O Exorcista: segunda temporada é muito melhor que a primeira

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A primeira temporada de O Exorcista foi uma confusão tão grande que quase fez o demônio pedir as contas e ir embora. Eu também cheguei a desistir já no episódio piloto, mas alguma coisa, algum poder sobrenatural (ou uma quedinha por entretenimento de baixa qualidade…) enfiou na minha cabeça a disposição para dar uma segunda chance à série e, sei lá quanto tempo depois, aqui estou eu, animada o bastante para falar que a segunda temporada (na altura do quarto episódio quando escrevo) encontrou um caminho promissor, conseguiu se livrar de boa parte do entulho que atrapalhava a primeira e fez valer a minha paciência.

Para quem não acompanhou, O Exorcista não é uma adaptação do filme ou do livro ao formato seriado para televisão. O filme de William Friedkin ficou no passado. A primeira temporada acompanhou uma família afligida pelo mesmo mal que se alojou na menina Regan nos anos 1970, mas a história é atual. Bom, para falar com sinceridade: a história não tem nada a ver com o material original – só que, para a minha surpresa, isso não é um defeito. Ter que voltar à fonte e fazer as conexões com o passado é o que atrapalha a temporada. Por boa parte dos episódios as referências ao filme clássico não passam de uns acenos visuais aqui e ali, até a hora da grande reviravolta, que é quando a gente percebe que, pois é!, a série se seguraria melhor sem precisar costurar, remendar e fazer de tudo para tentar carregar o nome “O Exorcista”.

Mas os dois ou três últimos episódios da primeira temporada já anunciaram o que viria pela frente. A verdade é que O Exorcista é uma antologia que tenta misturar Supernatural com American Horror Story com um tiquinho assim de The Vampire Diaries. Os padres Marcus Keane e Tomas Ortega são personagens que jamais caberiam no universo do filme original. Mas o demônio também mudou. Se antes ele queria a destruição pela destruição, agora o mal faz planos e conspira pelo controle da humanidade. Há uma seita demoníaca dentro da Igreja Católica e não faltam rituais, tramoias e emboscadas. Fiel ao estilo das séries que a inspiraram, O Exorcista coloca os padres no meio da ação. As batalhas não são apenas espirituais e os servos de Deus não raro caem no soco, apontam armas e participam de perseguições automotivas. Vale tudo para salvar uma alma pois o embate entre o bem e o mal é uma guerra declarada.

As intrigas do grupo satanista no seio do Vaticano são o fio condutor entre as duas temporadas. A segunda, que começou no finzinho de setembro, trouxe uma penca de gente nova e uma outra entidade a ser combatida. As novidades só fizeram bem. Em vez de uma tentativa toda atrapalhada de encaixar a série nas rédeas da mitologia original, O Exorcista agora tem uma história própria com um monte de elementos mais ou menos fresquinhos.

Andy Kim – interpretado pelo subestimado John Cho – é um sujeito bacana e sobrecarregado que cuida sozinho de um lar para jovens que perderam a família. Eles vivem numa ilha bonita, isolada e um pouco macabra. A mulher de Andy morreu num incidente mal explicado, um suicídio até que se prove o contrário. No primeiro episódio, coisas estranhas estão acontecendo e as crianças estão inquietas. Enquanto isso, os padres estão em outro lado do país levando a vida normal daqueles que combatem as forças das trevas, isto é: sequestrando uma endemoniada e caindo na porrada com o marido caipira dela e os amigos caipiras dele.

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Acho que vale a pena dar uma chance a essa série, mesmo se você não teve paciência para Geena Davis e companhia na primeira temporada. Algumas surpresas estão dando as caras. Um exemplo: no S02E04, pela primeira vez, eu fiquei até arrepiada de medo. Diminuíram os esforços de conversar visualmente com o filme clássico, mas a ação ininterrupta da temporada inicial deu lugar a um passo mais lento, e por isso mais capaz de assustar. O terror agora se inspira em coisas como Invocação do Mal e Sobrenatural e tem uma trama que, a princípio, lembra um pouco a de Annabelle 2.

Até agora pouca coisa aconteceu. Claro que o vulnerável Andy Kim e suas crianças mais vulneráveis ainda vão cruzar o caminho dos padres, claro que o mal vai encarnar em alguém; mas um ponto positivo, a essa altura, é que não se pode prever muito do que acontecerá daqui em diante. Eu ainda tenho muitas perguntas. Esse demônio isolado na ilha faz parte do grande plano satanista? Como? Os padres vão ter que exorcizar quem? Cadê o interesse amoroso do padre Tomas Ortega, aquela chatinha que se arrastava nele? Será que mais alguém está shippando os dois padres? Será que isso é considerado pecado?

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