Tonari no Kaibutsu-kun: Meu primeiro shoujo

Tonari no Kaibutsu-kun foi meu primeiro anime shoujo. Sempre quis ler um mangá shoujo, mas eu acavaba empurrando pra depois, e assim faço até hoje. Aí, algumas semanas atrás, vi na Netflix um anime que parecia com as coisas que eu queria ler e pensei: pronto, vou começar por aqui. Acho que comecei muito bem, não tenho ideia de como os outros animes são, mas este foi especial. Era tudo o que eu queria numa história e não sabia.

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Shizuku é a protagonista, sem amigos, fechada, e que se preocupa apenas com suas notas. O outro protagonista é Haru, um menino com uma personalidade bem diferente, que parou de ir à escola depois de muitas brigas com outros alunos. Shizuku é interpelada por uma professora para levar algumas tarefas escolares para Haru. Assim começa a história entre os dois, que é o centro do anime.

Haru é realmente muito diferente. Rapidamente ele se fascina por Shizuku e se diz apaixonado. Ele sente que ela é uma amiga de verdade, o que parece ser novidade para ele. Isso acaba sendo o suficiente para ele voltar para escola, e então outros personagens importantes surgem. Natsume é uma menina muito bonita, mas solitária, e sua beleza sempre a afastou tanto das amigas quanto dos meninos que não conseguem se comportar normalmente perto dela. Mas perto de Shizuku (que só tem olhos para o estudo e não se preocupa com rivalidade entre meninas) e Haru (que só tem olhos para Shizuku), Natsume consegue finalmente se sentir à vontade. Outra personagem solitária é Chizuru, a menina tímida e ansiosa que não consegue se relacionar com as pessoas.

Duas coisas me fizeram gostar muito do anime. O relacionamento de Shizuku com Haru e o relacionamento de todos no grupo. Senti que o ponto principal era a solidão. Todos os personagens – cada um de um jeito – eram solitários.  Shizuku é solitária, mas não parece se incomodar com isso. Ela cresceu sem a mãe por perto, apenas com o pai, e seu único objetivo sempre foi estudar muito. Viver desconectada, mesmo  que por opção, acabou fazendo dela uma pessoa bem mal-humorada, com pouca tolerância para pessoas frágeis.

Haru também é solitário, mas acho que no caso dele é mais fácil de explicar. A personalidade de Haru vai além dos meninos bad boys. Ele parece ter dez anos de idade em alguns momentos. E suas atitudes se encaixam com alguém com um leve grau de autismo. Não entendo dessas coisas, e isso é só um chute, mas acho que pensando assim fica mais fácil de entender o personagem. Na história fica bem claro que ele se expressa através de brigas por não entender isso como algo errado. Ele sempre diz coisas inadequadas sem ter a intenção. Shizuku precisa  trazê-lo à realidade, como quem diz “viu, isso é errado”. 

O anime é baseado no mangá de doze edições normais e uma especial. Não sei até que ponto a produção para tevê é fiel ao mangá, e parece que o anime não teve um final de verdade. Só fui descobrir isso depois de ver todos os capítulos, mas mesmo assim eu não consegui sentir que faltou um final. Acho que o final casou totalmente com o que a história queria passar. E cuidado, vou jogar o spoiler agora. 

Em todo momento, a solidão era uma questão importante. Shizuku, Haru, Natsume e Chizuru. Mesmo nunca tendo ido ao Japão, percebi que esse tema é recorrente em alguns filmes e na cultura popular urbana japonesa. Parece que o jovem de lá se sente mais solitário do que a maioria dos outros jovens, que já são bem solitários. Por isso, senti que esse tema foi tratado com bastante sensibilidade no anime. Mesmo com personagens tão jovens, a mensagem é passada de forma bem madura. Foi isso, principalmente, que fez com que eu, alguém que nunca tinha visto um anime shoujo, conseguisse entrar na história e tentar compreender os temas e personagens. 

No fim, não dá pra saber se Haru e Shizuku ficam mesmo juntos. Pode ser que esse final tenha ficado assim porque eles esperavam ter outra temporada, mas para mim foi perfeito. Shizuku descobriu que quando alguém é gentil com você, fica impossível tirá-lo da sua vida. E que a solidão nem sempre é boa. O fim foi como uma promessa de que todas as aventuras que todos passaram juntos vão continuar talvez para sempre. 

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