Acho que essa onda negativa sobre os flashbacks é porque o pessoal está analisando muito pela ótica atual, quando o fluxo de informações é cada vez maior e esses filmes são tão fáceis de achar (seja por meios oficiais ou não). Vi toda a saga de Antoine Doinel em um espaço de três semanas e, à primeira vista, também achei apelativo o uso de cenas dos filmes anteriores. Porém, na época a realidade não era assim e dificilmente quando esse filme lançou 9 anos depois de "Domicílio Conjugal" (o maior intervalo entre os lançamentos dessa franquia), os ansiosos conseguiam revisitar os longas anteriores. Acho sim que Truffaut poderia ter sido menos prolixo e ter usado a edição para aparar alguns segundos de algumas cenas revisitadas, ou até mesmo ter sido mais ousado em fazer alterações para ressaltar as mentiras do livro de Antoine (o que só ocorre uma ou duas vezes).
Mas discordo em gênero, número e grau com quem achou esse filme vazio ou raso. Acho inclusive que ele só cresce, especialmente pela excelente presença de Colette. Sim, é o mais fraco dos cinco, mas toda a forma como o diretor amarra a jornada de amadurecimento de seu protagonista e alter-ego chega a ser belíssima, principalmente fazendo uso de um contraponto tão firme de Antoine quanto a figura de Colette que, particularmente, considero uma co-protagonista da obra. Colette era a ferramenta necessária para fazer Antoine se olhar no espelho e se livrar de sua egolatria. O diálogo no trem e a conversa extremamente sincera entre Colette e Christine perto do fim são símbolos da importância desse amor não-correspondido da adolescência. E aqueles créditos finais que trazem de volta o momento mais belo de "Os Incompreendidos" é simplesmente impecável. É o mais fraco, mas ainda cheio de personalidade.
É uma temporada meio-termo se comparada com as anteriores, já que mantém muitos dos méritos da 2ª mas repete erros da 1ª. É bizarro os seis primeiros episódios serem totalmente focados em duas/três tramas específicas para, do nada, elas serem interrompidas por uma nova trama que apresentará uma gama de novos personagens nos últimos episódios e que também chega incompleta ao fim do 10º episódio. Claro que séries são contínuas, mas como já explicitei no texto sobre a temporada primordial da série, um arco deve ser fechado e aqui parece que todos carecem de um nó melhor, tirando talvez o de Rollo (personagem de Clive Standen) que ganha uma conclusão bem satisfatória que funciona como um excelente gancho para o 4º ano.
Mesmo com esses equívocos e com o elenco que sempre parece querer sabotar a série (Moe Dunford e Jennie Jacques foram difíceis de engolir), ainda é extremamente interessante as nuances concedidas a certos personagens, especialmente Floki e o Rei Ecbert - também presenteados com os melhores atores do programa. O segundo revela suas verdadeiras cores e torna-se um personagem ainda mais complexo, enquanto o primeiro passa pelo maior conflito da obra até aqui, saindo completamente daquela aparente caricatura da 1ª temporada, tudo por mérito da ótima performance de Gustaf Skarsgård. É uma pena que o gancho final que o envolve seja tão bobinho.
A direção das sequências de ação e o trabalho com a fotografia melhoram razoavelmente, já que não há mais aquele vício na câmera tremida incompreensível (a propósito, destaque para a ótima cena da ponte no episódio 9) e nem na total dessaturação das cores; afinal, Paris é retratada como um ambiente muito mais vistoso do que as já conhecidas Inglaterra e Escandinávia, revelando uma paleta de cores verde-azulada que dá uma identidade mais pomposa à cidade (o que pode ser notado nos figurinos mais rebuscados também).
É uma pena, no entanto, que aqui mais do que anteriormente, "Vikings" teime em abusar de sonhos, visões e alucinações para contar suas subtramas. O que antes era um elemento interessante acaba perdendo força pela banalização e todo o arco do andarilho Harbard abusa demais da subjetividade em uma série que jamais havia oferecido essa proposta mais enigmática. No fim, é melhor que a temporada inicial mas ainda fica aquém de sua antecessora!
🎶 I made a man with eyes of coal and a smile so bewitchin' 🎶 How was I supposed to know that my mom was dead in the kitchen?
Novamente reassistindo "Friends" desde o início! E é evidente que a primeira temporada não é uma de suas melhores fases. Até mesmo na construção das cenas, na edição e no timing cômico de algumas piadas, ela se prova mais fraca, até como consequência do orçamento mais baixo, já que o estúdio na época não comprava totalmente a premissa simples da série.
Ou seja, não é difícil notar cenas que deveriam acabar antes ou depois de quando realmente acabam, ou um excesso de teatralidade do elenco (em especial nos coadjuvantes), ou uma deixa equivocada da trilha sonora. É fato que temos aqui uma temporada que envelheceu um pouco mal com o tempo...
Porém, eu estaria mentindo se escrevesse que não adoro a série desde sua gênese. Como já disse, o estúdio tinha dificuldade de aceitar a premissa de seis amigos que trocam uma ideia na cafeteria de um bairro nova-iorquino de classe média. Logo, chega a ser curioso que o episódio piloto comece justamente jogando o telespectador no meio de uma conversa casual sobre relacionamentos, sem nenhum contexto, sem conhecimento prévio de nenhum dos personagens presentes, como se mostrasse: "Olha, é essa a nossa proposta. Não somos sobre tramas, mas sim sobre personagens e suas dinâmicas de amizade, família e romance."
E é justamente para isso que serve Rachel, personagem de Jennifer Aniston, nessa primeira etapa da gangue: um instrumento catalisador de exposição para que conheçamos mais sobre Monica, Ross, Phoebe, Chandler e Joey em casuais apresentações amigáveis. Não é absurdo dizer, então, que Aniston é a protagonista do início que, aos poucos, vai se integrando ao todo e vira mais uma personagem entre aqueles seis, sem roubar a atenção dos outros.
O caráter episódico está presente em toda sitcom, mas aqui chega a ser um tanto incômodo, já que o roteiro perde oportunidades de dar continuidade a elementos que poderiam render mais material (como o encontro de Ross com uma vizinha que dá muito errado e nunca mais é mencionado, sendo que... é sua vizinha!). Esse aspecto melhoraria muito a partir do terceiro ano.
Mas o ponto-chave mesmo são os seis atores principais! Nem todos estão tão confortáveis, dá para notar; Matt LeBlanc e Courteney Cox têm dificuldade de encaixar todas as suas piadas. Porém, Aniston é apaixonante, enquanto David Schwimmer, Lisa Kudrow e Matthew Perry começam já afiadíssimos com um timing invejável em 99% de suas piadas. Há episódios memoráveis já, que demonstram a dinâmica infalível dos seis, como o do apagão, o do Ano Novo e o do nascimento de Ben, filho de Ross, e alguns personagens coadjuvantes icônicos já dão as caras, como o físico David, a gêmea do mal Ursula e, claro, a hilária Janice.
Contando ainda com um final bem novelesco digno do clima da série, “Friends” começa bem, mas ainda com boas limitações técnicas e narrativas. É divertido, mas demora um pouco a pegar no tranco. Ainda assim, considerando o que viria a seguir e olhando em retrospecto, vale muito a pena pedir uma xícara no Central Perk e sentar naquele sofá laranja mais uma vez. Que saudades desse povo!
No Brasil, temos um fenômeno interessante que acaba sendo contrário ao que ocorre nos EUA, por exemplo: valorizamos mais a TV do que o Cinema. Não à toa, depois da Retomada do cinema com dramas como “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”, o Brasil entrou em uma guinada pesada para cima das comédias com linguagem super-televisa, como “Se Eu Fosse Você”, “Até que a Sorte Nos Separe”, “Muita Calma Nessa Hora”, “De Pernas pro Ar”, entre outras, todas muito calcadas nas nossas sitcoms como “Sai de Baixo”, “Toma Lá Dá Cá” e, atualmente, “Vai que Cola”. E para ser bem sincero, depois de assistir algumas dessas produções (geralmente da Globo Filmes), perdi o interesse já que nenhuma parecia oferecer nada de realmente interessante além de estereótipos, merchandising forçado e de usar seus comediantes (como Leandro Hassum, Bruno Mazzeo e Ingrid Guimarães) para sustentar projetos bem pobres cinematograficamente falando.
Eis que chegamos ao fenômeno “Minha Mãe É uma Peça”, criado pelo recém-falecido Paulo Gustavo como uma homenagem a sua própria mãe que começou nos palcos e acabou indo para as telonas com a ascensão estelar do ator. E é inegável o esforço que Paulo tem ao compor a figura de Dona Hermínia que, desde 2013, entrou na consciência pop brasileira assim como Chicó e João Grilo, Zé Pequeno, Capitão Nascimento... e a lista vai! De fato, a mãe histérica de três filhos que quase nunca lembra de tirar seus bobes do cabelo (quase como uma Florinda desbocada) é a melhor coisa da trilogia. Paulo Gustavo entrega uma atuação tão carismática que jamais nos incomodamos com o fato dela gritar todo o tempo e melhor, jamais percebemos que está sendo interpretada por um homem. O ator some aqui e isso é sempre um bom sinal!
Só é uma pena que todo o resto dos três filmes (em especial dos dois primeiros) caia nas exatas armadilhas que os já citados acima caíram. Afinal, nada aqui foge da típica linguagem de sitcoms e programas de esquetes (como “Escolinha do Professor Raimundo” e “Zorra Total”) que pode funcionar perfeitamente para a TV, mas que para um filme de generoso orçamento não cola mais. Desde os diálogos que nunca conseguem ser filmados em um só plano até o exagerado uso de establishing shots (planos que servem puramente para mostrar o lugar em que a cena se passa), todas as opções da direção e da produção mal parecem se esforçar em criar algo minimamente cinematográfico. Resultado: uma coleção de esquetes reunidas por 1h30 que tentam criar uma conexão entre si que acaba sendo fragilíssima. Isso, claro, sem contar as forçadas inserções dramáticas de cada filme, como a morte de um sobrinho no primeiro, a morte de uma tia no segundo e um flashback que demonstra o filho Juliano enfrentando problemas por demonstrar características geralmente femininas quando criança (momento esse inspirado por um fato vivido pelo ator). Tais cenas poderiam adicionar uma boa carga dramática a uma comédia tão escrachada, mas acabam soando deslocadas e mal desenvolvidas.
É uma pena também que o roteiro não saiba como desenvolver até as próprias piadas. Se as peripécias de Dona Hermínia fossem expostas uma vez por semana (como um quadro no “Zorra Total”), não incomodaria tanto o fato de suas piadas serem baseadas nos mesmos elementos, como o hábito de chamar todo mundo de “palhaço”, seus sentimentos mistos com os filhos ou sua relação conturbada com o marido Carlos Alberto (interpretado por um simpático Herson Capri que possui uma química surpreendentemente boa com Paulo Gustavo). O terceiro filme mesmo chega a elaborar uma viagem ao exterior que dura apenas uma cena que não adiciona nada além de mais piadas, de fato divertidas, a um projeto já gorduroso. (E que mania é essa dessas comédias de ter sempre alguém viajando para os EUA, mostrando sempre um país idealizado para o qual a classe média brasileira jamais parece digna?!?! Parece viralatismo!)
E se falei no terceiro, aproveito para dizer que, apesar de repetir quase todos os vícios de seus antecessores, pelo menos assume uma estrutura narrativa mais compreensível e piadas mais inventivas e genuinamente engraçadas (como ao mostrar a personagem de Malu Valle confundindo os termos em inglês “chicken” e “kitchen” - “frango” e “cozinha” – em um restaurante gringo), além de uma belíssima homenagem final que parece ter sido ressignificada após a morte prematura do ator uma semana antes do Dia das Mães, uma coincidência simplesmente inacreditável. Eu definitivamente não esperava que terminaria a trilogia precisando secar o rosto, mas aconteceu!
“Minha Mãe É uma Peça” vale a pena para presenciar o talento de Paulo Gustavo como ator e tirar a prova real de que sua ascensão não foi à toa. Porém, não vou mentir e falar que são bons filmes. Como eu disse na minha página do Instagram (quem ainda não segue, só procurar CineMané), eu já imaginava que tais filmes não me agradariam e, da mesma forma, não julgo as milhões de cabeças que adoram – na verdade, reconheço o apelo. Mas escrevo pela primeira vez um texto conjunto justamente porque as três obras não se diferem tanto entre si. E, para concluir, ainda defendo a ideia de que “Minha Mãe É uma Peça” funcionaria bem mais se fosse uma recorrente sitcom. Como cinema, realmente não é minha xícara de chá!
Acho que "Milagre na Cela 7" é o tipo de filme perfeito pra perceber como a maioria percebe mais o filme pela história que ele conta do que pela FORMA COMO ELE CONTA. Achei terrível toda a construção maniqueísta dos personagens e da trama. O elenco inteiro é caricato ou canastrão, a fotografia abusa da "luz natural" para criar planos bonitos que nada têm a dizer, a trilha sonora parece vinda de um drama de novela mexicana (forçando até não poder mais para o espectador chorar) e o roteiro é patético a ponto de criar reviravoltas incompreensíveis e arcos dramáticos vazios que só parecem bonitos pelas frases de efeito que eles jogam no meio do caminho.
Draminha bem safado que de tanto forçar, fez um sucesso imenso mesmo tendo uma abordagem rasteiríssima. Não derramei uma lágrima sequer porque já passou da hora de cineasta usar pianinho e violino triste pra isso. Quer me fazer chorar? Me dê um bom roteiro, com personagens bem construídos e um drama inserido de forma natural, sem empurrar novelinha gospel na minha goela.
“...E o Vento Levou”, “Ben-Hur”, “Lawrence da Arábia”, “Doutor Jivago”, “O Poderoso Chefão – Parte 2”, “Apocalypse Now” (versão redux), “A Lista de Schindler”, “Titanic”, “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (versão de cinema), “O Irlandês”, “Vingadores: Ultimato”... Todos esses filmes possuem três características em comum: todos são clássicos (ou potenciais clássicos) épicos do Cinema, todos são mais curtos do que o SnyderCut... e TODOS têm mais conteúdo do que o SnyderCut! (E olha que eu só contei as obras que têm duração acima das 3 horas.)
Pois é, finalmente terminei as infindáveis 4 horas de duração desse trambolho embananado de Zack Snyder que serve para ajeitar tudo que tinha dado de errado na produção de “Liga da Justiça”, longa lançado em 2017 que eu considero praticamente inassistível. E fato é: o SnyderCut é melhor do que a versão finalizada por Joss Whedon... Porém, existe uma diferença boa entre um filme bom e um filme superior ao inassistível. E fato também é: eu detestei o SnyderCut!!!
“Liga da Justiça de Zack Snyder” tem um principal mérito sobre o de 2017: sua estrutura narrativa. Aqui, tudo é mais organizado e contextualizado, de forma que dá para entender as habilidades de (quase) todos os personagens, o objetivo do vilão Steppenwolf e até mesmo a função das Caixas Maternas, elementos totalmente relegados a segundo plano na picotagem da Warner. Porém, vi muitos confundindo estrutura narrativa com edição. A edição desse filme é simplesmente desastrosa, chegando ao ponto de cometer erros amadores como um plano de um avião voando. Sim, um avião voando apenas! Quem está naquele avião? Para onde ele está indo? Nenhuma cena antes ou depois justifica o diabo daquele avião. O mesmo vale para os 88 finais apresentados no tal Epílogo, alguns deles simplesmente vergonhosos, desnecessários e absurdamente desencaixados e editados como se fosse um trailer misturado com um videoclipe da MTV em época de Marilyn Manson (sim, Jared Leto, estou falando com você!).
E pode até parecer algo ótimo o fato dos personagens estarem melhor desenvolvidos aqui. Realmente seria se os catalisadores de sentimentos funcionassem. Quem são eles? Sim, os atores! Aqui temos figuras como Gal Gadot e sua expressão congelada, Jason Momoa e sua cara emburrada, Ben Affleck e sua cara de banana bochechuda, Ray Fisher e seu estoicismo aborrecido, e Ezra Miller e sua fala acelerada para imitar uma mistura chernobyliana de Peter Parker e Mark Zuckerberg (isso, é claro, quando não está falando com o pai, já que aí parece um personagem COMPLETAMENTE diferente). E o desenvolvimento citado por mim mesmo é bem básico, já que Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e Superman estão praticamente idênticos aos de 2017 só que um pouco mais sombrios, enquanto Flash acaba cumprindo um papel bem mais importante no clímax (o que não significa que seja desenvolvido). O mais beneficiado é mesmo Cyborg que, por ter experiências tão trágicas, acaba não convencendo pelas limitações dramáticas de seu intérprete. Lembrando: funcionar no papel e funcionar na tela são coisas bem distintas!
É incrível e frustrante perceber também como Snyder se sabota. Diretor sempre criticado por não saber trabalhar sentimentos humanos, o cineasta compõe uma belíssima cena entre Martha Kent e Lois Lane (aproveitando o pouco espaço das ótimas Diane Lane e Amy Adams)... Tudo para depois subverter com uma reviravolta totalmente tirada do c* que provavelmente deixou muito nerd de pau duraço ou de periquita molhada, mas que como CINEMA, simplesmente destruiu aquela que seria a melhor cena de todas as 4 horas anulando o peso emocional que a mesma oferecia. PARABÉNS, SPLINTER, P*** QUE PARIU HEIN!!!
E as cenas de ação? Bom, além do fato delas demorarem umas 2 horas para realmente acontecer (não estou contando aquelas que servem como preparação da trama), são filmadas de forma burocrática e bem parecida com a versão de 2017, oferecendo uma ou outra abordagem diferente que não adiciona muita coisa e com um visual mais limpo daquele excesso de CGI horroroso que a versão de Whedon tinha (não que a qualidade desses efeitos tenha melhorado muito, vale dizer). “Ah, mas as 4 horas se justificam?” Bom, se você for um prisioneiro de guerra e Snyder for um torturador, a missão dele foi absolutamente bem-sucedida, já que provavelmente 1 hora é gasta com câmera lenta interminável ou com atividades banais como Alfred tomando chá, Barry procurando emprego, Aquaman tomando um uísque, Lois Lane comprando café, Bruce fazendo a barba... Ah é, tudo isso em câmera lenta, ok? E nem vou começar a falar das músicas, já que as licenciadas sequer encaixam nas cenas em que são inseridas e as originais, apesar de interessantes, ficam se repetindo e se repetindo e se repetindo e se repetindo (eu ouvi aquele canto tribal umas 30 vezes pelo menos).
O tão aguardado SnyderCut é uma trolha quase tão ruim quanto sua versão anterior. Se aquela era toda picotada e mal encaixada em 2 horas, essa é toda entulhada e auto-indulgente até não poder mais, lotada de decisões erradas por 4 horas, ou seja, um grande chute sombrio nos testículos sombrios. Decisões boas aqui e ali não fazem muita diferença.
Enfim, explico a minha segunda estrela (até porque o filme por si só não merece ambas). Ela vai em homenagem a Autumn, filha do diretor que cometeu suicídio em 2017. Eu posso brincar, criticar e o que quer que seja, mas admito a profunda admiração que tenho por Zack Snyder nesse ponto. Mesmo após uma tragédia inominável, o cara correu atrás para fazer um filme que queria fazer, independente da duração ou do desejo de público ou estúdio. E diferente de um Michael Bay, Snyder jamais foi mal-intencionado com as suas obras. Sempre se revelou um artista apaixonado. Posso não ter apreciado sua obra, mas essa é só a minha opinião que escolhi comentar com mais sarcasmo! E devo dizer que só escrevo esse parágrafo porque, com a dedicatória final, Snyder decidiu unir seu amor pelo que faz e seu amor pela sua falecida filha... E tá aí um sentimento que ele conseguiu abordar com o mais profundo sucesso!
EU ODEIO FILME FEITO PRA AGRADAR OS VÉIO DA ACADEMIA!
Dito isso, eu gosto do Ron Howard. Claro que, assim como Ridley Scott, Steven Spielberg e vários outros diretores super-produtivos que transitam entre gêneros completamente diferentes, alguns filmes ruins vão escapar, como a trilogia baseada nos suspenses de Dan Brown que até servem para entreter aqui e ali. Eu mesmo sou assíduo defensor de “Han Solo”. Sem contar os excelentes dramas “Uma Mente Brilhante” e “Frost/Nixon” e o ótimo documentário “Eight Days a Week” sobre a Beatlemania. Ou seja, Ron Howard é um bom diretor!
Mas que p**** de filme é esse, Ron?!?! (Primeiramente: esse é um daqueles filmes cujo título adaptado é tão ruim que eu vou ser obrigado a usar apenas o título original durante este texto.) Não tem como começar a falar de “Hillbilly Elegy” sem apontar como tudo aqui, seja narrativo ou técnico, é manipulativo apenas para render algum drama artificial e tentar extrair na marra algum sentimento do público. E eu já expliquei: se a emoção não surgir naturalmente, forçá-la vai ser ainda mais contra-producente. Mas é isso que esse filme faz durante duas horas INTERMINÁVEIS.
Não existe cerne narrativo aqui! O prólogo até engana ao mostrar o protagonista (interpretado pelos igualmente inexpressivos Owen Asztalos e Gabriel Basso) refletindo sobre as gerações passadas de sua família, especificamente a gravidez precoce de sua avó, mas a partir do momento que o letreiro do título aparece na tela, o roteiro de Vanessa Taylor (responsável por “Divergente”... Tá explicado!) esquece completamente essa proposta e começa a saltar entre passado e presente o tempo inteiro sem muito propósito além de jogar cenas extremamente melodramáticas na cara do espectador, nem se preocupando em fingir que está contando alguma coisa.
A técnica é recheada de obviedades, como as cores mais lavadas ou contrastadas para diferenciar a década de 1990 da de 2010 e a trilha melosa de Hans Zimmer e Dave Fleming. Também há certas esquisitices, como a fotografia granulada que não diz nada e o uso bem dispensável de efeitos visuais, sem contar claro o péssimo e exagerado trabalho de maquiagem que faz com que os personagens pareçam saídos direto de uma paródia de “A Família Buscapé” (sim, a paródia de uma paródia, é isso mesmo!).
E se eu já deixei claro que o protagonista (independente de seu intérprete) carece profundamente de carisma – ao ponto de ser antipático mesmo –, a única coisa que justifica essa estrela solitária acima é a tentativa de Amy Adams e Glenn Close. Sim, apenas a tentativa, já que tanto o roteiro quanto a direção exige delas performances tremendamente estereotipadas e exageradas, em um compilado de gritaria sem fim. E chega a ser cômico que Close, dona de tantas personagens excelentes, seja relegada a uma mulher que só sabe fazer a mesma cara de coruja o tempo todo (e o fato de estar sendo reconhecida pela maioria das premiações evidencia a campanha forte que a Netflix está fazendo em cima dela, porque é realmente inexplicável). Já Adams usa de artifícios baratos para parecer uma mulher instável, mas jamais entra na personagem, como se fazer um olhar vazio de embriaguês em TODAS AS CENAS fosse convencer alguém. (Vale ressaltar também que o sotaque sulista aqui é forçado, como tudo.) A única que consegue fazer alguma coisinha, embora mal registre, é Haley Bennett.
Os atores não são o único problema, já que os personagens não apresentam o menor desenvolvimento. Ao invés de contar a história usando a velha tática de “ação e reação”, o roteiro de Taylor apresenta a reação para, depois, jogar a ação sem a menor naturalidade em um flashback repentino, o que anula o peso dos dois momentos. A personagem de Adams, a propósito, é inerte e se mantém a mesma durante todo o filme, sem ao menos demonstrar um desfecho de arco dramático. O mesmo vale para o protagonista que termina no mesmo ponto em que começou (e ainda mandando uma mensagem moralista beeeem problemática e questionável). Chega a ser cômico uma transformação que acontece em sua infância de uma hora para outra. Se fosse uma comédia, essa cena adicionaria mais uma estrela, mas como eu sei que essa não era a intenção...
AFFF, CHEGA! “Hillbilly Elegy” é um crime cinematográfico que simplesmente faz o público perder duas horas irrecuperáveis da vida que é curta demais para esse tipo de experiência. É definitivamente o pior filme de 2020 (não, eu não vi “Dolittle” nem “365 Dias” justamente porque a vida é muito curta) e uma das piores bolas fora que a Netflix já lançou. Ron Howard, toma vergonha nessa tua cara pelo amor de Deus, PARA DE TENTAR GANHAR OSCAR NA MARRA!!!!
Não é nada bom quando uma série começa com o pé esquerdo... E esse foi o caso de “Vikings”, produção do History Channel realizada por Michael Hirst que, pouco tempo antes, havia comandado a também histórica “The Tudors”. Porém, se a primeira temporada sofria com uma estrutura completamente esculhambada, sem clímax, com um elenco um tanto desconfortável e um desenvolvimento de personagens quase nulo, o segundo ano já melhora e MUITO a situação!
Claro que, ao mesmo tempo, acaba herdando alguns problemas, como por exemplo começar com um episódio que parece mais um season finale da temporada anterior e que, por essa mesma razão, acaba não tendo muita força. Porém, a partir do segundo capítulo, o roteiro de Hirst e a direção da equipe liderada por Ken Girotti conseguem construir uma consistência invejável. Não, isso não é o mesmo que dizer que é tudo perfeito, mas sim que tudo se mantém no mesmo nível, sem queda de qualidade. A progressão narrativa dessa vez faz muito mais sentido e até a estrutura dos episódios individualmente soa mais fluida.
Quem é mais beneficiado por isso? Sim, os personagens, que dessa vez protagonizam arcos dramáticos e subtramas muito melhor trabalhados, como a crise de fé de Athelstan (bela atuação de George Blagden) com suas visões e agouros religiosos, e sua relação com Ragnar (Travis Fimmel ainda inexpressivo) e o Rei Ecbert de Wessex (de longe, o personagem mais interessante da série, complementado por uma baita interpretação de Linus Roache). Outra que ganha seu próprio arco de ascensão é Lagertha, com Katheryn Winnick ainda mais confortável em seu papel e demonstrando uma fúria assustadora. Já Alexander Ludwig como a versão mais velha de Bjorn Ironside não convence e deixa na cara que é um ator forçando ações e reações (embora ainda consiga ser um artifício de batalha interessante), enquanto Clive Standen se alia ao roteiro para deixar Rollo crescer como personagem. Admito que o arco que eu menos gosto é aquele que surge mais para o fim, que envolve o sempre fraco Donal Logue e Gustaf Skarsgård, arco esse que se revela um simples planejamento de plot twist que acaba sendo fraco no fim das contas, apesar do conflito final ser interessante.
Mas é mesmo quando o foco está nas invasões à Inglaterra que “Vikings” brilha, já que seu melhor elemento narrativo é a abordagem do choque de culturas. Aqui, não há apenas uma excelente montagem que alterna entre um casamento saxão e um nórdico (deixando claras as diferenças e semelhanças entre ambos), mas também inúmeras referências envolvendo a iconografia cristã e o Império Romano, o que expande o escopo histórico e dá mais camadas a algumas jornadas, como a do já citado Ecbert ao usar textos romanos para controlar uma batalha como Julio César faria. E por mais que Fimmel continue com suas esquisitices interpretativas, é interessante notar como o roteiro de Hirst constrói sua curiosidade em relação aos costumes monoteístas dos ingleses, culminando em uma bela - porém hesitante – reza de Pai Nosso que dá nome ao último episódio.
Tecnicamente, a temporada também não decepciona, mantendo seu preciosismo aos detalhes em figurinos (a coroa cheia de espirais da Princesa Kwenthrith e as transições de vestimentas de Lagertha são alguns exemplos), no design de produção e no trabalho de cabelo e maquiagem, ao mesmo tempo em que reduz um bocado o nível da câmera tremida dos combates a fim de torná-los mais compreensíveis, o que é perceptível naquele que ocorre no penúltimo capítulo. A própria fotografia cria planos tão belos, épicos e pitorescos a ponto de merecerem molduras, como aquele que traz os homens partindo em seus navios enquanto as mulheres observam à beira de um penhasco.
É indiscutível: a segunda temporada de “Vikings” é uma evolução gigantesca. Tem seus problemas, alguns até provenientes do fraquíssimo primeiro ano, mas ainda assim é aqui que Hirst prova que sua obra merece mais atenção!
E aqui vai um trecho da melhor coisa da temporada: a música “Helvegen” composta pela banda Wardruna tocada no episódio “Boneless”...
Quem cantará para mim Quando eu partir para o profundo repouso? Quando eu andar no Caminho para Hel Através de uma trilha em que o piso É frio, tão frio? Eu busquei as canções Eu enviei as canções Quando do poço mais profundo Deram-me da água que lá gotejava Da promessa do pai dos mortos Eu sei de tudo isso, Odin Onde você escondeu seu olho
Não sou aquele tipo de fã de “Star Wars” que assiste todas as animações, lê os livros e sabe tudo sobre o universo expandido; sou mais aquele casual que foca nos filmes. Porém, não tive como conter meu interesse pela primeira série original do Disney+, “The Mandalorian”. Depois de limpar algumas pendências, comecei finalmente e devo admitir que os sentimentos foram mistos.
A temporada de 8 episódios acompanha um membro dos Mandalorianos (uma espécie de seita já apresentada nos filmes pelas figuras de Jango e Boba Fett), aparentemente sem nome e com o rosto sempre escondido por seu capacete que também atua de caçador de recompensas, prática comum de seu povo. Quando decide trabalhar para um ex-Imperial (a série se passa 5 anos depois de “O Retorno do Jedi”), Mando acaba encontrando uma criança pertencente a uma espécie rara que apresenta um grande domínio sobre a Força, algo que o faz questionar os motivos de seus clientes.
As influências de filmes de samurai e faroestes no universo criado por George Lucas em 1977 não são mistério para ninguém, mas talvez seja aqui que essa característica surge mais aflorada, em especial quando notamos algo semelhante a uma flauta tribal na trilha sonora remetente às composições de Ennio Morricone ou um arco dramático que puxa totalmente a proposta do clássico japonês “Os Sete Samurais” de Akira Kurosawa. O próprio episódio 5, “The Gunslinger”, não apenas recebe um título que caberia facilmente em um filme com John Wayne como também segue o protagonista e outro caçador de recompensas viajando pelo longínquo deserto à procura de uma fora-da-lei, premissa muito parecida com aquela de “Por uns Dólares a Mais”, entre vários outros.
E se apontei apenas o uso das influências, vale destacar como a produção é simplesmente incrível, realmente cinematográfica. Nem mesmo “Game of Thrones” nos presenteou com cenários tão belos, palpáveis e verossímeis (o exagero de CGI da trilogia prequel agora parece uma memória distante) e Dave Filoni é esperto o suficiente para já desfrutar desses louros na cena introdutória de Mando, que toma lugar em um planeta de gelo habitado por morsas gigantes. O uso de animatronics também é muito bem-vindo, não só respeitando a estética da trilogia clássica como também continuando as escolhas feitas por esta última. Não à toa, a criancinha apelidada pela internet de “Baby Yoda” funciona tão bem: ela não é um simples borrão digital, ela de fato existe!
A já citada trilha do jovem mestre Ludwig Göransson (vencedor do Oscar por “Pantera Negra”) é impecável, em especial o tema principal que sempre se faz presente nos créditos finais, esses que usam uma técnica retrô bem interessante e vistosa ao acompanhar os primeiros nomes da tela com artes conceituais dos episódios específicos. A trilha de Göransson pode não ser tão apoteótica quanto as de John Williams, o que é ótimo e respeita a proposta da obra que foca em um lado mais obscuro da galáxia. Além do mais, também mistura perfeitamente esses sons mais tribais e ancestrais com algo mais moderno, eletrônico, tecnológico (algo que basicamente representa a identidade retro-futurista que “Star Wars” sempre teve).
Porém, se até agora só elogiei, por que falei que tive sentimentos mistos? Bom, o outro lado da moeda está no roteiro, que se sai muito bem em pelo menos metade da temporada. Mas há uma certa indecisão dos responsáveis em relação ao tom do personagem principal e ao tipo de série que eles querem vender. O protagonista Mando (um apelido baseado no nome de seu povo), interpretado por Pedro Pascal, consegue ser carismático mesmo sem mostrar o rosto e falando quase nada. Isso nos três primeiros episódios, quando somos apresentados em teoria a uma versão espacial do “Pistoleiro Sem Nome” de Clint Eastwood. A partir do episódio 4, Pascal e o roteiro de Jon Favreau (e mais alguns) fazem com que o forasteiro ocupe o silêncio com frases de efeito bobinhas que o mesmo não falaria caso seguisse a lógica inicial. Isso pode parecer uma coisa insignificante, mas não deixa de tirar a mística por trás do personagem, ainda mais com uma decisão no último episódio puramente movida pelo “star power”. Ainda assim, Pascal faz um bom trabalho de voz e Mando é realmente um personagem divertido (apesar de decisões questionáveis que botam em cheque sua inteligência). O mesmo pode ser dito das figuras encarnadas pelo saudoso Carl Weathers, Nick Nolte e Taika Waititi (que entrega uma ótima direção no season finale também). A recém-cancelada Gina Carano é um ponto dramaticamente mais fraco, apesar de servir como um bom artifício de ação, e a participação mais tardia de Giancarlo Esposito é excelente como sempre, gerando um curioso gancho final.
Em relação ao tipo de série que é “The Mandalorian”, é estranho o que Favreau e Filoni fazem aqui. Ao mesmo tempo que eles apresentam uma trama principal nos três primeiros episódios e insistem em sempre usar as recapitulações (usadas em séries contínuas), do quarto ao sexto vira uma série procedural (também chamada de “aventura da semana), com uma história que começa e acaba em um só episódio. Isso seria interessante SE fosse a proposta inicial ou SE esses episódios adicionassem algo de substancial para a trama principal, o que não fazem. Eles simplesmente são fillers, alguns divertidos, outros bregas e injustificáveis (como o 4). Inclusive é de se surpreender que dois desses capítulos sejam alguns dos mais longos da temporada, o que representa um grande desequilíbrio já que a trama principal retorna muito bem nos dois episódios finais. Pareceu-me que a proposta era fazer um filme para TV com uma duração generosa que acabou virando uma série carente de algumas “encheções de linguiça” na meiuca. Dito e feito!
“The Mandalorian” é um desbunde técnico e é uma série muito divertida, principalmente quando foca em sua trama principal. Já os episódios do meio são bem dispensáveis e até genéricos, apesar de terem sua parcela aqui e ali de entretenimento. É uma boa empreitada da franquia “Star Wars”, apesar de não ter atingido o potencial que poderia. Ainda assim, mesmo querendo dar uma nota um bocadinho menor pelo anti-clímax proporcionado pelos fillers, eu preciso valorizar o que foi feito aqui. Resta esperar para ver se a segunda temporada será mais consistente!
Quando terminou a sétima temporada de “Game of Thrones”, decidi procurar algo semelhante já que a série do “Dracarys!” perdia cada vez mais sua força. Foi aí que decidi, com base em recomendações, começar sua rival “Vikings” e admito que muita coisa me causava estranhamento nessa série, mesmo gostando de muitos de seus elementos. Bom, revendo hoje depois de já ter assistido a quase todo o programa, percebo os problemas: eles estão na estrutura bem questionável dessa primeira temporada.
A questão é que esse primeiro ano foi mal planejado em termos de estrutura narrativa e até mesmo na construção de personagens. Tudo parece muito apressado e meio artificial aqui. Com isso, o início da jornada de Ragnar Lothbrok na descoberta e conquista do Oeste acaba perdendo peso, já que o guerreiro atinge seu objetivo logo no segundo episódio da série, no qual o ataque a um mosteiro em Lindisfarne é exposto com pressa, sem o devido respiro necessário. Essa pressa não atrapalha apenas o desenvolvimento das tramas, mas também o arco dos personagens, como a crise de fé do Athelstan de George Blagden (um bom ator, inclusive) e o Conde Haraldson de Gabriel Byrne, personagem interessantíssimo ainda mais pela composição do ator mas que, no fim, serve apenas para sair de cena e dar lugar ao protagonista como figura de poder.
A propósito, esse é outro erro homérico que (aí sim!) percorre quase toda a série: o casting de Travis Fimmel, um ator extremamente limitado que já seria duvidoso para um papel coadjuvante. Dar o protagonismo a Fimmel como um poderoso guerreiro viking se mostra uma decisão desastrosa, já que o mesmo compõe seu personagem como uma caricatura cheia de maneirismos e esquisitices, com um olho sempre entreaberto e sorrisinhos forçados como se quisesse parecer psicótico, algo que está longe de ser o que o personagem exigia no papel (sem contar sua imponência inexistente). Chega a ser surpreendente que o próprio Floki de Gustaf Skarsgård (competente no papel) consiga ser mais humano e interessante do que o protagonista, sendo ele um homem que exige tons mais caricaturais mas que evita mergulhar completamente na auto-paródia. Já o resto do elenco varia na qualidade. Katheryn Winnick e Clive Standen expõem mais suas fragilidades dramáticas, ao passo que Jessalyn Gilsig, Byrne e Blagden criam personagens interessantes, mesmo que não tão beneficiados pelo roteiro de Michael Hirst (responsável pela série “The Tudors”).
Hirst também falha como showrunner, já que envolve duas tramas principais na mesma temporada – uma envolvendo as invasões na Inglaterra e outra abordando um conflito doméstico – que nunca parecem conversar entre si. E chega a ser cômico que uma tenha que ser interrompida de forma negligente para a outra retornar, mesmo que isso garanta um bom episódio 7. Parece até que eu odeio a temporada, mas não é o caso. Hirst tem acertos fundamentais para segurar minimamente o interesse do público; e os momentos em que trabalha com o choque de cultura das duas civilizações (em especial no cunho religioso) se mostram os mais fascinantes de TODA A SÉRIE. O penúltimo episódio batizado de “Sacrifice” chega a ser excelente na retratação dos costumes nórdicos, criando uma iconografia certeira ainda mais com o uso do ótimo trabalho de set design, de figurino e especialmente de maquiagem. A Escandinánvia e o reino de Northumbria aqui são admiravelmente verossímeis.
E se o trabalho de fotografia não é tão inventivo quanto viria a ser nas próximas temporadas, a direção e a edição já injetam uma modernidade bem-vinda às cenas de batalha, seguindo um exemplo parecido com aquele de “300” de Zack Snyder, só que bem menos estilizado. O uso de efeitos digitais aqui só é usado quando estritamente necessário, fazendo com que tudo soe palpável e tangível. Vale destacar também o impacto da abertura, composta por imagens belíssimas e acompanhada pela sombria “If I Had a Heart”, canção que também faz parte dessa abordagem mais moderna que a série adota.
Contando com um péssimo season finale que simplesmente exemplifica os equívocos de roteiro que eu supracitei (adicionando mais uma terceira trama do nada), a primeira temporada de “Vikings” podia ter sido melhor trabalhada na parte do texto e do casting, mas já apresenta méritos suficientes para gerar interesse no público. Fato é: se você parou a série porque não gostou desse primeiro ano, não use-o como parâmetro. Continue e, se não curtir o segundo, aí realmente pode desconsiderar a passagem para Valhalla!
É muito difícil já capturar o público em seus primeiros minutos! Só que mais difícil ainda é manter o nível ao longo de toda a duração. Infelizmente, “Pieces of a Woman” consegue apenas o primeiro feito.
Dirigido pelo húngaro Kornél Mundruczó, esse drama constrói de maneira impecável seus primeiros 30 minutos que são nada mais nada menos do que um prólogo que apresenta o conflito central do resto da projeção. Aproximando-se lentamente, o parto de Martha é filmado com muita câmera na mão e com dedicação extrema de todos os atores ali presentes, incluindo Molly Parker, Shia LaBeouf e principalmente Vanessa Kirby (uma atriz que ganhou minha admiração desde que começou a encarnar a Princesa Margaret na série “The Crown”). Se a primeira vai do suporte até o profundo desespero e urgência, o segundo transmite muito bem a impotência de não saber o que fazer; é até agoniante vê-lo no impasse de pôr uma música para tocar a pedido de sua esposa ou de fazer companhia a ela. Kirby, por outro lado, varia entre inúmeros estados emocionais, indo do medo, passando pela revolta e pela dor profunda, e entrando em catarse absoluta. E é com o fim desse prólogo (uma surra no estômago, vale dizer) que o letreiro do título aparece e...
A partir daí é só derrocada, já que o diretor não decide se quer manter a postura crua e realista do prólogo (consequentemente até isento de trilha sonora) ou se quer tentar uma abordagem mais contemplativa com longos planos que seguem Martha andando pelas ruas frias da cidade. Mas se fosse apenas essa indecisão, estaria excelente. A questão é que a segunda hora cai completamente no melodrama barato de filme caça-Oscar, com direito a monólogos deslocados (como aquele de Ellen Burstyn que, apesar de estar ótima, não é favorecida pelo roteiro), analogias óbvias e auto-indulgentes, e até mesmo uma estrutura formulaica, como aquele “clímax” no tribunal que, além de mal dirigido, consegue ser muito mal escrito.
As interpretações até mantêm sua qualidade! Kirby, por exemplo, exibe expressões vazias para emitir um luto corrosivo que guarda para si, enquanto LaBeouf surge mais expansivo em seu desabafo. Porém, está aí outro personagem bem prejudicado pelo roteiro, já que seu arco dramático vai de 8 a 80 sem muito motivo aparente. Em um momento, ele é o marido amável e dedicado, em outro é abusivo e infiel. Não que ele não pudesse se tornar isso, mas a questão é que soa apressado demais, sem contar claro na saída totalmente arbitrária do personagem no final do 2º ato.
Com direito até a personagens sofrendo de Alzheimer, cinzas sendo jogadas em câmera lenta e uma passagem de tempo representada pela construção de uma ponte por meses, “Pieces of a Woman” ainda conclui com sua pior cena disparada, uma cena tão piegas que parece ter saído direto de uma novela da Record, acopanhada ainda por uma trilha invasiva e maniqueísta que parece querer fazer o público chorar a qualquer custo, o que (como já apontei em outros textos) gera justamente a reação contrária.
Apresentando uma fotografia até competente, embora pretensiosa em alguns momentos (o testemunho é simplesmente péssimo), “Pieces of a Woman” é decepcionante. É um filme que começa lá no alto, com algumas das melhores cenas de 2020, para depois cair na prepotência e na manipulação rasteira de filosofia de boteco. Chega a ser triste que em 30 minutos de filme eu tenha levado um soco no estômago para, 1h30 depois, eu não me importar mais com nada...
Assisti a esse filme quase um ano depois de ver "Retrato de uma Jovem em Chamas" (que eu considero o melhor filme de 2019) e é definitivo: Sciamma está virando uma das minhas diretoras favoritas com apenas dois filmes (e não, não estou me limitando a mulheres na direção). Ainda PRECISO ver os outros dois longas dela, mas sinceramente, essa mulher eu acompanho pra vida.
Que sensibilidade! Que sutileza! A forma como a cineasta trabalha o poder do silêncio e dos olhares tanto nesse quanto em "Retrato..." chega a arrepiar. É uma condução muito poética, muito cinema em sua forma mais pura, com o adicional que aqui ela trabalha com crianças ainda pré-pubescentes e o que consegue extrair em especial da brilhante Zoé Héran (dona de um dos rostos mais expressivos que eu já vi em um intérprete mirim) impressiona.
Seria o gênero só uma barreira posta desnecessariamente em meio a relações humanas? Com a ausência de respostas em relação à sexualidade ou à identidade de gênero de Laure/Michaël, o roteiro de Sciamma cria não apenas uma maior possibilidade de identificação como também retrata de maneira impecável as indecisões da juventude, o primeiro degrau da puberdade, o verdadeiro "coming-of-age", o ser humano prestes a descobrir seus desejos, suas atrações, entrando no período mais internamente conflituoso de sua existência. E não é qualquer diretor que consegue fazer isso. Céline, por favor, não pare nunca, é do teu cinema que a indústria tão mecanizada e automática precisa. Injete um pouco de humanidade nessa máquina!
Um filme que parece ir na onda do estilo narrativo dos Irmãos Coen junto com um pouco da estética de um Wes Anderson da vida (se as touquinhas coloridas não são referência a Steve Zissou, eu não sei o que são). Sinceramente, me faltou substância. Acho a narrativa um tanto desinteressante e pretensiosa, querendo explorar muito mais do que podia. São muitos personagens pra pouco tempo de filme envoltos em uma narrativa que é tão fria quanto Easter Cove. Tecnicamente é até competente (apesar de eu não ter entendido a fotografia granulada à la anos 60) e o elenco manda bem, com exceção de Morgan Saylor que desde "Homeland", usa as expressões afetadas achando que está atuando bem. Destaque pra Margo Martindale e June Squibb que roubam suas cenas. No geral, fraco, mas não ruim!
Adrian Lyne é um diretor de filmes eróticos dos anos 80 e 90... Talvez tenha sido uma decisão equivocada botá-lo na direção de uma trama tão delicada. Mas será que não era esse o objetivo? Tipo, se estamos vendo aquilo pelo ponto de vista do abusador (que geralmente acha que não tem culpa de nada ou que a vítima o encoraja), um diretor como Lyne não seria a melhor escolha para gerar um incômodo tão grande? Não sei, sinceramente. Gostei do filme, apesar de ser sim indigesto por ser gráfico (mas não tanto quanto poderia ser, ainda bem), mas a versão do Kubrick, apesar de menos fiel ao livro pela censura da época, é bem superior. Dominique Swain não convence como Sue Lyon convencia. Porém, Jeremy Irons como Humbert merecia um prêmio. Atuação fantástica, bem melhor do que a de James Mason.
Casal insosso e mal atuado, drama e suspense fracos, trama novelesca rasa e uma técnica até tosca... Se Jerry Zucker fizesse desse filme uma comédia 100%, talvez criaria um filme tão bom quanto Os Fantasmas Se Divertem. Até porque só a comédia funciona aqui, com a presença magnânima de Whoopi Goldberg. Filme bem fraquinho, que tem na comédia seus melhores momentos. Não entendo porque ficou tão popular!
Esse é aquele filme que é famoso por ser um clássico de terror mas cujo ponto forte é mesmo o drama da personagem, a tragédia do ato final... Um dos poucos filmes de terror em que a ameaça é a maior vítima. Sem contar também que o filme é à frente de seu tempo.
Vi esse filme pela primeira vez há 3 anos. Achei mediano! Revi esse ano numa maratona cronológica do Nolan, e achei ainda mais mediano heheheh
Eu até agora ainda quero entender a complexidade que todo mundo vê nesse filme. É pura verborragia explicativa e pieguice novelesca. Tem uma técnica apuradíssima sim, e algumas boas atuações (McConaughey tá ótimo). Eu acho que se o filme se mantivesse como uma aventurona espacial estilo "Perdido em Marte", ele se sairia melhor. Mas essa filosofia existencial meio de boteco durante quase três horas é uma meta longínqua demais pro filme que é. Nolan ainda não aprendeu que não adianta tentar ser um Kubrick quando sequer é um Spielberg. Senta lá, Nolan, volta a fazer filmes indie estilo "Amnésia" ou policiais tipo "O Cavaleiro das Trevas" que se sai beeeeeem melhor.
Tirando a condução da fotografia que por vezes é escura ou instável demais (sei que é proposital mas acho que acontece mais do que deveria), o filme é ótimo. A forma como o roteiro não dá respostas fáceis mas ao mesmo tempo entrega pistas que geram uma bela discussão ao término é admirável. O estilo de Josephine Decker aqui me lembrou algo que o Darren Aronofsky faria. O que é bizarro, já que no início eu tava esperando uma dinâmica meio "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" Me surpreendi!
Temporada de medíocre pra baixo com um season finale levemente empolgante e impactante. Se não fossem alguns atores muito competentes (Urban e Starr em especial) e alguns fatores técnicos a temporada seria absolutamente ridícula.
A DISNEY PRECISA URGENTEMENTE PARAR DE TENTAR FAZER REMAKE. Quer fazer remake? Beleza, então faça com seriedade, com garra, com boas motivações. Não faça apenas sustentado pela nostalgia do original e pela grana arrecadada. Não faça reimaginações bacaninhas, faça FILMES BONS!
E outra: por favor, na próxima vez, não deem mérito das conquistas de uma personagem feminina pra uma força sobrenatural que não tinha no original.
Tô no segundo episódio ainda mas até quando eles vão continuar resolvendo as coisas com "Você não vai contar isso porque senão eu vou contar isso que eu sei sobre você."
Sério, eu literalmente não sei qual episódio não fez isso até agora. Que solução preguiçosa!
Dois problemas nessa temporada: 1. O ator do Jackie Jr. é tenebroso de ruim. 2. O núcleo da Meadow recebe muito mais atenção do que deveria, sendo que a contribuição que ele dá pra trama principal é mínima (talvez só no final mesmo).
Ainda assim ótima temporada, mas inferior às duas primeiras por esses dois motivos.
A versão de 1974 dirigida pelo Sidney Lumet é ótima.
Essa é mal estruturada, apressada, artificial, melodramática e insiste numa modernização que sinceramente quebrou o projeto. Pelo menos alguns do elenco se salvam (já que a maioria é totalmente esquecida).
O Amor em Fuga
4.1 92 Assista AgoraAcho que essa onda negativa sobre os flashbacks é porque o pessoal está analisando muito pela ótica atual, quando o fluxo de informações é cada vez maior e esses filmes são tão fáceis de achar (seja por meios oficiais ou não). Vi toda a saga de Antoine Doinel em um espaço de três semanas e, à primeira vista, também achei apelativo o uso de cenas dos filmes anteriores. Porém, na época a realidade não era assim e dificilmente quando esse filme lançou 9 anos depois de "Domicílio Conjugal" (o maior intervalo entre os lançamentos dessa franquia), os ansiosos conseguiam revisitar os longas anteriores. Acho sim que Truffaut poderia ter sido menos prolixo e ter usado a edição para aparar alguns segundos de algumas cenas revisitadas, ou até mesmo ter sido mais ousado em fazer alterações para ressaltar as mentiras do livro de Antoine (o que só ocorre uma ou duas vezes).
Mas discordo em gênero, número e grau com quem achou esse filme vazio ou raso. Acho inclusive que ele só cresce, especialmente pela excelente presença de Colette. Sim, é o mais fraco dos cinco, mas toda a forma como o diretor amarra a jornada de amadurecimento de seu protagonista e alter-ego chega a ser belíssima, principalmente fazendo uso de um contraponto tão firme de Antoine quanto a figura de Colette que, particularmente, considero uma co-protagonista da obra. Colette era a ferramenta necessária para fazer Antoine se olhar no espelho e se livrar de sua egolatria. O diálogo no trem e a conversa extremamente sincera entre Colette e Christine perto do fim são símbolos da importância desse amor não-correspondido da adolescência. E aqueles créditos finais que trazem de volta o momento mais belo de "Os Incompreendidos" é simplesmente impecável. É o mais fraco, mas ainda cheio de personalidade.
Vikings (3ª Temporada)
4.4 465 Assista AgoraÉ uma temporada meio-termo se comparada com as anteriores, já que mantém muitos dos méritos da 2ª mas repete erros da 1ª. É bizarro os seis primeiros episódios serem totalmente focados em duas/três tramas específicas para, do nada, elas serem interrompidas por uma nova trama que apresentará uma gama de novos personagens nos últimos episódios e que também chega incompleta ao fim do 10º episódio. Claro que séries são contínuas, mas como já explicitei no texto sobre a temporada primordial da série, um arco deve ser fechado e aqui parece que todos carecem de um nó melhor, tirando talvez o de Rollo (personagem de Clive Standen) que ganha uma conclusão bem satisfatória que funciona como um excelente gancho para o 4º ano.
Mesmo com esses equívocos e com o elenco que sempre parece querer sabotar a série (Moe Dunford e Jennie Jacques foram difíceis de engolir), ainda é extremamente interessante as nuances concedidas a certos personagens, especialmente Floki e o Rei Ecbert - também presenteados com os melhores atores do programa. O segundo revela suas verdadeiras cores e torna-se um personagem ainda mais complexo, enquanto o primeiro passa pelo maior conflito da obra até aqui, saindo completamente daquela aparente caricatura da 1ª temporada, tudo por mérito da ótima performance de Gustaf Skarsgård. É uma pena que o gancho final que o envolve seja tão bobinho.
A direção das sequências de ação e o trabalho com a fotografia melhoram razoavelmente, já que não há mais aquele vício na câmera tremida incompreensível (a propósito, destaque para a ótima cena da ponte no episódio 9) e nem na total dessaturação das cores; afinal, Paris é retratada como um ambiente muito mais vistoso do que as já conhecidas Inglaterra e Escandinávia, revelando uma paleta de cores verde-azulada que dá uma identidade mais pomposa à cidade (o que pode ser notado nos figurinos mais rebuscados também).
É uma pena, no entanto, que aqui mais do que anteriormente, "Vikings" teime em abusar de sonhos, visões e alucinações para contar suas subtramas. O que antes era um elemento interessante acaba perdendo força pela banalização e todo o arco do andarilho Harbard abusa demais da subjetividade em uma série que jamais havia oferecido essa proposta mais enigmática. No fim, é melhor que a temporada inicial mas ainda fica aquém de sua antecessora!
Friends (1ª Temporada)
4.6 829🎶 I made a man with eyes of coal and a smile so bewitchin'
🎶 How was I supposed to know that my mom was dead in the kitchen?
Novamente reassistindo "Friends" desde o início! E é evidente que a primeira temporada não é uma de suas melhores fases. Até mesmo na construção das cenas, na edição e no timing cômico de algumas piadas, ela se prova mais fraca, até como consequência do orçamento mais baixo, já que o estúdio na época não comprava totalmente a premissa simples da série.
Ou seja, não é difícil notar cenas que deveriam acabar antes ou depois de quando realmente acabam, ou um excesso de teatralidade do elenco (em especial nos coadjuvantes), ou uma deixa equivocada da trilha sonora. É fato que temos aqui uma temporada que envelheceu um pouco mal com o tempo...
Porém, eu estaria mentindo se escrevesse que não adoro a série desde sua gênese. Como já disse, o estúdio tinha dificuldade de aceitar a premissa de seis amigos que trocam uma ideia na cafeteria de um bairro nova-iorquino de classe média. Logo, chega a ser curioso que o episódio piloto comece justamente jogando o telespectador no meio de uma conversa casual sobre relacionamentos, sem nenhum contexto, sem conhecimento prévio de nenhum dos personagens presentes, como se mostrasse: "Olha, é essa a nossa proposta. Não somos sobre tramas, mas sim sobre personagens e suas dinâmicas de amizade, família e romance."
E é justamente para isso que serve Rachel, personagem de Jennifer Aniston, nessa primeira etapa da gangue: um instrumento catalisador de exposição para que conheçamos mais sobre Monica, Ross, Phoebe, Chandler e Joey em casuais apresentações amigáveis. Não é absurdo dizer, então, que Aniston é a protagonista do início que, aos poucos, vai se integrando ao todo e vira mais uma personagem entre aqueles seis, sem roubar a atenção dos outros.
O caráter episódico está presente em toda sitcom, mas aqui chega a ser um tanto incômodo, já que o roteiro perde oportunidades de dar continuidade a elementos que poderiam render mais material (como o encontro de Ross com uma vizinha que dá muito errado e nunca mais é mencionado, sendo que... é sua vizinha!). Esse aspecto melhoraria muito a partir do terceiro ano.
Mas o ponto-chave mesmo são os seis atores principais! Nem todos estão tão confortáveis, dá para notar; Matt LeBlanc e Courteney Cox têm dificuldade de encaixar todas as suas piadas. Porém, Aniston é apaixonante, enquanto David Schwimmer, Lisa Kudrow e Matthew Perry começam já afiadíssimos com um timing invejável em 99% de suas piadas. Há episódios memoráveis já, que demonstram a dinâmica infalível dos seis, como o do apagão, o do Ano Novo e o do nascimento de Ben, filho de Ross, e alguns personagens coadjuvantes icônicos já dão as caras, como o físico David, a gêmea do mal Ursula e, claro, a hilária Janice.
Contando ainda com um final bem novelesco digno do clima da série, “Friends” começa bem, mas ainda com boas limitações técnicas e narrativas. É divertido, mas demora um pouco a pegar no tranco. Ainda assim, considerando o que viria a seguir e olhando em retrospecto, vale muito a pena pedir uma xícara no Central Perk e sentar naquele sofá laranja mais uma vez. Que saudades desse povo!
Minha Mãe é uma Peça 3
3.7 571No Brasil, temos um fenômeno interessante que acaba sendo contrário ao que ocorre nos EUA, por exemplo: valorizamos mais a TV do que o Cinema. Não à toa, depois da Retomada do cinema com dramas como “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”, o Brasil entrou em uma guinada pesada para cima das comédias com linguagem super-televisa, como “Se Eu Fosse Você”, “Até que a Sorte Nos Separe”, “Muita Calma Nessa Hora”, “De Pernas pro Ar”, entre outras, todas muito calcadas nas nossas sitcoms como “Sai de Baixo”, “Toma Lá Dá Cá” e, atualmente, “Vai que Cola”. E para ser bem sincero, depois de assistir algumas dessas produções (geralmente da Globo Filmes), perdi o interesse já que nenhuma parecia oferecer nada de realmente interessante além de estereótipos, merchandising forçado e de usar seus comediantes (como Leandro Hassum, Bruno Mazzeo e Ingrid Guimarães) para sustentar projetos bem pobres cinematograficamente falando.
Eis que chegamos ao fenômeno “Minha Mãe É uma Peça”, criado pelo recém-falecido Paulo Gustavo como uma homenagem a sua própria mãe que começou nos palcos e acabou indo para as telonas com a ascensão estelar do ator. E é inegável o esforço que Paulo tem ao compor a figura de Dona Hermínia que, desde 2013, entrou na consciência pop brasileira assim como Chicó e João Grilo, Zé Pequeno, Capitão Nascimento... e a lista vai! De fato, a mãe histérica de três filhos que quase nunca lembra de tirar seus bobes do cabelo (quase como uma Florinda desbocada) é a melhor coisa da trilogia. Paulo Gustavo entrega uma atuação tão carismática que jamais nos incomodamos com o fato dela gritar todo o tempo e melhor, jamais percebemos que está sendo interpretada por um homem. O ator some aqui e isso é sempre um bom sinal!
Só é uma pena que todo o resto dos três filmes (em especial dos dois primeiros) caia nas exatas armadilhas que os já citados acima caíram. Afinal, nada aqui foge da típica linguagem de sitcoms e programas de esquetes (como “Escolinha do Professor Raimundo” e “Zorra Total”) que pode funcionar perfeitamente para a TV, mas que para um filme de generoso orçamento não cola mais. Desde os diálogos que nunca conseguem ser filmados em um só plano até o exagerado uso de establishing shots (planos que servem puramente para mostrar o lugar em que a cena se passa), todas as opções da direção e da produção mal parecem se esforçar em criar algo minimamente cinematográfico. Resultado: uma coleção de esquetes reunidas por 1h30 que tentam criar uma conexão entre si que acaba sendo fragilíssima. Isso, claro, sem contar as forçadas inserções dramáticas de cada filme, como a morte de um sobrinho no primeiro, a morte de uma tia no segundo e um flashback que demonstra o filho Juliano enfrentando problemas por demonstrar características geralmente femininas quando criança (momento esse inspirado por um fato vivido pelo ator). Tais cenas poderiam adicionar uma boa carga dramática a uma comédia tão escrachada, mas acabam soando deslocadas e mal desenvolvidas.
É uma pena também que o roteiro não saiba como desenvolver até as próprias piadas. Se as peripécias de Dona Hermínia fossem expostas uma vez por semana (como um quadro no “Zorra Total”), não incomodaria tanto o fato de suas piadas serem baseadas nos mesmos elementos, como o hábito de chamar todo mundo de “palhaço”, seus sentimentos mistos com os filhos ou sua relação conturbada com o marido Carlos Alberto (interpretado por um simpático Herson Capri que possui uma química surpreendentemente boa com Paulo Gustavo). O terceiro filme mesmo chega a elaborar uma viagem ao exterior que dura apenas uma cena que não adiciona nada além de mais piadas, de fato divertidas, a um projeto já gorduroso. (E que mania é essa dessas comédias de ter sempre alguém viajando para os EUA, mostrando sempre um país idealizado para o qual a classe média brasileira jamais parece digna?!?! Parece viralatismo!)
E se falei no terceiro, aproveito para dizer que, apesar de repetir quase todos os vícios de seus antecessores, pelo menos assume uma estrutura narrativa mais compreensível e piadas mais inventivas e genuinamente engraçadas (como ao mostrar a personagem de Malu Valle confundindo os termos em inglês “chicken” e “kitchen” - “frango” e “cozinha” – em um restaurante gringo), além de uma belíssima homenagem final que parece ter sido ressignificada após a morte prematura do ator uma semana antes do Dia das Mães, uma coincidência simplesmente inacreditável. Eu definitivamente não esperava que terminaria a trilogia precisando secar o rosto, mas aconteceu!
“Minha Mãe É uma Peça” vale a pena para presenciar o talento de Paulo Gustavo como ator e tirar a prova real de que sua ascensão não foi à toa. Porém, não vou mentir e falar que são bons filmes. Como eu disse na minha página do Instagram (quem ainda não segue, só procurar CineMané), eu já imaginava que tais filmes não me agradariam e, da mesma forma, não julgo as milhões de cabeças que adoram – na verdade, reconheço o apelo. Mas escrevo pela primeira vez um texto conjunto justamente porque as três obras não se diferem tanto entre si. E, para concluir, ainda defendo a ideia de que “Minha Mãe É uma Peça” funcionaria bem mais se fosse uma recorrente sitcom. Como cinema, realmente não é minha xícara de chá!
Milagre na Cela 7
4.1 1,2K Assista AgoraAcho que "Milagre na Cela 7" é o tipo de filme perfeito pra perceber como a maioria percebe mais o filme pela história que ele conta do que pela FORMA COMO ELE CONTA. Achei terrível toda a construção maniqueísta dos personagens e da trama. O elenco inteiro é caricato ou canastrão, a fotografia abusa da "luz natural" para criar planos bonitos que nada têm a dizer, a trilha sonora parece vinda de um drama de novela mexicana (forçando até não poder mais para o espectador chorar) e o roteiro é patético a ponto de criar reviravoltas incompreensíveis e arcos dramáticos vazios que só parecem bonitos pelas frases de efeito que eles jogam no meio do caminho.
Draminha bem safado que de tanto forçar, fez um sucesso imenso mesmo tendo uma abordagem rasteiríssima. Não derramei uma lágrima sequer porque já passou da hora de cineasta usar pianinho e violino triste pra isso. Quer me fazer chorar? Me dê um bom roteiro, com personagens bem construídos e um drama inserido de forma natural, sem empurrar novelinha gospel na minha goela.
Liga da Justiça de Zack Snyder
4.0 1,3K“...E o Vento Levou”, “Ben-Hur”, “Lawrence da Arábia”, “Doutor Jivago”, “O Poderoso Chefão – Parte 2”, “Apocalypse Now” (versão redux), “A Lista de Schindler”, “Titanic”, “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (versão de cinema), “O Irlandês”, “Vingadores: Ultimato”... Todos esses filmes possuem três características em comum: todos são clássicos (ou potenciais clássicos) épicos do Cinema, todos são mais curtos do que o SnyderCut... e TODOS têm mais conteúdo do que o SnyderCut! (E olha que eu só contei as obras que têm duração acima das 3 horas.)
Pois é, finalmente terminei as infindáveis 4 horas de duração desse trambolho embananado de Zack Snyder que serve para ajeitar tudo que tinha dado de errado na produção de “Liga da Justiça”, longa lançado em 2017 que eu considero praticamente inassistível. E fato é: o SnyderCut é melhor do que a versão finalizada por Joss Whedon... Porém, existe uma diferença boa entre um filme bom e um filme superior ao inassistível. E fato também é: eu detestei o SnyderCut!!!
“Liga da Justiça de Zack Snyder” tem um principal mérito sobre o de 2017: sua estrutura narrativa. Aqui, tudo é mais organizado e contextualizado, de forma que dá para entender as habilidades de (quase) todos os personagens, o objetivo do vilão Steppenwolf e até mesmo a função das Caixas Maternas, elementos totalmente relegados a segundo plano na picotagem da Warner. Porém, vi muitos confundindo estrutura narrativa com edição. A edição desse filme é simplesmente desastrosa, chegando ao ponto de cometer erros amadores como um plano de um avião voando. Sim, um avião voando apenas! Quem está naquele avião? Para onde ele está indo? Nenhuma cena antes ou depois justifica o diabo daquele avião. O mesmo vale para os 88 finais apresentados no tal Epílogo, alguns deles simplesmente vergonhosos, desnecessários e absurdamente desencaixados e editados como se fosse um trailer misturado com um videoclipe da MTV em época de Marilyn Manson (sim, Jared Leto, estou falando com você!).
E pode até parecer algo ótimo o fato dos personagens estarem melhor desenvolvidos aqui. Realmente seria se os catalisadores de sentimentos funcionassem. Quem são eles? Sim, os atores! Aqui temos figuras como Gal Gadot e sua expressão congelada, Jason Momoa e sua cara emburrada, Ben Affleck e sua cara de banana bochechuda, Ray Fisher e seu estoicismo aborrecido, e Ezra Miller e sua fala acelerada para imitar uma mistura chernobyliana de Peter Parker e Mark Zuckerberg (isso, é claro, quando não está falando com o pai, já que aí parece um personagem COMPLETAMENTE diferente). E o desenvolvimento citado por mim mesmo é bem básico, já que Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e Superman estão praticamente idênticos aos de 2017 só que um pouco mais sombrios, enquanto Flash acaba cumprindo um papel bem mais importante no clímax (o que não significa que seja desenvolvido). O mais beneficiado é mesmo Cyborg que, por ter experiências tão trágicas, acaba não convencendo pelas limitações dramáticas de seu intérprete. Lembrando: funcionar no papel e funcionar na tela são coisas bem distintas!
É incrível e frustrante perceber também como Snyder se sabota. Diretor sempre criticado por não saber trabalhar sentimentos humanos, o cineasta compõe uma belíssima cena entre Martha Kent e Lois Lane (aproveitando o pouco espaço das ótimas Diane Lane e Amy Adams)... Tudo para depois subverter com uma reviravolta totalmente tirada do c* que provavelmente deixou muito nerd de pau duraço ou de periquita molhada, mas que como CINEMA, simplesmente destruiu aquela que seria a melhor cena de todas as 4 horas anulando o peso emocional que a mesma oferecia. PARABÉNS, SPLINTER, P*** QUE PARIU HEIN!!!
E as cenas de ação? Bom, além do fato delas demorarem umas 2 horas para realmente acontecer (não estou contando aquelas que servem como preparação da trama), são filmadas de forma burocrática e bem parecida com a versão de 2017, oferecendo uma ou outra abordagem diferente que não adiciona muita coisa e com um visual mais limpo daquele excesso de CGI horroroso que a versão de Whedon tinha (não que a qualidade desses efeitos tenha melhorado muito, vale dizer). “Ah, mas as 4 horas se justificam?” Bom, se você for um prisioneiro de guerra e Snyder for um torturador, a missão dele foi absolutamente bem-sucedida, já que provavelmente 1 hora é gasta com câmera lenta interminável ou com atividades banais como Alfred tomando chá, Barry procurando emprego, Aquaman tomando um uísque, Lois Lane comprando café, Bruce fazendo a barba... Ah é, tudo isso em câmera lenta, ok? E nem vou começar a falar das músicas, já que as licenciadas sequer encaixam nas cenas em que são inseridas e as originais, apesar de interessantes, ficam se repetindo e se repetindo e se repetindo e se repetindo (eu ouvi aquele canto tribal umas 30 vezes pelo menos).
O tão aguardado SnyderCut é uma trolha quase tão ruim quanto sua versão anterior. Se aquela era toda picotada e mal encaixada em 2 horas, essa é toda entulhada e auto-indulgente até não poder mais, lotada de decisões erradas por 4 horas, ou seja, um grande chute sombrio nos testículos sombrios. Decisões boas aqui e ali não fazem muita diferença.
Enfim, explico a minha segunda estrela (até porque o filme por si só não merece ambas). Ela vai em homenagem a Autumn, filha do diretor que cometeu suicídio em 2017. Eu posso brincar, criticar e o que quer que seja, mas admito a profunda admiração que tenho por Zack Snyder nesse ponto. Mesmo após uma tragédia inominável, o cara correu atrás para fazer um filme que queria fazer, independente da duração ou do desejo de público ou estúdio. E diferente de um Michael Bay, Snyder jamais foi mal-intencionado com as suas obras. Sempre se revelou um artista apaixonado. Posso não ter apreciado sua obra, mas essa é só a minha opinião que escolhi comentar com mais sarcasmo! E devo dizer que só escrevo esse parágrafo porque, com a dedicatória final, Snyder decidiu unir seu amor pelo que faz e seu amor pela sua falecida filha... E tá aí um sentimento que ele conseguiu abordar com o mais profundo sucesso!
“FOR AUTUMN!”
Era Uma Vez um Sonho
3.5 448 Assista AgoraEU ODEIO FILME FEITO PRA AGRADAR OS VÉIO DA ACADEMIA!
Dito isso, eu gosto do Ron Howard. Claro que, assim como Ridley Scott, Steven Spielberg e vários outros diretores super-produtivos que transitam entre gêneros completamente diferentes, alguns filmes ruins vão escapar, como a trilogia baseada nos suspenses de Dan Brown que até servem para entreter aqui e ali. Eu mesmo sou assíduo defensor de “Han Solo”. Sem contar os excelentes dramas “Uma Mente Brilhante” e “Frost/Nixon” e o ótimo documentário “Eight Days a Week” sobre a Beatlemania. Ou seja, Ron Howard é um bom diretor!
Mas que p**** de filme é esse, Ron?!?! (Primeiramente: esse é um daqueles filmes cujo título adaptado é tão ruim que eu vou ser obrigado a usar apenas o título original durante este texto.) Não tem como começar a falar de “Hillbilly Elegy” sem apontar como tudo aqui, seja narrativo ou técnico, é manipulativo apenas para render algum drama artificial e tentar extrair na marra algum sentimento do público. E eu já expliquei: se a emoção não surgir naturalmente, forçá-la vai ser ainda mais contra-producente. Mas é isso que esse filme faz durante duas horas INTERMINÁVEIS.
Não existe cerne narrativo aqui! O prólogo até engana ao mostrar o protagonista (interpretado pelos igualmente inexpressivos Owen Asztalos e Gabriel Basso) refletindo sobre as gerações passadas de sua família, especificamente a gravidez precoce de sua avó, mas a partir do momento que o letreiro do título aparece na tela, o roteiro de Vanessa Taylor (responsável por “Divergente”... Tá explicado!) esquece completamente essa proposta e começa a saltar entre passado e presente o tempo inteiro sem muito propósito além de jogar cenas extremamente melodramáticas na cara do espectador, nem se preocupando em fingir que está contando alguma coisa.
A técnica é recheada de obviedades, como as cores mais lavadas ou contrastadas para diferenciar a década de 1990 da de 2010 e a trilha melosa de Hans Zimmer e Dave Fleming. Também há certas esquisitices, como a fotografia granulada que não diz nada e o uso bem dispensável de efeitos visuais, sem contar claro o péssimo e exagerado trabalho de maquiagem que faz com que os personagens pareçam saídos direto de uma paródia de “A Família Buscapé” (sim, a paródia de uma paródia, é isso mesmo!).
E se eu já deixei claro que o protagonista (independente de seu intérprete) carece profundamente de carisma – ao ponto de ser antipático mesmo –, a única coisa que justifica essa estrela solitária acima é a tentativa de Amy Adams e Glenn Close. Sim, apenas a tentativa, já que tanto o roteiro quanto a direção exige delas performances tremendamente estereotipadas e exageradas, em um compilado de gritaria sem fim. E chega a ser cômico que Close, dona de tantas personagens excelentes, seja relegada a uma mulher que só sabe fazer a mesma cara de coruja o tempo todo (e o fato de estar sendo reconhecida pela maioria das premiações evidencia a campanha forte que a Netflix está fazendo em cima dela, porque é realmente inexplicável). Já Adams usa de artifícios baratos para parecer uma mulher instável, mas jamais entra na personagem, como se fazer um olhar vazio de embriaguês em TODAS AS CENAS fosse convencer alguém. (Vale ressaltar também que o sotaque sulista aqui é forçado, como tudo.) A única que consegue fazer alguma coisinha, embora mal registre, é Haley Bennett.
Os atores não são o único problema, já que os personagens não apresentam o menor desenvolvimento. Ao invés de contar a história usando a velha tática de “ação e reação”, o roteiro de Taylor apresenta a reação para, depois, jogar a ação sem a menor naturalidade em um flashback repentino, o que anula o peso dos dois momentos. A personagem de Adams, a propósito, é inerte e se mantém a mesma durante todo o filme, sem ao menos demonstrar um desfecho de arco dramático. O mesmo vale para o protagonista que termina no mesmo ponto em que começou (e ainda mandando uma mensagem moralista beeeem problemática e questionável). Chega a ser cômico uma transformação que acontece em sua infância de uma hora para outra. Se fosse uma comédia, essa cena adicionaria mais uma estrela, mas como eu sei que essa não era a intenção...
AFFF, CHEGA! “Hillbilly Elegy” é um crime cinematográfico que simplesmente faz o público perder duas horas irrecuperáveis da vida que é curta demais para esse tipo de experiência. É definitivamente o pior filme de 2020 (não, eu não vi “Dolittle” nem “365 Dias” justamente porque a vida é muito curta) e uma das piores bolas fora que a Netflix já lançou. Ron Howard, toma vergonha nessa tua cara pelo amor de Deus, PARA DE TENTAR GANHAR OSCAR NA MARRA!!!!
Vikings (2ª Temporada)
4.5 559 Assista AgoraNão é nada bom quando uma série começa com o pé esquerdo... E esse foi o caso de “Vikings”, produção do History Channel realizada por Michael Hirst que, pouco tempo antes, havia comandado a também histórica “The Tudors”. Porém, se a primeira temporada sofria com uma estrutura completamente esculhambada, sem clímax, com um elenco um tanto desconfortável e um desenvolvimento de personagens quase nulo, o segundo ano já melhora e MUITO a situação!
Claro que, ao mesmo tempo, acaba herdando alguns problemas, como por exemplo começar com um episódio que parece mais um season finale da temporada anterior e que, por essa mesma razão, acaba não tendo muita força. Porém, a partir do segundo capítulo, o roteiro de Hirst e a direção da equipe liderada por Ken Girotti conseguem construir uma consistência invejável. Não, isso não é o mesmo que dizer que é tudo perfeito, mas sim que tudo se mantém no mesmo nível, sem queda de qualidade. A progressão narrativa dessa vez faz muito mais sentido e até a estrutura dos episódios individualmente soa mais fluida.
Quem é mais beneficiado por isso? Sim, os personagens, que dessa vez protagonizam arcos dramáticos e subtramas muito melhor trabalhados, como a crise de fé de Athelstan (bela atuação de George Blagden) com suas visões e agouros religiosos, e sua relação com Ragnar (Travis Fimmel ainda inexpressivo) e o Rei Ecbert de Wessex (de longe, o personagem mais interessante da série, complementado por uma baita interpretação de Linus Roache). Outra que ganha seu próprio arco de ascensão é Lagertha, com Katheryn Winnick ainda mais confortável em seu papel e demonstrando uma fúria assustadora. Já Alexander Ludwig como a versão mais velha de Bjorn Ironside não convence e deixa na cara que é um ator forçando ações e reações (embora ainda consiga ser um artifício de batalha interessante), enquanto Clive Standen se alia ao roteiro para deixar Rollo crescer como personagem. Admito que o arco que eu menos gosto é aquele que surge mais para o fim, que envolve o sempre fraco Donal Logue e Gustaf Skarsgård, arco esse que se revela um simples planejamento de plot twist que acaba sendo fraco no fim das contas, apesar do conflito final ser interessante.
Mas é mesmo quando o foco está nas invasões à Inglaterra que “Vikings” brilha, já que seu melhor elemento narrativo é a abordagem do choque de culturas. Aqui, não há apenas uma excelente montagem que alterna entre um casamento saxão e um nórdico (deixando claras as diferenças e semelhanças entre ambos), mas também inúmeras referências envolvendo a iconografia cristã e o Império Romano, o que expande o escopo histórico e dá mais camadas a algumas jornadas, como a do já citado Ecbert ao usar textos romanos para controlar uma batalha como Julio César faria. E por mais que Fimmel continue com suas esquisitices interpretativas, é interessante notar como o roteiro de Hirst constrói sua curiosidade em relação aos costumes monoteístas dos ingleses, culminando em uma bela - porém hesitante – reza de Pai Nosso que dá nome ao último episódio.
Tecnicamente, a temporada também não decepciona, mantendo seu preciosismo aos detalhes em figurinos (a coroa cheia de espirais da Princesa Kwenthrith e as transições de vestimentas de Lagertha são alguns exemplos), no design de produção e no trabalho de cabelo e maquiagem, ao mesmo tempo em que reduz um bocado o nível da câmera tremida dos combates a fim de torná-los mais compreensíveis, o que é perceptível naquele que ocorre no penúltimo capítulo. A própria fotografia cria planos tão belos, épicos e pitorescos a ponto de merecerem molduras, como aquele que traz os homens partindo em seus navios enquanto as mulheres observam à beira de um penhasco.
É indiscutível: a segunda temporada de “Vikings” é uma evolução gigantesca. Tem seus problemas, alguns até provenientes do fraquíssimo primeiro ano, mas ainda assim é aqui que Hirst prova que sua obra merece mais atenção!
E aqui vai um trecho da melhor coisa da temporada: a música “Helvegen” composta pela banda Wardruna tocada no episódio “Boneless”...
Quem cantará para mim
Quando eu partir para o profundo repouso?
Quando eu andar no Caminho para Hel
Através de uma trilha em que o piso
É frio, tão frio?
Eu busquei as canções
Eu enviei as canções
Quando do poço mais profundo
Deram-me da água que lá gotejava
Da promessa do pai dos mortos
Eu sei de tudo isso, Odin
Onde você escondeu seu olho
O Mandaloriano: Star Wars (1ª Temporada)
4.4 532 Assista AgoraNão sou aquele tipo de fã de “Star Wars” que assiste todas as animações, lê os livros e sabe tudo sobre o universo expandido; sou mais aquele casual que foca nos filmes. Porém, não tive como conter meu interesse pela primeira série original do Disney+, “The Mandalorian”. Depois de limpar algumas pendências, comecei finalmente e devo admitir que os sentimentos foram mistos.
A temporada de 8 episódios acompanha um membro dos Mandalorianos (uma espécie de seita já apresentada nos filmes pelas figuras de Jango e Boba Fett), aparentemente sem nome e com o rosto sempre escondido por seu capacete que também atua de caçador de recompensas, prática comum de seu povo. Quando decide trabalhar para um ex-Imperial (a série se passa 5 anos depois de “O Retorno do Jedi”), Mando acaba encontrando uma criança pertencente a uma espécie rara que apresenta um grande domínio sobre a Força, algo que o faz questionar os motivos de seus clientes.
As influências de filmes de samurai e faroestes no universo criado por George Lucas em 1977 não são mistério para ninguém, mas talvez seja aqui que essa característica surge mais aflorada, em especial quando notamos algo semelhante a uma flauta tribal na trilha sonora remetente às composições de Ennio Morricone ou um arco dramático que puxa totalmente a proposta do clássico japonês “Os Sete Samurais” de Akira Kurosawa. O próprio episódio 5, “The Gunslinger”, não apenas recebe um título que caberia facilmente em um filme com John Wayne como também segue o protagonista e outro caçador de recompensas viajando pelo longínquo deserto à procura de uma fora-da-lei, premissa muito parecida com aquela de “Por uns Dólares a Mais”, entre vários outros.
E se apontei apenas o uso das influências, vale destacar como a produção é simplesmente incrível, realmente cinematográfica. Nem mesmo “Game of Thrones” nos presenteou com cenários tão belos, palpáveis e verossímeis (o exagero de CGI da trilogia prequel agora parece uma memória distante) e Dave Filoni é esperto o suficiente para já desfrutar desses louros na cena introdutória de Mando, que toma lugar em um planeta de gelo habitado por morsas gigantes. O uso de animatronics também é muito bem-vindo, não só respeitando a estética da trilogia clássica como também continuando as escolhas feitas por esta última. Não à toa, a criancinha apelidada pela internet de “Baby Yoda” funciona tão bem: ela não é um simples borrão digital, ela de fato existe!
A já citada trilha do jovem mestre Ludwig Göransson (vencedor do Oscar por “Pantera Negra”) é impecável, em especial o tema principal que sempre se faz presente nos créditos finais, esses que usam uma técnica retrô bem interessante e vistosa ao acompanhar os primeiros nomes da tela com artes conceituais dos episódios específicos. A trilha de Göransson pode não ser tão apoteótica quanto as de John Williams, o que é ótimo e respeita a proposta da obra que foca em um lado mais obscuro da galáxia. Além do mais, também mistura perfeitamente esses sons mais tribais e ancestrais com algo mais moderno, eletrônico, tecnológico (algo que basicamente representa a identidade retro-futurista que “Star Wars” sempre teve).
Porém, se até agora só elogiei, por que falei que tive sentimentos mistos? Bom, o outro lado da moeda está no roteiro, que se sai muito bem em pelo menos metade da temporada. Mas há uma certa indecisão dos responsáveis em relação ao tom do personagem principal e ao tipo de série que eles querem vender. O protagonista Mando (um apelido baseado no nome de seu povo), interpretado por Pedro Pascal, consegue ser carismático mesmo sem mostrar o rosto e falando quase nada. Isso nos três primeiros episódios, quando somos apresentados em teoria a uma versão espacial do “Pistoleiro Sem Nome” de Clint Eastwood. A partir do episódio 4, Pascal e o roteiro de Jon Favreau (e mais alguns) fazem com que o forasteiro ocupe o silêncio com frases de efeito bobinhas que o mesmo não falaria caso seguisse a lógica inicial. Isso pode parecer uma coisa insignificante, mas não deixa de tirar a mística por trás do personagem, ainda mais com uma decisão no último episódio puramente movida pelo “star power”. Ainda assim, Pascal faz um bom trabalho de voz e Mando é realmente um personagem divertido (apesar de decisões questionáveis que botam em cheque sua inteligência). O mesmo pode ser dito das figuras encarnadas pelo saudoso Carl Weathers, Nick Nolte e Taika Waititi (que entrega uma ótima direção no season finale também). A recém-cancelada Gina Carano é um ponto dramaticamente mais fraco, apesar de servir como um bom artifício de ação, e a participação mais tardia de Giancarlo Esposito é excelente como sempre, gerando um curioso gancho final.
Em relação ao tipo de série que é “The Mandalorian”, é estranho o que Favreau e Filoni fazem aqui. Ao mesmo tempo que eles apresentam uma trama principal nos três primeiros episódios e insistem em sempre usar as recapitulações (usadas em séries contínuas), do quarto ao sexto vira uma série procedural (também chamada de “aventura da semana), com uma história que começa e acaba em um só episódio. Isso seria interessante SE fosse a proposta inicial ou SE esses episódios adicionassem algo de substancial para a trama principal, o que não fazem. Eles simplesmente são fillers, alguns divertidos, outros bregas e injustificáveis (como o 4). Inclusive é de se surpreender que dois desses capítulos sejam alguns dos mais longos da temporada, o que representa um grande desequilíbrio já que a trama principal retorna muito bem nos dois episódios finais. Pareceu-me que a proposta era fazer um filme para TV com uma duração generosa que acabou virando uma série carente de algumas “encheções de linguiça” na meiuca. Dito e feito!
“The Mandalorian” é um desbunde técnico e é uma série muito divertida, principalmente quando foca em sua trama principal. Já os episódios do meio são bem dispensáveis e até genéricos, apesar de terem sua parcela aqui e ali de entretenimento. É uma boa empreitada da franquia “Star Wars”, apesar de não ter atingido o potencial que poderia. Ainda assim, mesmo querendo dar uma nota um bocadinho menor pelo anti-clímax proporcionado pelos fillers, eu preciso valorizar o que foi feito aqui. Resta esperar para ver se a segunda temporada será mais consistente!
Vikings (1ª Temporada)
4.3 779 Assista AgoraQuando terminou a sétima temporada de “Game of Thrones”, decidi procurar algo semelhante já que a série do “Dracarys!” perdia cada vez mais sua força. Foi aí que decidi, com base em recomendações, começar sua rival “Vikings” e admito que muita coisa me causava estranhamento nessa série, mesmo gostando de muitos de seus elementos. Bom, revendo hoje depois de já ter assistido a quase todo o programa, percebo os problemas: eles estão na estrutura bem questionável dessa primeira temporada.
A questão é que esse primeiro ano foi mal planejado em termos de estrutura narrativa e até mesmo na construção de personagens. Tudo parece muito apressado e meio artificial aqui. Com isso, o início da jornada de Ragnar Lothbrok na descoberta e conquista do Oeste acaba perdendo peso, já que o guerreiro atinge seu objetivo logo no segundo episódio da série, no qual o ataque a um mosteiro em Lindisfarne é exposto com pressa, sem o devido respiro necessário. Essa pressa não atrapalha apenas o desenvolvimento das tramas, mas também o arco dos personagens, como a crise de fé do Athelstan de George Blagden (um bom ator, inclusive) e o Conde Haraldson de Gabriel Byrne, personagem interessantíssimo ainda mais pela composição do ator mas que, no fim, serve apenas para sair de cena e dar lugar ao protagonista como figura de poder.
A propósito, esse é outro erro homérico que (aí sim!) percorre quase toda a série: o casting de Travis Fimmel, um ator extremamente limitado que já seria duvidoso para um papel coadjuvante. Dar o protagonismo a Fimmel como um poderoso guerreiro viking se mostra uma decisão desastrosa, já que o mesmo compõe seu personagem como uma caricatura cheia de maneirismos e esquisitices, com um olho sempre entreaberto e sorrisinhos forçados como se quisesse parecer psicótico, algo que está longe de ser o que o personagem exigia no papel (sem contar sua imponência inexistente). Chega a ser surpreendente que o próprio Floki de Gustaf Skarsgård (competente no papel) consiga ser mais humano e interessante do que o protagonista, sendo ele um homem que exige tons mais caricaturais mas que evita mergulhar completamente na auto-paródia. Já o resto do elenco varia na qualidade. Katheryn Winnick e Clive Standen expõem mais suas fragilidades dramáticas, ao passo que Jessalyn Gilsig, Byrne e Blagden criam personagens interessantes, mesmo que não tão beneficiados pelo roteiro de Michael Hirst (responsável pela série “The Tudors”).
Hirst também falha como showrunner, já que envolve duas tramas principais na mesma temporada – uma envolvendo as invasões na Inglaterra e outra abordando um conflito doméstico – que nunca parecem conversar entre si. E chega a ser cômico que uma tenha que ser interrompida de forma negligente para a outra retornar, mesmo que isso garanta um bom episódio 7. Parece até que eu odeio a temporada, mas não é o caso. Hirst tem acertos fundamentais para segurar minimamente o interesse do público; e os momentos em que trabalha com o choque de cultura das duas civilizações (em especial no cunho religioso) se mostram os mais fascinantes de TODA A SÉRIE. O penúltimo episódio batizado de “Sacrifice” chega a ser excelente na retratação dos costumes nórdicos, criando uma iconografia certeira ainda mais com o uso do ótimo trabalho de set design, de figurino e especialmente de maquiagem. A Escandinánvia e o reino de Northumbria aqui são admiravelmente verossímeis.
E se o trabalho de fotografia não é tão inventivo quanto viria a ser nas próximas temporadas, a direção e a edição já injetam uma modernidade bem-vinda às cenas de batalha, seguindo um exemplo parecido com aquele de “300” de Zack Snyder, só que bem menos estilizado. O uso de efeitos digitais aqui só é usado quando estritamente necessário, fazendo com que tudo soe palpável e tangível. Vale destacar também o impacto da abertura, composta por imagens belíssimas e acompanhada pela sombria “If I Had a Heart”, canção que também faz parte dessa abordagem mais moderna que a série adota.
Contando com um péssimo season finale que simplesmente exemplifica os equívocos de roteiro que eu supracitei (adicionando mais uma terceira trama do nada), a primeira temporada de “Vikings” podia ter sido melhor trabalhada na parte do texto e do casting, mas já apresenta méritos suficientes para gerar interesse no público. Fato é: se você parou a série porque não gostou desse primeiro ano, não use-o como parâmetro. Continue e, se não curtir o segundo, aí realmente pode desconsiderar a passagem para Valhalla!
Pedaços De Uma Mulher
3.8 544 Assista AgoraÉ muito difícil já capturar o público em seus primeiros minutos! Só que mais difícil ainda é manter o nível ao longo de toda a duração. Infelizmente, “Pieces of a Woman” consegue apenas o primeiro feito.
Dirigido pelo húngaro Kornél Mundruczó, esse drama constrói de maneira impecável seus primeiros 30 minutos que são nada mais nada menos do que um prólogo que apresenta o conflito central do resto da projeção. Aproximando-se lentamente, o parto de Martha é filmado com muita câmera na mão e com dedicação extrema de todos os atores ali presentes, incluindo Molly Parker, Shia LaBeouf e principalmente Vanessa Kirby (uma atriz que ganhou minha admiração desde que começou a encarnar a Princesa Margaret na série “The Crown”). Se a primeira vai do suporte até o profundo desespero e urgência, o segundo transmite muito bem a impotência de não saber o que fazer; é até agoniante vê-lo no impasse de pôr uma música para tocar a pedido de sua esposa ou de fazer companhia a ela. Kirby, por outro lado, varia entre inúmeros estados emocionais, indo do medo, passando pela revolta e pela dor profunda, e entrando em catarse absoluta. E é com o fim desse prólogo (uma surra no estômago, vale dizer) que o letreiro do título aparece e...
A partir daí é só derrocada, já que o diretor não decide se quer manter a postura crua e realista do prólogo (consequentemente até isento de trilha sonora) ou se quer tentar uma abordagem mais contemplativa com longos planos que seguem Martha andando pelas ruas frias da cidade. Mas se fosse apenas essa indecisão, estaria excelente. A questão é que a segunda hora cai completamente no melodrama barato de filme caça-Oscar, com direito a monólogos deslocados (como aquele de Ellen Burstyn que, apesar de estar ótima, não é favorecida pelo roteiro), analogias óbvias e auto-indulgentes, e até mesmo uma estrutura formulaica, como aquele “clímax” no tribunal que, além de mal dirigido, consegue ser muito mal escrito.
As interpretações até mantêm sua qualidade! Kirby, por exemplo, exibe expressões vazias para emitir um luto corrosivo que guarda para si, enquanto LaBeouf surge mais expansivo em seu desabafo. Porém, está aí outro personagem bem prejudicado pelo roteiro, já que seu arco dramático vai de 8 a 80 sem muito motivo aparente. Em um momento, ele é o marido amável e dedicado, em outro é abusivo e infiel. Não que ele não pudesse se tornar isso, mas a questão é que soa apressado demais, sem contar claro na saída totalmente arbitrária do personagem no final do 2º ato.
Com direito até a personagens sofrendo de Alzheimer, cinzas sendo jogadas em câmera lenta e uma passagem de tempo representada pela construção de uma ponte por meses, “Pieces of a Woman” ainda conclui com sua pior cena disparada, uma cena tão piegas que parece ter saído direto de uma novela da Record, acopanhada ainda por uma trilha invasiva e maniqueísta que parece querer fazer o público chorar a qualquer custo, o que (como já apontei em outros textos) gera justamente a reação contrária.
Apresentando uma fotografia até competente, embora pretensiosa em alguns momentos (o testemunho é simplesmente péssimo), “Pieces of a Woman” é decepcionante. É um filme que começa lá no alto, com algumas das melhores cenas de 2020, para depois cair na prepotência e na manipulação rasteira de filosofia de boteco. Chega a ser triste que em 30 minutos de filme eu tenha levado um soco no estômago para, 1h30 depois, eu não me importar mais com nada...
Tomboy
4.2 1,6K Assista AgoraAssisti a esse filme quase um ano depois de ver "Retrato de uma Jovem em Chamas" (que eu considero o melhor filme de 2019) e é definitivo: Sciamma está virando uma das minhas diretoras favoritas com apenas dois filmes (e não, não estou me limitando a mulheres na direção). Ainda PRECISO ver os outros dois longas dela, mas sinceramente, essa mulher eu acompanho pra vida.
Que sensibilidade! Que sutileza! A forma como a cineasta trabalha o poder do silêncio e dos olhares tanto nesse quanto em "Retrato..." chega a arrepiar. É uma condução muito poética, muito cinema em sua forma mais pura, com o adicional que aqui ela trabalha com crianças ainda pré-pubescentes e o que consegue extrair em especial da brilhante Zoé Héran (dona de um dos rostos mais expressivos que eu já vi em um intérprete mirim) impressiona.
Seria o gênero só uma barreira posta desnecessariamente em meio a relações humanas? Com a ausência de respostas em relação à sexualidade ou à identidade de gênero de Laure/Michaël, o roteiro de Sciamma cria não apenas uma maior possibilidade de identificação como também retrata de maneira impecável as indecisões da juventude, o primeiro degrau da puberdade, o verdadeiro "coming-of-age", o ser humano prestes a descobrir seus desejos, suas atrações, entrando no período mais internamente conflituoso de sua existência. E não é qualquer diretor que consegue fazer isso. Céline, por favor, não pare nunca, é do teu cinema que a indústria tão mecanizada e automática precisa. Injete um pouco de humanidade nessa máquina!
Afunde o Navio
3.2 64 Assista AgoraUm filme que parece ir na onda do estilo narrativo dos Irmãos Coen junto com um pouco da estética de um Wes Anderson da vida (se as touquinhas coloridas não são referência a Steve Zissou, eu não sei o que são). Sinceramente, me faltou substância. Acho a narrativa um tanto desinteressante e pretensiosa, querendo explorar muito mais do que podia. São muitos personagens pra pouco tempo de filme envoltos em uma narrativa que é tão fria quanto Easter Cove. Tecnicamente é até competente (apesar de eu não ter entendido a fotografia granulada à la anos 60) e o elenco manda bem, com exceção de Morgan Saylor que desde "Homeland", usa as expressões afetadas achando que está atuando bem. Destaque pra Margo Martindale e June Squibb que roubam suas cenas. No geral, fraco, mas não ruim!
Lolita
3.7 823 Assista AgoraAdrian Lyne é um diretor de filmes eróticos dos anos 80 e 90... Talvez tenha sido uma decisão equivocada botá-lo na direção de uma trama tão delicada. Mas será que não era esse o objetivo? Tipo, se estamos vendo aquilo pelo ponto de vista do abusador (que geralmente acha que não tem culpa de nada ou que a vítima o encoraja), um diretor como Lyne não seria a melhor escolha para gerar um incômodo tão grande? Não sei, sinceramente. Gostei do filme, apesar de ser sim indigesto por ser gráfico (mas não tanto quanto poderia ser, ainda bem), mas a versão do Kubrick, apesar de menos fiel ao livro pela censura da época, é bem superior. Dominique Swain não convence como Sue Lyon convencia. Porém, Jeremy Irons como Humbert merecia um prêmio. Atuação fantástica, bem melhor do que a de James Mason.
Ghost: Do Outro Lado da Vida
3.6 1,6K Assista AgoraCasal insosso e mal atuado, drama e suspense fracos, trama novelesca rasa e uma técnica até tosca... Se Jerry Zucker fizesse desse filme uma comédia 100%, talvez criaria um filme tão bom quanto Os Fantasmas Se Divertem. Até porque só a comédia funciona aqui, com a presença magnânima de Whoopi Goldberg. Filme bem fraquinho, que tem na comédia seus melhores momentos. Não entendo porque ficou tão popular!
Carrie, a Estranha
3.7 1,4K Assista AgoraEsse é aquele filme que é famoso por ser um clássico de terror mas cujo ponto forte é mesmo o drama da personagem, a tragédia do ato final... Um dos poucos filmes de terror em que a ameaça é a maior vítima. Sem contar também que o filme é à frente de seu tempo.
É só substituir os poderes de Carrie por alguma arma de fogo que você tem uma representação dos tiroteios recorrentes que acontecem nas escolas.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraVi esse filme pela primeira vez há 3 anos. Achei mediano!
Revi esse ano numa maratona cronológica do Nolan, e achei ainda mais mediano heheheh
Eu até agora ainda quero entender a complexidade que todo mundo vê nesse filme. É pura verborragia explicativa e pieguice novelesca. Tem uma técnica apuradíssima sim, e algumas boas atuações (McConaughey tá ótimo). Eu acho que se o filme se mantivesse como uma aventurona espacial estilo "Perdido em Marte", ele se sairia melhor. Mas essa filosofia existencial meio de boteco durante quase três horas é uma meta longínqua demais pro filme que é. Nolan ainda não aprendeu que não adianta tentar ser um Kubrick quando sequer é um Spielberg. Senta lá, Nolan, volta a fazer filmes indie estilo "Amnésia" ou policiais tipo "O Cavaleiro das Trevas" que se sai beeeeeem melhor.
Shirley
3.3 70 Assista AgoraTirando a condução da fotografia que por vezes é escura ou instável demais (sei que é proposital mas acho que acontece mais do que deveria), o filme é ótimo. A forma como o roteiro não dá respostas fáceis mas ao mesmo tempo entrega pistas que geram uma bela discussão ao término é admirável. O estilo de Josephine Decker aqui me lembrou algo que o Darren Aronofsky faria. O que é bizarro, já que no início eu tava esperando uma dinâmica meio "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" Me surpreendi!
The Boys (2ª Temporada)
4.3 647 Assista AgoraTemporada de medíocre pra baixo com um season finale levemente empolgante e impactante. Se não fossem alguns atores muito competentes (Urban e Starr em especial) e alguns fatores técnicos a temporada seria absolutamente ridícula.
Mulan
3.2 1,0K Assista AgoraA DISNEY PRECISA URGENTEMENTE PARAR DE TENTAR FAZER REMAKE.
Quer fazer remake? Beleza, então faça com seriedade, com garra, com boas motivações. Não faça apenas sustentado pela nostalgia do original e pela grana arrecadada. Não faça reimaginações bacaninhas, faça FILMES BONS!
E outra: por favor, na próxima vez, não deem mérito das conquistas de uma personagem feminina pra uma força sobrenatural que não tinha no original.
The Boys (2ª Temporada)
4.3 647 Assista AgoraTô no segundo episódio ainda mas até quando eles vão continuar resolvendo as coisas com "Você não vai contar isso porque senão eu vou contar isso que eu sei sobre você."
Sério, eu literalmente não sei qual episódio não fez isso até agora. Que solução preguiçosa!
Família Soprano (3ª Temporada)
4.6 139 Assista AgoraDois problemas nessa temporada:
1. O ator do Jackie Jr. é tenebroso de ruim.
2. O núcleo da Meadow recebe muito mais atenção do que deveria, sendo que a contribuição que ele dá pra trama principal é mínima (talvez só no final mesmo).
Ainda assim ótima temporada, mas inferior às duas primeiras por esses dois motivos.
Assassinato no Expresso do Oriente
3.4 938 Assista AgoraA versão de 1974 dirigida pelo Sidney Lumet é ótima.
Essa é mal estruturada, apressada, artificial, melodramática e insiste numa modernização que sinceramente quebrou o projeto. Pelo menos alguns do elenco se salvam (já que a maioria é totalmente esquecida).
Dark (3ª Temporada)
4.3 1,3KSó eu que achei o artefato esférico de transição dimensional bem parecido com a Maçã do Éden de Assassin's Creed?