quinta-feira, 20 de julho de 2023

BARBIE – por um cinema de alegria | CRÍTICA



É curioso como o cinema se revive a partir de fenômenos inesperados enquanto franquias consolidadas arfaram pra conseguir fazer uma bilheteria expressiva neste primeiro semestre de 2023. Não que filmes de brinquedos sejam uma novidade – na bem da verdade, tivemos até demais de algumas linhas deles –, mas a estreia de Barbie em live-action era algo que, apesar de todos os receios, se faz uma aventura divertidíssima cuja leveza permite abraçar um lado intelectual acessível para todos os gêneros e idades.


É fato que a beleza e carisma indefectíveis de Margot Robbie já eram uma garantia de sucesso para o projeto encabeçado pela própria atriz como produtora, em conjunto com Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres) na direção e seu companheiro Noah Baumbach (História de um Casamento) contribuindo no roteiro, mas o que se vê é um conto muito jocoso por não se levar (tão) a sério ao assumir a dinâmica de brincadeira por toda a narrativa, seja na Barbieland com pés levantados e chuveiros sem água ou até no mundo real, em que executivos da Mattel (sim, a autocrítica é permitida …a favor do lucro), por exemplo, perseguem a Barbie de Margot de um jeito propositalmente idiota e totalmente isento de estratégia.

(Foto: © Warner Bros Pictures/Divulgação)


Se a miscigenação de Barbies e Kens é outro acerto e de fácil compreensão em uma época de multiversos nas telas, destacando-se aí a Barbie Estranha de Kate McKinnon e o Ken de Simu Liu, entre tantas outras boas participações pontuais (Allan, eu não esqueci de você), ainda assim, existe uma razão para que o foco esteja nos modelos estereotipados vividos por Margot Robbie e um Ryan Gosling, fazendo de seu Ken uma fonte de comicidade que dificilmente vimos o ator desempenhar por completo antes. Por outro lado, existe uma similaridade com a dinâmica do casal de bonecas assim acompanhada em Toy Story 3, fazendo com que as motivações do convencido personagem sejam previsíveis.


(Foto: © Warner Bros Pictures/Divulgação)


Em um palco com tantas coisas inusitadas desde as casas e apetrechos das bonecas assumidamente artificiais à ótima fotografia de Rodrigo Prieto (de alguns filmes de Martin Scorsese e de clipes da Taylor Swift) que faz com que todas aquelas cores fortes fiquem bonitas e não berrantes, há de se pontuar que, no fundo, a narrativa está longe de ser totalmente inovadora – e tá tudo bem. É fato que a semelhança com Uma Aventura LEGO (além de ter Will Ferrell interpretando um tipo parecido nas duas produções) em ter um(a) protagonista em busca de um novo propósito para sua vida e, com isso, prover uma lição de moral pode ser um recurso talvez até batido, piegas, mas é um risco que Gerwig parece disposta a aceitar a favor da emoção, algo que só tende a crescer quando uma canção por Billie Eilish vem à tona.


(Foto: © Warner Bros Pictures/Divulgação)


Enquanto um conto plural sobre a luta de classes e personalidade que só quem está mesmo de muito mal humor com a vida vai se ofender por birra, no fim das contas, Barbie vai de uma comédia familiar à metalinguagem de uma cena para a outra sem perder seu encanto e quem diria que, mediante suas referências externas do início ao fim, a obra culmina em um fascinante exercício de cinefilia proposto por Gerwig. Uma brincadeira tornada arte de brilhar os olhos.  



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