O homem que matou o facínora (1962)

Título original: The man who shot Liberty Valance

País: Estados Unidos

Duração: 2 h e 03 min

Gêneros: Drama, faroeste

Elenco Principal: John Wayne, James Stewart, Lee Marvin

Diretor: John Ford

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0056217/


John Ford, um famoso diretor americano, cuja lembrança praticamente se confunde com o faroeste – gênero que marcou a sua carreira -, que, em “O homem que matou o facínora” – um dos últimos faroestes de sua longa filmografia -,  mostrou ao mundo um estilo diferente de produzir filmes do Velho Oeste, mantendo vários dos elementos que caracterizam os clássicos filmes do gênero, que ele mesmo ajudou a construir, mas modificando outros, ao lhes conceder uma roupagem diferente. Discorrerei melhor sobre isso mais abaixo. O resultado dessa ousadia é um filme que até os dias de hoje é considerado um dos melhores westerns de todos os tempos. Para quem quer fugir dos westerns tradicionais, trata-se de uma excelente recomendação.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “A cidade de Shinbone, no Velho Oeste, recebe a visita de Ransom Stoddard, senador que vai para o funeral de Tom Doniphon, vaqueiro do qual era muito amigo. Ao ser entrevistado por um repórter, Ransom começa a contar que sua fama começou quando ainda era um advogado recém-formado, pois matou Liberty Valance, o mais perigoso bandido da região na época.”

O grande diferencial desse trabalho de Ford foi a bem sucedida tentativa de modernizar um gênero que, naquela época, já estava fadado ao abandono e/ou esquecimento na indústria cinematográfica americana. Em um clima nostálgico, e até romântico, o filme em destaque apresenta quase todos os elementos constituidores de um faroeste tradicional: diligências, trens, xerife, mocinhos, bandidos, cidade pequena, bebidas, armas, botas, esporas, cavalos, etc. Na verdade, só não vemos índios e aqueles famosos planos abertos mostrando a aridez da paisagem do Velho Oeste. A grande diferença recai no comportamento dos personagens, através da humanização dos mesmos, principalmente o personagem de John Wayne – outro homem que se confunde com o faroeste -, Tom Doniphon. Uma representação metafórica dessa humanização está contida numa flor de cacto, que, em uma determinada passagem do filme, Tom oferece a sua amada. Em um corpo grosseiro e cheio de espinhos, floresce a representação do amor, da beleza, da pureza, que é oferecida a uma mulher como uma forma de agradá-la e conquistá-la. Percebam a sutileza da mensagem que esse presente transmite. Através desse objeto, o diretor define o espírito de Tom: um homem rude – espinhoso -, que faz justiça com as próprias mãos em nome da sobrevivência, no contexto inóspito do Velho Oeste, mas que cultiva bons sentimentos – e não apenas o amor, como pode ser visto ao longo do filme.

O outro protagonista, Ransom Stoddard, interpretado pelo grande ator James Stewart, representa a versão antagônica de Tom, apesar de também ser um dos mocinhos da história. Ramsom é advogado e considera que a justiça se materializa através da lei. Ele, pela sua origem, é um homem com um esteriótipo diferente daqueles encontrados na região, ou seja, já é humano por natureza, e possui uma função de narrador da história, pela ordem em retrospecto que a história é contada. Trata-se de um personagem que está na história para receber os efeitos violentos do ambiente no qual está inserido e por à prova o seu caráter pacífico, principalmente através da interação com Tom e o temido Liberty Valance.

A cereja do bolo é um final surpreendente, quando, aparentemente, um desfecho trivial está tomando corpo. Um plot twist arrebatador para evidenciar as qualidades de um dos protagonistas e exaltar a beleza da amizade. O fechamento é em forma de uma frase espetacular – a última mensagem do filme -, que serve perfeitamente para explicar o contexto narrativo global, o qual não vou explicitar para não dar spoillers: “Quando a lenda precede os fatos, publique-se a lenda.” John Wayne é John Wayne e John Ford é John Ford! Apenas isso já basta para atrair o espectador para assistir a mais esse clássico da sétima arte, entretanto, saliento que há diversas outros atrativos e o principal deles é a sensibilidade inserida entre a truculência. Um faroeste diferente! Esse é “O homem que matou o facínora“, uma das obras-primas de John Ford.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba

3 comentários Adicione o seu

  1. ADRIANO CARLOS TARDOQUE disse:

    “Entre a verdade e o mito, publique o mito”. Antológico!

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