Com o sucesso de público e a boa aceitação da crítica engrenados na temporada anterior, era lógico que a continuação era questão de tempo. Trazendo, novamente, os mesmos personagens principais de anteriormente; a 'season 2' abandona o tom de 'viver intensamente a juventude' da 'season 1', para focar na proximidade da vida adulta e o término do colegial.
Mais maduros, os protagonistas agora, basicamente, são forçados a enfrentar problemas bem mais sérios e lidar com uma série de incertezas. A começar por Tony - depois de aprontar todas na primeira temporada e ser atropelado por um ônibus, ele está impotente e com as funções psíquicas seriamente comprometidas. Quem mais sofre com isso é Michelle, pois Tony não consegue lembrar-se do relacionamento deles e apesar de suas investidas, está inapta diante da situação. Sid, finalmente, conseguiu consolidar sua vida afetiva e sexual com Cassie, mas o namoro dos dois se vê prejudicado com a distância, já que ela está na Escócia. Além disso, Sid tem de lidar com os problemas familiares crescentes. Chris é expulso da escola e tem de encarar, precocemente, a responsabilidade de procurar um emprego e se sustentar. Mas no meio da dificuldade, ele encontra grande apoio em Jal, desencadeando uma inesperada união. Jal, aliás, aparenta estar disposta se livrar da imagem de 'boa menina'. Maxxie tem de enfrentar a resistência dos pais e ir atrás de seu sonho de ser dançarino e Anwar(que perde essencialmente muita importância nessa temporada) não consegue imaginar o que será de sua vida após o término do ginásio.
Uma das novidades da temporada fica por conta da introdução da personagem Sketch, uma jovem, à primeira vista, bastante tímida. Entretanto, descobrimos que Sketch nutre uma obsessão doentia por Maxxie, mesmo sabendo que este é homossexual, e revela-se uma pessoa inescrupulosa, capaz de cometer as tramas mais sórdidas para atingir seus objetivos;e doentia, chegando ao ponto de envolver os seios diariamente com faixas de pano para se parecer cada vez mais com um menino e poder conquistá-lo. Além disso, a atriz Aimee-Ffion Edwards consegue imprimir insanidade à personagem, transmitindo um certo tom de ameaça. O episódio dedicado à ela(o segundo), por sinal, é muito bom. É uma pena, contudo, que os pontos positivos acabem, praticamente, aí; já que após o segundo episódio, a trama de Sketch passe a se resumir a uma tentativa tola de 'vingança' contra Maxxie, através de um envolvimento com Anwar(armação do tipo que os vilões de 'Malhação' fariam). Aliás, a função de Anwar nessa temporada se resume, basicamente, à isso.
Mas se, por um lado, Anwar perde muito de sua importância no enredo e Maxxie quase não evolui; por outro, acompanhamos um grande crescimento dos demais, ancorados em tramas bastante interessantes: temos, por exemplo, o 'quadrado amoroso' que se forma entre Tony, Michelle, Cassie e Sid, com todos seus desdobramentos posteriores - incluindo a jornada de Tony rumo à sua recuperação, a confusão sentimental cada vez maior de Michelle(que, a propósito, torna-se mais relevante nessa 'season 2') , a degradação de Cassie, e a busca de Sid por coragem para decidir seu destino. Mas é com Chris e Jal, que temos a melhor trama da primeira geração, já que os dois acabam protagonizando uma história de amor repleta de intensidade e dramaticidade, que sofre uma série de reviravoltas, incluindo um inesperado e trágico golpe do destino. Quem também ganha mais importância aqui é Effy, a 'coadjuvante de luxo'(já prenunciando o que estaria por vir), que desempenha um importante papel em um momento-chave da história.
E grande parte da qualidade dessas tramas se deve às interpretações mais seguras de grande parte do elenco. Mike Bailey e Nicholas Hoult, conseguem tornar Sid e Tony mais carismáticos, por exemplo. April Pearson, embora ainda esteja relativamente inexpressiva, melhora em relação à temporada anterior. Kaya Scodelario também defende bem sua Effy.Mas quem de fato se destaca é Hannah Murray, Joe Dempsie e Larissa Wilson. Murray encarna bem o aumento da complexidade de Cassie aqui e a torna ainda mais trágica,enigmática e simultaneamente, apaixonante aos olhos do espectador. Já Dempsie e Wilson se adaptam, com vigor, à poderosa carga dramática que o roteiro lhes injeta.
A direção de Bryan Elsley e Jamie Brittain continua conferindo à série, características de uma produção 'indie'. Aqui, a dupla mexe ainda mais com a emoção dos espectadores, e não desperdiça as objetivações do roteiro - trazendo ainda mais as expressões faciais/emocionais do corpo dramático ao centro da tela, não desviando a câmera nos momentos mais incômodos, enfim.... e tudo é combinado com uma inspirada trilha sonora(que está mais tensa que na temporada anterior). O destaque fica por conta da criação de um mundo onírico no episódio 'Tony'. Mas em contrapartida aos pontos positivos, a segunda temporada enfrenta um problema de inconstância: ao mesmo tempo que temos episódios de grande qualidade como 'Tony','Chris','Jal' ou a emocionante 'season finale', temos também episódios abaixo da média como 'Sid','Michelle' e o patético 'Tony and Maxxie'(a 'season intro'). Além disso, por vezes, o seriado ainda insiste em investir em bizarrices gratuitas, em algumas ocasiões, para provocar comicidade ou choque (como a ridícula cena em que Effy se 'diverte' em um sanitário 'móvel').
Uma temporada que tinha tudo para superar a sua antecessora, mas, se não o faz; ao menos, mantém o nível. No fim das contas, assistir "Skins" continua como uma experiência empolgante, intensa e desprovida de plasticidade e falso moralismo (que costumam se fazer presentes em séries 'teen).
Seriados adolescentes tornaram-se marca carimbada no século XXI. As famosas 'high schools' americanas, com seus estudantes atléticos, eram(e ainda são) presença constante nas projeções mundo afora. Entretanto, fugindo do padrão convencional de produções do gênero, o canal E4 lançou, em 2007, a polêmica série "Skins", roteirizada por Bryan Elsley e Jamie Brittain. Dessa vez, nada de mostrar a vida da juventude na alta sociedade ou o embate maniqueísta entre 'cherleaders' malvadas e garotas boazinhas, mas sim a realidade sem limites de oito jovens moradores dos subúrbios britânicos, na cidade de Bristol. A produção causou grande 'frissom', desde seu lançamento, devido às suas cenas de sexo, nudez e uso de drogas.
O calculista Tony lidera o octeto principal; que também conta com sua insegura namorada Michelle, a culta instrumentista Jal, o tresloucado Chris, o virgem Sidney, a perturbada Cassie, o homossexual Maxxie e o muçulmano Anwar. Interpretados por jovens iniciantes no meio artístico, alguns estreantes, os protagonistas de "Skins" em nada se parecem com os jovens idealizados das séries americanas, com rostos bem mais próximos ao visto no cotidiano. Os destaques positivos ficam por conta de Hannah Murray e Joe Dempsie, que compõem de forma divertida seus personagens. Intensos e espirituosos em sua quase totalidade, os personagens constituem a principal força desta temporada e despertam, inevitavelmente, um sentimento de identificação por parte dos espectadores. Uma das ressalvas, contudo, fica por conta da personagem Michelle, uma vez que ela parece existir no seriado apenas em função de Tony (desde sua personalidade até suas ações). Porém, isso é amenizado pela boa química exibida pelo casal, apesar da atuação pouco expressiva de April Pearson.
Além disso, o roteiro acerta por não eufemizar os dramas diários vividos pelos personagens - pois, muito mais do que se preocupar em quem serão os próximos reis do baile de formatura do fim do ano; os jovens de "Skins"enfrentam problemas sérios e reais - sejam eles tabus religiosos, transtornos alimentares, depressão, conflitos de sexualidade, completo abandono familiar, dentre outros. Aliás, o seriado promove, de forma irônica, uma crítica velada aos modelos familiares pós-modernos, já que a grande maioria dos personagens integram famílias disfuncionais ou completamente ausentes. Isso se deve, em grande parte, à forma caricata e ridícula com que os adultos são representados. Ao abolir maniqueísmos, e relativizar os conceitos de 'mocinho' e 'vilão', o roteiro também torna os personagens como objetos de consequência de suas próprias atitudes e mostra que a vida não os redime de pagar, cedo ou tarde, por suas inconsequências. A experiência torna-se menos plástica e mais real, também, com o uso de diálogos mais sinceros e espontâneos; repleto de gírias e palavrões típicos, ditos sem o menor pudor no transcorrer dos episódios. A fotografia não videoclipada também acentua o realismo da série, aliado à trilha sonora repleta de bandas alternativas, o que contribui para conferir uma certa atmosfera 'indie' ao seriado. Outro acerto do seriado, consiste na boa estratégia de dedicar cada episódio à um personagem, o que permite desenvolvê-los melhor; fato que não exclui, de forna alguma, a presença dos demais no capítulo.
E o seriado poderia ser muito mais marcante, se se levasse mais a sério. Todavia, "Skins" peca por, muitas vezes, insistir em tentar provocar comicidade apelando para situações forçadas(o que dizer, por exemplo, dos gritos excessivos e ruidosos de Michelle enquanto ela transa com Tony num quarto, em uma determinada cena, e Jal escuta tudo perfeitamente de outro cômodo distante da casa) e também, exagerando na representação daquela realidade com o claro intento de chocar o espectador(a grande quantidade de xingamentos que o pai de Tony profere contra ele no 'season intro'chega a ser patético). Além disso, em algumas ocasiões, deixa-se de explorar tramas relevantes para focar em situações desnecessárias (como o episódio em que priorizam uma subtrama estúpida de uma ninfeta russa em detrimento de desenvolver com mais profundidade o interessante conflito entre Maxxie e Anwar). Obviamente, se a série fosse desprovida de erros como esse, certamente, estaríamos diante de uma densa produção de drama na tevê aberta.
Não é exagero nenhum afirmar que "Skins" é um 'cult' da atualidade, cujos principais méritos são nos apresentar personagens espirituosos e trazer uma abordagem da adolescência sem plasticidade e moralismos(apesar dos exageros vigentes). O resultado é uma produção calourosa, empolgante e capaz até de provocar um certo choque de realidade no espectador; e mesmo não sendo uma série excepcional, está acima da média das demais produções do gênero, merecendo ser conferida.
Logo em seu momento inicial,''Everybody Hates Chris'' já introduz uma sequência hilária,prenunciando o tom burlesco e irônico que caracterizará toda a série: ''- Antes de virar comediante,achei que ser adolescente seria a coisa mais maneira do mundo'',diz o protagonista em um monólogo,narrado por ele anos depois.Segue-se então,uma cena que ilustra um devaneio representativo de suas expectativas para a adolescência - mostrando-o com um visual ''cool'' oitentista,saindo de um carro,cercado por garotas e admiradores,chegando em uma festa e sendo aplaudido como ícone de popularidade.Há então,um corte abrupto,para uma cena exibindo Chris acordando após gritos histéricos de sua mãe Rochelle,lhe informando sobre seu atraso para o primeiro dia na nova escola.
A partir daí,a série mostrará ao espectador alguns episódios da infortunada vida do comediante Chris Rock,negro(a referência à esse fato é crucial,já que a negritude do protagonista e sua família são aspectos essenciais para diversas objetivações do roteiro),em sua adolescência no bairro do Brooklyn,na década de 80.Obviamente,em um tom hiperbólico e pândego;sem pretensão alguma de representar com fidedignidade como os fatos ocorreram na realidade,mas apenas com o intuito de captar a essência dos acontecimentos e criar situações risíveis;''Everybody Hates Chris'' se desenrola,apostando em ótimos personagens,tramas envolventes e técnicas narrativas criativas;sempre satirizando(e criticando) diversos aspectos daquela sociedade oitentista norte-americana consumista,segregacionista,desigual e cheia de vícios.
A sátira e a crítica já começam quando a mãe de Chris decide enviá-lo para a ''Corleone High School'',uma escola do outro lado da cidade,por acreditar que lá ele receberá uma educação melhor.Tudo por um único e simples motivo:Lá é uma escola de brancos.Já há aí,uma clara denúncia à desigualdade de tratamento conferido às duas etnias. Para chegar na escola,Chris tem de pegar dois transportes coletivos e estar sempre pontualmente na parada.Chegando lá,ele terá de lidar com a intolerância e a indiferença de uma série de alunos que não se aproximam dele pelo simples fato de ser negro.E todo esse preconceito encontra personificação máxima na figura de Caruso:o valentão da escola,que já começa a atormentá-lo no primeiro dia de aula,por conta da cor de sua pele;algo que imputará à Chris perseguições diárias,com a pena de sempre ficar preso no armário na hora da saída ou ter que fugir do linchamento da trupe do vilão escolar no caminho para alcançar o ponto de ônibus.Felizmente,ele poderá contar com a amizade de Greg,que apesar de branco,sofre por não conseguir se adaptar ao modelo comportamental da maioria dos adolescentes daquele meio:Greg é um nerd nem um pouco descolado,tão pouco atraente. Vale mencionar também,que na Corleone,Chris irá se deparar com a hilária e contraditória professora Morello:Apesar de claramente racista e cheia de estereótipos absurdos sobre o povo negro;Morello não trata Chris com indiferença,tão pouco é adepta do ódio racial,ao contrário,aparenta sentir pena dele e toma atitudes,que embora completamente estúpidas,são bem intencionadas e visam ''ajudá-lo''.
E o calvário de Chris não para por aí:ele terá de lidar em casa com o peso de ser o filho mais velho e os conflitos familiares;com as diversas figuras de seu bairro periférico e ainda por cima,pagará o preço por não ser considerado 'interessante' aos demais jovens,o que o leva a ser rejeitado até mesmo pelos outros adolescentes negros. Julius,seu pai,é um homem trabalhador e dedicado à mulher e a prole.É bastante avarento e materialista.Insiste em tratar Chris como um adulto. Rochelle,sua mãe,é uma dona de casa neurótica,consumista,tempestiva e encrenqueira.É muito preocupada com o que as pessoas pensam e faz de tudo para manter a melhor aparência possível de sua família frente ao corpo social(descrita pelo próprio protagonista como uma mulher pobre e soberba).Apesar de tudo,ama muito o marido e os filhos.Sempre responsabiliza Chris por tudo de ruim que acontece na residência e lhe aplica rígidas punições,quase sempre,injustas. Tonya,a irmã mais nova,é uma menina levada,traquina e irresponsável,que sente um prazer sádico em prejudicar o irmão mais velho. Drew,é o irmão do meio e representa tudo aquilo que o irmão queria ser,mas não é:descolado,popular,atraente e sortudo.Além de tudo,parece ser mais velho que o próprio Chris e conquista Tasha,objeto da paixão platônica do protagonista. E ainda há os habitantes marcantes daquele Brooklyn ficcional oitentista:Jeromo,um assaltante cínico,que todos os dias rouba 1 dólar de Chris;Golpe Baixo,um morador de rua alucinado,dentre outros.
E aí,reside um dos principais acertos do seriado:o texto e a direção de Andrew Orenstein poderiam muito bem se perder em suas atribuições,ao retratar com intensa dramaticidade esse universo desagradável onde Chris vive.Todavia,tudo é abordado de forma irreverente e cômica,conseguindo o incrível efeito de nos fazer rir de todas aquelas situações,sem deixar em nenhum momento que fiquemos alheios à todos os problemas enfrentados pelo azarado herói.Por exemplo,é impossível,não se conscientizar da repugnância daquele ambiente escolar extremamente hostil da Corleone High School. Além disso,são usadas todas as características viciosas dos personagens para criar situações caricaturais,através de diálogos engraçados,planos imaginários e saudosas 'gags' visuais;como pode ser percebido nas ótimas piadas sobre o consumismo e a soberba de Rochelle ou sobre a avareza de Julius;os momentos impagáveis dos assaltos diários de Jeromo consentidos por Chris,dentre outros. E claro,é impossível deixar de se mencionar a brilhante técnica da voz em 'off' do narrador onisciente(o próprio Chris Rock),que traça comentários sarcásticos muito bem elaborados,algo que funciona espetacularmente.
Para completar,a série ainda está ancorada em ótimas interpretações.A começar por Tyler James Williams que entrega uma performance bastante satisfatória como o desventurado Chris,obtendo efeitos hilários através de suas expressões faciais exageradas.Os outros destaques ficam por conta de Tichina Arnold,Terry Crews e Jacqueline Mazzarella,aos quais acertam magistralmente na composição da histérica Rochelle,do cauteloso Julius e da esdrúxula Morello,respectivamente.
Contando ainda com uma bela e nostálgica trilha sonora,repleta de flashbacks memoráveis das décadas de 70 e 80,''Everybody Hates Chris'' reafirma-se como uma das melhores produções de comédia da atualidade,completamente compromissada e bem sucedida no objetivo de fazer um humor orgânico e bem elaborado.
Skins - Juventude à Flor da Pele (2ª Temporada)
4.5 486 Assista AgoraCom o sucesso de público e a boa aceitação da crítica engrenados na temporada anterior, era lógico que a continuação era questão de tempo. Trazendo, novamente, os mesmos personagens principais de anteriormente; a 'season 2' abandona o tom de 'viver intensamente a juventude' da 'season 1', para focar na proximidade da vida adulta e o término do colegial.
Mais maduros, os protagonistas agora, basicamente, são forçados a enfrentar problemas bem mais sérios e lidar com uma série de incertezas. A começar por Tony - depois de aprontar todas na primeira temporada e ser atropelado por um ônibus, ele está impotente e com as funções psíquicas seriamente comprometidas. Quem mais sofre com isso é Michelle, pois Tony não consegue lembrar-se do relacionamento deles e apesar de suas investidas, está inapta diante da situação. Sid, finalmente, conseguiu consolidar sua vida afetiva e sexual com Cassie, mas o namoro dos dois se vê prejudicado com a distância, já que ela está na Escócia. Além disso, Sid tem de lidar com os problemas familiares crescentes. Chris é expulso da escola e tem de encarar, precocemente, a responsabilidade de procurar um emprego e se sustentar. Mas no meio da dificuldade, ele encontra grande apoio em Jal, desencadeando uma inesperada união. Jal, aliás, aparenta estar disposta se livrar da imagem de 'boa menina'. Maxxie tem de enfrentar a resistência dos pais e ir atrás de seu sonho de ser dançarino e Anwar(que perde essencialmente muita importância nessa temporada) não consegue imaginar o que será de sua vida após o término do ginásio.
Uma das novidades da temporada fica por conta da introdução da personagem Sketch, uma jovem, à primeira vista, bastante tímida. Entretanto, descobrimos que Sketch nutre uma obsessão doentia por Maxxie, mesmo sabendo que este é homossexual, e revela-se uma pessoa inescrupulosa, capaz de cometer as tramas mais sórdidas para atingir seus objetivos;e doentia, chegando ao ponto de envolver os seios diariamente com faixas de pano para se parecer cada vez mais com um menino e poder conquistá-lo. Além disso, a atriz Aimee-Ffion Edwards consegue imprimir insanidade à personagem, transmitindo um certo tom de ameaça. O episódio dedicado à ela(o segundo), por sinal, é muito bom.
É uma pena, contudo, que os pontos positivos acabem, praticamente, aí; já que após o segundo episódio, a trama de Sketch passe a se resumir a uma tentativa tola de 'vingança' contra Maxxie, através de um envolvimento com Anwar(armação do tipo que os vilões de 'Malhação' fariam). Aliás, a função de Anwar nessa temporada se resume, basicamente, à isso.
Mas se, por um lado, Anwar perde muito de sua importância no enredo e Maxxie quase não evolui; por outro, acompanhamos um grande crescimento dos demais, ancorados em tramas bastante interessantes: temos, por exemplo, o 'quadrado amoroso' que se forma entre Tony, Michelle, Cassie e Sid, com todos seus desdobramentos posteriores - incluindo a jornada de Tony rumo à sua recuperação, a confusão sentimental cada vez maior de Michelle(que, a propósito, torna-se mais relevante nessa 'season 2') , a degradação de Cassie, e a busca de Sid por coragem para decidir seu destino. Mas é com Chris e Jal, que temos a melhor trama da primeira geração, já que os dois acabam protagonizando uma história de amor repleta de intensidade e dramaticidade, que sofre uma série de reviravoltas, incluindo um inesperado e trágico golpe do destino. Quem também ganha mais importância aqui é Effy, a 'coadjuvante de luxo'(já prenunciando o que estaria por vir), que desempenha um importante papel em um momento-chave da história.
E grande parte da qualidade dessas tramas se deve às interpretações mais seguras de grande parte do elenco. Mike Bailey e Nicholas Hoult, conseguem tornar Sid e Tony mais carismáticos, por exemplo. April Pearson, embora ainda esteja relativamente inexpressiva, melhora em relação à temporada anterior. Kaya Scodelario também defende bem sua Effy.Mas quem de fato se destaca é Hannah Murray, Joe Dempsie e Larissa Wilson. Murray encarna bem o aumento da complexidade de Cassie aqui e a torna ainda mais trágica,enigmática e simultaneamente, apaixonante aos olhos do espectador. Já Dempsie e Wilson se adaptam, com vigor, à poderosa carga dramática que o roteiro lhes injeta.
A direção de Bryan Elsley e Jamie Brittain continua conferindo à série, características de uma produção 'indie'. Aqui, a dupla mexe ainda mais com a emoção dos espectadores, e não desperdiça as objetivações do roteiro - trazendo ainda mais as expressões faciais/emocionais do corpo dramático ao centro da tela, não desviando a câmera nos momentos mais incômodos, enfim.... e tudo é combinado com uma inspirada trilha sonora(que está mais tensa que na temporada anterior). O destaque fica por conta da criação de um mundo onírico no episódio 'Tony'.
Mas em contrapartida aos pontos positivos, a segunda temporada enfrenta um problema de inconstância: ao mesmo tempo que temos episódios de grande qualidade como 'Tony','Chris','Jal' ou a emocionante 'season finale', temos também episódios abaixo da média como 'Sid','Michelle' e o patético 'Tony and Maxxie'(a 'season intro'). Além disso, por vezes, o seriado ainda insiste em investir em bizarrices gratuitas, em algumas ocasiões, para provocar comicidade ou choque (como a ridícula cena em que Effy se 'diverte' em um sanitário 'móvel').
Uma temporada que tinha tudo para superar a sua antecessora, mas, se não o faz; ao menos, mantém o nível. No fim das contas, assistir "Skins" continua como uma experiência empolgante, intensa e desprovida de plasticidade e falso moralismo (que costumam se fazer presentes em séries 'teen).
Skins - Juventude à Flor da Pele (1ª Temporada)
4.4 768 Assista AgoraSeriados adolescentes tornaram-se marca carimbada no século XXI. As famosas 'high schools' americanas, com seus estudantes atléticos, eram(e ainda são) presença constante nas projeções mundo afora. Entretanto, fugindo do padrão convencional de produções do gênero, o canal E4 lançou, em 2007, a polêmica série "Skins", roteirizada por Bryan Elsley e Jamie Brittain. Dessa vez, nada de mostrar a vida da juventude na alta sociedade ou o embate maniqueísta entre 'cherleaders' malvadas e garotas boazinhas, mas sim a realidade sem limites de oito jovens moradores dos subúrbios britânicos, na cidade de Bristol. A produção causou grande 'frissom', desde seu lançamento, devido às suas cenas de sexo, nudez e uso de drogas.
O calculista Tony lidera o octeto principal; que também conta com sua insegura namorada Michelle, a culta instrumentista Jal, o tresloucado Chris, o virgem Sidney, a perturbada Cassie, o homossexual Maxxie e o muçulmano Anwar. Interpretados por jovens iniciantes no meio artístico, alguns estreantes, os protagonistas de "Skins" em nada se parecem com os jovens idealizados das séries americanas, com rostos bem mais próximos ao visto no cotidiano. Os destaques positivos ficam por conta de Hannah Murray e Joe Dempsie, que compõem de forma divertida seus personagens.
Intensos e espirituosos em sua quase totalidade, os personagens constituem a principal força desta temporada e despertam, inevitavelmente, um sentimento de identificação por parte dos espectadores. Uma das ressalvas, contudo, fica por conta da personagem Michelle, uma vez que ela parece existir no seriado apenas em função de Tony (desde sua personalidade até suas ações). Porém, isso é amenizado pela boa química exibida pelo casal, apesar da atuação pouco expressiva de April Pearson.
Além disso, o roteiro acerta por não eufemizar os dramas diários vividos pelos personagens - pois, muito mais do que se preocupar em quem serão os próximos reis do baile de formatura do fim do ano; os jovens de "Skins"enfrentam problemas sérios e reais - sejam eles tabus religiosos, transtornos alimentares, depressão, conflitos de sexualidade, completo abandono familiar, dentre outros. Aliás, o seriado promove, de forma irônica, uma crítica velada aos modelos familiares pós-modernos, já que a grande maioria dos personagens integram famílias disfuncionais ou completamente ausentes. Isso se deve, em grande parte, à forma caricata e ridícula com que os adultos são representados.
Ao abolir maniqueísmos, e relativizar os conceitos de 'mocinho' e 'vilão', o roteiro também torna os personagens como objetos de consequência de suas próprias atitudes e mostra que a vida não os redime de pagar, cedo ou tarde, por suas inconsequências.
A experiência torna-se menos plástica e mais real, também, com o uso de diálogos mais sinceros e espontâneos; repleto de gírias e palavrões típicos, ditos sem o menor pudor no transcorrer dos episódios. A fotografia não videoclipada também acentua o realismo da série, aliado à trilha sonora repleta de bandas alternativas, o que contribui para conferir uma certa atmosfera 'indie' ao seriado.
Outro acerto do seriado, consiste na boa estratégia de dedicar cada episódio à um personagem, o que permite desenvolvê-los melhor; fato que não exclui, de forna alguma, a presença dos demais no capítulo.
E o seriado poderia ser muito mais marcante, se se levasse mais a sério. Todavia, "Skins" peca por, muitas vezes, insistir em tentar provocar comicidade apelando para situações forçadas(o que dizer, por exemplo, dos gritos excessivos e ruidosos de Michelle enquanto ela transa com Tony num quarto, em uma determinada cena, e Jal escuta tudo perfeitamente de outro cômodo distante da casa) e também, exagerando na representação daquela realidade com o claro intento de chocar o espectador(a grande quantidade de xingamentos que o pai de Tony profere contra ele no 'season intro'chega a ser patético). Além disso, em algumas ocasiões, deixa-se de explorar tramas relevantes para focar em situações desnecessárias (como o episódio em que priorizam uma subtrama estúpida de uma ninfeta russa em detrimento de desenvolver com mais profundidade o interessante conflito entre Maxxie e Anwar).
Obviamente, se a série fosse desprovida de erros como esse, certamente, estaríamos diante de uma densa produção de drama na tevê aberta.
Não é exagero nenhum afirmar que "Skins" é um 'cult' da atualidade, cujos principais méritos são nos apresentar personagens espirituosos e trazer uma abordagem da adolescência sem plasticidade e moralismos(apesar dos exageros vigentes). O resultado é uma produção calourosa, empolgante e capaz até de provocar um certo choque de realidade no espectador; e mesmo não sendo uma série excepcional, está acima da média das demais produções do gênero, merecendo ser conferida.
Todo Mundo Odeia o Chris (1ª Temporada)
4.4 373 Assista AgoraLogo em seu momento inicial,''Everybody Hates Chris'' já introduz uma sequência hilária,prenunciando o tom burlesco e irônico que caracterizará toda a série:
''- Antes de virar comediante,achei que ser adolescente seria a coisa mais maneira do mundo'',diz o protagonista em um monólogo,narrado por ele anos depois.Segue-se então,uma cena que ilustra um devaneio representativo de suas expectativas para a adolescência - mostrando-o com um visual ''cool'' oitentista,saindo de um carro,cercado por garotas e admiradores,chegando em uma festa e sendo aplaudido como ícone de popularidade.Há então,um corte abrupto,para uma cena exibindo Chris acordando após gritos histéricos de sua mãe Rochelle,lhe informando sobre seu atraso para o primeiro dia na nova escola.
A partir daí,a série mostrará ao espectador alguns episódios da infortunada vida do comediante Chris Rock,negro(a referência à esse fato é crucial,já que a negritude do protagonista e sua família são aspectos essenciais para diversas objetivações do roteiro),em sua adolescência no bairro do Brooklyn,na década de 80.Obviamente,em um tom hiperbólico e pândego;sem pretensão alguma de representar com fidedignidade como os fatos ocorreram na realidade,mas apenas com o intuito de captar a essência dos acontecimentos e criar situações risíveis;''Everybody Hates Chris'' se desenrola,apostando em ótimos personagens,tramas envolventes e técnicas narrativas criativas;sempre satirizando(e criticando) diversos aspectos daquela sociedade oitentista norte-americana consumista,segregacionista,desigual e cheia de vícios.
A sátira e a crítica já começam quando a mãe de Chris decide enviá-lo para a ''Corleone High School'',uma escola do outro lado da cidade,por acreditar que lá ele receberá uma educação melhor.Tudo por um único e simples motivo:Lá é uma escola de brancos.Já há aí,uma clara denúncia à desigualdade de tratamento conferido às duas etnias.
Para chegar na escola,Chris tem de pegar dois transportes coletivos e estar sempre pontualmente na parada.Chegando lá,ele terá de lidar com a intolerância e a indiferença de uma série de alunos que não se aproximam dele pelo simples fato de ser negro.E todo esse preconceito encontra personificação máxima na figura de Caruso:o valentão da escola,que já começa a atormentá-lo no primeiro dia de aula,por conta da cor de sua pele;algo que imputará à Chris perseguições diárias,com a pena de sempre ficar preso no armário na hora da saída ou ter que fugir do linchamento da trupe do vilão escolar no caminho para alcançar o ponto de ônibus.Felizmente,ele poderá contar com a amizade de Greg,que apesar de branco,sofre por não conseguir se adaptar ao modelo comportamental da maioria dos adolescentes daquele meio:Greg é um nerd nem um pouco descolado,tão pouco atraente.
Vale mencionar também,que na Corleone,Chris irá se deparar com a hilária e contraditória professora Morello:Apesar de claramente racista e cheia de estereótipos absurdos sobre o povo negro;Morello não trata Chris com indiferença,tão pouco é adepta do ódio racial,ao contrário,aparenta sentir pena dele e toma atitudes,que embora completamente estúpidas,são bem intencionadas e visam ''ajudá-lo''.
E o calvário de Chris não para por aí:ele terá de lidar em casa com o peso de ser o filho mais velho e os conflitos familiares;com as diversas figuras de seu bairro periférico e ainda por cima,pagará o preço por não ser considerado 'interessante' aos demais jovens,o que o leva a ser rejeitado até mesmo pelos outros adolescentes negros.
Julius,seu pai,é um homem trabalhador e dedicado à mulher e a prole.É bastante avarento e materialista.Insiste em tratar Chris como um adulto.
Rochelle,sua mãe,é uma dona de casa neurótica,consumista,tempestiva e encrenqueira.É muito preocupada com o que as pessoas pensam e faz de tudo para manter a melhor aparência possível de sua família frente ao corpo social(descrita pelo próprio protagonista como uma mulher pobre e soberba).Apesar de tudo,ama muito o marido e os filhos.Sempre responsabiliza Chris por tudo de ruim que acontece na residência e lhe aplica rígidas punições,quase sempre,injustas.
Tonya,a irmã mais nova,é uma menina levada,traquina e irresponsável,que sente um prazer sádico em prejudicar o irmão mais velho.
Drew,é o irmão do meio e representa tudo aquilo que o irmão queria ser,mas não é:descolado,popular,atraente e sortudo.Além de tudo,parece ser mais velho que o próprio Chris e conquista Tasha,objeto da paixão platônica do protagonista.
E ainda há os habitantes marcantes daquele Brooklyn ficcional oitentista:Jeromo,um assaltante cínico,que todos os dias rouba 1 dólar de Chris;Golpe Baixo,um morador de rua alucinado,dentre outros.
E aí,reside um dos principais acertos do seriado:o texto e a direção de Andrew Orenstein poderiam muito bem se perder em suas atribuições,ao retratar com intensa dramaticidade esse universo desagradável onde Chris vive.Todavia,tudo é abordado de forma irreverente e cômica,conseguindo o incrível efeito de nos fazer rir de todas aquelas situações,sem deixar em nenhum momento que fiquemos alheios à todos os problemas enfrentados pelo azarado herói.Por exemplo,é impossível,não se conscientizar da repugnância daquele ambiente escolar extremamente hostil da Corleone High School.
Além disso,são usadas todas as características viciosas dos personagens para criar situações caricaturais,através de diálogos engraçados,planos imaginários e saudosas 'gags' visuais;como pode ser percebido nas ótimas piadas sobre o consumismo e a soberba de Rochelle ou sobre a avareza de Julius;os momentos impagáveis dos assaltos diários de Jeromo consentidos por Chris,dentre outros.
E claro,é impossível deixar de se mencionar a brilhante técnica da voz em 'off' do narrador onisciente(o próprio Chris Rock),que traça comentários sarcásticos muito bem elaborados,algo que funciona espetacularmente.
Para completar,a série ainda está ancorada em ótimas interpretações.A começar por Tyler James Williams que entrega uma performance bastante satisfatória como o desventurado Chris,obtendo efeitos hilários através de suas expressões faciais exageradas.Os outros destaques ficam por conta de Tichina Arnold,Terry Crews e Jacqueline Mazzarella,aos quais acertam magistralmente na composição da histérica Rochelle,do cauteloso Julius e da esdrúxula Morello,respectivamente.
Contando ainda com uma bela e nostálgica trilha sonora,repleta de flashbacks memoráveis das décadas de 70 e 80,''Everybody Hates Chris'' reafirma-se como uma das melhores produções de comédia da atualidade,completamente compromissada e bem sucedida no objetivo de fazer um humor orgânico e bem elaborado.