Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro,Timbuktu chega aos cinemas justamente no momento em que a fé islâmica está sob fogo cerrado. O impacto do ataque ao jornal francêsCharlie Hebdo no começo de janeiro parece ter condicionado, mais uma vez, a opinião pública ao ódio aos grupos extremistas. Mas, como defendê-los diante de tamanha barbárie?
É um pouco desse espírito que está no filme do mauritano Abderrahmane Sissako. Coprodução entre França e Mauritânia e vencedor do Prêmio do Júri Ecumênico no últimoFestival de Cannes, o longa começou a ser desenvolvido após o apedrejamento público de um casal de namorados em Mali, no ano de 2012. Apesar de ter nascido na Mauritânia, Sissako foi criado em Mali, país em que o fundamentalismo radical de seguidores de uma vertente do islã tem se intensificado.
O filme constrói sua narrativa retratando a vida cotidiana de vários habitantes de uma cidade no interior do país. O personagem principal é Kidane (Ibrahim Ahmed dit Pino), pastor que vive tranquilo ao lado da família. Após um confronto com um pescador motivado pela morte de uma vaca - em uma cena tão bela quanto chocante - Kidane mata seu opositor, ficando à mercê do julgamento dos extremistas. Afinal, qual será sua punição por cometer um crime tão imperdoável?
Há beleza no retrato de Sissako, que, por vezes, se vale dos cenários áridos e hostis para construir sua mensagem. Sua câmera alterna detalhes e planos abertos para mostrar o cotidiano dessas pessoas, além de sua fraqueza diante da repressão e da violência, sempre retratada de forma chocante, brutal e repentina. Há um retrato contundente da jihad e sua moral duvidosa, de suas regras impraticáveis e das obrigações que impõe às mulheres.
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