O traidor (2019)

Título original: Il traditore

Título em inglês: The traitor

Países: Itália, França, Alemanha, Brasil

Duração: 2 h e 25 min

Gênero: Biografia, crime, drama

Elenco Principal: Pierfrancesco Favino, Luigi Lo Cascio, Fausto Russo Alesi, Maria Fernanda Cândido

Diretor: Marco Bellocchio

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt7736478/


Opinião: “Principal ponto de interesse bem trabalhado, mas pontos acessórios desnecessários.”


Filmes biográficos são uma boa oportunidade para conhecer pessoas, anônimas ou não, que, de alguma forma, deixaram um legado representativo em suas vidas. Entretanto, esse legado pode ser relacionado a atos “do bem” ou “do mal”. Em minha opinião, não acho salutar dramatizar a vida de um bandido, pois há inúmeras pessoas com histórias fantásticas e inspiradoras ao redor do globo que ofereceriam uma matéria-prima mais interessante para uma produção cinematográfica, pois dar publicidade a belos exemplos é sempre pertinente, no entanto, é bom salientar que o personagem “homenageado” em “O traidor“, Tommaso Buscetta, a despeito de ser um mafioso italiano importante e responsável por uma série de crimes, teve papel decisivo ao contribuir com a justiça no processo de desbaratamento da máfia italiana na década de 80 do século passado e, por esse detalhe histórico e importantíssimo, merece que essas passagens colaborativas de sua vida cheguem a todos os cantos do mundo por intermédio do cinema.

Eis a sinopse: “No início dos anos 80, uma guerra generalizada eclode entre os chefes da Máfia Siciliana pelo controle do tráfico de heroína. Tommaso Buscetta, um integrante de alto escalão, foge para se esconder no Brasil. Na Itália, os acertos de contas acontecem enquanto Buscetta assiste de longe seus filhos e irmãos sendo assassinados em Palermo, sabendo que poderá ser o próximo. Preso pela polícia brasileira e extraditado para a Itália, Buscetta toma uma decisão que irá mudar os rumos da máfia italiana: ele decide se encontrar com o Juiz Giovanni Falcone e trair o voto eterno de silêncio que fez à Cosa Nostra.”

É de se esperar que uma organização da magnitude da máfia italiana seja composta por incontáveis participantes dos mais diversos graus de hierarquia. Essa afirmação é responsável pelo maior problema do filme em tela: a grande quantidade de personagens, os quais são praticamente lançados a esmo logo no início da exibição, sem uma mínima apresentação prévia e sem darem pistas de suas importâncias dentro da narrativa. Por esse motivo, recomendo fortemente que o espectador, antes de assistir a “O traidor“, leia um pouco sobre a máfia italiana, principalmente sobre a Operação Mãos Limpas, e conheça seus principais líderes, para incrementar a sua experiência cinematográfica, pois o primeiro ato da trama é realmente bastante confuso.

O melhor do filme é seu desenvolvimento, que se confunde com o segundo ato, pois é nele que estão contidas as cenas do julgamento dos chefões da máfia, os quais interagem entre sim, com o magistrado e com o próprio delator, Buscetta, em cenas de acareação que são o ápice da obra. Percebe-se que as cenas do tribunal salvam o filme pelo contexto psicológico e visual que constroem, por exibir flashbacks explicativos sobre tudo que ficou pendente na introdução e por haver a preocupação em situar o espectador na linha temporal através de inserções explícitas de datas dentro das cenas. Durante esse bloco narrativo, o roteiro se torna extremamente mais inteligível, mas, ao fim, quando o filme caminha rumo a seu desfecho as coisas começam a ficar novamente desinteressantes por focar na intimidade de Buscetta, perdurando até a sua morte. Como já salientei, a vida privada e cotidiana de um bandido não possui aspectos atrativos para serem revelados em um filme que é praticamente semidocumental, ou seja, um “documentário dramatizado”. Nota-se que o filme é longo, portanto, realçar apenas o âmbito policial e jurídico da temática teria sido a estratégia mais acertada, além de reduzir em pelo menos 30 minutos o tempo de exibição da obra, no entanto, pelo menos temos a oportunidade de ver a bela atriz brasileira Maria Fernanda Cândido em ação.

O traidor” é um filme com excelência técnica, boas atuações do elenco e um roteiro deveras irregular, apesar de ter momentos de grande brilho. Infelizmente, após a sua audiência, fica-se com a sensação de que para conhecer as passagens aludidas pelo filme e descobrir quem foi  Tomazzo Buschetta, é melhor assistir a um documentário, pois proporciona mais riqueza de detalhes e não desperdiça tempo divagando, entretanto, como uma mídia introdutória sobre o personagem e a conjuntura histórica é uma boa recomendação. Nesse último caso, a obra em destaque é cosa nostra!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


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