UnReal

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Acho que eu já disse isso aqui, mas todo ano eu acompanho as séries que estreiam e até me inscrevo nos projetos sazonais do Banco de Séries para tentar ver o máximo possível de novidades. Depois, claro, vou abandonando muitas que me fazem perder o interesse, afinal, a vida é curta. Ano passado assisti muito piloto ruim, mas deixei passar o de UnReal. O motivo? O canal: Lifetime. Talvez tenha sido ignorância minha, mas achei que a chance de a série ser ruim era tão grande que quis me dar esse raro presente: não assistir um piloto. Pois é, no fim a série vingou, está na segunda temporada e a terceira já foi encomendada. Vi algumas pessoas falando bem dela, e agora aqui estou: em dia com a série, envolvida e nada arrependida.

Dei conta de UnReal em poucos dias (pra minha sorte são apenas dez episódios na primeira temporada) e viciei. A season 2 começou faz pouco tempo, eu assisti os quatro episódios que já foram, e fiquei levemente desanimada. Mas não vou me adiantar, vamos começar do começo.

tumblr_ntd9y15twc1qhh8jso1_250Rachel, a protagonista (que eu achei a cara da Giovanna Antonelli), é produtora de uma reality show chamado Everlasting, mas ela foi afastada de suas funções depois de surtar e fazer feio na frente de toda a equipe. Perdeu a compostura e boa parte da sanidade, perdeu o emprego. Mas, aparentemente recuperada e quase que à força, Rachel volta para Everlasting a convite de Quinn, a produtora executiva do programa – uma mulher que não mede esforços para conseguir o que quer. Rachel e Quinn se complementam. Nos primeiros dez episódios fica bem fácil entender isso. As duas mulheres possuem o dom de manipular as pessoas e convencê-las a fazer o que quer que seja melhor para o programa. Claro, essa é a melhor qualidade que uma produtora de reality show de relacionamento poderia ter.

Everlasting, a série fictícia dentro de UnReal, é notadamente inspirada em The Bachelor, um reality show sobre mulheres que procuram o homem ideal. Cada temporada tem um “príncipe” a ser disputado por elas. The Bachelor não fez muito sucesso no Brasil, e no geral acho que esse tipo de reality não é popular por aqui – mesmo assim, nós temos uma certa experiência com realities, por isso fica fácil entender a pegada do programa – mas  nos Estados Unidos eles são pura audiência. No universo de UnReal, Everlasting é um sucesso. Rachel e Quinn são fundamentais para isso.

Natural perceber que com um roteiro desses a chance do reality show corresponder à verdade é zero. Acho que todo mundo sabe que há muito pouca realidade nos realities, só que faltava uma série para mostrar isso do jeito mais autêntico e absorvente possível.

Mas não é só de crítica à televisão moderna que UnReal é feita. A melhor parte fica por conta das deslealdades, bisbilhotices e traições. Em um dado momento dos dez episódios iniciais, eu fiquei feliz em ver que era possível uma série conseguir analisar friamente toda essa bravata de quem trabalha com algo como a televisão (“Fazemos televisão que muda a vida das pessoas” ou “Nosso programa é de utilidade pública”), e mesmo assim não perder de vista que aquilo é uma história e que é importante entreter com lucidez. Para fazer isso, UnReal se apoia em dois alicerces: (1) a metalinguagem do programa dentro do programa é importante, e no fim das contas a gente também assiste a um falso reality show, e (2) os personagens são bem delineados, bastante sólidos para uma série que só está começando.

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Rachel, vivida por Shiri Appleby, é muito interessante. Ela consegue ser boazinha, e sua história foi contada de um jeito que me fez sentir pena dela em vários momentos, mas ao mesmo tempo ela é uma pessoa fria, que não se importa mesmo com ninguém, talvez nem com ela mesma. Apesar dessa ambiguidade, ou melhor, por causa dela, minha torcida sempre foi para Rachel. Ela parece tão desiludida com a própria vida que controlar a dos outros chega a ser o único jeito de sair do marasmo. Quem não gostaria de ver aonde isso vai chegar?

As nuances da série me fizeram rever o preconceito com o canal Lifetime, mas como eu disse lá em cima, a segunda temporada tem me desiludido um pouco. Repentinamente o seriado me pareceu canastrão e com poucas ideias. Um exemplo: os desentendimentos tinham sido até então resultado de um roteiro bem delineado, mas no quarto episódio da segunda temporada me vi numa cena de Revenge (que eu adorei, mas que é bem diferente do que eu queria ver aqui) ou de alguma novela mexicana (que eu também adoro), quando uma pessoa dormiu com a outra para conseguir informações sobre a Rachel, só a fim de ter algo na manga contra ela. Achei um artifício tosco em comparação com o que a série vinha apresentando. Só falta agora alguém colocar sonífero no drink de alguém, despir este alguém e deitar-se junto a ele para forjar uma cena de sexo para uma testemunha que vai sair correndo indignada.

Mas vale ver aonde tudo isso vai dar. Por enquanto UnReal está firme e forte na minha grade de séries assistíveis. Rachel é a anti-heroína perfeita, e enquanto isso durar vou continuar assistindo.

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