Desde que Quero Ser John Malkovich chegou aos cinemas, o diretor Spike Jonze se tornou uma espécie de paradoxo: enquanto o público que procura por filmes diferentes da produção normal de Hollywood acompanha de perto seu trabalho e a crítica costuma cobrir seus filmes de elogios, os estúdios ainda não conseguiram entender direito o cineasta, e o tratam como se ele fosse apenas o criador de “filmes estranhos e alternativos”, esperando ganhar algum prêmio com suas obras.
Jonze é um sopro de criatividade em uma Hollywood em crise, e os executivos de estúdios, muito mais preocupados com gráficos e orçamentos, não sabem ao certo como lidar com seus projetos. Desde seu último filme, Onde Vivem os Monstros, ele assinou somente um punhado de curtas-metragens, mas, felizmente, consegue continuar trabalhando e criando obras-primas à margem da indústria. E, mais importante que isso: sempre se tratam de filmes com temas totalmente relevantes para o mundo em que vivemos.
É o caso de Her, seu próximo longa-metragem, cujo trailer acabou de ser lançado. Contando com um ator que vive uma fase excepcional (Joaquin Phoenix, outro sujeito que Hollywood não consegue compreender totalmente – muito menos absorver comercialmente – mas que vem apresentando desempenhos irrepreensíveis há anos), o roteiro se passa num futuro próximo e mostra um escritor solitário que, após entrar em contato com um software (muito parecido com o Siri, da Apple), acaba se apaixonando perdidamente pelo programa de computador – que conta com a voz de Scarlett Johansson.
Com lançamento marcado para o final do ano, é certo que a Warner planeja beliscar alguns prêmios com o projeto. Jonze é um sujeito sem força política para abocanhar uma indicação de diretor (mas isso não é impossível, dada a vontade da Academia em se modernizar e o fato do diretor ter sido indicado por Quero Ser John Malkovich, antes de passar a ser sumariamente ignorado no prêmio), enquanto a ideia por trás de Her pode muito bem ser indicada a Melhor Roteiro.
Contudo, somente no trailer é possível perceber que – mais uma vez – Phoenix mergulhou dentro de seu personagem e vai brindar o público com uma atuação inesquecível e que certamente irá colecionar elogios. No mínimo.
Sorte do público. :)