cinema classe B ou até mesmo trash. Realmente, há poucos representante desse gênero que podemos chamar de obras-primas. Definitivamente, esse não é o gênero que mais me atrai, entretanto, quando notei a existência de um filme de terror vindo da Índia, a curiosidade se tornou latente e resolvi dar uma chance para essa produção, pois o cinema indiano me agrada bastante e nunca tinha encontrado um representante desse gênero na cinematografia do país. O resultado dessas mais de duas horas de imersão no ambiente sobrenatural e demoníaco do filme revelarei abaixo, mas, de antemão, saliento que não é a oitava maravilha do mundo, mas, também, não é para se jogar fora.

A sinopse é a seguinte: “Após ter conhecido sua futura esposa em outra cidade, Arnab e seus pais viajam de volta para casa, quando, repentinamente, atropelam e matam uma estranha senhora que cruzou a rodovia. Com a ajuda de nativos da região, chegam até a casa da falecida – no meio da selva – e encontram Ruksana, filha da idosa, que se encontra em circunstâncias misteriosas: acorrentada, assustada e aparentemente desconectada do mundo. Após os rituais finais de sua mãe, Ruksana é caçada por alguns homens, e, por não ter lugar para ir, acaba sendo abrigada temporariamente por Arnadb em sua residência. O problema é que ele não sabe quem é essa mulher e nem conhece seu passado”.

A história remete a seres advindos da mitologia árabe, mais precisamente da religião pré-islâmica e muçulmana, os Jinns, que são entidades sobrenaturais do mundo intermediário, entre o angélico e o humano, associadas ao bem ou ao mal. Dentre eles estão os Ifrits, que são enormes criaturas aladas e constituída de fogo, que vivem no subsolo e costumam frequentar ruínas. Na literatura, eles são mais frequentemente retratados como perversos e impiedosos. Após essa apresentação, percebe-se que há um contexto sobrenatural pungente na narrativa – algo que vai mais para o lado demoníaco ou satânico -, que se esconde atrás dos fatos mostrados – e que demora muito para ser revelado, deixando o espectador literalmente no limbo em boa parte da narrativa. O confuso roteiro promove uma série de dúvidas desnecessárias, mesmo tendo como atenuante a necessidade de exibir mistério para deixar a história interessante. A dose de mistério é exagerada, principalmente pelo ambiente conter elementos desconhecidos da maioria dos espectadores. Talvez um estudioso de ciências exotéricas ou religião possa ter uma leitura correta dos acontecimentos na primeira hora do filme.

A personagem Rukhsana de Anushka Sharma é uma tentativa de humanizar a ideia do satanás vivendo dentro de todos nós. O entusiasmo e o desempenho dessa excelente atriz indiana torna a experiência suportável e o espectador fica disposto a dar a ela um crédito, mas o roteiro bagunçado acaba com sua chance de brilhar. É até estranho que artistas famosas abracem a ideia de trabalharem em filmes de terror, apesar de o filme em tela ter diversas cenas dramáticas, nas quais ela brilha o tempo todo por seu talento. No final das contas, é uma boa interpretação, bem convincente, que talvez lhe conceda algumas premiações no próximo ano, mas sua presença num filme desses é no mínimo não convencional.

O interessante é comparar esse filme indiano de terror a uma obra do mesmo gênero produzida na América, que é o que estamos acostumados a consumir – essa possibilidade de comparação foi o principal atrativo para mim. “Pari” contém elementos que são raros de encontrar em filmes similares:  silêncio sinistro, música melancólica, assombrosa mas reconfortante, uma história de amor e um ar paranoico que toma corpo aos poucos, entretanto, o filme não se furta de exibir alguns scare jumps, que consistem no aparecimento repentino de algo – ou alguém – na tela, e também efeitos sonoros com alto volume. Ambos recursos provocam sustos fáceis e gratuitos, e sempre atribuo a inserção deles na narrativa à incapacidade de gerar medo nos espectadores. Destaco também, principalmente no final, aquelas famosas luzes piscantes em meio a ambientes escuros, juntamente com vozes e grunhidos sintetizados, que são bem característicos de produções comuns do gênero. E por falar em ambientação, preciso realmente comentar sobre ela, pois é um trabalho excepcional da direção de arte, no sentido de criar uma aura aterrorizante e misteriosa. Os cenários dão arrepios e mantém a tensão alta, principalmente as cenas na selva escura e chuvosa. A maquiagem e os efeitos especiais, felizmente, não contribuem para promover comicidade à história. São também muito bem implementados para a construção de um bom filme de terror.

Se você gosta do gênero cinematográfico terror ou horror e prefere um tema genuíno e com uma sucessão de sequências assustadoras, “Pari” é realmente uma boa recomendação, principalmente por não estar vinculado aos ditames do cinema comercial. A falta de roteiro acaba sendo compensada por outros aspectos. Absolutamente, esse filme não é um conto de fadas, como sugere o título em inglês. Mais provável que seja um conto de demônios.

“Espalhe seu sangue, espalhe sua linhagem!”

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba

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