Vinícius

Amor fati, meus caros. Não só tolerar o 'mundo', mas amá-lo como ele é. Pesado. Porém lindo. Guido entendeu perfeitamente.

“Minha fórmula para a grandeza no homem é amor-fati: não querer nada de outro modo, nem para diante nem para trás, nem em toda eternidade. Não meramente suportar o necessário, e menos ainda dissimulá-lo – todo idealismo é mendacidade diante do necessário -, mas amá-lo.”
— Nietzsche, Ecce Homo, pg. 34.

Sobre como guardar uma forma de gelo vazia dentro da geladeira reflete o pensamento de uma sociedade. Sobre como aceitar ter seu lugar definido – muita vezes até por aqueles que dizem lutar por uma sociedade mais justa – pode gerar uma passividade não desejada. Jéssica, diante de todas as dificuldades, não aceitou ter seu lugar predefinido, trocou a passividade do discurso pela força da ação. Sim, muitos têm que se esforçar exageradamente mais do que outros pra conseguir uma mesma coisa; sim, esse quadro tem que ser atenuado na medida do possível o quanto antes; mas talvez também seja a hora de refletir sobre a forma com que alguns tentam ajudar a reverter esta situação. Justificar medidas por meio de um discurso que também define um lugar estático (o da impossibilidade), muitas vezes, não passa pelo prisma da realidade, acaba gerando passividade não desejada e destruindo qualquer resquício de ação das pessoas. Bendito é aquele que não se conforma antes de tentar. Muito bom o filme, gera bastante reflexão!

“— Não sei onde é que tu aprendeu essas coisas que tu fica falando: ah não pode isso, não pode aquilo. Tava escrito em livro, como é que é? Quem te ensinou? Tu chegou aqui ficaram te explicando essas coisas?
— Isso aí ninguém precisa explicar não, a pessoa já nasce sabendo... o que que pode e o que que não pode. Tu parece que é de outro planeta!”

Quando eu acho que o Takashi Miike não vai conseguir me proporcionar de novo algo que seja tão bom quanto Ichi The Killer e Audition, ele vai e faz isso.

Quem assistiu os outros filmes pode até ter achado o "psicológico do vilão mal trabalhado", mas tem que se levar em consideração que são premissas MUITO diferentes.

Sem falar que são muitas histórias e personagens nesse filme, tenho pra mim que ele conseguiu desenvolver todos muito bem até. Dá pra entender perfeitamente o "sofrimento" e o ponto fraco de cada um, ainda mais por se passar em uma escola e você de cara já conseguir identificar alguns estereótipos (o brigão, o inteligente, o solitário, etc.). São duas horas de filme, que valem cada minuto na minha opinião. Por mais que você venha a não gostar das partes de desenvolvimento dos personagens, ao menos vai ter uma pitada das boas e velhas cenas de ultra violência da mente do Takashi, com uma trilha sonora "magnífica" ao fundo. Recomendo!

PS: Uma curiosidade (coloquei em spoiler por garantia, mas não vejo nada demais em ler antes de ver):