Crítica | O Túnel

Filme coreano de catástrofe apresenta bons momentos de tensão

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

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O filme conta a história do vendedor de carros Lee Jung-Soo (Ha Jung-Woo) que, ao voltar para casa de carro, acaba ficando preso dentro um túnel que desmorona em cima dele. A partir daí, vemos o personagem tentando sobreviver dentro do carro parcialmente destruído, enquanto as autoridades da Coreia do Sul elaboram planos para o resgate. Ao contrário do que acontece na maioria dos filmes de catástrofe, onde sempre tem um herói que vai resolver a situação, em O Túnel temos apenas pessoas comuns passando por uma situação extrema. Além de Lee Jung-Soo, o filme foca no chefe do resgate Dae-Kyung (Oh Dal-su), que realmente está disposto a fazer tudo para concluir o resgate, e na esposa de Lee, Se-Hyun (Bae Doona), que passa a trabalhar como voluntária para a equipe de resgate numa tentativa de aliviar a tensão do que está passando.

Apesar do grande foco do filme ser na sobrevivência do protagonista, ele ainda aborda outros temas, como o fato de várias empresas realizarem obras públicas mal feitas, sem se importar com a segurança da população, em troca de economizar algum dinheiro. O governo, por sua vez, acaba dando um jeito de acobertar as falhas e apoiar as empresas, com a desculpa de manter a economia do país girando. No meio de tudo isso está a imprensa, muito mais preocupada em sensacionalismo do que em reportar os fatos. Ao descobrir o nome e o telefone de quem está preso no túnel, um repórter não hesita em telefonar para ele, sem se preocupar com as consequências. E quando um dos membros do resgate diz que pode estar perto de resgatar Lee Jung-Soo, o repórter não consegue esconder uma certa decepção, uma vez que ele já estava preparando uma matéria sobre o recorde de maior tempo preso soterrado.

Claro que a o filme não sobrevive apenas de críticas ao governo e às grandes empresas de construção, oferecendo muita tensão como todo bom filme de catástrofe. A câmera dentro do carro no momento em que o túnel desaba faz com que o espectador se sinta realmente dentro da ação e é impossível não torcer para o protagonista conseguir escapar, mesmo sabendo que aquela situação é inevitável. Vale notar também os efeitos especiais do desabamento que estão muito bem feitos, entregando uma cena de ação muito empolgante logo no começo do filme. Aliás, mais pra frente existe uma outra cena de carro fugindo de um segundo desabamento que é de tirar o fôlego, principalmente porque nessa não tem como termos certeza de que os envolvidos vão conseguir escapar ou não.

Já as cenas de Lee Jung-Soo preso no túnel são extremamente claustrofóbicas, com a câmera filmando o personagem sempre bem de perto, diminuindo ainda mais o já apertado espaço do carro. O diretor Kim Seong-hun é bastante habilidoso ao criar sua atmosfera de tensão, fazendo com que o espectador prenda a respiração a cada momento que o protagonista precisa se movimentar. Barulhos de metal rangendo, poeira descendo do teto, pedras rolando, são pequenos detalhes que nos passam a sensação de que tudo pode desmoronar a qualquer momento. Já os planos detalhe nas mãos de Lee quando ele está racionando a água conseguem transmitir com eficiência a importância daquele momento para que ele consiga sobreviver até a chegada do resgate.

O Túnel possui ainda algumas sequências de alívio cômico com algumas trapalhadas das autoridades responsáveis pelo resgate, como rasgar uma das plantas do túnel. Embora sejam engraçadas em um primeiro momento, essas cenas acabam servindo também como uma crítica à incompetência das autoridades para lidar com situações extremas desse tipo. A grande falha do filme é a sua duração. Com pouco mais de duas horas, chega um certo momento em que fica difícil acreditar que Lee Jung-Soo tenha conseguido sobreviver durante tanto tempo, principalmente porque o filme não investe muito tempo para mostrar como ele conseguiu o que comer. Mas nada que estrague a diversão para quem curte filmes de catástrofe.

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.