Pão e rosas (2000)

Título original: Bread and roses

Paíse: Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Itália, Suíça

Duração: 1 h e 50 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Pilar Padilla, Adrien Brody, Elpidia Carrillo

Diretor: Ken Loach

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0212826/


Opinião: Ken Loach exalando sua essência socialista.


BREAD AND ROSES

As we come marching, marching in the beauty of the day,
A million darkened kitchens, a thousand mill lofts gray,
Are touched with all the radiance that a sudden sun discloses,
For the people hear us singing: “Bread and roses! Bread and roses!”

As we come marching, marching, we battle too for men,
For they are women’s children, and we mother them again.
Our lives shall not be sweated from birth until life closes;
Hearts starve as well as bodies; give us bread, but give us roses!

As we come marching, marching, unnumbered women dead
Go crying through our singing their ancient song of bread.
Small art and love and beauty their drudging spirits knew.
Yes, it is bread we fight for — but we fight for roses, too!

As we come marching, marching, we bring the greater days.
The rising of the women means the rising of the race.
No more the drudge and idler — ten that toil where one reposes,
But a sharing of life’s glories: Bread and roses! Bread and roses!


Traduzindo para o português.

Obs.: Após a tradução, obviamente, o poema perdeu as rimas, mas manteve a mensagem.

PÃO E ROSAS

Enquanto vamos marchando, avançando através do belo dia,
um milhão de cozinhas escuras e milhares de fábricas cinzentas
são tocadas por um sol radioso que subitamente abre,
e o povo ouve-nos cantar: Pão e rosas! Pão e rosas!

Enquanto vamos marchando, avançando,
Lutamos também pelos homens
pois eles são filhos de mulheres,
e como mães os protegemos.
Não mais seremos exploradas desde o nascimento até à morte
os corações mirram de fome, assim como os corpos.
Dai-nos pão, mas dai-nos rosas também !

Enquanto vamos marchando, avançando,
milhares de mulheres mortas
gritam através do nosso canto o seu antigo pedido de pão;
exaustas pelo trabalho, não conheceram a arte, nem o amor, nem a beleza.
Sim, é pelo pão que lutamos, mas também lutamos por rosas!
À medida que vamos marchando, avançando
trazemos conosco dias melhores.

Erguem-se as mulheres e isso significa
Que se ergue a humanidade.
Basta de agonia para o trabalhador e de ócio para o malandro:
o suor de dez que trabalham para um que nada faz.
Queremos compartilhar as glórias da vida: pão e rosas, pão e rosas!

Não permitiremos a exploração desde o nascimento até à morte;
os corações morrem de fome, assim como os corpos :
Pão e rosas, pão e rosas!


Começo esse texto com um poema escrito em 1911 por James Oppenheim. Seus versos, que foram usados para celebrar os direitos das mulheres, desde então se tornaram o hino de protestos de trabalhadores na Inglaterra e mundo afora. Convenhamos que foi uma escolha muito sábia de Loach para entitular o filme em destaque. A primeira vez foi em 1912 numa greve em uma fábrica de tecidos de Massachusetts, nos EUA, contra o corte de salários. As mulheres carregavam cartazes com trechos do poema, “queremos pão e rosas também”. Após uma rápida interpretação das ideias do poema, vemos que não há cineasta melhor para traduzir para a linguagem cinematográfica a mensagem global que essa obra literária oferece a seus leitores: Ken Loach, um diretor afeito ao socialismo e sempre atento às questões trabalhistas e de justiça social. Boa parte de sua cinematografia remete a esses temas, os quais são sempre pertinentes, independentemente da época a que se quer aludir.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “As irmãs Maya e Rosa, mexicanas de sangue quente, trabalham no serviço de limpeza de um prédio comercial no centro da cidade de Los Angeles. O destinou colocou Sam, apaixonado ativista americano, no seu caminho, o que as leva a uma campanha guerrilheira contra seus patrões. A luta ameaça o sustento e a família das protagonistas, e faz com que corram o risco de serem expulsas do país.”

Trata-se de um filme cheio de simbolismos que permitem ao espectador identificar uma série de ações, as quais vão de encontro a qualquer senso de humanidade e ao encontro de pilares ocultos que movem a engrenagem do capitalismo em todo mundo. O principal ponto de interesse é a exploração sem limites – e sem o devido reconhecimento, remuneração e obtenção de direitos – da mão de obra operária, representada, no enredo em questão, por pessoas predominantemente oriundas da América Latina, que moram ilegalmente nos Estados Unidos e vieram em busca de recursos financeiros para sustentarem suas famílias em seus países de origem. O roteiro foca principalmente na precarização das relações de trabalho, que é algo muito atual pelo advento de leis que permitem a terceirização de mão de obra em todo o mundo. Ademais, esse “viés trabalhista”, como fio condutor da história, confunde-se com a própria condição de imigrantes na América. São duas espinhas dorsais que caminham juntas em toda a duração do filme e mostram uma série de situações às quais tais pessoas – os imigrantes – estão submetidas: exploração sexual e laboral, humilhação, desrespeito, coação, marginalização, obtenção de subempregos – apesar de todo trabalho ser digno -, etc. Sem dúvida, “Pão e rosas” é uma obra bastante necessária, por englobar temáticas pertinentes que convergem para a busca de igualdade – pelo menos, como seres humanos -, respeito e dignidade para todos.

Mesmo possuindo ideias interessantes e espinhosas, que exigem uma narrativa séria e dramática, e um diretor engajado na causa do filme, cuja junção supostamente deveria ser magnífica, o roteiro bastante superficial não colabora nem um pouco para um desenvolvimento que denote completude em relação aos temas propostos. Muita dessa percepção de que falta algo se deve ao contexto cômico presente em algumas cenas e a presença de Sam, um sindicalista despojado que, definitivamente, não transmite segurança – e seriedade – nem aos trabalhadores e tão pouco aos espectadores.  O ponto alto do filme, que é também o momento com maior carga dramática, é um diálogo entre Rosa e Maya, que, apesar de transmitir muita angústia, poderia ter seu conteúdo dramatizado. O desfecho não trasmite emoção alguma, num contexto no qual ela deveria ser abundante. Também, há um triângulo amoroso totalmente desnecessário na história, pois não leva a lugar algum e não encontra guarida na narrativa. Como visto, identifiquei diversas falhas que não chegam a estragar o filme, mas que negativam uma narrativa que tinha tudo para ser melhor trabalhada. Pareceu-me um filme com menos cuidado por parte do diretor em relação a outros de sua filmografia, como “Kes” (1969), “Terra e liberdade” (1995) e “Eu, Daniel Blake” (2016).

A necessidade de organização de trabalhadores é colocada como o pote de ouro no final do arco-íris, entretanto, o filme não se furta de mostrar que também há uma exploração advinda das entidades as quais normalmente aglutinam operários com interesses comuns, os sindicatos. É mostrado também o lado negocial e capitalista dessas associações. Sempre é bom mostrar as várias faces do polígono, para que o espectador faça seu juízo de valor. Ao fim, pelo menos para mim, ficou um vácuo que poderia ser preenchido por diversas situações e de diversas maneiras diferentes, pelo potencial que o enredo proposto possuía, contudo, não posso, em hipótese alguma, descartar uma obra como essa, pois ela contribui para uma desejada mudança global de pensamento das pessoas em busca de um mundo mais humano e igualitário para todos. Que sempre haja pão para matar a fome e rosas para proporcionar dignidade e respeito. Essa é a mensagem do poema e, consequentemente, da obra de Ken Loach. Um filme imprescindível!

O trailer, narrado em inglês, bem como o filme completo, com legendas em português, seguem abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER


 

FILME COMPLETO

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