O cinema brasileiro está seguindo os passos de Hollywood ao adotar franquias e criar uma marca para o seu produto. Meu Passado Me Condena se tornou um grande exemplo disso, feito em formato de série televisiva, a trama virou peça de teatro, livro e agora está em seu segundo filme mostrando que há espaço no mercado nacional para se consolidar.
Após três anos de casados, Fábio (Fábio Porchat) e Miá (Miá Mello) enfrentam a primeira crise conjugal. Ela pede o divórcio, mas com a morte da mulher do avô de Fábio, o casal acaba viajando para Portugal para ir ao enterro e consolar o pobre velhinho que acaba de ficar viúvo. No local, Fábio acaba reencontrando sua namorada, Ritinha (Mafalda Rodiles), de infância que está noiva do seu maior rival, Álvaro (Ricardo Pereira). Agora, ele terá que fazer de tudo para mostrar para Miá que eles ainda podem dar certo e tentar não entrar em mais confusões.
Para quem assistiu ao primeiro filme, irá ver todas as características do casal retratadas novamente de forma mais madura. Os problemas cresceram, e agora é possível notar que Miá não se incomoda mais quando o Fábio corta as unhas dos pés em cima da cama, e sim no momento em que ele se esquece de pagar a conta de luz e ela é cortada. A crise precoce dos três faz uma análise ao que vivemos hoje, pois não há mais tempo para esperar sete anos para que a primeira crise aconteça. Nesse requisito, a trama é plausível a nossa realidade, onde é possível identificar atributos de Miá e Fábio no cotidiano de vários brasileiros, diferente das referências utilizadas em comédias românticas norte-americanas.
A diretora Julia Rezende, ao lado da roteirista Tati Bernardi, faz um ótimo trabalho ao mudar do estereótipo de mulher dependente do marido. Em Meu Passado Me Condena 2, Fábio que é o subordinado da relação, desde amorosamente quanto financeiramente. Com isso, novamente é possível ver o longa retratando a vida moderna de forma verossímil. Além disso, elas fazem um contraste muito interessante entre a mulher moderna da cidade versus a mulher "tradicional" que vem do campo, onde as peculiaridades de Miá e Ritinha serão postas lado-a-lado para provar que não há mulher certa ou errada, melhor ou pior.
Com certeza o segundo filme da saga mostrou-se muito mais maduro do que o primeiro e uma clara evolução dos personagens foi destacada. Mas ainda assim a obra peca ao colocar esse humor mais escrachado, mesmo sendo, talvez, um dos aspectos mais fortes da franquia. Por consequência, é possível sentir a falta de diálogos elaborados e piadas mais inteligentes. Não há tempo para o espectador pensar, as conversas são dadas mastigadas para não ter erro de interpretação.
Meu Passado Me Condena 2 se torna uma comédia diferente, que traz a tona uma das questões mais do pautadas no cotidiano dos brasileiros: relações amorosas. O longa consegue fazer diversos contra pontos do que seria uma relação "perfeita", expondo que nem tudo o que parece é de verdade, e que dentro ou fora da era digital vivemos num mundo cercado por aparências. Diante disso, a Rezende se destaca no gênero ao deixa-la mais de acordo com a nossa realidade apresentando questionamentos que são feitos diariamente por nós mesmos.
Por: Caroline Venco