Monster – Desejo Assassino (2003)

Título original: Monster

Países: Estados Unidos, Alemanha

Duração: 1 h e 49 min

Gêneros: Biografia, drama, crime, thriller

Elenco Principal: Charlize Theron, Christina Ricci, Bruce Dern

Diretor: Patty Jenkins

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0340855/


Para que um “filme de serial killer” não se resuma à simples e pura exibição de violência gratuita e se posicione em um patamar narrativo acima dos demais filmes com a mesma temática, há de haver um ambiente propício para que o roteiro se desenvolva, que, se possível, retroaja no tempo a fim de buscar a gênese de todos os fatos que são mostrados, ou seja, há de haver explicações para os crimes. Em se tratando de uma história real, tais elucidações são ainda mais pertinentes, pois há a necessidade de se entender, numa conjuntura real, o funcionamento da mente das pessoas que saem matando deliberadamente seus semelhantes, para que haja uma sensação de completude no entendimento das pessoas. Através da revelação de fatos pretéritos, o diretor tem a capacidade de manipular as informações de modo a despertar sentimentos diversos em sua plateia, mesmo repudiando, como se espera, os assassinatos. A maneira como o roteiro de “Monster” é desenvolvido permite que o espectador julgue sob sua ótica os atos da protagonista, apesar de apresentar um direcionamento explícito – que reflete a história real -, e outro implícito, que olha para a criminosa de uma forma humana, como um produto do meio que sempre viveu – transtornada por sua vida sofrida, ocasionada principalmente pelo sexo masculino. É bom revelar que seu pai era molestador de crianças, seu irmão a estuprou e seu avô a agredia fisicamente e sexualmente com frequência. Nota-se prontamente que a obra proporciona diversas reflexões, num contexto em que elas nem deveriam existir, pelo desrespeito tão evidente às leis penais e à lei da vida por parte da protagonista.

Eis a sinopse: “Monster conta a história da primeira assassina em série americana, Aileen Wuornos – ou simplesmente Lee -, a qual foi executada com uma injeção letal em 2002. Sua vida foi marcada por abuso sexual e uso de drogas. Na adolescência, ela passou a se prostituir para sobreviver. Quando se mudou para a Flórida, ela conheceu Selby Wall, com que viveu um romance intenso. Certa noite, Aileen foi agredida por um cliente e, vendo que iria morrer, acabou o assassinando. Este crime deu início a uma série de mortes, após um breve julgamento mental em relação ao caráter dos homens que a abordavam para receber os seus serviços.”

Antes de tudo, “Monster” é um filme de amor e não o diário secreto de uma assassina. Trata-se de um amor que denota esperança, que representa a oportunidade de levar uma vida normal longe dos longos espinhos da existência, que penetram até o fundo da alma de Aileen. O amor é o fio condutor do roteiro, pelo qual Lee passou a viver e a direcionar os seus esforços. No outro polo da relação se encontra Selby, um ser humano fraco, uma carente mulher homossexual que exala insegurança quanto à vida. Nota-se que há uma estrela brilhante e outra apagada. Uma pessoa ávida por dar e outra por receber. Duas pessoas que se complementam até o limite de suas pretensões, mas essa relação de dependência bilateral pode ser considerada como uma das origens dos ideais assassinos, após um rápido raciocínio sobre o assunto, considerando o ambiente que está posto no filme. Através da contextualização do passado e do presente, isto é, a exibição da dor causada por uma vida marginal e da pureza de um belo sentimento, a diretora escolhe o objetivo que deseja atingir em sua obra: causar um sentimento de dó em sua plateia. Essa tentativa de gerar dúvidas é ousada e pode desagradar a muitos, pois é sempre bom lembrar que os fatos que o filme se propõe a relatar são referentes a uma mulher que assassinou 7 pessoas, segundo as investigações reais.

E o que comentar sobre a bela Charlize Theron, vencedora do Oscar de melhor atriz pela interpretação de Aileen Wuornos? São simplesmente espetaculares os trabalhos da artista e de toda equipe técnica que participou da construção física da personagem. Fiz questão de assistir a algumas entrevistas da pessoa real de Lee para poder ter uma base de comparação, e a semelhança impressiona. Além do mais, Lee foi diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline, ou seja, Charlize precisou interpretar uma pessoa mentalmente instável e conseguimos identificar perfeitamente em sua personagem traços de problemas mentais pelo modo que se comporta e pela sua linguagem corporal. O melhor de tudo é que essa interpretação excelente não carrega o filme nas costas, isto é, “Monster” não é só Charlize Theron, o que o torna uma obra diferenciada, pois possui outros atributos, principalmente o roteiro, que concedem qualidade a sua audiência.

É bom salientar que o título não se refere apenas à personagem principal, mas também a uma roda gigante que a apavorou quando criança, a qual podemos metaforizar ao compararmos esse meio com os altos e baixos que a vida proporciona e a sensação de medo que não raro se instala nas pessoas, principalmente em alguém que sofreu tanto. No fim, temos a percepção de que se trata da história de uma pessoa que cruzou a fronteira entre o bem e o mal. Uma pessoa que inicialmente matou por necessidade, mas que não teve forças para impedir que isso se tornasse um hábito. Uma vítima ou assassina cruel? A justiça americana já decidiu, entretanto há controvérsias.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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