Misture as premissas de Os Outros, Rose Red – A Casa Adormecida e o Bebê de Rosemary. Acrescente algumas doses de O Iluminado e, porque não, Carrie, A Estranha. Mas leve a coisa além e some casos reais como a Dália Negra e o assassinato em massa de jovens enfermeiras no Hospital Comunitário do Sul de Chicago. Columbine também, se você achar que convém. Depois coloque sexo, mentiras, intrigas e muita gente emocionalmente instável num casarão (que custa muitos milhões de dólares). Pronto: você tem American Horror Story: Murder House.
O primeiro ano da minissérie criada por Ryan Murphy e Brad Falchuck (os responsáveis por Nip/Tuck e, curiosamente, Glee), se apoiava em tudo o que foi citado para contar a história da família Harmon, que se muda para a mansão onde toda a ação se desenvolve, buscando fugir de um erro do passado de Ben (Dylan McDermott), o seu patriarca. Porém, a gente percebe de cara que as coisas por ali não são exatamente tão bonitas quanto parecem. Sempre que alguém vira de costas, um sujeito vestido com uma roupa de sadomasoquista aparece no fundo da cena. Enquanto Vivien (Connie Britton) e Violet (Taissa Farmiga) veem Moira (Frances Conroy), a empregada da casa, como uma velhinha fofa, Ben a enxerga em trajes sexys (e nessa versão Alexandra Breckenridge dá vida á personagem) e sempre fazendo de tudo para provoca-lo. E não para por aí: Constance (a sempre incrível Jessica Lange) e sua filha Addie (Jamie Brewer) parecem ter meios de entrar e sair da casa quando bem entendem.
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Resolvi assistir Orange Is The New Black, a nova série do Netflix, por um motivo bem simples: é da mesma criadora de Weeds. E enquanto Weeds foi bom, não teve pra seriado nenhum. Era engraçado, cínico e sabia dosar bem o drama inerente a toda aquela situação para que ele não ofuscasse as outras características (afinal, ainda era uma série de comédia!), mas também não fosse raso. E foi exatamente isso que eu encontrei em Orange Is The New Black. Isso e uma sensibilidade extrema no tratamento do tema e nas conclusões a que Jenji Kohan deseja te fazer chegar.
Em linhas gerais, a série fala a respeito de Piper Chapman (Taylor Schilling), uma moça rica que, depois de terminar a faculdade, foi viajar pela Europa. Lá ela conheceu a charmosa (e lindíssima) Alex Vause (Laura Prepon), uma traficante de drogas que trabalha para um cartel internacional. As duas se apaixonaram, se envolveram e, sem querer, Piper acabou envolvida nas operações do cartel. Ok, ela só transporta uma mala com dinheiro, mas isso é o bastante para que quando as coisas são expostas, ela pegue 15 meses de cadeia.
E agora sua vida está toda diferente: ela está começando um negócio novo com a sua melhor amiga, está noiva de Larry (Jason Biggs) e se parece menos com a Piper perdida que se envolveu nessa confusão toda. Atentem para o “parece”, porque a estadia da moça em Litchfield vai fazer a gente perceber Piper de um jeito diferente. E o mesmo acontece com as outras detentas: nos apressamos para formar opiniões e Jenji Kohan, por meio de flashbacks que mostram como todas as detentas foram parar na prisão, desconstrói a imagem que temos daquelas mulheres.
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Algumas pessoas que insistem em dizer que TV é um produto menor do que cinema. Se por preconceito ou por nunca terem visto uma série que fosse, de fato, bem construída (do ponto de vista imagético e em termos de roteiro), eu não sei.
O fato é que essa afirmação sempre me deixa perturbada. Primeiramente, porque eu penso em Twin Peaks e no tanto que aquilo é um filme do David Lynch estendido e adaptado a outro formato. Twin Peaks não é, de modo algum, um produto menor do que Veludo Azul ou qualquer outro longa de Lynch. E todas as características do diretor estão ali. Depois, porque eu penso nas duas últimas coisas que assisti: Rectify e Top Of The Lake. Além de serem incríveis, de diversos pontos de vista técnicos, essas séries trabalham com o anticlímax. Você quer ver a trama central se desenrolando logo? Sinto muito. Os produtores/roteiristas têm coisas paralelas pelas quais estão interessados e vão apresentar antes que você tenha a solução do mistério central. Supondo que você consiga a solução.
Top Of The Lake se inicia nos apresentando uma imagem bonita e sombria. Há um lago, neblina e uma menina com traços orientais entrando no lago. A água chega até o seu queixo antes que alguém veja a cena e a arraste dali. Você ainda não foi apresentado a ela e não tem a menor ideia dos seus motivos para estar entrando no lago. Portanto, efetivamente, você não se importa. Você quer o mistério revelado e, tão logo ele começa a se delinear – num ritmo próprio e que, provavelmente, vai incomodar os mais afoitos –, você quer mais.
Veep é uma série de comédia que fala sobre a vice-presidente dos Estados Unidos. É isso. Só isso. Nada mais que isso. Parece chato, né? É, eu sei. Mas acho que não há outro jeito de descrever sobre o que é a série. Não que ela seja ruim – na verdade é o extremo oposto -, mas…
… Uma vez uma amiga me contou que um escritor famoso disse, não lembro exatamente qual, que a pergunta mais estúpida que alguém poderia fazer acerca de livros é indagar “sobre o que eles falam”. E ela disse que isso valia pra filmes, porque, sendo franca, “o filme Titanic fala sobre um barco que afunda”…
Então é isso. Veep é uma série que fala sobre a vice-presidente dos Estados Unidos. Sim, sim. É isso, só isso. E, ao mesmo tempo, muito mais que isso.
Protagonizada pela maravilhosa Julia Louis-Dreyfus, Veep se escora no carisma de Selina Meyer, sua protagonista, e propõe situações improváveis que nos deixam átonos. Apesar de hilárias (e absurdas), demoramos um tempo para processar o que vemos. É como se as escolhas das personagens fossem tão burras que nos impedisse de rir de imediato, para, logo depois, fazer com que gargalhemos.
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Na forma de cinco episódios incríveis, a minissérie da BBC, Parade’s End, narra o desaparecimento da Era Eduardiana e os horrores da Primeira Guerra Mundial usando como motor um triângulo amoroso entre Christopher Tietjens (Benedict Cumberbatch), sua esposa adúltera, Sylvia (Rebecca Hall) e uma jovem pacifista e sufragista, Valentine Wannop (Adelaide Clemens). Apesar de triângulos amorosos em séries/filmes de época não serem nenhuma novidade, esse apresenta uma evolução tão boa e natural que a gente não consegue deixar de achar que está assistindo a uma história do tipo pela primeira vez. E o crescimento de Parade’s não para por aí: tematicamente o seriado acaba por abordar muito mais do que a guerra e as mudanças da Inglaterra. Ele fala sobre a corrupção, sobre a inversão de valores e sobre o mundo (tanto o dos protagonistas quando de modo geral) em colapso.
Christopher é o “último homem honesto da Inglaterra”, fato que é apontado por Sylvia diversas vezes durante Parade’s End. Alguns poderiam dizer até que ele é meio passivo, já que está sempre perdoando as infidelidades da mulher sem sequer tecer comentários a respeito delas. Pelo contrário: quando Sylvia foge com Potty Perowne (Tom Mison), ao invés de dizer a verdade e se divorciar, ele conta a todos os conhecidos do casal que sua mulher, um exemplo de caridade e preocupação, está cuidado da mãe adoentada em outro país. E, assim, as pessoas que cercam os dois criam para Sylvia uma imagem quase beatificada. A nobreza de Chrissie beira o absurdo e funciona como uma forma de abuso mental – que acaba não atingindo somente a ele, mas também a mulher, que não entende os seus silêncios e a sua abnegação. No momento em que a guerra é declarada ele vê a chance de reafirmar a imagem que todos têm dele se inscrevendo no exército e também de escapar do conflito interior em que se encontrava.
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Imagine a seguinte situação: você, a ovelha negra da família, volta para sua cidadezinha natal, e, por ser uma pequenina comunidade, praticamente encontra todo mundo nos primeiros minutos. Para cada um, uma explicação diferente sobre os rumos que sua vida tomou nos últimos cinco anos. Sua mãe fica feliz em te ver finalmente depois de tanto tempo! Seu pai não está assim tão animado, principalmente ao saber que você só está de volta pra pegar uma possível herança deixada pelo avô. Seu irmão mais novo, aquele que é considerado o perfeito, olha para você com desaprovação. Tensão.
Você vai embora da cidade #chateado, cheio de mágoas, culpas e segredos. De repente, no horizonte, uma nuvem em forma de cogumelo. Marketing da Nintendo? Não. Explosão nuclear mesmo.
Esta é a história de Jake Green (vivido por Skeet Ulrich) e da cidade de Jericho num Estados Unidos pós-holocausto nuclear. Jake retorna para Jericho e a encontra um caos. Com os meios de comunicação cortados, Jericho fica isolada de tudo. Sem notícias do que realmente está acontecendo, o medo se espalha. Cabe então ao prefeito Johnston Green (Gerald McRaney), o pai de Jake, colocar ordem no lugar e dar um show de liderança e administração. A população então tenta manter-se unida para evitar a escassez de alimentos, a falta de energia elétrica , mais tarde, milícias e uma cidade vizinha que não teve a mesma sorte.
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Comecei a assistir Mistressess, o remake norte-americano da série produzida no Reino Unido, porque a sua sinopse prometia algo bem leve. Aquele tipo de coisa que só exige que você sente na frente da TV e se divirta com as intrigas apresentadas. Portanto, se você gosta de programas “de mulherzinha”, daqueles que dá pra ver com a melhor amiga comentando “ai, fulana/fulano não vale nada”, recomendo muito que você assista Mistresses. Se não, pode deixar pra lá porque não é mesmo a sua.
Resumidamente, o programa trata a respeito de um grupo de amigas, Savannah “Savi” Davis (Alyssa Milano), Karen Kim (Yunjin Kim), April Malloy (Rochelle Aytes) e Josslyn Carver (Jes Macallan), que em algum ponto de suas vidas foram amantes de alguém. Savi de um colega de trabalho e, até o presente momento, só por uma noite. Karen, de um de seus pacientes. April, por sua vez, sofre com a presença da amante de seu falecido marido em sua vida. E, por fim, Joss que é a amante convicta, aquela parte do grupo que detesta compromissos e tem múltiplos encontros com muitos homens – que, quanto mais indisponíveis, melhor servem aos seus objetivos.
Mistresses mostra os desdobramentos que todas as traições têm na vida de suas quatro protagonistas de um jeito que parece uma mistura de Sex And The City com Desperate Housewives. Ou uma versão crescida de Pretty Little Liars, já que todas ali têm segredos que, provavelmente, vão fazê-las de reféns em algum ponto da série.
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A simples presença de Ian McKellen, o responsável por dar vida ao mago Gandalf na franquia O Senhor dos Anéis e ao Magneto em X-Men, já é o bastante para atrair olhares. Quando você pensa que um papel cômico é uma coisa quase inédita na carreira do ator, fica ainda mais interessado e intrigado sobre o que está por vir. E aí é só somar a presença de Gary Janetti, que esteve envolvido com Family Guy e Will & Grace, e acrescentar a atmosfera de sitcom dos anos 90 que, para os fãs de comédias é sempre bem vinda, e pronto: fica parecendo que o seriado é daqueles que você precisa assistir. Mas é bem isso: tudo fica somente no plano das aparências.
A série conta a história de um casal de homossexuais, Freddie (McKellen) e Stuart (Derek Jacobi) que vive junto há 50 anos. O fato de Ian McKellen também ser homossexual (e ter o simpático hábito de arrancar as páginas da bíblia que fazem alusões negativas a essa orientação em todos os hotéis onde se hospeda), dão a impressão de que ele não se envolveria com um projeto ofensivo, certo? Errado. Eu nunca vi nada tratando do tema que se apoiasse tanto em estereótipos e clichês negativos. Em todas aquelas coisas que os ativistas se esforçam para desconstruir.
Freddie e Stuart são extremamente bitchy – na falta de uma palavra em português que represente melhor o espírito da dupla – e maltratam todos ao seu redor. Violet (Fraces de la Tour, a Madame Maxime de Harry Potter), a suposta melhor amiga dos dois, tem todos os detalhes da sua vida passados por um julgamento constante e cortante, onde coisas como a sua aparência, a sua idade e o número de relacionamentos falhos que ela já teve são expostos e escarnecidos – porque para ser só uma sátira os autores teriam que cortar diversas partes do roteiro. Há até mesmo a presença de uma “piada” relacionada a estupro logo no piloto da série, o que fez meu estômago revirar.
Apostando em situações relacionadas à moda (coisa que Will & Grace e qualquer outro seriado envolvendo homossexuais já fez melhor), Vicious representa os gays fúteis, já que as sua dupla de protagonistas está sempre julgando as pessoas por aquilo que elas vestem. E isso nem é o problema mais grave: a pior parte fica por conta da fobia que Freddie e Stuart possuem de envelhecer e da maneira como precisam sempre parecer melhores, mais bonitos e mais bem sucedidos (mesmo que não sejam) do que todos que os cercam.
Um bom exemplo disso é quando Ash (Iwan Rheon, o Ramsey Bolton, de Game Of Thrones), o vizinho de cima, conta para eles que arrumou um emprego como protagonista de um filme independente. Freddie, um aspirante a ator que nunca conseguiu fazer com que sua carreira decolasse, fica tão mortificado com o fato que começa a tratar as pessoas ao seu redor com educação e o mínimo de carinho, o que faz também com que os gays sejam representados como criaturas invejosas e mesquinhas, coisa corriqueira de se ver, mas que eu não esperaria de um projeto que envolve as pessoas citadas.
Fiquei ofendida e envergonhada assistindo diversas cenas da série. Não sei mesmo como ela vem recebendo tantas críticas positivas de sites voltados para a TV. Acho que as pessoas se acostumaram a ver coisas ofensivas sendo tratadas como normais no que tange a homossexualidade. E nem dá pra dizer que o roteiro tenta te ludibriar para que você solte um sorrisinho ou outro assistindo a Vicious: tudo ali é dito em alto e bom som, para a nossa tristeza.
Vicious Criada por: Mark Ravenhill Onde assistir: por enquanto, nenhum canal do Brasil exibe a série
Recomendável ler o texto abaixo escutando a música de abertura.
Arquivo X, que em Portugal recebeu a tradução (massa!) de Ficheiros Secretos, foi a série mais hipster dos anos 90. Tá, nem era hipster. Porém, foi extremamente cult a ponto de eu ter uma carteirinha de fã, camiseta com a estampa de Mulder e Scully na frente e ler um periódico (sim!) chamado O Pistoleiro Solitário, inspirado/plagiado no jornal que os três personagens loucos por conspiração da série, e também grandes ajudantes nerds de Mulder (Frohike, Byers e Langly) escreviam.
O barato já começava logo no tema de abertura, com música de Mark Snow, e frases que deram o tom ‘teorias da conspiração’ da obra como “a verdade está lá fora”, “não confie em ninguém” (muito pertinente nos dias de hoje) e “eu quero acreditar” (talvez não tão pertinente hoje em dia).
Criada por Chris Carter, conta as peripécias dos agentes do FBI Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) nos intitulados Arquivos X; pilhas de casos paranormais que nunca foram explicados e que o FBI simplesmente resolveu arquivar/ignorar porque um, ninguém acreditava mesmo, e dois, era impossível provar qualquer coisa. E três, porque dava uma trama de série massa (tô na vibe dos anos 90).
Traumatizado com a abdução da irmã há mais de vinte anos, o agente Mulder resolve tomar as rédeas desses arquivos e provar que extraterrestres existem sim, que a abdução da irmã não é só fruto de trauma infantil, e que o governo (este safado!), sempre soube de tudo e escondeu a verdade da população por motivos obscuros. Enquanto Mulder é o cara que em tudo acredita, Scully usa sua formação como médica cética para fazer o parceiro ‘cair na real’. Homenzinhos verdes? Ah, vá!
No final, porém, ninguém ri por último. Scully sofre horrores antes de admitir (lá pela sétima temporada), que Mulder estava certo. Demora gente. Bastante. O legal mesmo está nas brigas dos dois, e no fato de que, quando o assunto é religião, quem fica do lado cético é o Mulder. Scully não crê no que diz respeito a ETs, mas acredita em Deus e carrega um pingente com uma cruz. Lá pela sexta temporada você já está meio de saco cheio do ceticismo da Scully, mas ela é uma personagem tão foda que a gente releva. Eu juro.
A série é um deleite para fãs de conspirações e atividades paranormais. Foram nove temporadas de puro sofrimento, episódios de arrepiar, e dois filmes (sendo o último bastante criticado). Só começou a desandar quando o ator David Duchovny resolveu que queria ser ator de cinema (nem virou nada) e abandonou os Arquivo X no final da sétima temporada, aparecendo somente nos episódios finais da oitava e nona. Alguns fãs (eu, inclusive) ficaram tão indignados com isso que pararam de assistir a série. Anos depois, admito que o agente John Dogget (vivido por Robert Patrick), que substituiu Mulder, era um personagem que embora parecesse raso, tinha camadas interessantes. E tinha química com a Scully. Também foi interessante que a Scully virasse ‘o Mulder’ da oitava temporada, e Dogget fosse o tira durão das antigas que não acreditava em absolutamente nada. Todavia continuo achando a nona temporada bastante ruim comparada ao resto da série. A agente Monica Reyes (Annabeth Gish) não emplacou como substituta de Scully, e a parceria Dogget/Reyes foi uma decepção. Não me lembro de nenhum episódio memorável nessa fase, e a trama de super soldados fugiu totalmente ao misticismo da série e ficou bastante ridícula. O episódio final da série também ficou aquém das expectativas, com a volta de Mulder só pra dar uma satisfação para os fãs, e um encontro anticlímax total com o vilão da série, O Canceroso.
No entanto, mesmo com os momentos nem tão legais de sua reta final, Arquivo X continua a ser uma de minhas séries favoritas, com personagens e episódios épicos. Altamente recomendável para fãs do gênero de ficção científica. Cinco estrelinhas, coração com a mão.
Acompanho a história do dr. Hannibal Lecter desde que era criança e cada notícia a respeito do lançamento de outro filme, minha ansiedade atingia níveis absurdos. Esperei ansiosamente por Dragão Vermelho (Red Dragon, 2002), por Hannibal (Hannibal, 2001) e por Hannibal - A Origem do Mal (Hannibal Rising, 2007). De todas essas produções, somente a primeira conseguiu exceder as minhas expectativas. Assim, quando soube que uma série a respeito de Lecter seria lançada, meus sentimentos não poderiam ser mais conflitantes. De um lado, estava a felicidade por conseguirem estender a história. De outro, o medo de que o enredo e a execução fossem tão medíocres quanto os de Hannibal e Hannibal – A Origem do Mal. Porém, após alguns minutos do primeiro episódio, eu fui tranquilizada.
O primeiro acerto de Bryan Fuller e sua trupe está na escolha do protagonista da história, Will Graham (Hugh Dancy), um consultor do FBI. Embora, ao longo dos anos, a relação entre dr. Lecter e Clarice Starling tenha sido mais explorada e, para alguns, seja mais fascinante, ao colocar o fragilizado e instável Will como figura central da trama, tem-se a oportunidade de explorar a faceta psiquiatra de Hannibal (Mads Mikkelsen) – que, até então, não foi abordada senão por meio dos jogos mentais realizados por ele com os seus visitantes na prisão de segurança máxima. Além disso, por meio da parceria dos dois para encontrar um assassino conhecido como Picanço de Minnessota, pode-se ver como a amizade entre eles foi iniciada, como a confiança foi estabelecida e como Lecter conseguiu driblar a percepção de um homem conhecido exatamente pela sua capacidade de reconhecer psicopatas.
Outro acerto, que acrescenta não somente em termos de narrativa, mas como recurso de imagem, é o modo como os criadores de Hannibal escolheram demonstrar a capacidade de Will de analisar as cenas do crime. A fotografia da série, sempre tão sóbria, assume tons mais amarelados e vemos Graham na posição de assassino. Por meio de uma câmera em rewind, que limpa os cenários e nos mostra como funciona o raciocínio de Graham, sua capacidade de empatia fica clara para o público e se mostra como algo primordial para que ele consiga prender os assassinos que caça.
Parte do mérito pelo bom andamento desse início de temporada é do dinamarquês Mads Mikkelsen. Compondo um personagem carismático e manipulador, que se afasta o bastante daquele vivido por Anthony Hopkins, o ator faz com que o público pense se tratar de outro Hannibal Lecter. Um Lecter cuja capacidade de observação, as palavras precisas, o jeito contido e o distanciamento são capazes de dissimular os gostos escusos e suas verdadeiras motivações.
Hannibal mostra um começo promissor. Especialmente por se apoiar em recursos diferentes daqueles apresentados nos filmes e não tentar construir suspense em torno da identidade do canibal. Numa mid-season de séries mornas e que se perdem de seus propósitos, se os criadores não se renderem à tentação de explorar mais os casos do FBI do que os relacionamentos entre Lecter e as demais personagens, Hannibal tem tudo para ser o grande destaque dessa temporada.
Hannibal Criado por: Bryan Fuller Onde assistir: NBC (Estados Unidos) e AXN (Brasil)
A essa altura do campeonato você já deve ter ouvido falar em Mad Men, mas caso você tenha ficado preso dentro de um poço pelos últimos seis anos, farei o meu bondoso papel e explicarei sobre o que a série trata.
Iniciada em 1960, época em que a garotada estava descobrindo as drogas e o rock’n roll, e as mulheres resolveram queimar seus sutiãs em prol dos seus direitos; Mad Men conta a vida dos publicitários da agência Sterling Cooper Draper Pryce. Só isso. Parece meio chato, não? Mas então, só parece.
Conhecemos um cara chamado Don Draper (aqui, vivido pelo dotado talentoso Jon Hamm), casado e com dois filhos, ele exerce o poder de Deus na agência: diretor de criação. Mas logo descobrimos que Don Draper não é bem quem ele diz ser. Adultero e mulherengo, o cara também esconde a sua verdadeira identidade. Mas por que ele esconde? Quem ele verdadeiramente é? O que pretende? Ao mesmo tempo em que ficamos instigados com Draper, vemos também que todos os outros personagens são igualmente vigaristas, mentirosos, e que têm sua sujeira. Melhorou, né?
Com o passar dos episódios, tudo vai virando um novelão de classe. Pense em publicidade, Maria do Bairro e Michelangelo Antonioni ao mesmo tempo. Segredos, mentiras, criações, bebidas, fumaça. Inegavelmente uma das melhores produções televisas no ar.
E não é só a minha opinião. Desde a sua estreia, Mad Men aparece anualmente no topo da lista da crítica internacional como uma das melhores séries do ano. Isso acontece graças aos roteiros do Matthew Weiner, o cara que comanda tudo, o Manuel Carlos americano. Com suas nuances e sutilezas, a história consegue nos surpreender semanalmente, mesmo com o seu ritmo lento. Mad Men também possui o recorde absoluto nos Prêmio Emmy, onde foi eleita como a melhor série dramática por quatro anos consecutivos.
Até agora foram lançadas cinco temporadas. Um trabalhão pra ver? Nem tanto. A HBO exibe a série semanalmente ao longo da tarde. Suas quatro primeiras temporadas estão disponíveis em DVD em solo brasileiro. O Netflix possui as cinco temporadas completas no acervo, com legendas e dublagem, como preferir. E desde a semana, dia 24, a TV Cultura começou a exibi-la desde o primeiro episódio às 22h. Te convenci, hein? Pois não perca tempo e passe a se envolver com as mentiras (e com a vida) desses publicitários.
Mad Men Criado por: Matthew Weiner Onde assistir: AMC (Estados Unidos), TV Cultura, Netflix e HBO (Brasil)
Três coisas me vieram, imediatamente, na cabeça quando li a respeito de The Following: um (excelente) episódio de Masters Of Horror, chamado The Black Cat; o longa O Corvo (The Raven, 2012); e a história de Jim Jones e seus seguidores. O primeiro por retratar muito bem a figura do escritor torturado pelo bloqueio artístico e pela crítica; o segundo pela presença do serial killer que usa a literatura de Edgar Allan Poe como base e justificativa para seus crimes; e, por fim, o terceiro pela presença da alienação massiva de pessoas fragilizadas que sentem a necessidade de pertencimento. Para mim, o somatório desses itens nos dá como resultado o mote do seriado, que mesmo sem muita originalidade consegue soar atrativo.
The Following conta a história de Joe Carrol (James Purefoy), um serial killer que usa os poemas de Poe como inspiração para assassinatos, e de Ryan Hardy (Kevin Bacon), o detetive do FBI responsável por prender Carrol. Tudo se inicia quando Hardy recebe a notícia de Carrol conseguiu escapar de uma prisão de segurança máxima. Por meio de investigações, ele e o restante da equipe responsável por prender Joe, acabam descobrindo que, usando os computadores da prisão, o assassino conseguiu recrutar pessoas para formar uma seita.
Os quatro primeiros episódios da série têm como mérito a imersão completa no imaginário de Poe. Referências a O Corvo, O Gato Preto e outras obras significativas do escritor aparecem por meio da maneira em que Carrol opta por matar as suas vítimas, pelo modo como seus corpos são posicionados na cena do crime, por inscrições nas paredes e por meio das lembranças de Hardy, que nos mostram como a “Teoria Poe” foi desenvolvida e provada por ele anos antes. A trilha sonora também coopera para a criação do clima sombrio e conta com nomes como Marylin Manson, Deftones, Band Of Skulls, Sepultura e Garbage.
Porém, em determinado ponto, fica a impressão de que o roteiro começa a se perder nos seus propósitos iniciais. Edgar Allan Poe tem sua importância diminuída na trama, sendo citado novamente só no décimo quarto episódio, por meio de uma personagem que diz se chamar Annabel Lee. Outro fator que pesa negativamente é o alcance da seita: em dado momento ele se torna tão extensivo que tem-se a impressão de que a tecnologia que seus membros possuem é mais avançada do que a do FBI. E isso não é tudo: estamos a algumas horas do season finale e os objetivos de Carrol e seus seguidores ainda não estão bem delineados. Isso pode ser prejudicial, já que perseguições policias e assassinatos gratuitos têm tudo para cansar o público mais exigente.
Ao fim dos catorze episódios exibidos pela Fox, fica a impressão de que as coisas que funcionavam como força-motora do seriado, o tornavam interessante e representavam o seu diferencial, foram deixadas de lado para dar lugar a uma trama que se apoia em todos os clichês do gênero e sem fazer um bom uso deles. Eu poderia apontar várias maneiras de corrigir os erros cometidos pelo roteiro, mas acho que a chave para The Following se encontra na lembrança de quem era o verdadeiro protagonista do seriado: a obra de Edgar Allan Poe.
The Following Criado por: Kevin Williamson Onde assistir: Fox, segunda-feira às 22h
A primeira vez que tentaram me convencer a assistir How I Met Your Mother, me disseram que se tratava de um Friends 10 anos depois. E, como era de se esperar, despertaram a minha antipatia automaticamente. Porque na época, eu tinha acabado de assistir as 10 temporadas de Friends em sequência e estava completamente apaixonada. Tinha certeza de que não importava o que esse tal How I Met Your Mother pudesse ter para me oferecer, não seria mais engraçado do que a sua “matriz”. Por isso, só fui assistir o seriado no ano passado. Fui conquistada com poucos episódios e por uma série de razões que seria oversharing expor aqui.
Tudo começa quando Ted Mosby (Josh Radnor) decide sentar os seus filhos na sala de casa e contar a história de como conheceu a sua mãe. Somos apresentados a um grupo de amigos que, instantaneamente, justifica a comparação feita. Lily (Alyson Hannigan) e Marshall (Jason Segel), um casal que está junto desde a época da faculdade e Barney Stinson (o lindo do Neil Patrick Harris), um conquistador sem escrúpulos, cuja maturidade pode ser comparada a de uma criança de 10 anos. Eles se reúnem frequentemente num bar, o McLaren’s, para falar sobre a vida, tomar cerveja e esse tipo de coisa. E é exatamente nesse cenário que a trama começa a se desenvolver: Robin Scherbatsky (Cobie Smulders), uma jornalista canadense tão bonita quanto emocionalmente indisponível, entra com um grupo de amigas, chama a atenção de Ted e, depois de um “acidente”, os dois saem juntos. A partir de uma série de situações engraçadíssimas (e um pouco tristes, se a gente for parar para pensar), somos levados a acreditar que aquela é a mãe dos filhos de Ted apenas para sermos interrompidos pela voz do próprio, no futuro, dizendo que essa é a história de como ele conheceu a tia Robin.
Apesar de ser meio frustrante saber disso logo no início, não atrelar o destino de Robin e Ted foi uma escolha esperta. Do contrário, a trama poderia ser resumida a anos e anos de desencontros, no melhor estilo Ross e Rachel, para, ao fim da série, acontecer aquilo que poderia ser previsto de cara. Outro acerto relacionado à Mãe (ela se torna quase uma entidade durante as 8 temporadas e merece a letra maiúscula, acredite) foi deixar pequenas pistas a respeito dela ao longo da série como, por exemplo, o guarda-chuva amarelo. Isso servia para ajudar a compor a personalidade da garota pela qual todos esperávamos ansiosamente e também para ter a certeza de que um dia Ted a encontraria. Em meio a tanta tristeza e frustração amorosa, servia de alento saber que, mesmo que só no fim, as coisas se ajeitariam para o protagonista.
É inevitável se identificar com a situação retratada por How I Met Your Mother, especialmente em suas temporadas iniciais. E eu acho que era aí que se encontrava o trunfo dos produtores. Porém, do começo da última temporada para cá, fica a impressão de que o roteiro se tornou preguiçoso e o foco, antes mantido na busca de Ted e nas situações vividas pelo grupo de amigos, se alterna e passa a ser criar situações forçadas que não conseguem atingir o efeito pretendido. Por exemplo, dedicar um episódio inteiro ao Playbook, uma espécie de livro onde Barney anota todas as suas cantadas bem sucedidas, foi desnecessário e não agregou em nada à trama. O mesmo serve para um dos episódios finais da temporada, onde Ted e Barney se encontram sentados no bar tentando se decidir se vão ao Robots vs Wrestlers e, então, surgem diversas versões futuras de ambos os personagens para expor a eles razões conflitantes para ir ou não.
Acho que How I Met Your Mother passa por um desgaste que acontece com todas as séries que ficam muito tempo no ar. Pelo menos, com o aparecimento da Mãe, nos segundos finais da 8ª temporada, pode-se ter a esperança de que o seriado volte para os trilhos. Afinal, reza a lenda de que o 9º ano será o último e o relacionamento entre ela e Ted precisará ser mostrado e bem desenvolvido. O jeito agora é esperar até setembro e ver o que nos aguarda após o fatídico (e muito esperado) casamento de Barney e Robin…
How I Met Your Mother Criado por: Carter Bays e Craig Thomas Onde assistir: na CBS ou na Fox Brasil
House of Cards foi lançada em 1° de fevereiro de 2013 pela Netflix e já veio arrebentando tudo e quebrando paradigmas. Adaptada do livro de Michael Dobbs e da minissérie britânica de Andrew Davies, a série foi uma aposta da Netflix no que o melhor ator Shakespeariano da atualidade, Kevin Spacey, chamou de ‘nova perspectiva’ na forma de como se fará TV daqui pra frente. Com roteiro e produção de Beau Willimon, um craque em assuntos políticos – Willimon foi co-produtor do também brilhante Tudo Pelo Poder (The Ides of March, 2011), e David Fincher, a primeira temporada foi lançada de uma vez só. O fenômeno da vez é o ‘streaming’. Nada de esperar uma semana pra assistir às cenas do próximo capítulo, nem de se descabelar com aqueles hiatos cruéis. Dá pra assistir aos 13 episódios num fim de semana. (Apenas lembre-se de comer nesse meio tempo.)
Cada episódio teve um custo aproximado de 3,8 milhões de dólares, e o pacote inclui uma segunda temporada, já em produção.
A série é sobre os bastidores da política em Washington. Frank Underwood (Kevin Spacey sendo fodão) é aquele politico macaco velho lutando pelo seu status quo. Depois de ter o tapete puxado pelo presidente eleito e ver o tão almejado cargo de Secretário do Estado indo para outra pessoa, Frank começa seu jogo de vingança. A Bonnie para o seu Clyde é sua mulher Claire, maravilhosamente interpretada por Robin Wright, que dá um show de compostura, elegância e muito sangue frio em qualquer situação. No relacionamento de Frank e Claire não há paixão, mas há muita cumplicidade. Ambos são a favor de fazer qualquer coisa pelo poder, inclusive usar o sexo como moeda. Nas palavras de Frank, ‘tudo é sobre sexo, menos o sexo, que é sobre poder’.
Frank narra tudo grande parte do tempo e no meio de uma cena tensa costuma virar-se para a câmera com um sorrisinho cínico e compartilhar com o telespectador seus pensamentos, tramoias e segredos. Sua personalidade amoral só titubeia durante uma homenagem prestada por sua antiga universidade onde descobrimos (surpresa, surpresa!) que ele um dia viveu uma grande uma paixão.
Ganha destaque na série o deputado Peter Russo (o ator revelação Corey Stoll) com suas fraquezas humanas, consciência pesada, sexo, drogas e rock&roll. Peter até se mostra uma pessoa com boas intenções, mas é facilmente manipulado pelo experiente Frank. No fim, os jogos da política acabam soterrando-o. Outra personagem de peso é a jovem jornalista Zoe Barnes (Kate Mara), que para se destacar no mundo cão midiático faz um pacto (do diabo) com Frank e deixa-se ser usada por ele, usando-o também sem a menor cerimônia. Aqui vemos como a política está entrelaçada à mídia, e como uma é mero joguete nas mãos da outra.
No mundo de House of Cards, você ganha ou morre. Não, péra. Show errado. Esse é um dos lemas de Guerra dos Tronos, mas bem que poderia ser o de House of Cards. Fica bastante claro que o eleitor é mero coadjuvante. O que está em jogo em Washington (e no mundo?) não é o interesse de todos, mas o interesse de alguns (como sempre). Todos querem a sua fatia do bolo. E fica claro também que políticos, assim como todos nós, são apenas peças, ou cartas, nas mãos de jogadores ainda mais implacáveis e cruéis, mas muito cruéis. Mas, atenção! Você poderá descobrir na história que há pessoas piores que ele! Principalmente na vida real.
House Of Cards Criado por: Beau Willimon Onde assistir: na Netflix, oras!
Se vocês observarem as minhas postagens sobre TV, vão perceber que eu acabo assistindo qualquer coisa que envolva serial killers. Acho fascinante a maneira como os detetives responsáveis pela investigação de determinado crime vão desenhando, através de pequenas pistas ou da observação de detalhes ínfimos, o perfil dos assassinos até conseguirem reduzir a sua gama de suspeitos a um grupo específico e, por fim, encontrar o responsável pelos crimes. Gosto especialmente dessas histórias quando elas não dedicam tempo demais a esconder a identidade do criminoso, mas antes o apresentam para nós em seus primeiros minutos. Assim nós também somos capazes de criar um perfil, o que torna tudo mais divertido e permite que as teorias de fã – tão interessantes quando surreais – surjam. A britânica The Fall me ofereceu todos esses elementos em seu único episódio já transmitido.
A premissa do seriado não difere muito do que já foi feito na área: um assassino de mulheres (vivido por Jamie Dornan), cujos crimes possuem conotação sexual, se encontra à solta e aterroriza a região de Belfast. A polícia local não possui qualquer pista que leve à revelação da identidade do criminoso. Logo nos primeiros minutos, vemos o sujeito entrar na casa de uma moça, mexer em suas coisas e ainda comer algo na cozinha, como se ele estivesse dizendo, tanto a ela quanto à polícia, que deseja que sua presença a seja notada. Então, por meio de um corte, vemos o mesmo cara a caminho de sua própria casa. Quando ele entra, somos surpreendidos pela primeira vez: um garotinho o espera sentado na escada e o chama de “papai”. Ok, você pode estar pensando: não há surpresa nenhuma em um assassino que se esconde por trás de uma fachada de pai de família. Mas, o surpreendente mesmo, é que o comportamento de Paul, o homem em questão, não parece normal mesmo quando ele se encontra em presença dos filhos (além do garoto, há também uma menina) e da esposa – que não nota as saídas noturnas do marido porque trabalha como enfermeira na UTI neonatal.
É perceptível que há alguma coisa errada com Paul. Seu comportamento misantropo, evidenciado pelas situações sociais que vemos durante o primeiro episódio, a sua frieza ao tratar os filhos e a mulher e o modo como a personagem, às vezes, simplesmente se desliga do mundo e não ouve nada que não esteja dentro da sua cabeça,causa incômodo e aguça a nossa curiosidade acerca do assassino, já que, além do que foi citado, pouco se sabe a respeito dele. Porém, o que mais incomoda é a maneira como ele parece estar sempre presente nos locais que suas vítimas frequentam. Aparentemente, a verdadeira diversão não reside em matar, mas antes em perseguir, em observar. Em fazer de todo o processo uma caçada na qual o alvo sequer percebe que há alguém na espreita.
Do lado da polícia o grande atrativo fica por conta da detetive especial Stella Gibson (Gillian Anderson), enviada pelo FBI para revisar as anotações, relatórios, fotos e etc. do assassinato de Alice Monroe. Até a chegada de Gibson, acredita-se que tal crime é um caso isolado e procura-se por um assassino, não por um serial killer. É por meio da observação de Stella que a polícia de Belfast encontra um link com outro crime, ocorrido cerca o de 3 meses antes, e que já contava com um suspeito. Porém, a teoria não é bem aceita pelas pessoas responsáveis pela investigação, pois sustenta-la significaria dedicar mais recursos e mais pessoas à revisão dos depoimentos do outro assassinato. Stella, porém, mesmo contrariando o chefe da polícia, se mostra determinada a comprovar que o assassino de Alice já havia matado antes. Que aquele não era um “trabalho” de iniciante devido à calma e a precisão com que tudo foi executado. Por isso, pode-se notar que Gibson, assim como Paul, também gosta da perseguição e é bastante boa nela. Sem dúvidas, daqui pra frente, uma das partes mais interessantes será observar como aquele que perseguia vai lidar com o fato de se tornar agora o objeto da caçada.
É complicado dizer se eu apostaria ou não no futuro da série. Primeiramente, porque o formato é diferente daquele ao qual estamos acostumados: em apenas 5 episódios tanto a personalidade de Stella quanto a de Paul, bem como as motivações de ambos, vão ter que ser expostas e desenvolvidas. É um formato mais acelerado, mas a julgar pelos acertos previamente mencionados, os produtores sabem o que estão fazendo e vão entregar uma história que cause tanto incômodo e curiosidade quanto esse primeiro episódio foi capaz de causar. E, caso contrário, pelo menos são 5 horas assistindo a Gillian Anderson ser incrível.
The Fall Criada por: Jakob Verbruggen Onde assistir: na BBC ou no computador mais próximo de você.
A cena de abertura de The Newsroom mostra o âncora Will McAvoy (Jeff Daniels no que talvez seja o melhor papel de sua carreira), do jornal News Night, participando de um debate sobre política, mais precisamente sobre os partidos republicano e democrata. Conforme o embate se intensifica, a câmera foca num silencioso Will, que está tendo um ataque de pânico, e o barulho ao redor vai ficando abafado. No meio da plateia ele tem a impressão de ver um rosto familiar. O mediador do debate o faz voltar a si. Um estudante universitário pergunta a Will se ele se considera republicano, democrata ou independente. Will lhe responde que se considera um fã do New York Jets, time de futebol americano da região metropolitana de Nova York. Risadas.
Will mantém-se em cima do muro por integridade jornalística ou por interesses corporativos? Novamente, Will sai pela tangente. A próxima pergunta vem de outra estudante com jeitinho tímido: ‘o que faz da América o grande país do mundo?’ Will novamente se esquiva, mas outra vez o rosto familiar da mulher na plateia faz com que Will tenha uma epifania, e sua afirmação de que os Estados Unidos não é o maior país do mundo gera espanto (!) geral. E se não bastasse essa declaração bombástica, Will solta a língua e faz uma crítica ferrenha à política e à sociedade americana.
A série é uma produção da HBO e já vinha sendo pensada por Aaron Sorkin, roteirista do filme A Rede Social (The Social Network, 2010) e da premiada série The West Wing, desde 2009. Sua ideia era criar uma obra sobre os bastidores de um telejornal que colocasse a informação acima de interesses políticos e comerciais – algo que definitivamente não se vê (se é que já se viu) nos dias de hoje. Sorkin conseguiu seu intuito. Os dez episódios da primeira temporada foram lançados em 2012, e seu episódio piloto bateu o recorde de audiência, com 2,1 milhões de espectadores.
Embora para os cínicos The Newsroom seja uma série sobre um ‘jornalismo conto de fadas’, o retrato do dia a dia na redação não deixa de ser cativante. Os temas de cada capítulo foram bem pensados e soam atuais, e apesar do sentimentalismo americano por detrás de alguns deles, e do desejo de que os Estados Unidos sejam novamente uma pátria de que não só os americanos, não há como não torcer para que o News Night, o tal telejornal, continue com sua integridade intacta.
A atuação dos atores é um show à parte. Jeff Daniels brilha como Will McAvoy, o polêmico âncora que resolve mandar o status quo para o inferno e comandar um jornal que tenha compromisso apenas com a verdade dos fatos e não com ‘quem paga mais’. Seu braço direito é sua ex-namorada e agora produtora executiva do programa MacKenzie McHale (Emily Mortimer), que parece inspirada em uma personagem de Audrey Hepburn pelos seus trejeitos delicados e cheios de personalidade. O relacionamento entre Will e MacKenzie relembra bastante as comédias românticas do começo dos anos 90, assim como o intrincado triângulo amoroso vivido por Jim Harper (John Gallangher, Jr), Maggie Jordan (Alison Pill) e Don Keefer (Thomas Sadoski). Outros personagens que merecem destaque são o escritor do blog de Will e admirador do Wikileaks, Neal Sampat (Dev Patel), a analista financeira Sloan Sabbith (Olivia Munn), o presidente da divisão de notícias Charlie Skinner (Sam Waterston) e friíssima presidente do canal Leona Lansing (interpretada por Jane Fonda, que dispensa apresentações).
Eu não sei que tipo de idiota começa a assistir uma série que trata do último ano de vida de uma mulher com câncer no estágio 4 e ainda tem expectativas de que isso tenha um final feliz. Mas, o fato é que eu sou esse tipo de idiota. E quando o fim chegou, há duas segundas feiras, eu estava desolada. A série (e sua personagem central) podia estar chegando ao estágio final do luto, a aceitação, mas eu ainda estava em negação profunda e disposta a barganhar para que os Jamison/Tolkie passassem mais um tempo fazendo parte da minha rotina.
The Big C: Hereafter tem como tema central o modo como Cathy Jamison (a linda da Laura Linney) lida com o fato de que seus tumores não diminuíram com nenhum dos tratamentos alternativos a que ela se submeteu. Assim, a quimioterapia, tão temida e evitada por Cathy, passa a ser a sua única opção – e, por um tempo, ela abraça esse fato. O desgaste da personagem é tão visível que, desde a primeira cena de Hearafter, queremos entrar na série e abraça-la. Queremos dizer que, de alguma forma, vai ficar tudo bem. Mas nós sabemos que não vai ficar tudo bem. E a temporada final de The Big C parece ter sido pensada para demonstrar que, às vezes, é ok parar de lutar pela vida e aceitar que sem as condições mínimas para cuidar de si mesmo, o melhor é admitir a presença da morte e perder o medo de ir – o que Cathy consegue fazer muito bem.
Porém, a aceitação da personagem soa estranhíssima para nós. Não só por se tratar de uma pessoa que parece não possuir qualquer apego pela sua vida, mas pelo pouco medo que ela demonstra de interromper o seu tratamento – o que poderá fazer com que fique cega e perca parte dos seus movimentos – e de se internar num asilo – onde terá contato com mais doença, mais morte e, provavelmente, morrerá longe de todas as pessoas que ama. É compreensível, porém, que ela não queira marcar os lugares onde sua família vive pela morte. Pelos arranjos, bem tortos e quase engraçados, que ela tenta fazer para que Paul (Oliver Platt), Adam (Gabriel Basso), Sean (John Benjamin Hickey) e Andrea (Gabourney Sidibe) fiquem bem, mesmo que ela não possa mais cerca-los de cuidados, nota-se que, na verdade, ela não quer todas aquelas coisas. Toda aquela solidão naquele ambiente estranho e meio macabro. O que ela quer mesmo é tornar todo o processo o mais confortável e o menos doloroso o possível para todos os envolvidos. A aceitação de Cathy se dá mais no sentido de que ela não é a única sofrendo com o câncer e, por isso, é preciso fazer com que as outras pessoas tenham um fiozinho de esperança e perspectiva de que, para elas, tudo ainda pode ficar bem.
Laura Linney, que já vinha se mostrando versátil nas outras três temporadas do seriado, está tão convincente, com uma aparência tão debilitada, que temos a impressão de que ela também está doente. O restante do elenco, especialmente Oliver Platt e Gabriel Basso, se mostra afiado e consegue arrancar lágrimas e sorrisos na mesma medida, como na formatura surpresa de Adam e no desfile de Andrea. O tom cômico (afinal, mesmo com o tema mórbido não podemos esquecer que The Big C é uma comédia) da temporada fica todo por conta de John Benjamin Hickey e das superstições surreais de sua personagem. A cena em que ele mostra ao sobrinho o gato do asilo de Cathy, conhecido entre os internos como Deathany (porque, supostamente, ela sabe quando as pessoas estão morrendo e sobe na cama delas!), coberto de penduricalhos e com roupinhas cor de rosa, na tentativa de fazer do bicho algo mais alegre, é hilária e faz a gente se lembrar das primeiras temporadas.
Mesmo que eu ainda esteja em negação, não consigo deixar de achar que The Big C teve um fim digno. A proposta inicial foi seguida e muito bem executada por Darlene Hunt e ela, mais uma vez, soube tirar lágrimas, dar esperança e arrancar sorrisos do expectador. Especialmente com os 5 minutos finais, que guardam uma revelação surpreendente e que fazem a gente entender – e quase partilhar – a aceitação de Cathy.
The Big C: Hereafter Criado por: Darlene Hunt Onde assistir: na Showtime ou na HBO
Olhando assim, você até poderia dizer: ‘afffee, mais uma série de zumbis?’ e eu não tiraria sua razão. Não até assistir ao primeiro episódio de In The Flesh. Criado por Dominic Mitchell, a série fala do que acontece no pós-apocalipse zumbi. Não há ataques de zumbis famintos por carne humana exceto nos flashbacks do personagem principal, Kieren ‘Ren’ Walker (Luke Newberry), que, a propósito, é um zumbi em recuperação. Isto mesmo, no pós-apocalipse os mortos-vivos são tratados com uma droga especialmente desenvolvida para serem reintegrados à sociedade. Também recebem outro nome. Nada de chamá-los de mortos-vivos. Eles sofrem de uma condição chamada PDS: Partially Deceased Syndrome, ou Síndrome do Falecimento Parcial.
Para que a reintegração seja um pouco menos traumática, afinal esses mesmos zumbis saíram comendo pessoas e espalhando terror antes de irem pra rehab, carregam um kit-maquiagem com direito a lente de contato para deixá-los com uma aparência mais vivaz, e um panfleto sobre sua nova condição. As famílias também recebem apoio através de terapia em grupo. E do panfletinho.
Luke Newberry impressiona como o jovem ex-zumbi Ren pela delicadeza de sua atuação. Sua adaptação é penosa, não pela droga, mas por sua personalidade sensível. Ele sofre com culpas, medos, arrependimentos, ‘e ses’. Parte da culpa vem das lembranças do que fez quando zumbi. Mas grande parte de seus medos é da própria vida que o aguarda.
A cidade natal de Ren, a pequena e retrógrada Roarton, é tida como a mais intolerante quando o assunto é a reintegração daqueles com PDS. E não é só aí que a cidade se mostra intolerante. Roarton é a cidade que se orgulha por ter conseguido se defender sem a ajuda do governo, e por ter criado uma milícia contra zumbis. Pode-se dizer que Roarton é uma caricatura, um microuniverso da intolerância dos dias de hoje, do orgulho nocivo de suas raízes, de sua comunidade hipócrita, de seus ideais conservadores. Ren é a antítese. A alma sensível. O artista cheio de potencial que não resistiu à pressão. E que agora procura fazer sentido da ‘vida’ a sua volta.
Outra personagem que ganha nossa atenção é a rebelde ex-zumbi Amy (Emily Bevan), que se recusa a ser o que não é. Amy quer aproveitar sua segunda chance, não quer se esconder por trás da maquiagem, nem da lente de contato. Quer ser ela mesma. E paga o preço por isso. Soa familiar sobre vários outros assuntos, não?
In The Flesh não é apenas mais uma série de zumbis. É uma série sobre a vida, sobre a (in)tolerância, sobre aceitação – não só a dos outros, mas a própria.
Infelizmente, possui só três episódios. Merecia mais, talvez mais algumas temporadas, já que provou ter potencial para tanto. O último episódio deixou a impressão de que foi feito às pressas, corrido mesmo. Deixou também várias perguntas no ar, e um enredo que ainda poderá render muitos frutos, como O Profeta, um ex-zumbi que usa a rede para espalhar suas ideias rebeldes contra os ‘vivos’, e que acredita num segundo apocalipse onde eles serão os vencedores. Espero que a BBC dê continuação à série que nos deixou com um gosto de quero mais.
In The Flesh Criado por: Dominic Mitchell Onde assistir: na BBC ou em um computador perto de você.
Uma garotinha linda e doce leva uma vida para lá de confortável com o seu pai e, assim como todos os nova-iorquinos ricos, no verão eles migram para os Hamptons. Lá, entre brincadeiras na praia com um cachorrinho pra lá de fofo e o vizinho ainda mais gracinha, tudo na vida da pequena Amanda Clarke (durante essa fase, vivida por Emily Alyn Lind) é colorido, alegre e extremamente superprotegido. Até que seu pai, David (James Tupper) é acusado de terrorismo, preso e ela vê tudo o que acreditava ser reduzido a nada. Então, a doçura de Amanda começa a desaparecer. Ela endurece e decide que irá se vingar de todas as pessoas responsáveis pelo declínio de seu pai – cuja inocência, para ela, é inquestionável. No topo de sua lista, estão os antigos chefes de David, Victoria (Madeleine Stowe) e Conrad Greysson (Henry Czerny).
Entre estadias em lares adotivos, sucessivos golpes da vida (pessoas mentindo para ela apenas para conseguir alguma informação nova a respeito de seu pai e esse tipo de coisa), uma passagem pelo reformatório e a sua transformação em Emily Thorne (Emily VanCamp), a pequena Amanda Clarke tem bastante tempo para arquitetar um plano de vingança complexo, que devido à sua fragilidade, se assemelha bastante a um castelo de cartas. Pelo seu reencontro com outras pessoas de seu passado, como Jack (Nick Wechsler), o vizinho com quem brincava, e a verdadeira Emily Thorne (Margarita Levieva), sua companheira de quarto no reformatório, seu plano vai se tornando ainda mais passível de uma queda brusca. Porém, como se poderia esperar, nada desmorona. Emily consegue sempre o que quer por meio dos artifícios mais batidos e dos golpes mais baixos.
Tudo isso soa bastante como uma novela do Gilberto Braga, certo? E é uma novela do Gilberto Braga. Com orçamento ridiculamente alto, “filmada” nos Hamptons e com protagonistas que não são ricos, mas podre de ricos. Para os personagens de Revenge 10 mil dólares é o troco do pão. E é isso que faz a série ser uma delícia de assistir: ela não tem pretensões maiores do que divertir. Não quer ser uma história sobre vingança e redenção tão profunda quanto, sei lá, Kill Bill. Quer ser entretenimento bobo e rápido, que não exige muito de seu público e entrega sempre sequências e revelações surpreendentes, beirando o surreal.
Eu juro, juro que é tudo muito bom de assistir. Você sempre fica esperando para saber qual será o próximo movimento da protagonista, qual será a próxima carta a cair de seu castelo. A primeira temporada da série é desenvolvida em um ritmo tão frenético que é quase impossível não assistir em uns dois ou três dias. A segunda conta com alguns tropeços, algumas sequências risíveis demais até para a proposta de Revenge, mas compensa em um season finale eletrizante, que eleva o título do seriado a outro plano e faz com que a terceira temporada prometa ser ainda melhor do que as suas antecessoras. A vingança não é mais só de Emily/Amanda: agora todos os personagens possuem um motivo para se voltar contra os Greysson e será divertido ver como os ricaços se desviam, novamente, das ameaças que os cercam.
Assistir a Revenge é como assistir a uma novela das 9. Não digo isso somente pelo seu mote, extremamente parecido com Avenida Brasil, mas pelo texto, pelo desenvolvimento, pela falta de compromisso em ser profundo… Enfim. Uma série de razões que pode desagradar ao público mais cult exigente, mas que não chega a ser um problema para aqueles que não ligam de apenas sentar na frente da TV e se divertir. E, além disso, eu acho importante sempre assistir a algo sabendo o que aquilo tem para oferecer. Revenge não tem nada de extraordinário, mas vai te deixar com aquela cara de “não acredito” em diversos momentos. E, para mim, de vez em quando isso basta.
Revenge Criada por: Mike Kelley Onde assistir: ABC, Sony Brasil ou Globo
Inicialmente, eu torci o nariz para Bates Motel. A ideia de contar os anos iniciais de Norman Bates (vivido na série por Freddie Higmore) era interessante. Quando vi Psicose (Psycho, 1960) fiquei pensando sobre como ele teria desenvolvido o Transtorno Dissociativo de Identidade e porque seria a mãe a pessoa em quem ele se “transformava” quando a doença se manifestava. Em partes, era possível prever pelo próprio filme, mas eu gostaria de mais algumas perguntas respondidas. Portanto, não foi mesmo preciosismo o que me fez não gostar de cara da série. Foi a tentativa – meio mal feita – de modernização.
Hoje em dia a polícia possui meios mais eficientes de se caçar um serial killer ou de rastrear pessoas desaparecidas. Há tecnologia que facilita diversos aspectos de uma investigação criminal, de modo que conduzir Bates, de sua adolescência até parte de sua vida adulta, matando as mocinhas que passassem por seu motel, num contexto onde se pode ir mais à fundo em tais histórias, parecia meio irrealista. E nem foi só isso: embora os personagens tenham iPhones, laptops e outros dispositivos eletrônicos, eles estão inseridos num cenário que lembra outra época, a época onde a história original se passa. E suas roupas, especialmente as de Norma (Vera Farmiga), em pouco ou nada condizem com o ano de 2013. Então, acho que foi mais isso: a modernização pelas metades. E algumas situações forçadas do primeiro episódio.
Entre essas situações, é preciso destacar o assassinato de Keith Summers, um morador local e dono anterior do motel onde a família Bates se instala após se mudar para White Pine Bay. Para mim, ficou parecendo que desejavam demonstrar, desde o começo, a loucura de Norma. Afinal, o sujeito já estava contido, havia evidências de sua tentativa de estupro e invasão de propriedade privada e, no entanto, ela considera que ligar para a polícia será um erro. E aí, Keith faz uma provocação mínima, perto de tudo o que ele havia feito antes, e ela o esfaqueia repetidamente, descartando qualquer possibilidade de que a situação fosse resolvida por meios legais. A tentativa de desenhar a personalidade da mãe opressora e desequilibrada é válida, afinal, tem-se aí a raiz da doença de Norman, mas isso poderia ter sido realizado de forma mais gradual, como foi feito em outros momentos da temporada.
Mas, as coisas mudam bastante depois de alguns episódios. Em um determinado ponto, eu me vi interessadíssima no que estava acontecendo em Bates Motel. Lá pelo quarto episódio a história ganha fôlego por meio da desconstrução de White Pine Bay. De um lugar pacato, a cidade passa a se transformar em um local cuja principal fonte de renda é a venda de drogas e o tráfico de escravos sexuais. As tramas paralelas envolvendo as pessoas que trabalham na plantação de maconha de Gil, bem como aquelas envolvendo o namorado de Norma, o policial Shelby, assumem um papel importante e servem para tirar o foco de dramas adolescentes relacionados ao “garoto excluído apaixonado pela garota popular que dá mole para o seu irmão mais velho”. Essas coisas podem até ser importantes, porque é claro que elas tiveram certo impacto na personalidade de Norman, mas caso decidissem mostra-lo apenas nos corredores da escola e se relacionando com a mãe, Bates Motel se tornaria completamente entediante.
Caso você seja como eu e tenha começado a assistir a série pensando em quando ele começaria a manifestar sua doença, respire fundo e aguente firme porque isso só acontece na segunda metade da temporada. E é um tanto sutil. Começa apenas com a repetição de discursos da mãe desfavoráveis às garotas por quem ele se interessa e não ocorre mais do que em um momento específico. O momento de maior proximidade com o Norman Bates que conhecemos ocorre somente nos minutos finais. Eu devo admitir que devido a algumas pistas dadas ao longo do último episódio, se tornou bastante claro quem seria a primeira vítima do garoto, mas não impede que você pare uns minutos e faça cara de choque para a TV.
Eu não sei se colocaria Bates Motel como A grande estreia da midseason de 2013, como alguns críticos e o próprio público vêm fazendo. A série tem sim os seus méritos e mostra promessa, já que agora Norman começou desenvolver o Transtorno Dissociativo. Mas há alguns erros que precisam ser corrigidos para a segunda temporada. E como algumas das histórias paralelas já foram enterradas, resta saber como serão conduzidas as novas, entre as quais estará a investigação do assassinato da primeira vítima da Norman. E o meu palpite é a pilha de corpos na sacada dos Bates vai aumentar consideravelmente nessa segunda temporada…
Criada por: Tucker Gates Onde assistir: em julho a série começará a ser exibida pela Universal
Se eu fizesse parte do time de executivos da AMC, nesse momento, estaria me chutando por ter recusado Rectify. Mas, como eu não sou, estou agradecendo ao Sundance Chanel por ter acreditado no potencial da história e feito dela a sua primeira produção independente. Porque o que a gente tem ali está muito acima da metade dos programas exibidos no momento. É tudo tão bem feito que eu não ficava impressionada assim com um seriado desde que Six Feet Under foi cancelado.
Às vezes, eu tinha a impressão de estar assistindo a um filme de seis horas de duração – é, esse é um ponto negativo: a primeira temporada conta com apenas 6 episódios. Tamanha a riqueza de detalhes e a preocupação estética. Rectify tem uma fotografia incrível, para dizer o mínimo. E não para por aí: a série transporta a sua proposta inicial – que é realizar uma análise do macro utilizando o micro – para a estética e se detém sobre miudezas, como um olhar ou um detalhe na roupa de alguém, por um tempo que seria julgado desnecessário, devido a velocidade com que as coisas precisam se mover em programas de TV.
Rectify não se preocupa com ritmo: é lenta, quase arrastada, e não desenvolve “a trama que todo mundo quer ver” em sua primeira temporada. Porém, isso tudo está longe de fazer falta, já que entender a personalidade do protagonista, Daniel (Aden Young), e a dinâmica de sua família, estranha exatamente porque muito convencional, é demasiadamente importante para que a análise pretendida aconteça. Porque, afinal, a questão que rege todo o seriado é: Daniel Holden matou ou não matou Hannah Dean? Tem-se a sua confissão, mas as evidências de DNA, encontradas 19 anos depois do assassinato, dizem o contrário e foram suficientes para anular o seu primeiro julgamento. Mas o comportamento dele e a sua relutância em desmentir a confissão ou dar a seu advogado, Jon (Luke Kirby), algo mínimo com o que trabalhar, soa contraditória. O fato é que, sobre isso, a gente não chega a nenhuma conclusão. Temos suspeitas, que podem ser levadas para qualquer lado que você desejar, mas nenhuma certeza.
Além de tudo isso, uma das coisas que mais deslumbra em Rectify é o elenco. Os atores dão o sangue para que o seriado seja absolutamente incrível. Aden Young faz com que Daniel seja, ao mesmo tempo, assustador e alguém que precisa ser protegido. Afinal, ele passou 19 anos trancado, sem sequer uma janela, e não tem a menor ideia de como conviver em sociedade. Regras básicas, para ele, não são tão elementares assim e ainda precisam ser aprendidas. Sua irmã, Amantha (Abigail Spencer), mascara a fragilidade e a necessidade de compreensão do que cerca Daniel cobrindo o irmão de cuidados, de um jeito maternal e um pouco sufocante. A mãe (J. Smith-Cameron), por sua vez, não sabe como trata-lo e, às vezes, parece ter medo de sua presença.
Em meio a esse quadro familiar complexo e cheio de nuances, Daniel não consegue entender qual é o seu papel no mundo. Não sabe como lidar com a revolta de parte da cidade e nem com a solidariedade apresentada por outra parte. E nós acompanhamos a sua jornada – que ainda nem sabemos ao certo sobre o que é. Às vezes parece que ele busca redenção. Às vezes parece que busca a si mesmo. Às vezes parece que ele está a procura de algo quase imaterial, mas capaz de salvá-lo. Ou vai ver ele esteja procurando todas essas coisas ao mesmo tempo.
Rectify Criada por: Mark Johnson Onde assistir: infelizmente, nenhum canal brasileiro comprou os direitos. Mas você pode correr pro computador mais próximo e se fazer esse favor agora mesmo
Publicada originalmente em:
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American Horror Story: Murder House (1ª Temporada)
4.2 2,2KMisture as premissas de Os Outros, Rose Red – A Casa Adormecida e o Bebê de Rosemary. Acrescente algumas doses de O Iluminado e, porque não, Carrie, A Estranha. Mas leve a coisa além e some casos reais como a Dália Negra e o assassinato em massa de jovens enfermeiras no Hospital Comunitário do Sul de Chicago. Columbine também, se você achar que convém. Depois coloque sexo, mentiras, intrigas e muita gente emocionalmente instável num casarão (que custa muitos milhões de dólares). Pronto: você tem American Horror Story: Murder House.
O primeiro ano da minissérie criada por Ryan Murphy e Brad Falchuck (os responsáveis por Nip/Tuck e, curiosamente, Glee), se apoiava em tudo o que foi citado para contar a história da família Harmon, que se muda para a mansão onde toda a ação se desenvolve, buscando fugir de um erro do passado de Ben (Dylan McDermott), o seu patriarca. Porém, a gente percebe de cara que as coisas por ali não são exatamente tão bonitas quanto parecem. Sempre que alguém vira de costas, um sujeito vestido com uma roupa de sadomasoquista aparece no fundo da cena. Enquanto Vivien (Connie Britton) e Violet (Taissa Farmiga) veem Moira (Frances Conroy), a empregada da casa, como uma velhinha fofa, Ben a enxerga em trajes sexys (e nessa versão Alexandra Breckenridge dá vida á personagem) e sempre fazendo de tudo para provoca-lo. E não para por aí: Constance (a sempre incrível Jessica Lange) e sua filha Addie (Jamie Brewer) parecem ter meios de entrar e sair da casa quando bem entendem.
Leia mais em: http://www.outrapagina.com/blog/american-horror-story-murder-house/
Orange Is the New Black (1ª Temporada)
4.3 1,2K Assista AgoraResolvi assistir Orange Is The New Black, a nova série do Netflix, por um motivo bem simples: é da mesma criadora de Weeds. E enquanto Weeds foi bom, não teve pra seriado nenhum. Era engraçado, cínico e sabia dosar bem o drama inerente a toda aquela situação para que ele não ofuscasse as outras características (afinal, ainda era uma série de comédia!), mas também não fosse raso. E foi exatamente isso que eu encontrei em Orange Is The New Black. Isso e uma sensibilidade extrema no tratamento do tema e nas conclusões a que Jenji Kohan deseja te fazer chegar.
Em linhas gerais, a série fala a respeito de Piper Chapman (Taylor Schilling), uma moça rica que, depois de terminar a faculdade, foi viajar pela Europa. Lá ela conheceu a charmosa (e lindíssima) Alex Vause (Laura Prepon), uma traficante de drogas que trabalha para um cartel internacional. As duas se apaixonaram, se envolveram e, sem querer, Piper acabou envolvida nas operações do cartel. Ok, ela só transporta uma mala com dinheiro, mas isso é o bastante para que quando as coisas são expostas, ela pegue 15 meses de cadeia.
E agora sua vida está toda diferente: ela está começando um negócio novo com a sua melhor amiga, está noiva de Larry (Jason Biggs) e se parece menos com a Piper perdida que se envolveu nessa confusão toda. Atentem para o “parece”, porque a estadia da moça em Litchfield vai fazer a gente perceber Piper de um jeito diferente. E o mesmo acontece com as outras detentas: nos apressamos para formar opiniões e Jenji Kohan, por meio de flashbacks que mostram como todas as detentas foram parar na prisão, desconstrói a imagem que temos daquelas mulheres.
Leia mais em: http://www.outrapagina.com/blog/orange-is-the-new-black/
Top of the Lake (1ª Temporada)
4.0 100 Assista AgoraAlgumas pessoas que insistem em dizer que TV é um produto menor do que cinema. Se por preconceito ou por nunca terem visto uma série que fosse, de fato, bem construída (do ponto de vista imagético e em termos de roteiro), eu não sei.
O fato é que essa afirmação sempre me deixa perturbada. Primeiramente, porque eu penso em Twin Peaks e no tanto que aquilo é um filme do David Lynch estendido e adaptado a outro formato. Twin Peaks não é, de modo algum, um produto menor do que Veludo Azul ou qualquer outro longa de Lynch. E todas as características do diretor estão ali. Depois, porque eu penso nas duas últimas coisas que assisti: Rectify e Top Of The Lake. Além de serem incríveis, de diversos pontos de vista técnicos, essas séries trabalham com o anticlímax. Você quer ver a trama central se desenrolando logo? Sinto muito. Os produtores/roteiristas têm coisas paralelas pelas quais estão interessados e vão apresentar antes que você tenha a solução do mistério central. Supondo que você consiga a solução.
Top Of The Lake se inicia nos apresentando uma imagem bonita e sombria. Há um lago, neblina e uma menina com traços orientais entrando no lago. A água chega até o seu queixo antes que alguém veja a cena e a arraste dali. Você ainda não foi apresentado a ela e não tem a menor ideia dos seus motivos para estar entrando no lago. Portanto, efetivamente, você não se importa. Você quer o mistério revelado e, tão logo ele começa a se delinear – num ritmo próprio e que, provavelmente, vai incomodar os mais afoitos –, você quer mais.
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Veep (2ª Temporada)
4.3 52Veep é uma série de comédia que fala sobre a vice-presidente dos Estados Unidos. É isso. Só isso. Nada mais que isso. Parece chato, né? É, eu sei. Mas acho que não há outro jeito de descrever sobre o que é a série. Não que ela seja ruim – na verdade é o extremo oposto -, mas…
… Uma vez uma amiga me contou que um escritor famoso disse, não lembro exatamente qual, que a pergunta mais estúpida que alguém poderia fazer acerca de livros é indagar “sobre o que eles falam”. E ela disse que isso valia pra filmes, porque, sendo franca, “o filme Titanic fala sobre um barco que afunda”…
Então é isso. Veep é uma série que fala sobre a vice-presidente dos Estados Unidos. Sim, sim. É isso, só isso. E, ao mesmo tempo, muito mais que isso.
Protagonizada pela maravilhosa Julia Louis-Dreyfus, Veep se escora no carisma de Selina Meyer, sua protagonista, e propõe situações improváveis que nos deixam átonos. Apesar de hilárias (e absurdas), demoramos um tempo para processar o que vemos. É como se as escolhas das personagens fossem tão burras que nos impedisse de rir de imediato, para, logo depois, fazer com que gargalhemos.
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Parade's End
4.1 22Na forma de cinco episódios incríveis, a minissérie da BBC, Parade’s End, narra o desaparecimento da Era Eduardiana e os horrores da Primeira Guerra Mundial usando como motor um triângulo amoroso entre Christopher Tietjens (Benedict Cumberbatch), sua esposa adúltera, Sylvia (Rebecca Hall) e uma jovem pacifista e sufragista, Valentine Wannop (Adelaide Clemens). Apesar de triângulos amorosos em séries/filmes de época não serem nenhuma novidade, esse apresenta uma evolução tão boa e natural que a gente não consegue deixar de achar que está assistindo a uma história do tipo pela primeira vez. E o crescimento de Parade’s não para por aí: tematicamente o seriado acaba por abordar muito mais do que a guerra e as mudanças da Inglaterra. Ele fala sobre a corrupção, sobre a inversão de valores e sobre o mundo (tanto o dos protagonistas quando de modo geral) em colapso.
Christopher é o “último homem honesto da Inglaterra”, fato que é apontado por Sylvia diversas vezes durante Parade’s End. Alguns poderiam dizer até que ele é meio passivo, já que está sempre perdoando as infidelidades da mulher sem sequer tecer comentários a respeito delas. Pelo contrário: quando Sylvia foge com Potty Perowne (Tom Mison), ao invés de dizer a verdade e se divorciar, ele conta a todos os conhecidos do casal que sua mulher, um exemplo de caridade e preocupação, está cuidado da mãe adoentada em outro país. E, assim, as pessoas que cercam os dois criam para Sylvia uma imagem quase beatificada. A nobreza de Chrissie beira o absurdo e funciona como uma forma de abuso mental – que acaba não atingindo somente a ele, mas também a mulher, que não entende os seus silêncios e a sua abnegação. No momento em que a guerra é declarada ele vê a chance de reafirmar a imagem que todos têm dele se inscrevendo no exército e também de escapar do conflito interior em que se encontrava.
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Jericho (1ª Temporada)
4.0 50Imagine a seguinte situação: você, a ovelha negra da família, volta para sua cidadezinha natal, e, por ser uma pequenina comunidade, praticamente encontra todo mundo nos primeiros minutos. Para cada um, uma explicação diferente sobre os rumos que sua vida tomou nos últimos cinco anos. Sua mãe fica feliz em te ver finalmente depois de tanto tempo! Seu pai não está assim tão animado, principalmente ao saber que você só está de volta pra pegar uma possível herança deixada pelo avô. Seu irmão mais novo, aquele que é considerado o perfeito, olha para você com desaprovação. Tensão.
Você vai embora da cidade #chateado, cheio de mágoas, culpas e segredos. De repente, no horizonte, uma nuvem em forma de cogumelo. Marketing da Nintendo? Não. Explosão nuclear mesmo.
Esta é a história de Jake Green (vivido por Skeet Ulrich) e da cidade de Jericho num Estados Unidos pós-holocausto nuclear.
Jake retorna para Jericho e a encontra um caos. Com os meios de comunicação cortados, Jericho fica isolada de tudo. Sem notícias do que realmente está acontecendo, o medo se espalha. Cabe então ao prefeito Johnston Green (Gerald McRaney), o pai de Jake, colocar ordem no lugar e dar um show de liderança e administração. A população então tenta manter-se unida para evitar a escassez de alimentos, a falta de energia elétrica , mais tarde, milícias e uma cidade vizinha que não teve a mesma sorte.
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Mistresses - Amantes Revoltadas (1ª Temporada)
3.8 42Comecei a assistir Mistressess, o remake norte-americano da série produzida no Reino Unido, porque a sua sinopse prometia algo bem leve. Aquele tipo de coisa que só exige que você sente na frente da TV e se divirta com as intrigas apresentadas. Portanto, se você gosta de programas “de mulherzinha”, daqueles que dá pra ver com a melhor amiga comentando “ai, fulana/fulano não vale nada”, recomendo muito que você assista Mistresses. Se não, pode deixar pra lá porque não é mesmo a sua.
Resumidamente, o programa trata a respeito de um grupo de amigas, Savannah “Savi” Davis (Alyssa Milano), Karen Kim (Yunjin Kim), April Malloy (Rochelle Aytes) e Josslyn Carver (Jes Macallan), que em algum ponto de suas vidas foram amantes de alguém. Savi de um colega de trabalho e, até o presente momento, só por uma noite. Karen, de um de seus pacientes. April, por sua vez, sofre com a presença da amante de seu falecido marido em sua vida. E, por fim, Joss que é a amante convicta, aquela parte do grupo que detesta compromissos e tem múltiplos encontros com muitos homens – que, quanto mais indisponíveis, melhor servem aos seus objetivos.
Mistresses mostra os desdobramentos que todas as traições têm na vida de suas quatro protagonistas de um jeito que parece uma mistura de Sex And The City com Desperate Housewives. Ou uma versão crescida de Pretty Little Liars, já que todas ali têm segredos que, provavelmente, vão fazê-las de reféns em algum ponto da série.
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Vicious (1ª Temporada)
4.3 94Vicious é uma grande promessa não cumprida.
A simples presença de Ian McKellen, o responsável por dar vida ao mago Gandalf na franquia O Senhor dos Anéis e ao Magneto em X-Men, já é o bastante para atrair olhares. Quando você pensa que um papel cômico é uma coisa quase inédita na carreira do ator, fica ainda mais interessado e intrigado sobre o que está por vir. E aí é só somar a presença de Gary Janetti, que esteve envolvido com Family Guy e Will & Grace, e acrescentar a atmosfera de sitcom dos anos 90 que, para os fãs de comédias é sempre bem vinda, e pronto: fica parecendo que o seriado é daqueles que você precisa assistir. Mas é bem isso: tudo fica somente no plano das aparências.
A série conta a história de um casal de homossexuais, Freddie (McKellen) e Stuart (Derek Jacobi) que vive junto há 50 anos. O fato de Ian McKellen também ser homossexual (e ter o simpático hábito de arrancar as páginas da bíblia que fazem alusões negativas a essa orientação em todos os hotéis onde se hospeda), dão a impressão de que ele não se envolveria com um projeto ofensivo, certo? Errado. Eu nunca vi nada tratando do tema que se apoiasse tanto em estereótipos e clichês negativos. Em todas aquelas coisas que os ativistas se esforçam para desconstruir.
Freddie e Stuart são extremamente bitchy – na falta de uma palavra em português que represente melhor o espírito da dupla – e maltratam todos ao seu redor. Violet (Fraces de la Tour, a Madame Maxime de Harry Potter), a suposta melhor amiga dos dois, tem todos os detalhes da sua vida passados por um julgamento constante e cortante, onde coisas como a sua aparência, a sua idade e o número de relacionamentos falhos que ela já teve são expostos e escarnecidos – porque para ser só uma sátira os autores teriam que cortar diversas partes do roteiro. Há até mesmo a presença de uma “piada” relacionada a estupro logo no piloto da série, o que fez meu estômago revirar.
Apostando em situações relacionadas à moda (coisa que Will & Grace e qualquer outro seriado envolvendo homossexuais já fez melhor), Vicious representa os gays fúteis, já que as sua dupla de protagonistas está sempre julgando as pessoas por aquilo que elas vestem. E isso nem é o problema mais grave: a pior parte fica por conta da fobia que Freddie e Stuart possuem de envelhecer e da maneira como precisam sempre parecer melhores, mais bonitos e mais bem sucedidos (mesmo que não sejam) do que todos que os cercam.
Um bom exemplo disso é quando Ash (Iwan Rheon, o Ramsey Bolton, de Game Of Thrones), o vizinho de cima, conta para eles que arrumou um emprego como protagonista de um filme independente. Freddie, um aspirante a ator que nunca conseguiu fazer com que sua carreira decolasse, fica tão mortificado com o fato que começa a tratar as pessoas ao seu redor com educação e o mínimo de carinho, o que faz também com que os gays sejam representados como criaturas invejosas e mesquinhas, coisa corriqueira de se ver, mas que eu não esperaria de um projeto que envolve as pessoas citadas.
Fiquei ofendida e envergonhada assistindo diversas cenas da série. Não sei mesmo como ela vem recebendo tantas críticas positivas de sites voltados para a TV. Acho que as pessoas se acostumaram a ver coisas ofensivas sendo tratadas como normais no que tange a homossexualidade. E nem dá pra dizer que o roteiro tenta te ludibriar para que você solte um sorrisinho ou outro assistindo a Vicious: tudo ali é dito em alto e bom som, para a nossa tristeza.
Vicious
Criada por: Mark Ravenhill
Onde assistir: por enquanto, nenhum canal do Brasil exibe a série
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Arquivo X (9ª Temporada)
3.9 72 Assista AgoraRecomendável ler o texto abaixo escutando a música de abertura.
Arquivo X, que em Portugal recebeu a tradução (massa!) de Ficheiros Secretos, foi a série mais hipster dos anos 90. Tá, nem era hipster. Porém, foi extremamente cult a ponto de eu ter uma carteirinha de fã, camiseta com a estampa de Mulder e Scully na frente e ler um periódico (sim!) chamado O Pistoleiro Solitário, inspirado/plagiado no jornal que os três personagens loucos por conspiração da série, e também grandes ajudantes nerds de Mulder (Frohike, Byers e Langly) escreviam.
O barato já começava logo no tema de abertura, com música de Mark Snow, e frases que deram o tom ‘teorias da conspiração’ da obra como “a verdade está lá fora”, “não confie em ninguém” (muito pertinente nos dias de hoje) e “eu quero acreditar” (talvez não tão pertinente hoje em dia).
Criada por Chris Carter, conta as peripécias dos agentes do FBI Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) nos intitulados Arquivos X; pilhas de casos paranormais que nunca foram explicados e que o FBI simplesmente resolveu arquivar/ignorar porque um, ninguém acreditava mesmo, e dois, era impossível provar qualquer coisa. E três, porque dava uma trama de série massa (tô na vibe dos anos 90).
Traumatizado com a abdução da irmã há mais de vinte anos, o agente Mulder resolve tomar as rédeas desses arquivos e provar que extraterrestres existem sim, que a abdução da irmã não é só fruto de trauma infantil, e que o governo (este safado!), sempre soube de tudo e escondeu a verdade da população por motivos obscuros. Enquanto Mulder é o cara que em tudo acredita, Scully usa sua formação como médica cética para fazer o parceiro ‘cair na real’. Homenzinhos verdes? Ah, vá!
No final, porém, ninguém ri por último. Scully sofre horrores antes de admitir (lá pela sétima temporada), que Mulder estava certo. Demora gente. Bastante. O legal mesmo está nas brigas dos dois, e no fato de que, quando o assunto é religião, quem fica do lado cético é o Mulder. Scully não crê no que diz respeito a ETs, mas acredita em Deus e carrega um pingente com uma cruz. Lá pela sexta temporada você já está meio de saco cheio do ceticismo da Scully, mas ela é uma personagem tão foda que a gente releva. Eu juro.
A série é um deleite para fãs de conspirações e atividades paranormais. Foram nove temporadas de puro sofrimento, episódios de arrepiar, e dois filmes (sendo o último bastante criticado). Só começou a desandar quando o ator David Duchovny resolveu que queria ser ator de cinema (nem virou nada) e abandonou os Arquivo X no final da sétima temporada, aparecendo somente nos episódios finais da oitava e nona. Alguns fãs (eu, inclusive) ficaram tão indignados com isso que pararam de assistir a série. Anos depois, admito que o agente John Dogget (vivido por Robert Patrick), que substituiu Mulder, era um personagem que embora parecesse raso, tinha camadas interessantes. E tinha química com a Scully. Também foi interessante que a Scully virasse ‘o Mulder’ da oitava temporada, e Dogget fosse o tira durão das antigas que não acreditava em absolutamente nada. Todavia continuo achando a nona temporada bastante ruim comparada ao resto da série. A agente Monica Reyes (Annabeth Gish) não emplacou como substituta de Scully, e a parceria Dogget/Reyes foi uma decepção. Não me lembro de nenhum episódio memorável nessa fase, e a trama de super soldados fugiu totalmente ao misticismo da série e ficou bastante ridícula. O episódio final da série também ficou aquém das expectativas, com a volta de Mulder só pra dar uma satisfação para os fãs, e um encontro anticlímax total com o vilão da série, O Canceroso.
No entanto, mesmo com os momentos nem tão legais de sua reta final, Arquivo X continua a ser uma de minhas séries favoritas, com personagens e episódios épicos. Altamente recomendável para fãs do gênero de ficção científica. Cinco estrelinhas, coração com a mão.
Arquivo X
Criado por: Chris Carter
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Hannibal (1ª Temporada)
4.4 983 Assista AgoraAcompanho a história do dr. Hannibal Lecter desde que era criança e cada notícia a respeito do lançamento de outro filme, minha ansiedade atingia níveis absurdos. Esperei ansiosamente por Dragão Vermelho (Red Dragon, 2002), por Hannibal (Hannibal, 2001) e por Hannibal - A Origem do Mal (Hannibal Rising, 2007). De todas essas produções, somente a primeira conseguiu exceder as minhas expectativas. Assim, quando soube que uma série a respeito de Lecter seria lançada, meus sentimentos não poderiam ser mais conflitantes. De um lado, estava a felicidade por conseguirem estender a história. De outro, o medo de que o enredo e a execução fossem tão medíocres quanto os de Hannibal e Hannibal – A Origem do Mal. Porém, após alguns minutos do primeiro episódio, eu fui tranquilizada.
O primeiro acerto de Bryan Fuller e sua trupe está na escolha do protagonista da história, Will Graham (Hugh Dancy), um consultor do FBI. Embora, ao longo dos anos, a relação entre dr. Lecter e Clarice Starling tenha sido mais explorada e, para alguns, seja mais fascinante, ao colocar o fragilizado e instável Will como figura central da trama, tem-se a oportunidade de explorar a faceta psiquiatra de Hannibal (Mads Mikkelsen) – que, até então, não foi abordada senão por meio dos jogos mentais realizados por ele com os seus visitantes na prisão de segurança máxima. Além disso, por meio da parceria dos dois para encontrar um assassino conhecido como Picanço de Minnessota, pode-se ver como a amizade entre eles foi iniciada, como a confiança foi estabelecida e como Lecter conseguiu driblar a percepção de um homem conhecido exatamente pela sua capacidade de reconhecer psicopatas.
Outro acerto, que acrescenta não somente em termos de narrativa, mas como recurso de imagem, é o modo como os criadores de Hannibal escolheram demonstrar a capacidade de Will de analisar as cenas do crime. A fotografia da série, sempre tão sóbria, assume tons mais amarelados e vemos Graham na posição de assassino. Por meio de uma câmera em rewind, que limpa os cenários e nos mostra como funciona o raciocínio de Graham, sua capacidade de empatia fica clara para o público e se mostra como algo primordial para que ele consiga prender os assassinos que caça.
Parte do mérito pelo bom andamento desse início de temporada é do dinamarquês Mads Mikkelsen. Compondo um personagem carismático e manipulador, que se afasta o bastante daquele vivido por Anthony Hopkins, o ator faz com que o público pense se tratar de outro Hannibal Lecter. Um Lecter cuja capacidade de observação, as palavras precisas, o jeito contido e o distanciamento são capazes de dissimular os gostos escusos e suas verdadeiras motivações.
Hannibal mostra um começo promissor. Especialmente por se apoiar em recursos diferentes daqueles apresentados nos filmes e não tentar construir suspense em torno da identidade do canibal. Numa mid-season de séries mornas e que se perdem de seus propósitos, se os criadores não se renderem à tentação de explorar mais os casos do FBI do que os relacionamentos entre Lecter e as demais personagens, Hannibal tem tudo para ser o grande destaque dessa temporada.
Hannibal
Criado por: Bryan Fuller
Onde assistir: NBC (Estados Unidos) e AXN (Brasil)
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Mad Men (6ª Temporada)
4.5 165 Assista AgoraA essa altura do campeonato você já deve ter ouvido falar em Mad Men, mas caso você tenha ficado preso dentro de um poço pelos últimos seis anos, farei o meu bondoso papel e explicarei sobre o que a série trata.
Iniciada em 1960, época em que a garotada estava descobrindo as drogas e o rock’n roll, e as mulheres resolveram queimar seus sutiãs em prol dos seus direitos; Mad Men conta a vida dos publicitários da agência Sterling Cooper Draper Pryce. Só isso. Parece meio chato, não? Mas então, só parece.
Conhecemos um cara chamado Don Draper (aqui, vivido pelo dotado talentoso Jon Hamm), casado e com dois filhos, ele exerce o poder de Deus na agência: diretor de criação. Mas logo descobrimos que Don Draper não é bem quem ele diz ser. Adultero e mulherengo, o cara também esconde a sua verdadeira identidade. Mas por que ele esconde? Quem ele verdadeiramente é? O que pretende? Ao mesmo tempo em que ficamos instigados com Draper, vemos também que todos os outros personagens são igualmente vigaristas, mentirosos, e que têm sua sujeira. Melhorou, né?
Com o passar dos episódios, tudo vai virando um novelão de classe. Pense em publicidade, Maria do Bairro e Michelangelo Antonioni ao mesmo tempo. Segredos, mentiras, criações, bebidas, fumaça. Inegavelmente uma das melhores produções televisas no ar.
E não é só a minha opinião. Desde a sua estreia, Mad Men aparece anualmente no topo da lista da crítica internacional como uma das melhores séries do ano. Isso acontece graças aos roteiros do Matthew Weiner, o cara que comanda tudo, o Manuel Carlos americano. Com suas nuances e sutilezas, a história consegue nos surpreender semanalmente, mesmo com o seu ritmo lento. Mad Men também possui o recorde absoluto nos Prêmio Emmy, onde foi eleita como a melhor série dramática por quatro anos consecutivos.
Até agora foram lançadas cinco temporadas. Um trabalhão pra ver? Nem tanto. A HBO exibe a série semanalmente ao longo da tarde. Suas quatro primeiras temporadas estão disponíveis em DVD em solo brasileiro. O Netflix possui as cinco temporadas completas no acervo, com legendas e dublagem, como preferir. E desde a semana, dia 24, a TV Cultura começou a exibi-la desde o primeiro episódio às 22h. Te convenci, hein? Pois não perca tempo e passe a se envolver com as mentiras (e com a vida) desses publicitários.
Mad Men
Criado por: Matthew Weiner
Onde assistir: AMC (Estados Unidos), TV Cultura, Netflix e HBO (Brasil)
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The Following (1ª Temporada)
4.0 947Três coisas me vieram, imediatamente, na cabeça quando li a respeito de The Following: um (excelente) episódio de Masters Of Horror, chamado The Black Cat; o longa O Corvo (The Raven, 2012); e a história de Jim Jones e seus seguidores. O primeiro por retratar muito bem a figura do escritor torturado pelo bloqueio artístico e pela crítica; o segundo pela presença do serial killer que usa a literatura de Edgar Allan Poe como base e justificativa para seus crimes; e, por fim, o terceiro pela presença da alienação massiva de pessoas fragilizadas que sentem a necessidade de pertencimento. Para mim, o somatório desses itens nos dá como resultado o mote do seriado, que mesmo sem muita originalidade consegue soar atrativo.
The Following conta a história de Joe Carrol (James Purefoy), um serial killer que usa os poemas de Poe como inspiração para assassinatos, e de Ryan Hardy (Kevin Bacon), o detetive do FBI responsável por prender Carrol. Tudo se inicia quando Hardy recebe a notícia de Carrol conseguiu escapar de uma prisão de segurança máxima. Por meio de investigações, ele e o restante da equipe responsável por prender Joe, acabam descobrindo que, usando os computadores da prisão, o assassino conseguiu recrutar pessoas para formar uma seita.
Os quatro primeiros episódios da série têm como mérito a imersão completa no imaginário de Poe. Referências a O Corvo, O Gato Preto e outras obras significativas do escritor aparecem por meio da maneira em que Carrol opta por matar as suas vítimas, pelo modo como seus corpos são posicionados na cena do crime, por inscrições nas paredes e por meio das lembranças de Hardy, que nos mostram como a “Teoria Poe” foi desenvolvida e provada por ele anos antes. A trilha sonora também coopera para a criação do clima sombrio e conta com nomes como Marylin Manson, Deftones, Band Of Skulls, Sepultura e Garbage.
Porém, em determinado ponto, fica a impressão de que o roteiro começa a se perder nos seus propósitos iniciais. Edgar Allan Poe tem sua importância diminuída na trama, sendo citado novamente só no décimo quarto episódio, por meio de uma personagem que diz se chamar Annabel Lee. Outro fator que pesa negativamente é o alcance da seita: em dado momento ele se torna tão extensivo que tem-se a impressão de que a tecnologia que seus membros possuem é mais avançada do que a do FBI. E isso não é tudo: estamos a algumas horas do season finale e os objetivos de Carrol e seus seguidores ainda não estão bem delineados. Isso pode ser prejudicial, já que perseguições policias e assassinatos gratuitos têm tudo para cansar o público mais exigente.
Ao fim dos catorze episódios exibidos pela Fox, fica a impressão de que as coisas que funcionavam como força-motora do seriado, o tornavam interessante e representavam o seu diferencial, foram deixadas de lado para dar lugar a uma trama que se apoia em todos os clichês do gênero e sem fazer um bom uso deles. Eu poderia apontar várias maneiras de corrigir os erros cometidos pelo roteiro, mas acho que a chave para The Following se encontra na lembrança de quem era o verdadeiro protagonista do seriado: a obra de Edgar Allan Poe.
The Following
Criado por: Kevin Williamson
Onde assistir: Fox, segunda-feira às 22h
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Como Eu Conheci Sua Mãe (8ª Temporada)
4.4 507 Assista AgoraA primeira vez que tentaram me convencer a assistir How I Met Your Mother, me disseram que se tratava de um Friends 10 anos depois. E, como era de se esperar, despertaram a minha antipatia automaticamente. Porque na época, eu tinha acabado de assistir as 10 temporadas de Friends em sequência e estava completamente apaixonada. Tinha certeza de que não importava o que esse tal How I Met Your Mother pudesse ter para me oferecer, não seria mais engraçado do que a sua “matriz”. Por isso, só fui assistir o seriado no ano passado. Fui conquistada com poucos episódios e por uma série de razões que seria oversharing expor aqui.
Tudo começa quando Ted Mosby (Josh Radnor) decide sentar os seus filhos na sala de casa e contar a história de como conheceu a sua mãe. Somos apresentados a um grupo de amigos que, instantaneamente, justifica a comparação feita. Lily (Alyson Hannigan) e Marshall (Jason Segel), um casal que está junto desde a época da faculdade e Barney Stinson (o lindo do Neil Patrick Harris), um conquistador sem escrúpulos, cuja maturidade pode ser comparada a de uma criança de 10 anos. Eles se reúnem frequentemente num bar, o McLaren’s, para falar sobre a vida, tomar cerveja e esse tipo de coisa. E é exatamente nesse cenário que a trama começa a se desenvolver: Robin Scherbatsky (Cobie Smulders), uma jornalista canadense tão bonita quanto emocionalmente indisponível, entra com um grupo de amigas, chama a atenção de Ted e, depois de um “acidente”, os dois saem juntos. A partir de uma série de situações engraçadíssimas (e um pouco tristes, se a gente for parar para pensar), somos levados a acreditar que aquela é a mãe dos filhos de Ted apenas para sermos interrompidos pela voz do próprio, no futuro, dizendo que essa é a história de como ele conheceu a tia Robin.
Apesar de ser meio frustrante saber disso logo no início, não atrelar o destino de Robin e Ted foi uma escolha esperta. Do contrário, a trama poderia ser resumida a anos e anos de desencontros, no melhor estilo Ross e Rachel, para, ao fim da série, acontecer aquilo que poderia ser previsto de cara. Outro acerto relacionado à Mãe (ela se torna quase uma entidade durante as 8 temporadas e merece a letra maiúscula, acredite) foi deixar pequenas pistas a respeito dela ao longo da série como, por exemplo, o guarda-chuva amarelo. Isso servia para ajudar a compor a personalidade da garota pela qual todos esperávamos ansiosamente e também para ter a certeza de que um dia Ted a encontraria. Em meio a tanta tristeza e frustração amorosa, servia de alento saber que, mesmo que só no fim, as coisas se ajeitariam para o protagonista.
É inevitável se identificar com a situação retratada por How I Met Your Mother, especialmente em suas temporadas iniciais. E eu acho que era aí que se encontrava o trunfo dos produtores. Porém, do começo da última temporada para cá, fica a impressão de que o roteiro se tornou preguiçoso e o foco, antes mantido na busca de Ted e nas situações vividas pelo grupo de amigos, se alterna e passa a ser criar situações forçadas que não conseguem atingir o efeito pretendido. Por exemplo, dedicar um episódio inteiro ao Playbook, uma espécie de livro onde Barney anota todas as suas cantadas bem sucedidas, foi desnecessário e não agregou em nada à trama. O mesmo serve para um dos episódios finais da temporada, onde Ted e Barney se encontram sentados no bar tentando se decidir se vão ao Robots vs Wrestlers e, então, surgem diversas versões futuras de ambos os personagens para expor a eles razões conflitantes para ir ou não.
Acho que How I Met Your Mother passa por um desgaste que acontece com todas as séries que ficam muito tempo no ar. Pelo menos, com o aparecimento da Mãe, nos segundos finais da 8ª temporada, pode-se ter a esperança de que o seriado volte para os trilhos. Afinal, reza a lenda de que o 9º ano será o último e o relacionamento entre ela e Ted precisará ser mostrado e bem desenvolvido. O jeito agora é esperar até setembro e ver o que nos aguarda após o fatídico (e muito esperado) casamento de Barney e Robin…
How I Met Your Mother
Criado por: Carter Bays e Craig Thomas
Onde assistir: na CBS ou na Fox Brasil
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House of Cards (1ª Temporada)
4.5 611 Assista AgoraHouse of Cards foi lançada em 1° de fevereiro de 2013 pela Netflix e já veio arrebentando tudo e quebrando paradigmas. Adaptada do livro de Michael Dobbs e da minissérie britânica de Andrew Davies, a série foi uma aposta da Netflix no que o melhor ator Shakespeariano da atualidade, Kevin Spacey, chamou de ‘nova perspectiva’ na forma de como se fará TV daqui pra frente. Com roteiro e produção de Beau Willimon, um craque em assuntos políticos – Willimon foi co-produtor do também brilhante Tudo Pelo Poder (The Ides of March, 2011), e David Fincher, a primeira temporada foi lançada de uma vez só. O fenômeno da vez é o ‘streaming’. Nada de esperar uma semana pra assistir às cenas do próximo capítulo, nem de se descabelar com aqueles hiatos cruéis. Dá pra assistir aos 13 episódios num fim de semana. (Apenas lembre-se de comer nesse meio tempo.)
Cada episódio teve um custo aproximado de 3,8 milhões de dólares, e o pacote inclui uma segunda temporada, já em produção.
A série é sobre os bastidores da política em Washington. Frank Underwood (Kevin Spacey sendo fodão) é aquele politico macaco velho lutando pelo seu status quo. Depois de ter o tapete puxado pelo presidente eleito e ver o tão almejado cargo de Secretário do Estado indo para outra pessoa, Frank começa seu jogo de vingança. A Bonnie para o seu Clyde é sua mulher Claire, maravilhosamente interpretada por Robin Wright, que dá um show de compostura, elegância e muito sangue frio em qualquer situação. No relacionamento de Frank e Claire não há paixão, mas há muita cumplicidade. Ambos são a favor de fazer qualquer coisa pelo poder, inclusive usar o sexo como moeda. Nas palavras de Frank, ‘tudo é sobre sexo, menos o sexo, que é sobre poder’.
Frank narra tudo grande parte do tempo e no meio de uma cena tensa costuma virar-se para a câmera com um sorrisinho cínico e compartilhar com o telespectador seus pensamentos, tramoias e segredos. Sua personalidade amoral só titubeia durante uma homenagem prestada por sua antiga universidade onde descobrimos (surpresa, surpresa!) que ele um dia viveu uma grande uma paixão.
Ganha destaque na série o deputado Peter Russo (o ator revelação Corey Stoll) com suas fraquezas humanas, consciência pesada, sexo, drogas e rock&roll. Peter até se mostra uma pessoa com boas intenções, mas é facilmente manipulado pelo experiente Frank. No fim, os jogos da política acabam soterrando-o. Outra personagem de peso é a jovem jornalista Zoe Barnes (Kate Mara), que para se destacar no mundo cão midiático faz um pacto (do diabo) com Frank e deixa-se ser usada por ele, usando-o também sem a menor cerimônia. Aqui vemos como a política está entrelaçada à mídia, e como uma é mero joguete nas mãos da outra.
No mundo de House of Cards, você ganha ou morre. Não, péra. Show errado. Esse é um dos lemas de Guerra dos Tronos, mas bem que poderia ser o de House of Cards. Fica bastante claro que o eleitor é mero coadjuvante. O que está em jogo em Washington (e no mundo?) não é o interesse de todos, mas o interesse de alguns (como sempre). Todos querem a sua fatia do bolo. E fica claro também que políticos, assim como todos nós, são apenas peças, ou cartas, nas mãos de jogadores ainda mais implacáveis e cruéis, mas muito cruéis. Mas, atenção! Você poderá descobrir na história que há pessoas piores que ele! Principalmente na vida real.
House Of Cards
Criado por: Beau Willimon
Onde assistir: na Netflix, oras!
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The Fall (1ª Temporada)
4.3 210Se vocês observarem as minhas postagens sobre TV, vão perceber que eu acabo assistindo qualquer coisa que envolva serial killers. Acho fascinante a maneira como os detetives responsáveis pela investigação de determinado crime vão desenhando, através de pequenas pistas ou da observação de detalhes ínfimos, o perfil dos assassinos até conseguirem reduzir a sua gama de suspeitos a um grupo específico e, por fim, encontrar o responsável pelos crimes. Gosto especialmente dessas histórias quando elas não dedicam tempo demais a esconder a identidade do criminoso, mas antes o apresentam para nós em seus primeiros minutos. Assim nós também somos capazes de criar um perfil, o que torna tudo mais divertido e permite que as teorias de fã – tão interessantes quando surreais – surjam. A britânica The Fall me ofereceu todos esses elementos em seu único episódio já transmitido.
A premissa do seriado não difere muito do que já foi feito na área: um assassino de mulheres (vivido por Jamie Dornan), cujos crimes possuem conotação sexual, se encontra à solta e aterroriza a região de Belfast. A polícia local não possui qualquer pista que leve à revelação da identidade do criminoso. Logo nos primeiros minutos, vemos o sujeito entrar na casa de uma moça, mexer em suas coisas e ainda comer algo na cozinha, como se ele estivesse dizendo, tanto a ela quanto à polícia, que deseja que sua presença a seja notada. Então, por meio de um corte, vemos o mesmo cara a caminho de sua própria casa. Quando ele entra, somos surpreendidos pela primeira vez: um garotinho o espera sentado na escada e o chama de “papai”. Ok, você pode estar pensando: não há surpresa nenhuma em um assassino que se esconde por trás de uma fachada de pai de família. Mas, o surpreendente mesmo, é que o comportamento de Paul, o homem em questão, não parece normal mesmo quando ele se encontra em presença dos filhos (além do garoto, há também uma menina) e da esposa – que não nota as saídas noturnas do marido porque trabalha como enfermeira na UTI neonatal.
É perceptível que há alguma coisa errada com Paul. Seu comportamento misantropo, evidenciado pelas situações sociais que vemos durante o primeiro episódio, a sua frieza ao tratar os filhos e a mulher e o modo como a personagem, às vezes, simplesmente se desliga do mundo e não ouve nada que não esteja dentro da sua cabeça,causa incômodo e aguça a nossa curiosidade acerca do assassino, já que, além do que foi citado, pouco se sabe a respeito dele. Porém, o que mais incomoda é a maneira como ele parece estar sempre presente nos locais que suas vítimas frequentam. Aparentemente, a verdadeira diversão não reside em matar, mas antes em perseguir, em observar. Em fazer de todo o processo uma caçada na qual o alvo sequer percebe que há alguém na espreita.
Do lado da polícia o grande atrativo fica por conta da detetive especial Stella Gibson (Gillian Anderson), enviada pelo FBI para revisar as anotações, relatórios, fotos e etc. do assassinato de Alice Monroe. Até a chegada de Gibson, acredita-se que tal crime é um caso isolado e procura-se por um assassino, não por um serial killer. É por meio da observação de Stella que a polícia de Belfast encontra um link com outro crime, ocorrido cerca o de 3 meses antes, e que já contava com um suspeito. Porém, a teoria não é bem aceita pelas pessoas responsáveis pela investigação, pois sustenta-la significaria dedicar mais recursos e mais pessoas à revisão dos depoimentos do outro assassinato. Stella, porém, mesmo contrariando o chefe da polícia, se mostra determinada a comprovar que o assassino de Alice já havia matado antes. Que aquele não era um “trabalho” de iniciante devido à calma e a precisão com que tudo foi executado. Por isso, pode-se notar que Gibson, assim como Paul, também gosta da perseguição e é bastante boa nela. Sem dúvidas, daqui pra frente, uma das partes mais interessantes será observar como aquele que perseguia vai lidar com o fato de se tornar agora o objeto da caçada.
É complicado dizer se eu apostaria ou não no futuro da série. Primeiramente, porque o formato é diferente daquele ao qual estamos acostumados: em apenas 5 episódios tanto a personalidade de Stella quanto a de Paul, bem como as motivações de ambos, vão ter que ser expostas e desenvolvidas. É um formato mais acelerado, mas a julgar pelos acertos previamente mencionados, os produtores sabem o que estão fazendo e vão entregar uma história que cause tanto incômodo e curiosidade quanto esse primeiro episódio foi capaz de causar. E, caso contrário, pelo menos são 5 horas assistindo a Gillian Anderson ser incrível.
The Fall
Criada por: Jakob Verbruggen
Onde assistir: na BBC ou no computador mais próximo de você.
Publicado originalmente em:
The Newsroom (1ª Temporada)
4.5 144 Assista AgoraA cena de abertura de The Newsroom mostra o âncora Will McAvoy (Jeff Daniels no que talvez seja o melhor papel de sua carreira), do jornal News Night, participando de um debate sobre política, mais precisamente sobre os partidos republicano e democrata. Conforme o embate se intensifica, a câmera foca num silencioso Will, que está tendo um ataque de pânico, e o barulho ao redor vai ficando abafado. No meio da plateia ele tem a impressão de ver um rosto familiar. O mediador do debate o faz voltar a si. Um estudante universitário pergunta a Will se ele se considera republicano, democrata ou independente. Will lhe responde que se considera um fã do New York Jets, time de futebol americano da região metropolitana de Nova York. Risadas.
Will mantém-se em cima do muro por integridade jornalística ou por interesses corporativos? Novamente, Will sai pela tangente. A próxima pergunta vem de outra estudante com jeitinho tímido: ‘o que faz da América o grande país do mundo?’ Will novamente se esquiva, mas outra vez o rosto familiar da mulher na plateia faz com que Will tenha uma epifania, e sua afirmação de que os Estados Unidos não é o maior país do mundo gera espanto (!) geral. E se não bastasse essa declaração bombástica, Will solta a língua e faz uma crítica ferrenha à política e à sociedade americana.
A série é uma produção da HBO e já vinha sendo pensada por Aaron Sorkin, roteirista do filme A Rede Social (The Social Network, 2010) e da premiada série The West Wing, desde 2009. Sua ideia era criar uma obra sobre os bastidores de um telejornal que colocasse a informação acima de interesses políticos e comerciais – algo que definitivamente não se vê (se é que já se viu) nos dias de hoje. Sorkin conseguiu seu intuito. Os dez episódios da primeira temporada foram lançados em 2012, e seu episódio piloto bateu o recorde de audiência, com 2,1 milhões de espectadores.
Embora para os cínicos The Newsroom seja uma série sobre um ‘jornalismo conto de fadas’, o retrato do dia a dia na redação não deixa de ser cativante. Os temas de cada capítulo foram bem pensados e soam atuais, e apesar do sentimentalismo americano por detrás de alguns deles, e do desejo de que os Estados Unidos sejam novamente uma pátria de que não só os americanos, não há como não torcer para que o News Night, o tal telejornal, continue com sua integridade intacta.
A atuação dos atores é um show à parte. Jeff Daniels brilha como Will McAvoy, o polêmico âncora que resolve mandar o status quo para o inferno e comandar um jornal que tenha compromisso apenas com a verdade dos fatos e não com ‘quem paga mais’. Seu braço direito é sua ex-namorada e agora produtora executiva do programa MacKenzie McHale (Emily Mortimer), que parece inspirada em uma personagem de Audrey Hepburn pelos seus trejeitos delicados e cheios de personalidade. O relacionamento entre Will e MacKenzie relembra bastante as comédias românticas do começo dos anos 90, assim como o intrincado triângulo amoroso vivido por Jim Harper (John Gallangher, Jr), Maggie Jordan (Alison Pill) e Don Keefer (Thomas Sadoski). Outros personagens que merecem destaque são o escritor do blog de Will e admirador do Wikileaks, Neal Sampat (Dev Patel), a analista financeira Sloan Sabbith (Olivia Munn), o presidente da divisão de notícias Charlie Skinner (Sam Waterston) e friíssima presidente do canal Leona Lansing (interpretada por Jane Fonda, que dispensa apresentações).
Publicado originalmente em:
Aquela Doença com C (4ª Temporada)
4.6 126Eu não sei que tipo de idiota começa a assistir uma série que trata do último ano de vida de uma mulher com câncer no estágio 4 e ainda tem expectativas de que isso tenha um final feliz. Mas, o fato é que eu sou esse tipo de idiota. E quando o fim chegou, há duas segundas feiras, eu estava desolada. A série (e sua personagem central) podia estar chegando ao estágio final do luto, a aceitação, mas eu ainda estava em negação profunda e disposta a barganhar para que os Jamison/Tolkie passassem mais um tempo fazendo parte da minha rotina.
The Big C: Hereafter tem como tema central o modo como Cathy Jamison (a linda da Laura Linney) lida com o fato de que seus tumores não diminuíram com nenhum dos tratamentos alternativos a que ela se submeteu. Assim, a quimioterapia, tão temida e evitada por Cathy, passa a ser a sua única opção – e, por um tempo, ela abraça esse fato. O desgaste da personagem é tão visível que, desde a primeira cena de Hearafter, queremos entrar na série e abraça-la. Queremos dizer que, de alguma forma, vai ficar tudo bem. Mas nós sabemos que não vai ficar tudo bem. E a temporada final de The Big C parece ter sido pensada para demonstrar que, às vezes, é ok parar de lutar pela vida e aceitar que sem as condições mínimas para cuidar de si mesmo, o melhor é admitir a presença da morte e perder o medo de ir – o que Cathy consegue fazer muito bem.
Porém, a aceitação da personagem soa estranhíssima para nós. Não só por se tratar de uma pessoa que parece não possuir qualquer apego pela sua vida, mas pelo pouco medo que ela demonstra de interromper o seu tratamento – o que poderá fazer com que fique cega e perca parte dos seus movimentos – e de se internar num asilo – onde terá contato com mais doença, mais morte e, provavelmente, morrerá longe de todas as pessoas que ama. É compreensível, porém, que ela não queira marcar os lugares onde sua família vive pela morte. Pelos arranjos, bem tortos e quase engraçados, que ela tenta fazer para que Paul (Oliver Platt), Adam (Gabriel Basso), Sean (John Benjamin Hickey) e Andrea (Gabourney Sidibe) fiquem bem, mesmo que ela não possa mais cerca-los de cuidados, nota-se que, na verdade, ela não quer todas aquelas coisas. Toda aquela solidão naquele ambiente estranho e meio macabro. O que ela quer mesmo é tornar todo o processo o mais confortável e o menos doloroso o possível para todos os envolvidos. A aceitação de Cathy se dá mais no sentido de que ela não é a única sofrendo com o câncer e, por isso, é preciso fazer com que as outras pessoas tenham um fiozinho de esperança e perspectiva de que, para elas, tudo ainda pode ficar bem.
Laura Linney, que já vinha se mostrando versátil nas outras três temporadas do seriado, está tão convincente, com uma aparência tão debilitada, que temos a impressão de que ela também está doente. O restante do elenco, especialmente Oliver Platt e Gabriel Basso, se mostra afiado e consegue arrancar lágrimas e sorrisos na mesma medida, como na formatura surpresa de Adam e no desfile de Andrea. O tom cômico (afinal, mesmo com o tema mórbido não podemos esquecer que The Big C é uma comédia) da temporada fica todo por conta de John Benjamin Hickey e das superstições surreais de sua personagem. A cena em que ele mostra ao sobrinho o gato do asilo de Cathy, conhecido entre os internos como Deathany (porque, supostamente, ela sabe quando as pessoas estão morrendo e sobe na cama delas!), coberto de penduricalhos e com roupinhas cor de rosa, na tentativa de fazer do bicho algo mais alegre, é hilária e faz a gente se lembrar das primeiras temporadas.
Mesmo que eu ainda esteja em negação, não consigo deixar de achar que The Big C teve um fim digno. A proposta inicial foi seguida e muito bem executada por Darlene Hunt e ela, mais uma vez, soube tirar lágrimas, dar esperança e arrancar sorrisos do expectador. Especialmente com os 5 minutos finais, que guardam uma revelação surpreendente e que fazem a gente entender – e quase partilhar – a aceitação de Cathy.
The Big C: Hereafter
Criado por: Darlene Hunt
Onde assistir: na Showtime ou na HBO
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In the Flesh (1ª Temporada)
4.2 237Olhando assim, você até poderia dizer: ‘afffee, mais uma série de zumbis?’ e eu não tiraria sua razão. Não até assistir ao primeiro episódio de In The Flesh. Criado por Dominic Mitchell, a série fala do que acontece no pós-apocalipse zumbi. Não há ataques de zumbis famintos por carne humana exceto nos flashbacks do personagem principal, Kieren ‘Ren’ Walker (Luke Newberry), que, a propósito, é um zumbi em recuperação. Isto mesmo, no pós-apocalipse os mortos-vivos são tratados com uma droga especialmente desenvolvida para serem reintegrados à sociedade. Também recebem outro nome. Nada de chamá-los de mortos-vivos. Eles sofrem de uma condição chamada PDS: Partially Deceased Syndrome, ou Síndrome do Falecimento Parcial.
Para que a reintegração seja um pouco menos traumática, afinal esses mesmos zumbis saíram comendo pessoas e espalhando terror antes de irem pra rehab, carregam um kit-maquiagem com direito a lente de contato para deixá-los com uma aparência mais vivaz, e um panfleto sobre sua nova condição. As famílias também recebem apoio através de terapia em grupo. E do panfletinho.
Luke Newberry impressiona como o jovem ex-zumbi Ren pela delicadeza de sua atuação. Sua adaptação é penosa, não pela droga, mas por sua personalidade sensível. Ele sofre com culpas, medos, arrependimentos, ‘e ses’. Parte da culpa vem das lembranças do que fez quando zumbi. Mas grande parte de seus medos é da própria vida que o aguarda.
A cidade natal de Ren, a pequena e retrógrada Roarton, é tida como a mais intolerante quando o assunto é a reintegração daqueles com PDS. E não é só aí que a cidade se mostra intolerante. Roarton é a cidade que se orgulha por ter conseguido se defender sem a ajuda do governo, e por ter criado uma milícia contra zumbis. Pode-se dizer que Roarton é uma caricatura, um microuniverso da intolerância dos dias de hoje, do orgulho nocivo de suas raízes, de sua comunidade hipócrita, de seus ideais conservadores. Ren é a antítese. A alma sensível. O artista cheio de potencial que não resistiu à pressão. E que agora procura fazer sentido da ‘vida’ a sua volta.
Outra personagem que ganha nossa atenção é a rebelde ex-zumbi Amy (Emily Bevan), que se recusa a ser o que não é. Amy quer aproveitar sua segunda chance, não quer se esconder por trás da maquiagem, nem da lente de contato. Quer ser ela mesma. E paga o preço por isso. Soa familiar sobre vários outros assuntos, não?
In The Flesh não é apenas mais uma série de zumbis. É uma série sobre a vida, sobre a (in)tolerância, sobre aceitação – não só a dos outros, mas a própria.
Infelizmente, possui só três episódios. Merecia mais, talvez mais algumas temporadas, já que provou ter potencial para tanto. O último episódio deixou a impressão de que foi feito às pressas, corrido mesmo. Deixou também várias perguntas no ar, e um enredo que ainda poderá render muitos frutos, como O Profeta, um ex-zumbi que usa a rede para espalhar suas ideias rebeldes contra os ‘vivos’, e que acredita num segundo apocalipse onde eles serão os vencedores. Espero que a BBC dê continuação à série que nos deixou com um gosto de quero mais.
In The Flesh
Criado por: Dominic Mitchell
Onde assistir: na BBC ou em um computador perto de você.
Publicada originalmente em:
Revenge (2ª Temporada)
4.2 649Uma garotinha linda e doce leva uma vida para lá de confortável com o seu pai e, assim como todos os nova-iorquinos ricos, no verão eles migram para os Hamptons. Lá, entre brincadeiras na praia com um cachorrinho pra lá de fofo e o vizinho ainda mais gracinha, tudo na vida da pequena Amanda Clarke (durante essa fase, vivida por Emily Alyn Lind) é colorido, alegre e extremamente superprotegido. Até que seu pai, David (James Tupper) é acusado de terrorismo, preso e ela vê tudo o que acreditava ser reduzido a nada. Então, a doçura de Amanda começa a desaparecer. Ela endurece e decide que irá se vingar de todas as pessoas responsáveis pelo declínio de seu pai – cuja inocência, para ela, é inquestionável. No topo de sua lista, estão os antigos chefes de David, Victoria (Madeleine Stowe) e Conrad Greysson (Henry Czerny).
Entre estadias em lares adotivos, sucessivos golpes da vida (pessoas mentindo para ela apenas para conseguir alguma informação nova a respeito de seu pai e esse tipo de coisa), uma passagem pelo reformatório e a sua transformação em Emily Thorne (Emily VanCamp), a pequena Amanda Clarke tem bastante tempo para arquitetar um plano de vingança complexo, que devido à sua fragilidade, se assemelha bastante a um castelo de cartas. Pelo seu reencontro com outras pessoas de seu passado, como Jack (Nick Wechsler), o vizinho com quem brincava, e a verdadeira Emily Thorne (Margarita Levieva), sua companheira de quarto no reformatório, seu plano vai se tornando ainda mais passível de uma queda brusca. Porém, como se poderia esperar, nada desmorona. Emily consegue sempre o que quer por meio dos artifícios mais batidos e dos golpes mais baixos.
Tudo isso soa bastante como uma novela do Gilberto Braga, certo? E é uma novela do Gilberto Braga. Com orçamento ridiculamente alto, “filmada” nos Hamptons e com protagonistas que não são ricos, mas podre de ricos. Para os personagens de Revenge 10 mil dólares é o troco do pão. E é isso que faz a série ser uma delícia de assistir: ela não tem pretensões maiores do que divertir. Não quer ser uma história sobre vingança e redenção tão profunda quanto, sei lá, Kill Bill. Quer ser entretenimento bobo e rápido, que não exige muito de seu público e entrega sempre sequências e revelações surpreendentes, beirando o surreal.
Eu juro, juro que é tudo muito bom de assistir. Você sempre fica esperando para saber qual será o próximo movimento da protagonista, qual será a próxima carta a cair de seu castelo. A primeira temporada da série é desenvolvida em um ritmo tão frenético que é quase impossível não assistir em uns dois ou três dias. A segunda conta com alguns tropeços, algumas sequências risíveis demais até para a proposta de Revenge, mas compensa em um season finale eletrizante, que eleva o título do seriado a outro plano e faz com que a terceira temporada prometa ser ainda melhor do que as suas antecessoras. A vingança não é mais só de Emily/Amanda: agora todos os personagens possuem um motivo para se voltar contra os Greysson e será divertido ver como os ricaços se desviam, novamente, das ameaças que os cercam.
Assistir a Revenge é como assistir a uma novela das 9. Não digo isso somente pelo seu mote, extremamente parecido com Avenida Brasil, mas pelo texto, pelo desenvolvimento, pela falta de compromisso em ser profundo… Enfim. Uma série de razões que pode desagradar ao público mais cult exigente, mas que não chega a ser um problema para aqueles que não ligam de apenas sentar na frente da TV e se divertir. E, além disso, eu acho importante sempre assistir a algo sabendo o que aquilo tem para oferecer. Revenge não tem nada de extraordinário, mas vai te deixar com aquela cara de “não acredito” em diversos momentos. E, para mim, de vez em quando isso basta.
Revenge
Criada por: Mike Kelley
Onde assistir: ABC, Sony Brasil ou Globo
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Bates Motel (1ª Temporada)
4.3 1,4KInicialmente, eu torci o nariz para Bates Motel. A ideia de contar os anos iniciais de Norman Bates (vivido na série por Freddie Higmore) era interessante. Quando vi Psicose (Psycho, 1960) fiquei pensando sobre como ele teria desenvolvido o Transtorno Dissociativo de Identidade e porque seria a mãe a pessoa em quem ele se “transformava” quando a doença se manifestava. Em partes, era possível prever pelo próprio filme, mas eu gostaria de mais algumas perguntas respondidas. Portanto, não foi mesmo preciosismo o que me fez não gostar de cara da série. Foi a tentativa – meio mal feita – de modernização.
Hoje em dia a polícia possui meios mais eficientes de se caçar um serial killer ou de rastrear pessoas desaparecidas. Há tecnologia que facilita diversos aspectos de uma investigação criminal, de modo que conduzir Bates, de sua adolescência até parte de sua vida adulta, matando as mocinhas que passassem por seu motel, num contexto onde se pode ir mais à fundo em tais histórias, parecia meio irrealista. E nem foi só isso: embora os personagens tenham iPhones, laptops e outros dispositivos eletrônicos, eles estão inseridos num cenário que lembra outra época, a época onde a história original se passa. E suas roupas, especialmente as de Norma (Vera Farmiga), em pouco ou nada condizem com o ano de 2013. Então, acho que foi mais isso: a modernização pelas metades. E algumas situações forçadas do primeiro episódio.
Entre essas situações, é preciso destacar o assassinato de Keith Summers, um morador local e dono anterior do motel onde a família Bates se instala após se mudar para White Pine Bay. Para mim, ficou parecendo que desejavam demonstrar, desde o começo, a loucura de Norma. Afinal, o sujeito já estava contido, havia evidências de sua tentativa de estupro e invasão de propriedade privada e, no entanto, ela considera que ligar para a polícia será um erro. E aí, Keith faz uma provocação mínima, perto de tudo o que ele havia feito antes, e ela o esfaqueia repetidamente, descartando qualquer possibilidade de que a situação fosse resolvida por meios legais. A tentativa de desenhar a personalidade da mãe opressora e desequilibrada é válida, afinal, tem-se aí a raiz da doença de Norman, mas isso poderia ter sido realizado de forma mais gradual, como foi feito em outros momentos da temporada.
Mas, as coisas mudam bastante depois de alguns episódios. Em um determinado ponto, eu me vi interessadíssima no que estava acontecendo em Bates Motel. Lá pelo quarto episódio a história ganha fôlego por meio da desconstrução de White Pine Bay. De um lugar pacato, a cidade passa a se transformar em um local cuja principal fonte de renda é a venda de drogas e o tráfico de escravos sexuais. As tramas paralelas envolvendo as pessoas que trabalham na plantação de maconha de Gil, bem como aquelas envolvendo o namorado de Norma, o policial Shelby, assumem um papel importante e servem para tirar o foco de dramas adolescentes relacionados ao “garoto excluído apaixonado pela garota popular que dá mole para o seu irmão mais velho”. Essas coisas podem até ser importantes, porque é claro que elas tiveram certo impacto na personalidade de Norman, mas caso decidissem mostra-lo apenas nos corredores da escola e se relacionando com a mãe, Bates Motel se tornaria completamente entediante.
Caso você seja como eu e tenha começado a assistir a série pensando em quando ele começaria a manifestar sua doença, respire fundo e aguente firme porque isso só acontece na segunda metade da temporada. E é um tanto sutil. Começa apenas com a repetição de discursos da mãe desfavoráveis às garotas por quem ele se interessa e não ocorre mais do que em um momento específico. O momento de maior proximidade com o Norman Bates que conhecemos ocorre somente nos minutos finais. Eu devo admitir que devido a algumas pistas dadas ao longo do último episódio, se tornou bastante claro quem seria a primeira vítima do garoto, mas não impede que você pare uns minutos e faça cara de choque para a TV.
Eu não sei se colocaria Bates Motel como A grande estreia da midseason de 2013, como alguns críticos e o próprio público vêm fazendo. A série tem sim os seus méritos e mostra promessa, já que agora Norman começou desenvolver o Transtorno Dissociativo. Mas há alguns erros que precisam ser corrigidos para a segunda temporada. E como algumas das histórias paralelas já foram enterradas, resta saber como serão conduzidas as novas, entre as quais estará a investigação do assassinato da primeira vítima da Norman. E o meu palpite é a pilha de corpos na sacada dos Bates vai aumentar consideravelmente nessa segunda temporada…
Criada por: Tucker Gates
Onde assistir: em julho a série começará a ser exibida pela Universal
Publicado originalmente em:
Rectify (1ª Temporada)
4.3 83Se eu fizesse parte do time de executivos da AMC, nesse momento, estaria me chutando por ter recusado Rectify. Mas, como eu não sou, estou agradecendo ao Sundance Chanel por ter acreditado no potencial da história e feito dela a sua primeira produção independente. Porque o que a gente tem ali está muito acima da metade dos programas exibidos no momento. É tudo tão bem feito que eu não ficava impressionada assim com um seriado desde que Six Feet Under foi cancelado.
Às vezes, eu tinha a impressão de estar assistindo a um filme de seis horas de duração – é, esse é um ponto negativo: a primeira temporada conta com apenas 6 episódios. Tamanha a riqueza de detalhes e a preocupação estética. Rectify tem uma fotografia incrível, para dizer o mínimo. E não para por aí: a série transporta a sua proposta inicial – que é realizar uma análise do macro utilizando o micro – para a estética e se detém sobre miudezas, como um olhar ou um detalhe na roupa de alguém, por um tempo que seria julgado desnecessário, devido a velocidade com que as coisas precisam se mover em programas de TV.
Rectify não se preocupa com ritmo: é lenta, quase arrastada, e não desenvolve “a trama que todo mundo quer ver” em sua primeira temporada. Porém, isso tudo está longe de fazer falta, já que entender a personalidade do protagonista, Daniel (Aden Young), e a dinâmica de sua família, estranha exatamente porque muito convencional, é demasiadamente importante para que a análise pretendida aconteça. Porque, afinal, a questão que rege todo o seriado é: Daniel Holden matou ou não matou Hannah Dean? Tem-se a sua confissão, mas as evidências de DNA, encontradas 19 anos depois do assassinato, dizem o contrário e foram suficientes para anular o seu primeiro julgamento. Mas o comportamento dele e a sua relutância em desmentir a confissão ou dar a seu advogado, Jon (Luke Kirby), algo mínimo com o que trabalhar, soa contraditória. O fato é que, sobre isso, a gente não chega a nenhuma conclusão. Temos suspeitas, que podem ser levadas para qualquer lado que você desejar, mas nenhuma certeza.
Além de tudo isso, uma das coisas que mais deslumbra em Rectify é o elenco. Os atores dão o sangue para que o seriado seja absolutamente incrível. Aden Young faz com que Daniel seja, ao mesmo tempo, assustador e alguém que precisa ser protegido. Afinal, ele passou 19 anos trancado, sem sequer uma janela, e não tem a menor ideia de como conviver em sociedade. Regras básicas, para ele, não são tão elementares assim e ainda precisam ser aprendidas. Sua irmã, Amantha (Abigail Spencer), mascara a fragilidade e a necessidade de compreensão do que cerca Daniel cobrindo o irmão de cuidados, de um jeito maternal e um pouco sufocante. A mãe (J. Smith-Cameron), por sua vez, não sabe como trata-lo e, às vezes, parece ter medo de sua presença.
Em meio a esse quadro familiar complexo e cheio de nuances, Daniel não consegue entender qual é o seu papel no mundo. Não sabe como lidar com a revolta de parte da cidade e nem com a solidariedade apresentada por outra parte. E nós acompanhamos a sua jornada – que ainda nem sabemos ao certo sobre o que é. Às vezes parece que ele busca redenção. Às vezes parece que busca a si mesmo. Às vezes parece que ele está a procura de algo quase imaterial, mas capaz de salvá-lo. Ou vai ver ele esteja procurando todas essas coisas ao mesmo tempo.
Rectify
Criada por: Mark Johnson
Onde assistir: infelizmente, nenhum canal brasileiro comprou os direitos. Mas você pode correr pro computador mais próximo e se fazer esse favor agora mesmo
Publicada originalmente em: