Eu não sou um homem fácil (2018)

Título original: Je ne suis pas un homme facile

Título em inglês: I am not an easy man

País: França

Duração: 1 h e 38 min

Gênero: Comédia

Elenco Principal: Lucie Leclerc, Pierre Benezit, Jessica Blue, Moon Dailly

Diretor: Eléonore Pourriat

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6857988/


Não foi Éléonore Pourriat, com “Eu não sou um homem fácil”, que introduziu a inversão dos papéis de gênero consagrados em nossa sociedade nas produções cinematográficas. Inclusive o cinema nacional, há mais de uma década, abordou dessa perspectiva o tema da empatia nas relações conjugais em “Se eu fosse você” (2006) ‒ que deve se tornar uma trilogia em breve. A obra de Daniel Filho, por sua vez, herdou os nomes dos seus personagens centrais ‒ e quiçá algo mais ‒ do caricato e também brasileiro “Sexo às avessas” (1982). Não obstante, é na mesma linha do curta “Maioria oprimida” (2010), da própria Éléonore Pourriat, que a sua produção mais recente se desenvolve. Nela, não há troca de corpos nem representações extravagantes do comportamento do outro, e o burlesco cede espaço ao reflexivo. A despeito da sua classificação como comédia ‒ gênero ao qual também pertencem suas antecessoras ‒ e do seu inegável bom humor, seu objetivo principal decerto não é fazer rir: “Eu não sou um homem fácil” é uma espécie de anticrítica ao feminismo.

Damien, o protagonista, encarna com maestria o estereótipo do garanhão machista, até que um verdadeiro golpe do acaso faz com que ele desperte em um mundo “ao revés”, dominado pelas mulheres. Nessa nova realidade, são elas que estão à frente das empresas, da atividade policial e que se destacam por sua força e intelecto, ao passo que seus corpos, encobertos, ficam em segundo plano. Os homens, por seu turno, atuam como secretários, servem café, dedicam-se aos afazeres domésticos e têm seus corpos expostos por suas vestimentas e nos painéis publicitários da cidade. Enquanto elas gostam de futebol e cerveja, eles conversam amenidades à
mesa da cozinha e presumidamente preferem champanhe rosé; elas querem relações sem compromisso e saciam rapidamente os seus desejos, ignorando a satisfação dos seus parceiros; eles são pressionados para que se casem e se preocupam com possíveis traições, com seus relógios biológicos e em manter a forma e a boa aparência.

É vasto como o mundo em si o leque de inversões que Pourriat abre diante do espectador. Mas mais significativa que essa profusão de argumentos é a absoluta naturalidade com que ela os apresenta. Como dito inicialmente, não nos deparamos com uma “sociedade transgênero”, na qual mulheres se sentem homens e vice-versa: nessa coletividade “antípoda”, as mulheres se identificam como tal; apenas procedem, por natureza, de maneira que, por razões seculares, enxergamos como tipicamente masculina ‒ o mesmo valendo, no sentido contrário, para os homens. É assim que a película pega literalmente de calças curtas desde o incauto Damien até
aquele que se julga o mais desconstruído dos sujeitos ‒ e das sujeitas, inclusive!

O título, que a princípio pode parecer pequeno perto do roteiro, cai como uma luva quando o nosso anti-herói, bêbado, é assediado em um bar ‒ porque é isso que o seu comportamento pede. Situações como essa levam o movimento “masculista” às ruas, mas seus membros são recriminados, pois ninguém, além deles, entende como se pode não gostar de “elogios” ou de ter as portas dos carros abertas para si; ninguém entende, ironicamente, por que tanto “mimimi”. Soa familiar?

O filme está disponível na Netflix – que, por sinal, é menina, como pode ser visto no link 🙂 -, e o trailer segue abaixo.

aDriano zuMba

1 comentário Adicione o seu

  1. Datiana disse:

    A crítica supera o filme!

    Curtir

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