Crítica | Final Girl

Ideia interessante é prejudicada por direção amadora

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

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Veronica (Abigail Breslin) e seu mentor (Wes Bentley)

Logo nos primeiros minutos de filme eu já percebi que tinha caído em uma cilada. A sinopse do filme na Netflix dizia “eles matam garotas por esporte e já escolheram sua próxima vítima, só não sabem que ela é uma assassina profissional”. Com um resumo desses, eu esperava uma espécie de suspense, no qual os caçadores iriam virar caça, porém suspense é o que menos existe em Final Girl. Os primeiros minutos do filme são focados na jovem Veronica (Abigail Breslin) que, por algum motivo, foi escolhida para passar por um treinamento com o objetivo de caçar assassinos em série. Em vez de focar justamente na caçada aos assassinos e, aos poucos, ir mostrando o passado da protagonista, o filme perde muito tempo estabelecendo quais são as habilidades dela, sem nunca se aprofundar na personagem. Além disso, em momento algum é explicado o porque do treinador de Veronica precisar dela para a tarefa, já que ele se mostra extremamente habilidoso para a tarefa.

Com uma história sem pé nem cabeça como essa, o mínimo que se espera desse tipo de filme é que, pelo menos, ele tenha bastante suspense e mortes bizarras. Infelizmente, nem isso ele consegue entregar para o espectador. O único momento em que o filme tenta criar um certo suspense, com a protagonista parecendo estar em uma posição vulnerável, é estragado justamente porque a gente já conhece todas as habilidades da garota e sabe que ela pode sair da situação tranquilamente. E quando finalmente chega a vez dela caçar os caçadores, o filme se resume a mostrar os garotos correndo pela floresta e depois lutando com Veronica. Em momento algum temos uma sensação de estar assistindo a uma perseguição de verdade. Além disso, mesmo com as burradas cometidas pela protagonista, ela nunca parece estar em perigo, fazendo com que o espectador não se preocupe com ela, o que tira a emoção do filme.

Onde essa corda estava pendurada? E de onde vem tanta luz no meio da floresta?

Final Girl não respeita a própria história da personagem apresentada logo no começo do filme. Mostrada como alguém treinada para prosseguir com sua missão mesmo nas situações mais adversas e tirar proveito de qualquer vantagem, é no mínimo estranho assistir Veronica abrindo mão de vários recursos que poderiam ajudá-la. Em pouco tempo ela consegue ter acesso a um machado, que é logo descartado para que ela enfrente um dos vilões na porrada. Não demora para que ela consiga outras coisas, mas sempre preferindo utilizar as próprias mãos e apanhar um pouco no processo. Isso poderia fazer algum sentido se ela tivesse sido apresentada como alguém que gosta de lutas corporais ou gosta de sentir dor, mas ela foi treinada justamente para que isso não fosse necessário. Se pelo menos as lutas fossem interessantes e bem feitas, isso poderia justificar a escolha da personagem, mas nem isso acontece. Até mesmo as mortes dos vilões não possuem impacto visual algum. É um filme sobre assassinatos que praticamente não possui sangue.

E já que eu citei a falta de sangue, isso é apenas um exemplo do quanto essa produção é capenga. Boa parte de Final Girl se passa durante a madrugada no meio de uma floresta. Porém, a iluminação claramente artificial faz com que o espectador tenha a sensação de que estão todos confortáveis dentro de um estúdio. É um tipo de iluminação que seria simplesmente impossível em uma floresta mesmo que fosse uma noite de lua cheia. Mesmo com tantas árvores ao redor, a luz parece cercar os personagens, vindo de todas as direções possíveis. Em algumas cenas é possível perceber exatamente onde foram colocados os holofotes no cenário. A coisa toda chega ao cúmulo de ter uma fonte de luz atrás de um dos personagens, mas o rosto dele aparecer tão iluminado quanto o personagem que está de frente para ele. Além disso, eles são sempre iluminados com uma luz muito dura, típica de estúdios de fotografia. Como se tudo isso não bastasse, Final Girl conta com personagens que não possuem carisma, sendo impossível se preocupar com qualquer um deles. A única coisa que talvez pudesse salvar o filme é se ele tivesse uma montagem diferente, com Veronica sendo mostrada como vítima para depois descobrirmos o que ela é de verdade. Infelizmente, o diretor Tyler Shields optou por uma abordagem linear, o que deixou ainda pior a já fraca história.

Final Girl (Final Girl, EUA)

Ano de Lançamento: 2015

Duração: 1h 30m

Direção: Tyler Shields

Roteiro: Adam Prince

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.