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Professor de Geografia e História.
Mestrando em Geografia.

Últimas opiniões enviadas

  • L. A. Cardoso

    Pobres Criaturas é uma alegoria, e, como tal, seus elementos não devem ser tomados em sentido literal, mas figurado, isto é, como metáforas. Não deveria haver qualquer dúvida a esse respeito, pela simples leitura de sua sinopse a qual deixa claro tratar-se de uma história desvinculada de qualquer realismo. A ambientação onírica do filme, por sua vez, também deixa evidente esse fato. Como exemplos, poderia citar o personagem Dr. Godwin Baxter, o qual, dentre muitas coisas, simboliza o racionalismo e o cientificismo. Já Duncan Wedderburn, por seu turno, pode ser tomado como símbolo do hedonismo. Ambos, como os demais personagens masculinos, são representações do próprio patriarcado, em suas diferentes conformações, enquanto personagens masculinos que, de algum modo, tentam controlar e possuir uma mulher.

    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    Aqui, o cérebro da criança que é implantado no corpo de uma mulher adulta, dando origem à protagonista Bella Baxter, nada mais do que um símbolo, no sentido mais junguiano possível. Ele simboliza a pureza, a inocência, a condição de quem ainda descrobre o mundo sem ter nenhum (pré)conceito pronto. E, como toda criança não possui filtros, muitas vezes expressando sua opinião sem nenhum pudor, o cérebro infantil é também símbolo da franqueza, da ausência de falsidade ou dissimulação. O corpo da mulher adulta, no qual esse cérebro e inserido representa justamente o oposto. Simboliza o desejo, a carnalidade, a sutiliza, a dissimulação, a malícia.

    É na dialética entre esses elementos opostos e contraditórios, amalgamados no corpo de Bella Baxter, que o filme opera. Desse modo, trata-se de um filme que coloca algumas questões principais, dentre muitas outras: Bella estaria fadada a viver a mesma vida que a mulher que viveu em seu corpo levou, mesmo tendo um outro cérebro? O que define Bella: o seu cérebro ou o seu corpo? Se o cérebro se molda a partir das experiências vividas pelo sujeito, e se o corpo é parte dessa experiência, seria possível afirmar que aquele cérebro, naquele corpo, é o cérebro de uma criança? Como um indívíduo, que tem um cérebro de uma criança, mas que não passou pelos processos psíquicos de castração (por exemplo), típico da infância, dentro de um corpo adulto, se comportaria perante o mundo? São questões complexas que difcilmente seriam percebidas por discípulos de charlatões como Olavo de Carvalho ou Roger Scroton, por exemplo.

    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    Desse modo, incorre em erro crasso quem, por exemplo, enxerga pedofilia no filme, pelo fato da protagonista ter o cérebro de uma criança. Até mesmo porque, a pedofilia se baseia na atração sexual que um adulto tem em relação à um criança. Mas um pedófilo não se atrai pela mente de uma criança. Ao contrário, o que atrai um pedófilo é a própria compleição física de suas vítimas. Consequentemente, se Bella Baxter tem o corpo de uma mulher adulta, em vez de o ter o corpo de uma criança, como poderia haver pedofilia em sua história? Se os homens com os quais Bella se envolve sexualmente nem mesmo sabem que em seu corpo há um cérebro de uma criança, como é possível afirmar que sejam pedófilos? Ou seja, tais acusações não passam de delírios de pessoas cujas mentes foram atrofiadas pelas pautas morais da direita conservadora.

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