O que mata filmes de terror, em geral, é o hype. A expectativa é a mãe da frustração. Fui assistir sem saber nada prévio do filme, e me surpreendi com o corte radical dos dois atos. São bem diferentes, ambientações diferentes, imagino que a intenção da direção é essa, talvez pra acentuar algum tipo de choque. Pra mim bateu mais ou menos, não sei se encaixou bem a vibe "terrir" com o suspense psicológico criado na primeira parte. Sobre o mote da trama, pontas soltas e faltou uma maior clareza do que era aquilo que a gente tava vendo, enfim. Vale pela intenção, é um bom filme e honesto.
às vezes a passividade latente de personagens em filmes de terror me incomoda. mas aqui é a força motriz do filme. parece ser o ponto principal, o foco da crítica pra além da violência absurda e sem sentido. em momento algum temos um vislumbre de quem são os antagonistas, seus motivos ou contexto de ação. pelo contrário, presenciamos com agonia a forma polida e excessivamente submissa, talvez até mesmo um traço cultural moderno, a pretensa educação e permissividade como forma de evitar o confronto, não incomodar, não ser "antagônico", prezando sempre por manter as aparências do 'bem-estar social'. adultos infantilizados incapazes de estabelecer limites, de dizer um "não". ao fim beira assistimos de queixo caído como ninguém ali levanta uma mão ou se defende, evitando sempre o confronto. beira o ridículo, mas é o centro do filme. é o que é.
tempos complicados esses, de moralismo exacerbado e de ferrenha crítica à liberdade artística/criativa, sem mencionar o déficit cognitivo das pessoas se prestarem a, pelo menos, tentar interpretar uma obra sem um viés... moralista e tacanho.
Reflete a máxima de que não escolhemos como morrer, mas podemos escolher como viver. Cabe a nós decidir o que fazer com o tempo que nos foi dado. Uma obra-prima visual delirante.
"and then i woke up." corta pra tela preta. fácil um dos maiores finais da história do cinema. meu guilty pleasure é ocasionalmente ir pro youtube assistir de novo e de novo esse monólogo do tommy lee jones. impecável.
O advanço dos serviços de streaming faz milagres como esses: onde em outras épocas uma porcaria destas ficaria relegada ao esquecimento e seções C de filmes de nicho, produções bem fracas e que por algum motivo acabam vendo a luz das telas, aqui vira febre na Netflix e entra pro ranking dos filmes mais vistos de uma semana.
Dentro daquilo que o filme se propõe, ser uma experiência sensorial, com um foco exclusivo na ambientação em detrimento da narrativa, ele é uma obra de arte. E veja bem, uma obra de arte antes de ser um "filme de terror".
Remete muito mais a um horror absoluto que é exponenciado pela imersão sensorial, inclusive já mencionaram sobre ser um grande ASMR, e não tá errado. Desde o começo dos tempos de filme de terror o uso de edição de som e cortes ajuda a provocar os jump scares e derivados, mas filmes realmente acima da média transcendem essa mediocridade e criam algo que sobressai à média.
Você não tem pavor aqui do trabalho do técnico de som, mas da capacidade do diretor criar um cenário onde todo o contexto é aterrorizante, onde o som preludia o terror por vir . Da fotografia gélida e solitária de inverno, passando pelo silêncio absoluto, das pessoas, dos cômodos, das distâncias. E por fim os enquadramentos que deslocam o objeto principal, se beneficiam de uma câmera estática em grande plano, novamente, apesar da distância, o que te apavora é a sensação de que não há pra onde fugir, como se a quarta parede fosse rompida.
Claro, apesar de tudo isso não é um filme fácil. Sinto que o resultado seria muito mais palatável se não nos fosse empurrada a tarefa de fazer sentido da linha temporal do filme, do quando e quem é o que ali naquele fiapo narrativo. Em suma, a história pouco importa, o desconhecido é mais interessante, mas que haja pelo menos um mínimo pra não provocar confusão, já que não vai elucidar nada. Faltou pouco, mas acho que isso aqui vai virar pérola cult na próxima década.
É uma produção bem boba, um filme bobo. Nem como panfleto ideológico serve, porque fala substância, desenvolvimento.. falta base. Incomoda demais que deliberadamente a narrativa afunile por um maniqueísmo infantil, não é necessário em temas como esse, mas aqui beira uma aventura mesmo, sem consequências.
Em algum lugar ali, no meio de todo esse didatismo, tem um filmaço. O problema é que a premissa esbarra na mão catastrófica da direção que faz questão de mastigar cada ponta, aparar cada possível aresta e seguir a fio o roteiro expositivo, típico do cinema de suspense norte-americano, que insiste em subestimar a inteligência da audiência.
Excessos de diálogos que justificam cada cena para o desfecho, excesso de imagens pra não deixar sequer uma pedra desvirada, nenhuma lacuna, porque coitado do público ter que pensar por conta própria. Incomoda demais que precise ser explicado cada movimento, enquanto muito pouco é feito sobre o desenvolvimento dos personagens, ou que seja entregue personagens completamente irrelevantes pro andar da trama: o que significou os quinze minutos iniciais totalmente focados na mulher da casa? Fica a sensação de que não havia porque, mas era preciso criar uma "distração".
Enfim, uma boa ideia que nas mãos corretas, talvez com uma influência de um cinema mais maduro pro gênero, como o coreano ou francês, mais metragem, e o resultado seria bem mais interessante.
Puro e simples, é um filmaço. Subverte alguns conceitos narrativos do gênero, de que em um thriller de ação/perseguição sempre vai haver o "gato e rato", onde um está sempre perdido e o outro onisciente sempre um passo à frente. A real é que aqui ninguém tem muita noção do que tá acontecendo, uma bagunça cuidadosamente escrita e que só amplia o senso de urgência e capaz de tirar o fôlego.
Acho que desde o início o destino do personagem principal tá condenado, visto como uma barata irrelevante, o próprio acaba caindo de para quedas numa situação muito além da própria compreensão, e acredito que a sua perseverança só indica que sua vida já não tinha mais muito propósito, não fosse chegar até o desfecho daquela bagunça.
Tem a violência desmedida característica, a virada de ritmo no meio da trama e excelentes atuações que entregam um filme redondo e memorável.
Em momento algum Zhao se propõe construir uma crítica político-social, ser um panfleto ideológico ou utilizar a história de um indivíduo como ponta de lança pra refletir sobre o sinal dos tempos, a derrocada do capitalista sonho americano, ou algo que valha. E é louvável a posição adotada. Quem conhece o cinema e a mão da diretora, que aqui toma pra si a hercúlea tarefa de também roteirizar, editar e produzir o filme, sabe que sua abordagem é muito mais intimista, contemplativa, de dentro pra fora.
Lembrei muito de Malick e a forma respeitosa e reverencial com que a câmera lida com a vastidão natural de montanhas, desertos, neve, chuva, intempéries de todo tipo, alvorada, anoitecer. Por outro lado, lembro do início do cinema do chinês Jia e a forma nostálgica com que ele retratava a antiga China, engolida pela modernidade capitalista ocidental, e como tanto da história (e das pessoas) foi varrido da memória social. É a mesma dinâmica de cidades com Empire e a falência de centros urbanos como Detroit, Michigan, e todo o meio oeste americano.
Zhao, então, narra a história daqueles que precisaram partir, fruto da precariedade das relações trabalhistas numa lógica mercantil cada vez mais predatória e com postos de trabalho temporários, é comovente assistir o ser humano tentando se reconciliar com o fato de que ele, ao fim de toda uma vida, é descartável. É possível coexistir uma vida nômade com a preservação da memória dos que não estão mais presentes? E a memória de vidas passadas, em realidades e conjunturas diferentes?
Não sei bem se o propósito do filme é questionar e racionalizar tanto, eu mesmo reduzi o que assisti a uma solidão absoluta, que me enche o peito ao mesmo tempo que me provoca muita tristeza. Penso que seja a raiz do ser humano essa solidão, ainda que buscamos companhia e reconforto ao saber que caminhamos juntos, que outros já percorreram o caminho que hoje trilhamos. Fern não tem mais uma casa, um lar, seja ele fixo ou uma van, não como uma residência geográfica, mas como uma desconexão emocional. Ela não tem mais onde estar. Está em todo lugar e em nenhum lugar ao mesmo tempo.
já é um tema recorrente a genialidade das fotografias de filmes da A24, sabe-se lá como, os caras conseguem cinematógrafos absurdos, constroem uma identidade única, pungente pra filmes que exigem, acima de tudo, uma ambientação e estética impecáveis como parte essencial da engrenagem do cinema proposto. aqui o nome da vez é Ben Fordesman, mais conhecido por porra nenhuma, sendo a curiosidade o fato dele ter construído uma carreira com bicos aqui e ali na indústria cinematográfica em filmes como O Duplo, Prometheus, Cavaleiro das Trevas. aprendeu bem.
ponto sendo, o fato do filme funcionar ou não gira em torno da ambientação criada, em detrimento de uma narrativa que ignora o passado de Maud, as razões que levaram a sua degradação e consequente penitência punitivista, pra exponenciar sua loucura, descolamento da realidade, seus delírios sugestivos e a forma como ela se agarra no fanatismo religioso pra se salvar de si mesma.
de fato, a gente pode nunca compreender totalmente o trauma psicológico que Katie/Maud sofreu a ponto de fragmentar sua personalidade e desengatilhar uma patologia narcisista, mas nada vai ser mais impactante do que aquela cena inicial, nada vai ser mais assustador do que a claustrofobia daquela iluminação.
no centro desse terror psicológico tem uma atuação monumental de Morfydd Clark, destrinchando todas as camadas complexas de uma personagem mentalmente a beira do colapso, até o derradeiro momento em que ela se parte de qualquer fiapo de realidade, e a direção faz questão de deixar bem clara a distinção do que é real, o horror e doloroso, do que é a mente em frangalhos de Maud.
o clique final encerra como um círculo perfeito o filme, simples e assustador. humano até demais.
A julgar pelos comentários aqui, é um filme criminosamente subestimado. Acho que cumpre ao que se propõe, ágil, escuro, gore pesado e que não faz concessões. Pro meu gosto, cabia mais uns 15 minutos na apresentação, talvez desenvolver melhor, ao longo do filme, o seu final. Mas também acredito que a intenção do diretor tenha sido essa, cortar direto pra uma ação frenética e um suspense claustrofóbico. Sobre o final, fica bem claro que a obsessão do personagem com a tal da figura do Harry Green, como um suposto mastermind de toda aquela loucura, é sua mente criando subterfúgios pra lidar com o trauma. Ao fim, quando ele encara a realidade de que, talvez, nada daquilo tinha uma razão de ser, se rompe o seu último elo com a sanidade.
Prova de que apenas uma mulher encabeçando o projeto, aqui no caso dirigindo e roteirizando, não é o suficiente pra romper com velhos clichês, pastelões e momentos de vergonha alheia. Beira o absurdo que, em determinado momento, um dos jovens acabe roçando e ejaculando através da calça em uma das mulheres, sem o consentimento ou consciência dela. Patético. É um desfile de gags vergonhosas, sem qualquer justificativa pra acompanharmos personagens masculinos completamente repulsivos, e personagens femininas rasas como um pires.
É criminosamente subestimado o talento da Sarah Paulson, e o quanto ela pode ser assustadora. Nesse tipo de filme, um suspense/thriller hoje em dia, acho que o mais difícil não é reinventar a roda, revolucionar o gênero ou algo do tipo, mas fazer algo envolvente, bem estruturado e incrível com o comum. Um filme redondinho, bem roteirizado, sem buracos ou falhas e que, pela graça de nosso senhor, a "vítima" não é uma completa imbecil tapada. Final assustador, pra variar.
Nos primeiros cinco minutos já transmitia aquela vibe gostosa/confusa e ligeiramente sem direção de GIRLS. Eu, como fã confesso da série, encarei o filme como um episódio spin off de 90 minutos com a Shoshana. É um filme simples e comum, sobre encontros e desencontros comuns, com a insuportável característica patente de GIRLS: como e porque esse tanto de mulher se apaixonando por um monte de homem bosta. Mas a narrativa funciona, ambientação de Manhattan é sempre apelativa e enche os olhos e a idéia de ter dois filmes em um (presente/flashback) distintos pela armação do óculos de Ben é o que nunca deixa o ritmo cair. Zosia, como sempre, apaixonante.
O grande problema de imergir demais numa narrativa cinematográfica, na minha opinião, é a nossa necessidade humana de interpretar conflitos como em dois pólos extremos, bons x maus, opressor x oprimido, agressor x vítima... o tipo de dualidade que borra as relações humanas e elimina o meio de campo dos diversos tons e complexidade que uma história poderia ter.
O diretor tem culpa nisso, pesa a mão e esquece da sutileza que só aparece no terço final. Como já disseram abaixo, Koreeda fez melhor, Ursula Meier idem, etc. Em todo caso, o panorama está pronto pra termos o menino como vítima absoluta e a mãe como monstro totalitário. Sim, Shuhei é vítima de um ambiente familiar abusivo, violento, tóxico e que provavelmente o danificou pra além de retorno.
A falta de estrutura, de ajuda externa, de que alguém desse a mínima importância pra condição em que essa criança foi criada com certeza contribui. Mas, e aqui é uma opinião apenas, quando podemos responsabilizar Shuhei também pelos seus atos? Ainda que ele não tivesse o menor discernimento do que é certo ou errado, mesmo assim deveria haver um resquício de moral... não? Diversos foram os momentos em que ele se encontrou diante uma escolha, fazer isso ou aquilo, e em todos os casos ele escolheu o caminho destrutivo. Claro, podemos colocar grande culpa disso na sua extrema co dependência da mãe, que a todo instante faz questão de minar sua auto estima, confiança, segurança, como forma de mantê-lo um apêndice de si mesma, sempre servindo como uma extensão de quem ela era, funcionando e servindo suas necessidades.
Mas não caberia a ele se libertar, em último caso? De cortar esse cordão umbilical doentio? Vai de cada um a resposta e de dimensionar a responsabilidade de Shuhei nos seus atos.
Não somos apresentados a nenhuma menção prévia da história de Akiko, ou qualquer vida que ela tenha vivido até esse instante, então a percepção acaba prejudicada. Mas é notório desde o começo que ela sofre de uma severa psicopatia, ausência de auto estima e condenada a se submeter a todo tipo de relação abusiva e, por sua vez, se colocar a total pré disposição de qualquer homem, seja lá por quais motivos de sua psique atormentada.
Mentirosa patológica, acho que o final engrandece o filme e termina com uma explicação silenciosa perfeita: nem Shuhei nem Akiko, no fim das contas, sabem o que é amor. Nem de longe. Agarram-se a uma definição doentia do que é amor, mas o vazio nos olhos, pra mim, ilustra algo em comum nos dois, são psicopatas, tornaram-se psicopatas.
Definiram bem, um comfort movie que te prende pela duração e depois esquece. Nada de ruim com isso, já li algumas críticas por aí que insistem, de toda maneira, forçar a barra pra que todo filme, toda obra daqui pra frente tenha alguma crítica social, incisiva e que seja consciente do espaço/tempo que vivemos e que seja complexo e profundo, e a temática é rasa demais e sei lá mais o que.
Que grande pé no saco.
E daí que é um tour de frivolidades, jantares e drinks em restaurantes de estrelas michelin, voltas por Manhattan de choffer, hotéis clássicos, resorts, e o tédio da classe média alta, engolfada e alienada na própria bolha, nos próprios pequenos problemas.
E. daí.
A Hollywood da Era de Ouro não sobreviveria a esses tempos de justiça social, cancelamentos e demandas autoritárias. Às vezes, no fim de um longo dia, é esse tipo de comfort movie que eu quero assistir, com um copo de cerveja gelada mesmo, aqui no calor do Rio não rola beber on the rocks nenhum destilado a essas horas.
Coppola cria um Woody Allen melhor do que qualquer coisa que o próprio andou fazendo.
Eu queria saber de onde a sinopse tirou esse " jornada épica juntos pelos subúrbios da América Central em decadência". Não existe nada disso, simples assim. Parte de uma faísca de ideia boa, mas logo nos primeiros minutos já prenuncia a tragédia que vai ser. Completamente desastroso, todos os personagens são uma caricatura exagerada, tosca e sem propósito algum, numa trama que não faz o menor sentido.
Fica difícil sequer acompanhar a tal da 'jornada' já que o próprio roteiro não consegue fazer disso nem um , pouco interessante. Uma bobagem saída da cabeça de um adolescente perdido nos anos 80 que andou assistindo muitos filmes do Todd Solondz.
É curioso como o filme envereda por alguns caminhos difíceis, imprevisíveis até dado o tom da primeira metade - parecendo uma comédia romântica com percalços da idade-, desembocando em um pesado drama contemporâneo. Ele tem defeitos, muitos, mas o terço final e sua força salva e dá lucro a uma história comum, que peca por usar como muleta uma boa personagem, e melhor atriz, que poderia ser apropriadamente desenvolvida, mas que fica pelo meio do caminho.
A narrativa cria e monta uma expectativa agridoce sobre as desventuras de dois adolescentes numa metrópole que te engole, invisíveis, são abraçados pela solidão gentil de uma modelo. Como tantas vezes na história do cinema, esperamos por algo, mas essas expectativas de como se seguiria um filme do tipo são atropeladas pela dura realidade, da modelo perdida (uma pena que mal desenvolvida) que não consegue ser recíproca ao carinho dos meninos, mas apenas através daquilo que conhece, o sexo corrompido e sujo, coito frio e interrompido que acaba significando a derrapada do fio de esperança que eles possuíam na situação em que sobreviviam.
É um obra sobre a vida que se segue em meio a dramas menores, de pessoas menores e invisíveis, e que acabam perdidas no tempo.
Noites Brutais
3.4 1,0K Assista AgoraO que mata filmes de terror, em geral, é o hype. A expectativa é a mãe da frustração. Fui assistir sem saber nada prévio do filme, e me surpreendi com o corte radical dos dois atos. São bem diferentes, ambientações diferentes, imagino que a intenção da direção é essa, talvez pra acentuar algum tipo de choque. Pra mim bateu mais ou menos, não sei se encaixou bem a vibe "terrir" com o suspense psicológico criado na primeira parte.
Sobre o mote da trama, pontas soltas e faltou uma maior clareza do que era aquilo que a gente tava vendo, enfim. Vale pela intenção, é um bom filme e honesto.
Não Fale o Mal
3.6 673às vezes a passividade latente de personagens em filmes de terror me incomoda. mas aqui é a força motriz do filme. parece ser o ponto principal, o foco da crítica pra além da violência absurda e sem sentido. em momento algum temos um vislumbre de quem são os antagonistas, seus motivos ou contexto de ação.
pelo contrário, presenciamos com agonia a forma polida e excessivamente submissa, talvez até mesmo um traço cultural moderno, a pretensa educação e permissividade como forma de evitar o confronto, não incomodar, não ser "antagônico", prezando sempre por manter as aparências do 'bem-estar social'.
adultos infantilizados incapazes de estabelecer limites, de dizer um "não".
ao fim beira assistimos de queixo caído como ninguém ali levanta uma mão ou se defende, evitando sempre o confronto. beira o ridículo, mas é o centro do filme. é o que é.
Blonde
2.6 443 Assista Agoratempos complicados esses, de moralismo exacerbado e de ferrenha crítica à liberdade artística/criativa, sem mencionar o déficit cognitivo das pessoas se prestarem a, pelo menos, tentar interpretar uma obra sem um viés... moralista e tacanho.
Zona de Confronto
3.2 13 Assista AgoraImagina esses caras num dia comum aqui no Rio de Janeiro...
A Lenda do Cavaleiro Verde
3.6 475 Assista AgoraReflete a máxima de que não escolhemos como morrer, mas podemos escolher como viver. Cabe a nós decidir o que fazer com o tempo que nos foi dado.
Uma obra-prima visual delirante.
Onde os Fracos Não Têm Vez
4.1 2,4K Assista Agora"and then i woke up." corta pra tela preta. fácil um dos maiores finais da história do cinema. meu guilty pleasure é ocasionalmente ir pro youtube assistir de novo e de novo esse monólogo do tommy lee jones. impecável.
Céu Vermelho-Sangue
3.0 482 Assista AgoraO advanço dos serviços de streaming faz milagres como esses: onde em outras épocas uma porcaria destas ficaria relegada ao esquecimento e seções C de filmes de nicho, produções bem fracas e que por algum motivo acabam vendo a luz das telas, aqui vira febre na Netflix e entra pro ranking dos filmes mais vistos de uma semana.
Sator
2.5 13Dentro daquilo que o filme se propõe, ser uma experiência sensorial, com um foco exclusivo na ambientação em detrimento da narrativa, ele é uma obra de arte. E veja bem, uma obra de arte antes de ser um "filme de terror".
Remete muito mais a um horror absoluto que é exponenciado pela imersão sensorial, inclusive já mencionaram sobre ser um grande ASMR, e não tá errado. Desde o começo dos tempos de filme de terror o uso de edição de som e cortes ajuda a provocar os jump scares e derivados, mas filmes realmente acima da média transcendem essa mediocridade e criam algo que sobressai à média.
Você não tem pavor aqui do trabalho do técnico de som, mas da capacidade do diretor criar um cenário onde todo o contexto é aterrorizante, onde o som preludia o terror por vir . Da fotografia gélida e solitária de inverno, passando pelo silêncio absoluto, das pessoas, dos cômodos, das distâncias. E por fim os enquadramentos que deslocam o objeto principal, se beneficiam de uma câmera estática em grande plano, novamente, apesar da distância, o que te apavora é a sensação de que não há pra onde fugir, como se a quarta parede fosse rompida.
Claro, apesar de tudo isso não é um filme fácil. Sinto que o resultado seria muito mais palatável se não nos fosse empurrada a tarefa de fazer sentido da linha temporal do filme, do quando e quem é o que ali naquele fiapo narrativo. Em suma, a história pouco importa, o desconhecido é mais interessante, mas que haja pelo menos um mínimo pra não provocar confusão, já que não vai elucidar nada. Faltou pouco, mas acho que isso aqui vai virar pérola cult na próxima década.
Willy's Wonderland: Parque Maldito
2.8 205 Assista Agoranicolas cage just went... FULL nicolas cage.
E Amanhã...O Mundo Todo
2.6 20 Assista AgoraÉ uma produção bem boba, um filme bobo. Nem como panfleto ideológico serve, porque fala substância, desenvolvimento.. falta base. Incomoda demais que deliberadamente a narrativa afunile por um maniqueísmo infantil, não é necessário em temas como esse, mas aqui beira uma aventura mesmo, sem consequências.
À Espreita do Mal
3.6 897Em algum lugar ali, no meio de todo esse didatismo, tem um filmaço. O problema é que a premissa esbarra na mão catastrófica da direção que faz questão de mastigar cada ponta, aparar cada possível aresta e seguir a fio o roteiro expositivo, típico do cinema de suspense norte-americano, que insiste em subestimar a inteligência da audiência.
Excessos de diálogos que justificam cada cena para o desfecho, excesso de imagens pra não deixar sequer uma pedra desvirada, nenhuma lacuna, porque coitado do público ter que pensar por conta própria. Incomoda demais que precise ser explicado cada movimento, enquanto muito pouco é feito sobre o desenvolvimento dos personagens, ou que seja entregue personagens completamente irrelevantes pro andar da trama: o que significou os quinze minutos iniciais totalmente focados na mulher da casa? Fica a sensação de que não havia porque, mas era preciso criar uma "distração".
Enfim, uma boa ideia que nas mãos corretas, talvez com uma influência de um cinema mais maduro pro gênero, como o coreano ou francês, mais metragem, e o resultado seria bem mais interessante.
Mar Sangrento
3.8 43Puro e simples, é um filmaço. Subverte alguns conceitos narrativos do gênero, de que em um thriller de ação/perseguição sempre vai haver o "gato e rato", onde um está sempre perdido e o outro onisciente sempre um passo à frente. A real é que aqui ninguém tem muita noção do que tá acontecendo, uma bagunça cuidadosamente escrita e que só amplia o senso de urgência e capaz de tirar o fôlego.
Acho que desde o início o destino do personagem principal tá condenado, visto como uma barata irrelevante, o próprio acaba caindo de para quedas numa situação muito além da própria compreensão, e acredito que a sua perseverança só indica que sua vida já não tinha mais muito propósito, não fosse chegar até o desfecho daquela bagunça.
Tem a violência desmedida característica, a virada de ritmo no meio da trama e excelentes atuações que entregam um filme redondo e memorável.
Nomadland
3.9 896 Assista AgoraEm momento algum Zhao se propõe construir uma crítica político-social, ser um panfleto ideológico ou utilizar a história de um indivíduo como ponta de lança pra refletir sobre o sinal dos tempos, a derrocada do capitalista sonho americano, ou algo que valha. E é louvável a posição adotada. Quem conhece o cinema e a mão da diretora, que aqui toma pra si a hercúlea tarefa de também roteirizar, editar e produzir o filme, sabe que sua abordagem é muito mais intimista, contemplativa, de dentro pra fora.
Lembrei muito de Malick e a forma respeitosa e reverencial com que a câmera lida com a vastidão natural de montanhas, desertos, neve, chuva, intempéries de todo tipo, alvorada, anoitecer. Por outro lado, lembro do início do cinema do chinês Jia e a forma nostálgica com que ele retratava a antiga China, engolida pela modernidade capitalista ocidental, e como tanto da história (e das pessoas) foi varrido da memória social. É a mesma dinâmica de cidades com Empire e a falência de centros urbanos como Detroit, Michigan, e todo o meio oeste americano.
Zhao, então, narra a história daqueles que precisaram partir, fruto da precariedade das relações trabalhistas numa lógica mercantil cada vez mais predatória e com postos de trabalho temporários, é comovente assistir o ser humano tentando se reconciliar com o fato de que ele, ao fim de toda uma vida, é descartável. É possível coexistir uma vida nômade com a preservação da memória dos que não estão mais presentes? E a memória de vidas passadas, em realidades e conjunturas diferentes?
Não sei bem se o propósito do filme é questionar e racionalizar tanto, eu mesmo reduzi o que assisti a uma solidão absoluta, que me enche o peito ao mesmo tempo que me provoca muita tristeza. Penso que seja a raiz do ser humano essa solidão, ainda que buscamos companhia e reconforto ao saber que caminhamos juntos, que outros já percorreram o caminho que hoje trilhamos. Fern não tem mais uma casa, um lar, seja ele fixo ou uma van, não como uma residência geográfica, mas como uma desconexão emocional. Ela não tem mais onde estar. Está em todo lugar e em nenhum lugar ao mesmo tempo.
Você Nem Imagina
3.4 516 Assista AgoraFeel good movie totalmente subestimado. Vi no catálogo da Netflix e não esperava ser tão fofo.
A Vastidão da Noite
3.5 575 Assista Agorauma fraude.
Saint Maud
3.5 334 Assista Agorajá é um tema recorrente a genialidade das fotografias de filmes da A24, sabe-se lá como, os caras conseguem cinematógrafos absurdos, constroem uma identidade única, pungente pra filmes que exigem, acima de tudo, uma ambientação e estética impecáveis como parte essencial da engrenagem do cinema proposto.
aqui o nome da vez é Ben Fordesman, mais conhecido por porra nenhuma, sendo a curiosidade o fato dele ter construído uma carreira com bicos aqui e ali na indústria cinematográfica em filmes como O Duplo, Prometheus, Cavaleiro das Trevas. aprendeu bem.
ponto sendo, o fato do filme funcionar ou não gira em torno da ambientação criada, em detrimento de uma narrativa que ignora o passado de Maud, as razões que levaram a sua degradação e consequente penitência punitivista, pra exponenciar sua loucura, descolamento da realidade, seus delírios sugestivos e a forma como ela se agarra no fanatismo religioso pra se salvar de si mesma.
de fato, a gente pode nunca compreender totalmente o trauma psicológico que Katie/Maud sofreu a ponto de fragmentar sua personalidade e desengatilhar uma patologia narcisista, mas nada vai ser mais impactante do que aquela cena inicial, nada vai ser mais assustador do que a claustrofobia daquela iluminação.
no centro desse terror psicológico tem uma atuação monumental de Morfydd Clark, destrinchando todas as camadas complexas de uma personagem mentalmente a beira do colapso, até o derradeiro momento em que ela se parte de qualquer fiapo de realidade, e a direção faz questão de deixar bem clara a distinção do que é real, o horror e doloroso, do que é a mente em frangalhos de Maud.
o clique final encerra como um círculo perfeito o filme, simples e assustador. humano até demais.
Desespero
2.7 106 Assista AgoraA julgar pelos comentários aqui, é um filme criminosamente subestimado. Acho que cumpre ao que se propõe, ágil, escuro, gore pesado e que não faz concessões. Pro meu gosto, cabia mais uns 15 minutos na apresentação, talvez desenvolver melhor, ao longo do filme, o seu final. Mas também acredito que a intenção do diretor tenha sido essa, cortar direto pra uma ação frenética e um suspense claustrofóbico.
Sobre o final, fica bem claro que a obsessão do personagem com a tal da figura do Harry Green, como um suposto mastermind de toda aquela loucura, é sua mente criando subterfúgios pra lidar com o trauma. Ao fim, quando ele encara a realidade de que, talvez, nada daquilo tinha uma razão de ser, se rompe o seu último elo com a sanidade.
MILF
2.5 63 Assista AgoraProva de que apenas uma mulher encabeçando o projeto, aqui no caso dirigindo e roteirizando, não é o suficiente pra romper com velhos clichês, pastelões e momentos de vergonha alheia. Beira o absurdo que, em determinado momento, um dos jovens acabe roçando e ejaculando através da calça em uma das mulheres, sem o consentimento ou consciência dela. Patético.
É um desfile de gags vergonhosas, sem qualquer justificativa pra acompanharmos personagens masculinos completamente repulsivos, e personagens femininas rasas como um pires.
Fuja
3.4 1,1K Assista AgoraÉ criminosamente subestimado o talento da Sarah Paulson, e o quanto ela pode ser assustadora. Nesse tipo de filme, um suspense/thriller hoje em dia, acho que o mais difícil não é reinventar a roda, revolucionar o gênero ou algo do tipo, mas fazer algo envolvente, bem estruturado e incrível com o comum. Um filme redondinho, bem roteirizado, sem buracos ou falhas e que, pela graça de nosso senhor, a "vítima" não é uma completa imbecil tapada. Final assustador, pra variar.
The Boy Downstairs
3.0 4Nos primeiros cinco minutos já transmitia aquela vibe gostosa/confusa e ligeiramente sem direção de GIRLS. Eu, como fã confesso da série, encarei o filme como um episódio spin off de 90 minutos com a Shoshana. É um filme simples e comum, sobre encontros e desencontros comuns, com a insuportável característica patente de GIRLS: como e porque esse tanto de mulher se apaixonando por um monte de homem bosta. Mas a narrativa funciona, ambientação de Manhattan é sempre apelativa e enche os olhos e a idéia de ter dois filmes em um (presente/flashback) distintos pela armação do óculos de Ben é o que nunca deixa o ritmo cair. Zosia, como sempre, apaixonante.
Laço Materno
3.7 88 Assista AgoraO grande problema de imergir demais numa narrativa cinematográfica, na minha opinião, é a nossa necessidade humana de interpretar conflitos como em dois pólos extremos, bons x maus, opressor x oprimido, agressor x vítima... o tipo de dualidade que borra as relações humanas e elimina o meio de campo dos diversos tons e complexidade que uma história poderia ter.
O diretor tem culpa nisso, pesa a mão e esquece da sutileza que só aparece no terço final. Como já disseram abaixo, Koreeda fez melhor, Ursula Meier idem, etc. Em todo caso, o panorama está pronto pra termos o menino como vítima absoluta e a mãe como monstro totalitário. Sim, Shuhei é vítima de um ambiente familiar abusivo, violento, tóxico e que provavelmente o danificou pra além de retorno.
A falta de estrutura, de ajuda externa, de que alguém desse a mínima importância pra condição em que essa criança foi criada com certeza contribui. Mas, e aqui é uma opinião apenas, quando podemos responsabilizar Shuhei também pelos seus atos? Ainda que ele não tivesse o menor discernimento do que é certo ou errado, mesmo assim deveria haver um resquício de moral... não? Diversos foram os momentos em que ele se encontrou diante uma escolha, fazer isso ou aquilo, e em todos os casos ele escolheu o caminho destrutivo. Claro, podemos colocar grande culpa disso na sua extrema co dependência da mãe, que a todo instante faz questão de minar sua auto estima, confiança, segurança, como forma de mantê-lo um apêndice de si mesma, sempre servindo como uma extensão de quem ela era, funcionando e servindo suas necessidades.
Mas não caberia a ele se libertar, em último caso? De cortar esse cordão umbilical doentio? Vai de cada um a resposta e de dimensionar a responsabilidade de Shuhei nos seus atos.
Não somos apresentados a nenhuma menção prévia da história de Akiko, ou qualquer vida que ela tenha vivido até esse instante, então a percepção acaba prejudicada. Mas é notório desde o começo que ela sofre de uma severa psicopatia, ausência de auto estima e condenada a se submeter a todo tipo de relação abusiva e, por sua vez, se colocar a total pré disposição de qualquer homem, seja lá por quais motivos de sua psique atormentada.
Mentirosa patológica, acho que o final engrandece o filme e termina com uma explicação silenciosa perfeita: nem Shuhei nem Akiko, no fim das contas, sabem o que é amor. Nem de longe. Agarram-se a uma definição doentia do que é amor, mas o vazio nos olhos, pra mim, ilustra algo em comum nos dois, são psicopatas, tornaram-se psicopatas.
On the Rocks
3.3 120Definiram bem, um comfort movie que te prende pela duração e depois esquece. Nada de ruim com isso, já li algumas críticas por aí que insistem, de toda maneira, forçar a barra pra que todo filme, toda obra daqui pra frente tenha alguma crítica social, incisiva e que seja consciente do espaço/tempo que vivemos e que seja complexo e profundo, e a temática é rasa demais e sei lá mais o que.
Que grande pé no saco.
E daí que é um tour de frivolidades, jantares e drinks em restaurantes de estrelas michelin, voltas por Manhattan de choffer, hotéis clássicos, resorts, e o tédio da classe média alta, engolfada e alienada na própria bolha, nos próprios pequenos problemas.
E. daí.
A Hollywood da Era de Ouro não sobreviveria a esses tempos de justiça social, cancelamentos e demandas autoritárias. Às vezes, no fim de um longo dia, é esse tipo de comfort movie que eu quero assistir, com um copo de cerveja gelada mesmo, aqui no calor do Rio não rola beber on the rocks nenhum destilado a essas horas.
Coppola cria um Woody Allen melhor do que qualquer coisa que o próprio andou fazendo.
Uma Historia de Amor Americana
3.6 13 Assista AgoraEu queria saber de onde a sinopse tirou esse " jornada épica juntos pelos subúrbios da América Central em decadência". Não existe nada disso, simples assim. Parte de uma faísca de ideia boa, mas logo nos primeiros minutos já prenuncia a tragédia que vai ser. Completamente desastroso, todos os personagens são uma caricatura exagerada, tosca e sem propósito algum, numa trama que não faz o menor sentido.
Fica difícil sequer acompanhar a tal da 'jornada' já que o próprio roteiro não consegue fazer disso nem um , pouco interessante. Uma bobagem saída da cabeça de um adolescente perdido nos anos 80 que andou assistindo muitos filmes do Todd Solondz.
A Santa do Impossível
3.1 1É curioso como o filme envereda por alguns caminhos difíceis, imprevisíveis até dado o tom da primeira metade - parecendo uma comédia romântica com percalços da idade-, desembocando em um pesado drama contemporâneo.
Ele tem defeitos, muitos, mas o terço final e sua força salva e dá lucro a uma história comum, que peca por usar como muleta uma boa personagem, e melhor atriz, que poderia ser apropriadamente desenvolvida, mas que fica pelo meio do caminho.
A narrativa cria e monta uma expectativa agridoce sobre as desventuras de dois adolescentes numa metrópole que te engole, invisíveis, são abraçados pela solidão gentil de uma modelo. Como tantas vezes na história do cinema, esperamos por algo, mas essas expectativas de como se seguiria um filme do tipo são atropeladas pela dura realidade, da modelo perdida (uma pena que mal desenvolvida) que não consegue ser recíproca ao carinho dos meninos, mas apenas através daquilo que conhece, o sexo corrompido e sujo, coito frio e interrompido que acaba significando a derrapada do fio de esperança que eles possuíam na situação em que sobreviviam.
É um obra sobre a vida que se segue em meio a dramas menores, de pessoas menores e invisíveis, e que acabam perdidas no tempo.