Vi esse filme antes de dormir e, de tão humano, sensível e sem clichês que é esse trabalho, acordei com a sensação de que havia conhecido Daniel Blake no dia anterior. Retrato cru de um sistema político e financeiro programado para moer gente. É com maestria que "Eu, Daniel Blake" nos apresenta a uma reflexão frustrante, impotente e amarga difícil de aceitar perante os maus tratos e descuidos sofridos pelos seus protagonistas. O cinema faz com que finalmente os representados por Daniel e Kattie possam ser ouvidos e vistos de alguma forma. Inesquecível.
"AmarElo - É Tudo Pra Ontem" desconstrói para construir. É aluno e professor. É poesia e pé no chão. Doc urgente, inquietante e acelerado como um rap. Conta a história da cultura negra no Brasil fazendo paralelos a um show de seu protagonista, o Emicida. Emicida entra com as sementes e sai com as mãos transbordando de frutos. Uma aula.
Que trabalho bem feito. Figurino, montagem, fotografia, roteiro, elenco. Lindo, lindo. O Gambito da Rainha desmistifica o xadrez como esporte chato e monótono. A prática ganha tons tensos, emocionais, políticos e sociais; vira dança, ciência e arte nas mãos de uma direção competente. Diante do tabuleiro, Beth Harmon, nossa protagonista, sente um prazer inenarrável pelo poder de controlar as peças, seus destinos e até os movimentos do oponente, algo que não pode fazer com sua vida fora do xadrez. Beth pode finalmente se sentir sua própria heroína, a senhora de sua própria sorte. Belíssimo e inspirador.
Professor Polvo é uma produção sul-africana original da Netflix. Neste documentário, dotado de sensibilidade, acompanhamos a relação entre um cineasta/pesquisador e um polvo. Mergulhamos nessa aventura íntima e corajosa de Craig Foster que, através de uma competente narrativa, montagem e ambiente deslumbrante, nos possibilita ver através de seus olhos. Por um momento, tornam-se inseparáveis o homem do mar. Neste ambiente selvagem e extraordinário, Craig vê humor, poesia, graciosidade, conflito bioético e impetuosidade enquanto mergulha mais profundamente na vida do oceano e em seu próprio sentido de existência. Belíssimo.
Com um roteiro inspirado em histórias reais, Anjos do Sol (2006) é mais uma grande obra do cinema nacional. Escancara a tragédia da exploração sexual de meninas miseráveis no Brasil, tema quase intocável e desprezado pela política nacional e pela população. Aqui temos uma ferida exposta, impossível de ser varrida para debaixo do tapete. Olhe, veja. A cada cena, somos tomados por uma desesperança e desespero provocados pelo abandono; onde não existe lei, direitos humanos, saúde, dignidade. Onde apenas existe perversidade e esquecimento. Estima-se que 100 mil crianças são exploradas sexualmente no país. Com um elenco de respeito e uma trilha sonora arrebatadora, Anjos do Sol é um soco no estômago. Talvez um filme para se ver apenas uma vez. [GATILHO] [VIOLÊNCIA]
"Bom dia. Verônica" (+18) é um grande thriller nacional que estreou ontem na Netflix. Um soco no estômago. Viciante e com um elenco afiado, que fica mais entrosado a cada episódio, a série interpela com maestria o tema [VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER] em inúmeros aspectos. O núcleo Camila Morgado e Eduardo Moscovis como marido e mulher é espetacular e apavorante. Não foi fácil de assistir. Delicado, violento, sensível e com grandes cenas de ação alavancadas pela trilha sonora constante e eletrizante. Não consegui piscar. [GATILHO] [SUICÍDIO] [VIOLÊNCIA SEXUAL] [TORTURA]
Coisa Mais Linda é uma série nacional envolvente, sedutora e carismática. Com uma fotografia e qualidade de som impecáveis, somos levados a um universo de muita beleza que enchem os olhos e os ouvidos. Que coisa mais linda. A série faz jus ao nome. Apesar do show de clichês e alguns assuntos mal desenvolvidos, a qualidade técnica é estupenda e o elenco é tão cativante que faz com que o telespectador se envolva com seus personagens e até possa esquecer o que poderia ter sido melhor, mas não foi. A Bossa Nova dá o tom especial necessário. Com "um cantinho, um violão; esse amor, uma canção para fazer feliz a quem se ama". Inesquecível.
Quem nasceu primeiro: a destruição ou os destruídos? Amy Adams traz a verdade chocante nos olhos e no corpo traumatizado de sua personagem, Camille Preaker. Podemos acompanhar Camille nessa viagem sofrida ao passado que infelizmente carrega em si mesma. Minissérie densa e de uma sutileza gigante nos detalhes e na fotografia. Violência verbal e moral de porcelana; ventiladores que apenas giram devagar; uma cidade pequena que prefere a sujeira no fundo de um lago do que exposta e remexida. Em Sharp Objects, palavras e atos cortam muita mais do que objetos. Quando convivemos com pessoas, muitas pontas afiadas ficam soltas e muitas vezes somos cortados pelo o que não podemos ver e saber. Para quem gosta de thriller psicológico, é um prato cheio.
Coloque suas angústias para fora. Vomite-as, queime-as e depois floresça. "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite" é como um conto de terror psicológico no estilo ou você o adora ou odeia. Confesso que não foi fácil assisti-lo. Nele, acompanhamos Dani que, após passar por um processo traumático, vai com o namorado e seus amigos para um festival de verão em uma comunidade isolada na Suécia. Somos expostos a um caldeirão de magia, alucinações, emoções e tormentos que vêm do invisível, do desconhecido, dos incompreensíveis labirintos da mente. Destaque para a atriz protagonista Florence Pugh, que entrega muita verdade em seus olhos, e para o trabalho fotográfico, que faz com que o cenário vire uma grande narrativa. Experiência impactante e com muitas cenas inesquecíveis.
Teria razão a frase "A poesia e a política são demais para um só homem" dita em 'Terra em Transe' (1967)? O Beijo da Mulher-Aranha é com justiça uma das maiores obras do cinema nacional. Com grande elenco e direção, o longa nos envolve em uma dor claustrofóbica e desesperançosa do cárcere, que talvez apenas possa ser curada com arte e poesia, como nos é passado por um dos seus protagonistas. De um lado da cela, Molina se dedica a uma fuga genuína da realidade por meio do cinema e de sonhos, relembrando diariamente cenas do seu filme favorito; do outro, temos Valentin, um jornalista, preso político torturado, que não se dá o direito de ser seduzido e de levar sua mente um pouco para fora da realidade. Valentin resiste à tortura, ao carinho, ao conforto e até a uma boa comida. Ele tem pavor do que está por trás, do que ele não pode ver e como pode ser seduzido. Dois personagens, quase opostos, presos em uma mesma cela e muito bem trabalhados; grande trilha sonora e direção de Héctor Babenco. Vale a pena conferir.
Quando me toca a alma, vejo que algo deu certo. Esse foi mais um presente do cinema nacional. "Gabriel e A Montanha" é um filme/documentário. A direção e seus atores nos levam para uma viagem ao lado de um protagonista, felizmente, nada perfeito. Com sua simplicidade, desprendimento, privilégios que ele vê e não vê, Gabriel conquista confiança e amizade da maioria pessoas que encontra. O longa se torna uma experiência, viajamos juntos nessa jornada. Utilizar não-atores, pessoas que conviveram com Gabriel, deu um toque único e inesquecível à obra. Especial.
Reflexivo e impactante, com uma sensível trilha sonora, Deus e o Diabo na Terra do Sol me trouxe a dor de um discurso que deveria existir apenas passado, mas infelizmente é muito mais do que atual. Quando se é miserável em inúmeros aspectos, você cai - de alguma forma - pelo boi, pela bala ou pela bíblia. Assim foi seu protagonista Manuel, como próprio povo personificado em si mesmo. Vive em um eterno "morrer e matar de fome, de raiva e de sede". Grande filme que, apesar dos seus longos momentos monótonos e algumas interpretações apáticas, é experiência inesquecível. Othon Bastos é um show à parte.
Inferior à terceira temporada, a quarta temporada de La Casa de Papel investe na personalidade e sentimentos dos seus personagens, ação, diálogos inúteis e enrolação. Fui tomada por uma sensação frustrante, aquela em que sentimos nossa inteligência subestimada por quem escreveu os roteiros. É decepcionante a quantidade de cenas inverossímeis: uma polícia sempre imbecil; um vilão que sobrevive a muitas situações absurdas; um casal que namora enquanto são caçados por um assassino; um gênio do improviso, da estratégia e das artimanhas - O Professor - que demora a pensar na solução mais óbvia. O dramalhão constrangedor de algumas cenas não deu certo. Perderam dois personagens incríveis durante grande parte dos episódios: um ficou preso a uma cadeira e o outro ficou machucado em uma cama. A série ainda diverte em alguns momentos e ainda tem um belo trabalho de fotografia. Os dois últimos episódios da temporada, os melhores, não salvaram o estrago que foram os outros.
O mundo de uma mãe começa a desmoronar quando seu filho mais velho é convidado para jogar em um time na Alemanha. "Benzinho" é psicologicamente precioso. Ele aborda temas sensíveis como o "corte do cordão umbilical", crise econômica, família e ascensão social. Karina Teles e Adriana Esteves entregam muito; interpretações inesquecíveis. Somos inundados pelas expressões não-caricatas de Karina, pelo seu rosto marcante e presença em vários closes. Como é difícil deixar ir a casa, a loja, o controle, o filho. Nem tudo funciona no longa, mas ele se torna, a cada cena, uma grande experiência.
Depois de um bom tempo de monotonia - algumas ideias se repetem e algumas cenas são muito longas para o que os diálogos oferecem - A Vida Secreta de Walter Mitty entra em um embalo razoável com acontecimentos inesperados e muitos clichês. Após ver o mundo através das fotos (de outros fotógrafos) que revelava, Walter sonha acordado e perde momentos importantes de sua vida. Filme leve, aquele famoso "sessão da tarde". Boa fotografia. O longa segue na média de outros filmes no estilo auto-ajuda, o de sempre. Ben Stiler em forma, ao lado de Shirley Mclaine, Sean Penn e ótimo elenco, traz muito carisma ao personagem e podemos perceber em toda sua linguagem corporal um fruto ficando maduro. Grande trabalho do ator. O desfecho é o ápice, vem com chave de ouro.
"Nós nos contamos uma história para poder viver." A palavra coragem define O Conto. Genial roteiro sem clichês emotivos e cheio de sensibilidade. Jennifer Fox é uma documentarista que busca a verdade do outro. Em um contraponto com sua própria profissão, ela passa a descobrir suas próprias verdades e sua própria ficção exorcizando seus demônios, como em um processo terapêutico. Em uma caça pela veracidade e de como tais fatos influenciaram sua vida, Jenny e Jennifer conversam e se unem congelando espaços, tempos, momentos, sensações e memórias para construir cada peça de um quebra cabeça dentro de suas próprias mentes. Não é para qualquer um. O longa possui inúmeros [GATILHOS] nos temas abuso sexual e pedofilia. Assistem com cuidado. Grandioso.
Ficou claro que obviamente utilizaram dublê de corpo para a criança. De certa forma, isso ter ficado óbvio me ajudou a ficar menos perturbada - chocada mesmo assim - mentalmente com tamanha violência.
Na minha memória, guardarei para sempre o momento em que ela descobre que era mais inocente do que se lembrava e acontece a troca de atrizes que faziam a Jenny.
A arte da contemplação ou do tédio? Para mim, da contemplação. Boi Neon foi a arte da apreciação e imersão em um mundo que me é desconhecido: o dos bastidores da vaquejada. De fotografia lindíssima, o longa passeia naquele ambiente árido pacientemente, sem desespero, sem tédio e sem fim. A fotografia tira poesia e encantamento de um ambiente bronco. A vida apenas acontece: um descanso, um sonho, um balde, um perfume, um rabo de boi. Em um meio de tanta repetição e monotonia para nossos olhos viciados em tecnologias e novidades, o protagonista costura e, ao criar roupas, vive seu momento de ir além. Aliás, sem limitar seus personagens a rótulos, o roteiro os fez vivos, reais. Iremar não era um cavalo, mas brilhava na escuridão, assim como o coitado do boi; brilhava, mesmo que nos bastidores, no protagonismo de sua vida. Foi difícil terminar Boi Neon e voltar à realidade de que tudo foi ficção e admitir que Iremar, Cacá e Galega não estão por aí vivendo um dia de cada vez.
Uma obra sobre o tempo, o tempo que é indomável. Almodóvar, sempre sensível, corajoso e paciente. Ele me desperta o prazer e o interesse em conhecer seus personagens e suas histórias. Dor e Glória me fez lembrar por que amo cinema: uma carta perdida por 50 anos, o céu visto de uma caverna, o céu falso no teto de um consultório, o primeiro desejo. Detalhes. Foi um prazer ver Antonio tão ponderado e criterioso nesse personagem que até fisicamente lembra Almodóvar. Poucas vezes podemos ver o tema homossexualidade tratado com tanta delicadeza. Obrigada por mais esse clássico, querido.
Apesar do grande elenco e tema imprescindível, vi "O Escândalo" como um filme sem coragem, cheio de caricaturas e clichês. Proposta pouco aprofundada e acontecimentos retratados de maneira corrida. As personagens estão distantes de nós e não vimos as perspectiva de cada uma delas, sabemos meramente alguns dos seus interesses. As tomadas de câmera e a direção de arte fizeram o longa parecer uma série televisiva quase divertida. Embora o filme consiga nos levar para dentro do clima da empresa, é o que me parece, toda a capacidade dramática e íntima foi diluída por personagens erroneamente tratadas de maneira frívola. Os abusos foram retratados com uma leveza descabida que o tema não pede. Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie, mesmo com excelentes trabalhos, não conseguiram salvar essa narrativa.
Precioso e contido. Fazer uma sátira de um tema doloroso e cruel da história não é para qualquer um. Sempre me perturba a possibilidade de banalizar algo intolerável, mas a intenção foi essa: mostrar como a idolatria pode trivializar o mal; ridicularizar monstros fanáticos. Adorei a ideia de uma sátira sobre nazismo dentro de um contexto infantil, mas depois de um tempo o tom da conversa muda e a proposta também. Achei que faltou pisar ainda mais fundo, mas valeu. Scarlett Johansson não falhou mais uma vez. Roman Griffin Davis, o Jojo Rabbit, promete. Grande talento. "Yorki" é o personagem mais fofo do mundo.
Cenas que vão ficar na minha memória por um tempo: os sapatos da mãe de Jojo pendurados em praça pública; demorei para me recompor. Entrada triunfal que associa a histeria nazista com a a histeria de fãs dos Beatles. Scarlett Johasson fazendo a mãe e o pai de Jojo ao mesmo tempo. Elsa, a moça judia, fazendo uma demonstração de força tapando a boca de Jojo e tentando "tirar o nazismo do corpo dele".
"O muraquitã é pedra da sorte, daí eu fiquei rico, e como dinheiro também dá sorte, fiquei riquíssimo."
"Um por um e Deus contra."
Cheio de frases marcantes, Macunaíma é uma experiência distinta. Torna-se necessário ir de peito aberto, deixar-se levar e experenciar esse universo exagerado, psicodélico e, ao mesmo tempo, muito consciente que foi criado no filme. O longa é cheio detalhes e sutilezas que passeiam pela história do Brasil e seu folclore. É possível saborear e decifrar muitas alegorias presentes nas questões de raças, comportamento, cultura e história. O "herói sem caráter", protagonista da trama, tem problemas com a própria identidade, é indefinido em inúmeros aspectos. Sua principal característica é a preguiça e a malandragem. Com grande elenco e direção audaciosa, Macunaíma vale "toda a pena".
A cronologia é confusa; o presente, o passado e o futuro não são bem identificados. Faltou explicar muitas coisas, muitos elementos. Os castelos e lugares não são bem marcados e apresentados. Mesmo assim, valeu meu tempo e diverte. Espero que melhore na segunda temporada.
Eu, Daniel Blake
4.3 533 Assista AgoraVi esse filme antes de dormir e, de tão humano, sensível e sem clichês que é esse trabalho, acordei com a sensação de que havia conhecido Daniel Blake no dia anterior. Retrato cru de um sistema político e financeiro programado para moer gente. É com maestria que "Eu, Daniel Blake" nos apresenta a uma reflexão frustrante, impotente e amarga difícil de aceitar perante os maus tratos e descuidos sofridos pelos seus protagonistas. O cinema faz com que finalmente os representados por Daniel e Kattie possam ser ouvidos e vistos de alguma forma. Inesquecível.
"Morreu na contramão atrapalhando o sábado".
AmarElo - É Tudo Pra Ontem
4.6 354 Assista Agora"AmarElo - É Tudo Pra Ontem" desconstrói para construir. É aluno e professor. É poesia e pé no chão. Doc urgente, inquietante e acelerado como um rap. Conta a história da cultura negra no Brasil fazendo paralelos a um show de seu protagonista, o Emicida. Emicida entra com as sementes e sai com as mãos transbordando de frutos. Uma aula.
O Céu da Meia-Noite
2.7 510Terminou antes de começar. Um filme que não diz o que veio fazer e aonde quer chegar. Nada por nada. Uma pena.
A Festa de Formatura
3.1 238Decepcionada.
O Gambito da Rainha
4.4 931 Assista AgoraQue trabalho bem feito. Figurino, montagem, fotografia, roteiro, elenco. Lindo, lindo. O Gambito da Rainha desmistifica o xadrez como esporte chato e monótono. A prática ganha tons tensos, emocionais, políticos e sociais; vira dança, ciência e arte nas mãos de uma direção competente. Diante do tabuleiro, Beth Harmon, nossa protagonista, sente um prazer inenarrável pelo poder de controlar as peças, seus destinos e até os movimentos do oponente, algo que não pode fazer com sua vida fora do xadrez. Beth pode finalmente se sentir sua própria heroína, a senhora de sua própria sorte. Belíssimo e inspirador.
Professor Polvo
4.2 387 Assista AgoraProfessor Polvo é uma produção sul-africana original da Netflix. Neste documentário, dotado de sensibilidade, acompanhamos a relação entre um cineasta/pesquisador e um polvo. Mergulhamos nessa aventura íntima e corajosa de Craig Foster que, através de uma competente narrativa, montagem e ambiente deslumbrante, nos possibilita ver através de seus olhos. Por um momento, tornam-se inseparáveis o homem do mar. Neste ambiente selvagem e extraordinário, Craig vê humor, poesia, graciosidade, conflito bioético e impetuosidade enquanto mergulha mais profundamente na vida do oceano e em seu próprio sentido de existência. Belíssimo.
Anjos do Sol
4.0 409Com um roteiro inspirado em histórias reais, Anjos do Sol (2006) é mais uma grande obra do cinema nacional. Escancara a tragédia da exploração sexual de meninas miseráveis no Brasil, tema quase intocável e desprezado pela política nacional e pela população. Aqui temos uma ferida exposta, impossível de ser varrida para debaixo do tapete. Olhe, veja. A cada cena, somos tomados por uma desesperança e desespero provocados pelo abandono; onde não existe lei, direitos humanos, saúde, dignidade. Onde apenas existe perversidade e esquecimento. Estima-se que 100 mil crianças são exploradas sexualmente no país. Com um elenco de respeito e uma trilha sonora arrebatadora, Anjos do Sol é um soco no estômago. Talvez um filme para se ver apenas uma vez.
[GATILHO] [VIOLÊNCIA]
Bom Dia, Verônica (1ª Temporada)
4.2 760 Assista Agora"Bom dia. Verônica" (+18) é um grande thriller nacional que estreou ontem na Netflix. Um soco no estômago. Viciante e com um elenco afiado, que fica mais entrosado a cada episódio, a série interpela com maestria o tema [VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER] em inúmeros aspectos. O núcleo Camila Morgado e Eduardo Moscovis como marido e mulher é espetacular e apavorante. Não foi fácil de assistir. Delicado, violento, sensível e com grandes cenas de ação alavancadas pela trilha sonora constante e eletrizante. Não consegui piscar.
[GATILHO] [SUICÍDIO] [VIOLÊNCIA SEXUAL] [TORTURA]
Coisa Mais Linda (2ª Temporada)
4.1 225Coisa Mais Linda é uma série nacional envolvente, sedutora e carismática. Com uma fotografia e qualidade de som impecáveis, somos levados a um universo de muita beleza que enchem os olhos e os ouvidos. Que coisa mais linda. A série faz jus ao nome. Apesar do show de clichês e alguns assuntos mal desenvolvidos, a qualidade técnica é estupenda e o elenco é tão cativante que faz com que o telespectador se envolva com seus personagens e até possa esquecer o que poderia ter sido melhor, mas não foi. A Bossa Nova dá o tom especial necessário. Com "um cantinho, um violão; esse amor, uma canção para fazer feliz a quem se ama". Inesquecível.
Objetos Cortantes
4.3 833 Assista AgoraQuem nasceu primeiro: a destruição ou os destruídos? Amy Adams traz a verdade chocante nos olhos e no corpo traumatizado de sua personagem, Camille Preaker. Podemos acompanhar Camille nessa viagem sofrida ao passado que infelizmente carrega em si mesma. Minissérie densa e de uma sutileza gigante nos detalhes e na fotografia. Violência verbal e moral de porcelana; ventiladores que apenas giram devagar; uma cidade pequena que prefere a sujeira no fundo de um lago do que exposta e remexida. Em Sharp Objects, palavras e atos cortam muita mais do que objetos. Quando convivemos com pessoas, muitas pontas afiadas ficam soltas e muitas vezes somos cortados pelo o que não podemos ver e saber. Para quem gosta de thriller psicológico, é um prato cheio.
Uma pena terem resolvido algumas coisas tão rapidamente no último episódio. A cena após os créditos não foi fácil de ver.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraColoque suas angústias para fora. Vomite-as, queime-as e depois floresça. "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite" é como um conto de terror psicológico no estilo ou você o adora ou odeia. Confesso que não foi fácil assisti-lo. Nele, acompanhamos Dani que, após passar por um processo traumático, vai com o namorado e seus amigos para um festival de verão em uma comunidade isolada na Suécia. Somos expostos a um caldeirão de magia, alucinações, emoções e tormentos que vêm do invisível, do desconhecido, dos incompreensíveis labirintos da mente. Destaque para a atriz protagonista Florence Pugh, que entrega muita verdade em seus olhos, e para o trabalho fotográfico, que faz com que o cenário vire uma grande narrativa. Experiência impactante e com muitas cenas inesquecíveis.
[GATILHO]: suicídio.
O Beijo da Mulher-Aranha
3.9 256 Assista AgoraTeria razão a frase "A poesia e a política são demais para um só homem" dita em 'Terra em Transe' (1967)? O Beijo da Mulher-Aranha é com justiça uma das maiores obras do cinema nacional. Com grande elenco e direção, o longa nos envolve em uma dor claustrofóbica e desesperançosa do cárcere, que talvez apenas possa ser curada com arte e poesia, como nos é passado por um dos seus protagonistas. De um lado da cela, Molina se dedica a uma fuga genuína da realidade por meio do cinema e de sonhos, relembrando diariamente cenas do seu filme favorito; do outro, temos Valentin, um jornalista, preso político torturado, que não se dá o direito de ser seduzido e de levar sua mente um pouco para fora da realidade. Valentin resiste à tortura, ao carinho, ao conforto e até a uma boa comida. Ele tem pavor do que está por trás, do que ele não pode ver e como pode ser seduzido. Dois personagens, quase opostos, presos em uma mesma cela e muito bem trabalhados; grande trilha sonora e direção de Héctor Babenco. Vale a pena conferir.
Gabriel e a Montanha
3.7 141 Assista AgoraQuando me toca a alma, vejo que algo deu certo. Esse foi mais um presente do cinema nacional. "Gabriel e A Montanha" é um filme/documentário. A direção e seus atores nos levam para uma viagem ao lado de um protagonista, felizmente, nada perfeito. Com sua simplicidade, desprendimento, privilégios que ele vê e não vê, Gabriel conquista confiança e amizade da maioria pessoas que encontra. O longa se torna uma experiência, viajamos juntos nessa jornada. Utilizar não-atores, pessoas que conviveram com Gabriel, deu um toque único e inesquecível à obra. Especial.
Deus e o Diabo na Terra do Sol
4.1 429 Assista AgoraReflexivo e impactante, com uma sensível trilha sonora, Deus e o Diabo na Terra do Sol me trouxe a dor de um discurso que deveria existir apenas passado, mas infelizmente é muito mais do que atual. Quando se é miserável em inúmeros aspectos, você cai - de alguma forma - pelo boi, pela bala ou pela bíblia. Assim foi seu protagonista Manuel, como próprio povo personificado em si mesmo. Vive em um eterno "morrer e matar de fome, de raiva e de sede". Grande filme que, apesar dos seus longos momentos monótonos e algumas interpretações apáticas, é experiência inesquecível. Othon Bastos é um show à parte.
La Casa de Papel (Parte 4)
3.7 658 Assista AgoraInferior à terceira temporada, a quarta temporada de La Casa de Papel investe na personalidade e sentimentos dos seus personagens, ação, diálogos inúteis e enrolação. Fui tomada por uma sensação frustrante, aquela em que sentimos nossa inteligência subestimada por quem escreveu os roteiros. É decepcionante a quantidade de cenas inverossímeis: uma polícia sempre imbecil; um vilão que sobrevive a muitas situações absurdas; um casal que namora enquanto são caçados por um assassino; um gênio do improviso, da estratégia e das artimanhas - O Professor - que demora a pensar na solução mais óbvia. O dramalhão constrangedor de algumas cenas não deu certo. Perderam dois personagens incríveis durante grande parte dos episódios: um ficou preso a uma cadeira e o outro ficou machucado em uma cama. A série ainda diverte em alguns momentos e ainda tem um belo trabalho de fotografia. Os dois últimos episódios da temporada, os melhores, não salvaram o estrago que foram os outros.
Benzinho
3.9 348 Assista AgoraO mundo de uma mãe começa a desmoronar quando seu filho mais velho é convidado para jogar em um time na Alemanha. "Benzinho" é psicologicamente precioso. Ele aborda temas sensíveis como o "corte do cordão umbilical", crise econômica, família e ascensão social. Karina Teles e Adriana Esteves entregam muito; interpretações inesquecíveis. Somos inundados pelas expressões não-caricatas de Karina, pelo seu rosto marcante e presença em vários closes. Como é difícil deixar ir a casa, a loja, o controle, o filho. Nem tudo funciona no longa, mas ele se torna, a cada cena, uma grande experiência.
A Vida Secreta de Walter Mitty
3.8 2,0K Assista AgoraDepois de um bom tempo de monotonia - algumas ideias se repetem e algumas cenas são muito longas para o que os diálogos oferecem - A Vida Secreta de Walter Mitty entra em um embalo razoável com acontecimentos inesperados e muitos clichês. Após ver o mundo através das fotos (de outros fotógrafos) que revelava, Walter sonha acordado e perde momentos importantes de sua vida. Filme leve, aquele famoso "sessão da tarde". Boa fotografia. O longa segue na média de outros filmes no estilo auto-ajuda, o de sempre. Ben Stiler em forma, ao lado de Shirley Mclaine, Sean Penn e ótimo elenco, traz muito carisma ao personagem e podemos perceber em toda sua linguagem corporal um fruto ficando maduro. Grande trabalho do ator. O desfecho é o ápice, vem com chave de ouro.
O Conto
4.1 339 Assista Agora"Nós nos contamos uma história para poder viver." A palavra coragem define O Conto. Genial roteiro sem clichês emotivos e cheio de sensibilidade. Jennifer Fox é uma documentarista que busca a verdade do outro. Em um contraponto com sua própria profissão, ela passa a descobrir suas próprias verdades e sua própria ficção exorcizando seus demônios, como em um processo terapêutico. Em uma caça pela veracidade e de como tais fatos influenciaram sua vida, Jenny e Jennifer conversam e se unem congelando espaços, tempos, momentos, sensações e memórias para construir cada peça de um quebra cabeça dentro de suas próprias mentes. Não é para qualquer um. O longa possui inúmeros [GATILHOS] nos temas abuso sexual e pedofilia. Assistem com cuidado.
Grandioso.
Ficou claro que obviamente utilizaram dublê de corpo para a criança. De certa forma, isso ter ficado óbvio me ajudou a ficar menos perturbada - chocada mesmo assim - mentalmente com tamanha violência.
Na minha memória, guardarei para sempre o momento em que ela descobre que era mais inocente do que se lembrava e acontece a troca de atrizes que faziam a Jenny.
Boi Neon
3.6 461A arte da contemplação ou do tédio? Para mim, da contemplação. Boi Neon foi a arte da apreciação e imersão em um mundo que me é desconhecido: o dos bastidores da vaquejada. De fotografia lindíssima, o longa passeia naquele ambiente árido pacientemente, sem desespero, sem tédio e sem fim. A fotografia tira poesia e encantamento de um ambiente bronco. A vida apenas acontece: um descanso, um sonho, um balde, um perfume, um rabo de boi. Em um meio de tanta repetição e monotonia para nossos olhos viciados em tecnologias e novidades, o protagonista costura e, ao criar roupas, vive seu momento de ir além. Aliás, sem limitar seus personagens a rótulos, o roteiro os fez vivos, reais. Iremar não era um cavalo, mas brilhava na escuridão, assim como o coitado do boi; brilhava, mesmo que nos bastidores, no protagonismo de sua vida. Foi difícil terminar Boi Neon e voltar à realidade de que tudo foi ficção e admitir que Iremar, Cacá e Galega não estão por aí vivendo um dia de cada vez.
Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraUma obra sobre o tempo, o tempo que é indomável. Almodóvar, sempre sensível, corajoso e paciente. Ele me desperta o prazer e o interesse em conhecer seus personagens e suas histórias. Dor e Glória me fez lembrar por que amo cinema: uma carta perdida por 50 anos, o céu visto de uma caverna, o céu falso no teto de um consultório, o primeiro desejo. Detalhes. Foi um prazer ver Antonio tão ponderado e criterioso nesse personagem que até fisicamente lembra Almodóvar. Poucas vezes podemos ver o tema homossexualidade tratado com tanta delicadeza. Obrigada por mais esse clássico, querido.
O Escândalo
3.6 459 Assista AgoraApesar do grande elenco e tema imprescindível, vi "O Escândalo" como um filme sem coragem, cheio de caricaturas e clichês. Proposta pouco aprofundada e acontecimentos retratados de maneira corrida. As personagens estão distantes de nós e não vimos as perspectiva de cada uma delas, sabemos meramente alguns dos seus interesses. As tomadas de câmera e a direção de arte fizeram o longa parecer uma série televisiva quase divertida. Embora o filme consiga nos levar para dentro do clima da empresa, é o que me parece, toda a capacidade dramática e íntima foi diluída por personagens erroneamente tratadas de maneira frívola. Os abusos foram retratados com uma leveza descabida que o tema não pede. Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie, mesmo com excelentes trabalhos, não conseguiram salvar essa narrativa.
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista AgoraPrecioso e contido. Fazer uma sátira de um tema doloroso e cruel da história não é para qualquer um. Sempre me perturba a possibilidade de banalizar algo intolerável, mas a intenção foi essa: mostrar como a idolatria pode trivializar o mal; ridicularizar monstros fanáticos. Adorei a ideia de uma sátira sobre nazismo dentro de um contexto infantil, mas depois de um tempo o tom da conversa muda e a proposta também. Achei que faltou pisar ainda mais fundo, mas valeu. Scarlett Johansson não falhou mais uma vez. Roman Griffin Davis, o Jojo Rabbit, promete. Grande talento. "Yorki" é o personagem mais fofo do mundo.
Cenas que vão ficar na minha memória por um tempo: os sapatos da mãe de Jojo pendurados em praça pública; demorei para me recompor. Entrada triunfal que associa a histeria nazista com a a histeria de fãs dos Beatles. Scarlett Johasson fazendo a mãe e o pai de Jojo ao mesmo tempo. Elsa, a moça judia, fazendo uma demonstração de força tapando a boca de Jojo e tentando "tirar o nazismo do corpo dele".
Macunaíma
3.3 274 Assista Agora"O muraquitã é pedra da sorte, daí eu fiquei rico, e como dinheiro também dá sorte, fiquei riquíssimo."
"Um por um e Deus contra."
Cheio de frases marcantes, Macunaíma é uma experiência distinta. Torna-se necessário ir de peito aberto, deixar-se levar e experenciar esse universo exagerado, psicodélico e, ao mesmo tempo, muito consciente que foi criado no filme. O longa é cheio detalhes e sutilezas que passeiam pela história do Brasil e seu folclore. É possível saborear e decifrar muitas alegorias presentes nas questões de raças, comportamento, cultura e história. O "herói sem caráter", protagonista da trama, tem problemas com a própria identidade, é indefinido em inúmeros aspectos. Sua principal característica é a preguiça e a malandragem. Com grande elenco e direção audaciosa, Macunaíma vale "toda a pena".
The Witcher (1ª Temporada)
3.9 926 Assista AgoraA cronologia é confusa; o presente, o passado e o futuro não são bem identificados. Faltou explicar muitas coisas, muitos elementos. Os castelos e lugares não são bem marcados e apresentados. Mesmo assim, valeu meu tempo e diverte. Espero que melhore na segunda temporada.