Muita gente que antigamente lia livros antes de dormir, agora lê o twitter. O livro tinha que ser movido, enquanto o twitter "se move sozinho". Não é estranho, então, que exista um filme que ao invés de adaptar (ok, "transportar") um livro se dedique a adaptar uma série de tuítes. 410 neste caso, consecutivos, de uma adolescente em pleno "rollercoaster" emocional do ensino médio.
A essas mudanças e vai-e-vens tuitados, o segundo filme do tailandês Nawapol Thamrongrattanarit lhes responde com uma vontade narrativa que não descuida a sensação de azar, esse emocional randômico, esses encontros, sofrimentos, disfarces, ilusões e um amplo etcétera.
A amizade, o amor e a dor se juntam ao aspecto de comédia do filme, no qual "vemos" a adaptação e seus caminhos com os tuites na tela. Montagem dinâmica, derivas, excessos, grandes acertos, humor absurdo, perspicácia, surpresas. Um filme que parece desdobrar-se, quase aparecer diante de nós, Mary is Happy, Mary is Happy é ao mesmo tempo um objeto novo, mas também um que nos reenvia (ou retuita) para referências como Chytilová e Godard.