A Arte de Amar (2017)

Título original: Sztuka kochania. Historia Michaliny Wislockiej

Título em inglês: The Art of Loving. Story of Michalina Wislocka

País: Polônia

Duração: 2 h e 01 min

Gêneros: Biografia, comédia, drama, romance

Elenco Principal: Kamila Kaminska, Tomasz Kot, Karolina Gruszka

Diretora: Maria Sadowska

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt5370828/


Quantos passos adiante o mundo deixaria de dar, principalmente em relação à busca pela igualdade entre as pessoas, independentemente de quaisquer características que as definam, se não existissem, ao longo da história, seres iluminados que levantaram suas bandeiras e, com muita coragem, determinação e persistência, lutaram por seus ideais? Vinda da longínqua Polônia, eis mais um exemplo de uma pessoa desse tipo: a sexóloga e ginecologista Michalina Wislocka. Bem vindos a esse filme biográfico, que mostra a vida e a saga dessa mulher para conseguir publicar o seu livro, o qual mudaria a vida de milhares de mulheres polonesas e, por que não, dos homens também.

Seu livro, “Sztuka kochania”, ou, traduzindo para o português, “A Arte de Amar”, publicado em 1976, tornou-se o primeiro guia sexual advindo de um país comunista e se tornou um bestseller. Eis uma ótima oportunidade para as pessoas conhecerem o calvário que a médica teve que percorrer para que suas ideias chegassem às pessoas. Além de ser um filme biográfico e, portanto, uma obra recheada de dramas e romances, “A arte de amar” é também um filme que aborda temas político-religiosos, pois o regime comunista da época na Polônia e a Igreja Católica foram os principais focos de resistência para que Michalina realizasse o seu sonho, que era proporcionar felicidade através do ato sexual, proteger as mulheres e propiciar a vivência do amor em sua plenitude.

O filme apresenta duas histórias concomitantes e em diferentes épocas: a história de Michalina a partir do final da década de 40, e, portanto, a partir de fatos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial, até que a mesma se encontre na linha do tempo com a segunda história, a qual versa sobre os acontecimentos decisivos que culminaram no lançamento do tão sonhado livro. É uma narrativa que requer um pouco de atenção. A primeira história, que desnuda o passado considerado subversivo da protagonista, mostra que ela era uma mulher à frente do seu tempo, uma quebradora de paradigmas. Seu comportamento definitivamente era visto com olhos de desconfiança pela sociedade da época. Na verdade, muitos atos praticados por ela, como, por exemplo, participar de um triângulo amoroso consentido, ainda hoje não são bem aceitos. Independentemente disso, o que chama a atenção mesmo é a condição de mero objeto sexual atribuída às mulheres, aliada a uma falta de informação gigantesca e restrições disfarçadas de tradições, que desestimulavam qualquer tipo de tentativa de liberação no âmbito sexual das mulheres. A mulher não conhecia o seu próprio corpo!

A temática política também merece destaque, pelo grande número de exemplos de hipocrisia por parte dos representantes do Partido Comunista e a necessidade de impor regras esdrúxulas para a manutenção de um poder baseado na força e na disseminação repetitiva de seus conceitos. A entrada em cenas de algumas esposas de líderes comunistas – e suas interações com a médica – abrilhantam ainda mais a narrativa. Nesse contexto, o filme passa a ter também um viés histórico. Chama a atenção também os métodos nada convencionais que Michalina utilizava em suas consultas. É bom salientar que seus métodos e pensamentos foram desenvolvidos a partir de experiências ao longo de sua vida, principalmente através da observação dos casos clínicos que chegavam a sua presença. Ela apenas identificou a infelicidade e, pelo seu espírito de humanidade, procurou ajudar as pessoas.

Há personagens coadjuvantes que fazem diferença na narrativa, principalmente a filha e parceiros amorosos de Michalina. Senti falta de um desfecho claro e objetivo para alguns deles, os quais simplesmente sumiram do filme. Mesmo sabendo que o mote narrativo é outro, esse aspecto não deixa de ser uma ponta solta no roteiro. Ademais, a fotografia é belíssima e a paleta em tons pastéis é muito bem aplicada às cenas nas quais a doutora tinha uma vida sexual de mulher comum, ou seja, terrível. A transição para cores mais alegres é bastante inteligente para denotar a sua “evolução sexual”. Uma das músicas da trilha sonora lembra bastante uma canção de Raul Seixas e concede um ar meio hippie à narrativa. Em uma rápida análise, vemos que ela combina com o figurino apresentado pela protagonista, e se adequa perfeitamente à “condição de alforria” apresentada em algumas cenas nas quais ela é tocada.

A arte de amar” acaba se tornando um filme obrigatório e necessário. É mais uma história fantástica de uma heroína anônima, que merece ser vista por todos.

É uma ode à liberdade e ao amor!

O trailer sem legendas segue abaixo.

Adriano Zumba

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