Roger Ebert resenhou o filme: "Meu Amigo Totoro fundamenta-se no cotidiano, em experienciar, em explorar - não em conflito ou ameaça" [...] O filme nunca teria ganhado sua audiência mundial só por seu carisma. É um filme rico em comédia humana, acompanhando duas crianças surpreendentemente reais. É um pouquinho triste, um pouquinho assustador e um pouquinho inesperado. Tal como é a vida real. Ele não depende da narrativa, ele depende do momento, e sugere um mundo de maravilhas. E os recursos da nossa imaginação fornecem toda a aventura que precisamos"
O Labirinto do Fauno não é só um Alice no País das Maravilhas mexicano, é uma subversão dos contos de fadas. Há duas narrativas paralelas bem delineadas no filme: o plano fantástico imaginado por Ofélia e o plano realista vivido por ela.
Uma dessas histórias começa quando a mãe de Ofélia decide se casar com um cruel capitão que luta contra os rebeldes na guerra civil espanhola. A protagonista é cheia de imaginação e adora livros, mas sua mãe não aprova seus hábitos de leitura. Com o casamento de sua mãe, as coisas se complicam e surge o outro plano da narrativa: o mundo subterrâneo do Fauno e outras criaturas estranhas, que podem ou não existir apenas na cabeça da protagonista. A estética "dos dois filmes" é maravilhosa, sendo O Labirinto do Fauno um percursor da tendência "conto de fadas sombrio". Nos momentos em que acompanhamos a protagonista no mundo dos humanos, Del Toro nos apresenta um ambiente escuro e hostil, mostrando os detalhes do cotidiano, e o mundo das fadas, por sua vez, remete ao primordial, a um tempo de natureza e de magia.
Nossa principal fonte de contos de fadas quando éramos crianças eram os filmes da Disney. Essas narrativas vinham sempre com o mesmo molde. Del Toro quebra esse molde e joga fora. Para reconstruir uma narrativa de contos de fadas, alguns elementos do gênero parece voltar distorcidos.
Partindo duma premissa típica dos contos de fada, Ofélia é uma princesa perdida, que deve executar testes de caráter para provar que não foi corrompida pelo mundo dos homens. Em seguida, o filme se esforça para quebrar essas convenções do gênero.
Nos dois mundos a protagonista está cercada de hostilidade. A visita ao covil do Homem Pálido por exemplo é um dos momentos mais arrepiantes do filme.
Ao longo do filme, os dois planos entrelaçam-se com equilíbrio para os poucos convergir e o filme contou uma história que nunca poderia ter sido contada por meio do formato tradicional: maniqueísta, patriarcal e pontuado irrevogavelmente com o "...E viveram felizes para sempre". No final do filme a protagonista morreu ou conseguiu retornar ao mundo das fadas? Para os adultos - e esse é um filme para adultos -, com sua preferência pelo racional, a menina morreu e era tudo um mecanismo de defesa diante dos horrores que ela testemunhava. O conto de fadas tradicional limita o nosso pensamento, e no conto tradicional, a Princesa Ofélia não teria a mesma agência e esperaria pelo Príncipe Encantado. Mas em O Labirinto do Fauno, a protagonista desobedeceu, fez sacrifícios e no final de sua busca conseguiu retornar ao Reino das Fadas onde viveram felizes para sempre.
Diga o que quiser sobre Baraka, mas é um filme singular que elude as definições de gênero.
Sempre me imagino tentando explicar o que é esse filme e porque me marcou tanto...
Parece um documentário quando mostra desigualdade social, mas Baraka tem pretensões de uma reflexão vaga espiritual-artística que fala ao espectador de qualquer lugar ou de qualquer crença.
É livre de narrativa e diálogo, mas nunca vazio de emoção ou significado.
Meu aspecto favorito do filme é justamente, sua linguagem: imagens exóticas ou mundanas, de natureza ou de grandes centros urbanos, que revelam nuances de lugares em todos os cantos da Terra.
É verdade que em 2015, graças à internet, estejamos saturados de imagens de muitos dos lugares mostrados no filme, e por isso essas imagens talvez não tivessem o mesmo impacto não fosse pela engenhosidade dos ângulos, pelas sequências com câmera acelerada, pela justaposição de imagens, etc.
As imagens são pontuadas por uma trilha sonora maravilhosa, em que o diretor usa a a música de Phillip Glass, compositor estadunidense, para costurar as imagens numa temática, de maneira que a cadência dessas música serve para pontuar as imagens como o mote de um poema junto com a linguagem visual e antíteses, progressão de temas de modo que o filme, sem usar nenhuma palavra fala mais que a maioria dos filmes contemporâneos. Por isso acho a "tradução" brasileira do filme muito apropriada: um mundo além de palavras.
Há mais de uma maneira de interpretar Baraka. Uma delas é seu apelo artístico que torna incríveis imagens mundanas, me proporcionando refletir sobre meu lugar no mundo, sobre minha visão pequena de mundo diante de tamanha diversidade natural e cultural.
Vivo numa bolha e nunca explorei o mundo.
Se você gostou de Baraka, recomendo ver os outros filmes: a trilogia Qatsi que inspirou esse filme, e Samsara, a contInuação espiritual de Baraka.
Importante: não deixe de assistir o filme em HD no maior tela de que você dispor!
O Despertar da Nostalgia Star Wars - O Despertar da Força (2015)
(Star Wars - The Force Awakens) Direção: J.J. Abrams Roteiro: J.J. Abrams
Há muito tempo atrás, numa década muito, muito distante...
Um filme fez história.
Mais de 30 anos depois, criou-se enorme expectativa para o glorioso retorno de Star Wars.
Dirigido por J. J. Abrams, o filme atendeu às expectativas dos fãs mais xiitas. Razão de seu êxito? Não fez apostas, mas usou os elementos que comprovadamente funcionaria. Não fiquei no cinema para assistir aos créditos, mas muito provavelmente estavam creditados ali a equipe do "Departamento de nostalgia".
Eles sabiam o que nós queríamos ver.
A caixa de som explode com o maravilhoso tema de John Williams direto de 1983, o tapetão de letras amarelas sobe a tela e somos crianças de novo.
O mercado da nostalgia é muito lucrativo. É uma das razões pela escassez de franquias novas. Abrams quer agradar os fãs e seus suseranos da Disney. Para isso, com o fim de reproduzir a mágica dos filmes originais, pega emprestado muitos elementos de Star Wars: episódio IV: Uma Nova Esperança (1989).
Consequentemente, o filme é largamente acusado de não ser uma continuação, mas um remake.
As naves voando no espaço. Um ataque a um vilarejo e um robô-mascote (logo logo, nas melhores lojas de brinquedos) com informações importantes vagando no deserto. Tudo é muito familiar.
No que parece um transição de Power Point (característica da franquia), a câmera muda de núcleo narrativo para nos apresentar a nova protagonista, uma sucateira chamada Rey (Daisy Ridley). Suas vestes parecem as do protagonista anterior, Luke Skywalker, que também mora num planeta isolado até se envolver com os deuteragonistas e os rebeldes. Então algum desses são capturados levando a uma missão de resgate, na qual a figura mentora do protagonista morre, mas os heróis seguem e destroem juntos a arma apocalíptica do antagonista.
Enfim, há muitos ecos da trama de Esperança em Despertar...
Ecos temáticos são outra característica da saga, afinal Star Wars antes de ser sci-fi, é primordialmente uma história arturiana, uma história do bem contra o mal. E o destino nessas histórias é tudo. Talvez possamos encarar essas histórias que se repetem como a natureza cíclica da Força. Em qualquer outra opera espacial, numa galáxia muito, muito distante, esses tropos se repetem: um herói corruptível, que talvez tenha redenção. Pais obrigados a abandonar os filhos. O mestre traído. Personagem sofre mutilação do corpo, a provação física e mental. É um eco temático, mas é também uma piscadela para os fãs. O filme usa isso a seu favor, sendo os personagens principais "fãs" de Han Solo, Luke e Leia. O Despertar é um filme sobre legado e os novos personagens é o meio pelo qual a nova trilogia* da franquia começa a caminhar com as próprias pernas.
*Eu digo "nova trilogia", mas aposto 10 batatas rechadas que será uma trilogia de quatro filmes, seguindo a tendência Harry Potter de O Último Filme da Saga, Parte I e II, para maximizar a renda com bilheteria.
Parte VII, felizmente, com todos os retornos aos episódios anteriores, traz um elenco novo competente em personagens carismáticos e diálogos bem escritos. Os novos personagens são a força motriz da narrativa, e a tripulação original da Millenium Falcon está lá apenas para passar a tocha para o pessoal novo: Dameron Poe, o melhor piloto da aliança. Um stormtrooper vira-casaca chamado Finn.
E então temos Rey. O protagonismo feminino não é novidade do episódio VII, pois Star Wars tem um histórico sólido de mulheres que fogem dos tropos de "dama em perigo". Leia é uma princesa, mas nunca precisou de resgate, sabe usar muito bem as armas de laser e não se acovarda, assim como sua filha Padmé, que conquistou de volta seu palácio numa manobra militar da qual participou nas linhas de frente.
No entanto, Rey, diferente das deuteragonistas anteriores (Leia e Padmé), não está à margem do protagonista principal (Luke e Anakin) e não é apenas uma versão feminina dos protagonistas anteriores. Idos estão os dias do biquini de metal de Leia e o top curtinho de Padmé. A nova protagonista usa suas roupas pela praticidade. Ela não precisa de resgate (Finn tentou, mas chegou tarde) e é um deleite testemunhar o despertar da força em Rey. Nos próximos filmes, teremos o inevitável romance, mas quem será chamado de "interesse romântico" não será ela, e sim (presumivelmente) um dos rapazes. Abrams envolveu-se brevemente com Legend of Korra, seriado animado assumidamente feminista, por isso, talvez não seja conhecidência que há muito de Korra em Rey.
Na verdade é muito lógico: para reacender a magia de Star Wars valeram-se do legado deixado por George Lucas, mas a base sólida de Despertar oportuniza à equipe da nova trilogia contar novas histórias daquela galáxia muito, muito distante.
Sou fã dos filmes da Ghibli desde sempre. O nome do estúdio e do Hayao Myiazaki para mim são sinônimos. Só agora que ele anuncia sua aposentadoria que aprendi o nome dos outros responsáveis pelos filmes reconhecendo seus méritos e o estilo de sua arte cinematográfica.
Os mundos criados por Myiazaki enaltecem o fantástico como algo “normal”, mas não subestima a representação do mundano, reunindo os dois em uma fórmula mágica que criou filmes com imagens que superam até mesmo as de nossa imaginação.Isao Takahata por sua vez costuma abordar uma perspectiva mais sóbria, dando prioridade para o emocional das histórias.
Kaguyahime no monogotari une esses dois espíritos para contar ao mesmo tempo a mágica do folclore japonês e a história de uma menina comum.
Jesus Camp é um filme inovador, desbravando novo terreno no gênero de terror. O gênero terror nunca foi levado a sério, mas já produziu algumas das obras mais interessantes do cinema. Filmes de terror não convencionais como "Inferno de Sangue em Veneza (1973)" são os mais interessantes e passíveis de análise. Ora, um filme de terror em que ninguém morre?
A maior parte do filme se passa em um "Acampamento de Jesus" no qual crianças sofrem tortura psicológica de adultos lunáticos. E a violência vem até de seus responsáveis. Aqui se repete uma das principais convenções dos filmes de terror; a criança assustadora. Suas principais referências incluem as crianças de "A Cidade dos Amaldiçoados (1960)", "Colheita Maldita (1984)" e "O Iluminado (1980)". Mas ao mesmo tempo as crianças são vítimas dos verdadeiros antagonistas do filme: os adultos, fundamentalistas religiosos. Uma das personagens principais é claramente inspirada em Annie Wilkes, a antagonista do filme baseado no livro de Stephen King, "Misery (1990)". Chega a ser óbvio que queriam contratar Kathy Bates para o papel de Becky, mas não puderam por questões de orçamento.
Em 2006 ainda vivíamos sintomas da febre causada pelos filmes de gravação "encontrada". Um dos grandes sucessos desse subgênero do terror foi A Bruxa de Blair, um dos filmes independentes que mais arrecadou dinheiro. Esses filmes se apoiam na muleta de "isso aconteceu de verdade, então por isso é mil vezes mais assustador" e Jesus Camp é um dos maiores triunfos dessa tendência, sendo um dos filmes de terror mais real já lançados.
Evidência disso é essa página do Filmow, na qual todo mundo acredita que o filme é um documentário. Acontece que ele justamente retrata uma realidade que temos vivido ultimamente, com eleições municipais Brasil afora sendo decididas pelas igrejas. Um filme nunca foi tão real.
"[...] O objetivo deste "O pequeno príncipe" é justificar o rótulo "para toda a família", um propósito que tem muito de financeiro e pouco de artístico."
Em 2009 eu era obcecado por filmes de terror. Isso aconteceu depois de meu amigo me apresentar Evil Dead. Na época eu tinha acesso a esses filmes graças ao cine trash revival, que ainda está na ativa, mas hoje não tem o mesmo espírito (não tem comentários de visitantes ou os comentários dos administradores recomendando os filmes). De lá eu baixava toda sorte de filmes de terror: do italiano ao japônes. Do slashers ao zumbis. Foi lá também, que eu descobri o filme Monstros, de Ted Browning.
Pois é. Se você leu até aqui aqui provavelmente já conhece o filme e está pensando: Monstros nunca foi um filme de terror! Resumidamente, o filme conta a história de uma trupe circense composta por "monstros". Quando uma jovem mulher se casa com um anão, artista do circo, a trupe decide aceitá-la em sua "família". O que resulta numa das cenas mais clássicas do cinema.
Bem sabemos que nunca foi a intenção dos responsáveis pelo filme, mas é extremamente emblemático que foi justamente horror que o filme causou. Muito a frente de seu tempo, desde seu lançamento o longa tem incomodado àqueles que o assistem, tendo sua exibição proibida por mais de 30 anos. Recentemente American Horror Story explorou essa capítulo fascinante da história norte-americana, e embora tenham abordado com competência a temática dos párias, acho que contribuiu ainda mais para o espectador incauto ler errado o filme de 1932. No fim a mensagem do filme é clara, dizendo com todas as palavras que os monstros somos nós. O que o diretor provavelmente não esperava, é que sua mensagem teria ecos na recepção do público para o filme. Somos realmente monstros. Agora o filme é um clássico absoluto e não sofre a mesma censura. Isso quer dizer que evoluímos? Acredito que não, eu mesmo admito, que inicialmente foi uma curiosidade mórbida que me motivou a baixar o filme. No entanto, o filme é tão poderoso que quebrar essa percepção nos espectadores. Inclusive, há uma cena excluída, que de acordo com o roteiro, a cena em que Madame Tetrallini apresenta ao homem errante os artistas, que estão se divertindo na floresta era um pouquinho mais longa. A cena incluía mais diálogo que buscava humanizar os chamados "monstros". Ela lhe conta que eles estão "sempre em tendas abafadas, com olhos de estranhos os encarando - o que nunca os permite esquecer o que são." O homem responde de forma simpática (claramente a voz do espectador): "Quando eu for ao circo novamente, Madame, eu lembrarei!". No que ela responde: Eu sei Monsieur, você lembrará deles brincando - como crianças -, dentro todos os milhares que vêm para encará-los - para rir-se deles, para arrepiar-se - você será o único que entende."
Esta cena representa muito mais o espírito do filme do que outras em que coisas supostamente dignas do gênero horror acontecem. Não tem como não apreciar um filme que é um drama humano seja chamado Monstros.
Central do Brasil
4.1 1,8K Assista AgoraFoi um trauma de infância para mim a cena do atropelamento por um ônibus o.o
Pulp Fiction: Tempo de Violência
4.4 3,7K Assista AgoraEsse é o filme do cinéfilo preguiçoso/principiante
Não que não seja um bom filme, mas é o filme token de todo o cinéfilo com repertório pequeno (além é claro, do Laranja Mecânica)
Deuses e Monstros
3.8 88Eu assisti "Gods and Monsters" antes de assistir "A Noiva de Frankenstein"
E os comentários apaixonados do Whale (interpretado por Mckellen na sua biografia) sobre o seu filme enalteceram a experiência de assistir "A Noiva"
Genial!
O Reino dos Gatos
3.9 403 Assista AgoraUma pérola pouco apreciada da Ghibli.
Para quem gosta de gatos, então!
O filme é uma delícia, é curtinho e está disponivel no Netflix!
Repo! The Genetic Opera
3.7 152É a única coisa que a Paris Hilton fez na TV em que ela mandou bem
O número músical dela e do Grave Robber é o meu favorito
Ela miando-cantando "Grave Robber" é muito sexy
Giles de Buffy a Caça Vampiros também tem um numero legal e a Sarah Brightman manda muito bem em todos os seus números.
Recomendado para quem gosta de musicais estilo Rocky Horror
Phenomena
3.7 246É o meu filme preferido da fórmula "giallo"
Um slasher com elementos sobrenaturais
Parece que o sobrenatural não serve pra nada dentro da narrativa, mas ele contribui com todo o charme do filme.
A Jennifer Connely tá muito linda nesse filme
A Liberdade é Azul
4.1 650 Assista AgoraMuito legais as cenas em que ela é atormentada pelo passado e a música clássica explode subitamente.
É uma sinestesia audio-visual muito interessante
Meu Amigo Totoro
4.3 1,3K Assista AgoraRoger Ebert resenhou o filme: "Meu Amigo Totoro fundamenta-se no cotidiano, em experienciar, em explorar - não em conflito ou ameaça" [...] O filme nunca teria ganhado sua audiência mundial só por seu carisma. É um filme rico em comédia humana, acompanhando duas crianças surpreendentemente reais. É um pouquinho triste, um pouquinho assustador e um pouquinho inesperado. Tal como é a vida real. Ele não depende da narrativa, ele depende do momento, e sugere um mundo de maravilhas. E os recursos da nossa imaginação fornecem toda a aventura que precisamos"
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista Agoraque final satisfatório
O Labirinto do Fauno
4.2 2,9KOs monstros desse filme são sensacionais.
Destaque para o Homem Pálido e o Fauno.
CGI de cu é rola...
O Labirinto do Fauno
4.2 2,9KO Labirinto do Fauno não é só um Alice no País das Maravilhas mexicano, é uma subversão dos contos de fadas. Há duas narrativas paralelas bem delineadas no filme: o plano fantástico imaginado por Ofélia e o plano realista vivido por ela.
Uma dessas histórias começa quando a mãe de Ofélia decide se casar com um cruel capitão que luta contra os rebeldes na guerra civil espanhola. A protagonista é cheia de imaginação e adora livros, mas sua mãe não aprova seus hábitos de leitura. Com o casamento de sua mãe, as coisas se complicam e surge o outro plano da narrativa: o mundo subterrâneo do Fauno e outras criaturas estranhas, que podem ou não existir apenas na cabeça da protagonista. A estética "dos dois filmes" é maravilhosa, sendo O Labirinto do Fauno um percursor da tendência "conto de fadas sombrio". Nos momentos em que acompanhamos a protagonista no mundo dos humanos, Del Toro nos apresenta um ambiente escuro e hostil, mostrando os detalhes do cotidiano, e o mundo das fadas, por sua vez, remete ao primordial, a um tempo de natureza e de magia.
Nossa principal fonte de contos de fadas quando éramos crianças eram os filmes da Disney. Essas narrativas vinham sempre com o mesmo molde. Del Toro quebra esse molde e joga fora. Para reconstruir uma narrativa de contos de fadas, alguns elementos do gênero parece voltar distorcidos.
Partindo duma premissa típica dos contos de fada, Ofélia é uma princesa perdida, que deve executar testes de caráter para provar que não foi corrompida pelo mundo dos homens. Em seguida, o filme se esforça para quebrar essas convenções do gênero.
Nos dois mundos a protagonista está cercada de hostilidade. A visita ao covil do Homem Pálido por exemplo é um dos momentos mais arrepiantes do filme.
Ao longo do filme, os dois planos entrelaçam-se com equilíbrio para os poucos convergir e o filme contou uma história que nunca poderia ter sido contada por meio do formato tradicional: maniqueísta, patriarcal e pontuado irrevogavelmente com o "...E viveram felizes para sempre". No final do filme a protagonista morreu ou conseguiu retornar ao mundo das fadas? Para os adultos - e esse é um filme para adultos -, com sua preferência pelo racional, a menina morreu e era tudo um mecanismo de defesa diante dos horrores que ela testemunhava. O conto de fadas tradicional limita o nosso pensamento, e no conto tradicional, a Princesa Ofélia não teria a mesma agência e esperaria pelo Príncipe Encantado. Mas em O Labirinto do Fauno, a protagonista desobedeceu, fez sacrifícios e no final de sua busca conseguiu retornar ao Reino das Fadas onde viveram felizes para sempre.
Baraka - Um Mundo Além das Palavras
4.5 136Diga o que quiser sobre Baraka, mas é um filme singular que elude as definições de gênero.
Sempre me imagino tentando explicar o que é esse filme e porque me marcou tanto...
Parece um documentário quando mostra desigualdade social, mas Baraka tem pretensões de uma reflexão vaga espiritual-artística que fala ao espectador de qualquer lugar ou de qualquer crença.
É livre de narrativa e diálogo, mas nunca vazio de emoção ou significado.
Meu aspecto favorito do filme é justamente, sua linguagem: imagens exóticas ou mundanas, de natureza ou de grandes centros urbanos, que revelam nuances de lugares em todos os cantos da Terra.
É verdade que em 2015, graças à internet, estejamos saturados de imagens de muitos dos lugares mostrados no filme, e por isso essas imagens talvez não tivessem o mesmo impacto não fosse pela engenhosidade dos ângulos, pelas sequências com câmera acelerada, pela justaposição de imagens, etc.
As imagens são pontuadas por uma trilha sonora maravilhosa, em que o diretor usa a a música de Phillip Glass, compositor estadunidense, para costurar as imagens numa temática, de maneira que a cadência dessas música serve para pontuar as imagens como o mote de um poema junto com a linguagem visual e antíteses, progressão de temas de modo que o filme, sem usar nenhuma palavra fala mais que a maioria dos filmes contemporâneos. Por isso acho a "tradução" brasileira do filme muito apropriada: um mundo além de palavras.
Há mais de uma maneira de interpretar Baraka. Uma delas é seu apelo artístico que torna incríveis imagens mundanas, me proporcionando refletir sobre meu lugar no mundo, sobre minha visão pequena de mundo diante de tamanha diversidade natural e cultural.
Vivo numa bolha e nunca explorei o mundo.
Se você gostou de Baraka, recomendo ver os outros filmes: a trilogia Qatsi que inspirou esse filme, e Samsara, a contInuação espiritual de Baraka.
Importante: não deixe de assistir o filme em HD no maior tela de que você dispor!
Star Wars, Episódio VII: O Despertar da Força
4.3 3,1K Assista AgoraO Despertar da Nostalgia
Star Wars - O Despertar da Força (2015)
(Star Wars - The Force Awakens)
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: J.J. Abrams
Há muito tempo atrás, numa década muito, muito distante...
Um filme fez história.
Mais de 30 anos depois, criou-se enorme expectativa para o glorioso retorno de Star Wars.
Dirigido por J. J. Abrams, o filme atendeu às expectativas dos fãs mais xiitas. Razão de seu êxito? Não fez apostas, mas usou os elementos que comprovadamente funcionaria. Não fiquei no cinema para assistir aos créditos, mas muito provavelmente estavam creditados ali a equipe do "Departamento de nostalgia".
Eles sabiam o que nós queríamos ver.
A caixa de som explode com o maravilhoso tema de John Williams direto de 1983, o tapetão de letras amarelas sobe a tela e somos crianças de novo.
O mercado da nostalgia é muito lucrativo. É uma das razões pela escassez de franquias novas. Abrams quer agradar os fãs e seus suseranos da Disney. Para isso, com o fim de reproduzir a mágica dos filmes originais, pega emprestado muitos elementos de Star Wars: episódio IV: Uma Nova Esperança (1989).
Consequentemente, o filme é largamente acusado de não ser uma continuação, mas um remake.
As naves voando no espaço. Um ataque a um vilarejo e um robô-mascote (logo logo, nas melhores lojas de brinquedos) com informações importantes vagando no deserto. Tudo é muito familiar.
No que parece um transição de Power Point (característica da franquia), a câmera muda de núcleo narrativo para nos apresentar a nova protagonista, uma sucateira chamada Rey (Daisy Ridley). Suas vestes parecem as do protagonista anterior, Luke Skywalker, que também mora num planeta isolado até se envolver com os deuteragonistas e os rebeldes. Então algum desses são capturados levando a uma missão de resgate, na qual a figura mentora do protagonista morre, mas os heróis seguem e destroem juntos a arma apocalíptica do antagonista.
Enfim, há muitos ecos da trama de Esperança em Despertar...
Ecos temáticos são outra característica da saga, afinal Star Wars antes de ser sci-fi, é primordialmente uma história arturiana, uma história do bem contra o mal. E o destino nessas histórias é tudo. Talvez possamos encarar essas histórias que se repetem como a natureza cíclica da Força. Em qualquer outra opera espacial, numa galáxia muito, muito distante, esses tropos se repetem: um herói corruptível, que talvez tenha redenção. Pais obrigados a abandonar os filhos. O mestre traído. Personagem sofre mutilação do corpo, a provação física e mental.
É um eco temático, mas é também uma piscadela para os fãs. O filme usa isso a seu favor, sendo os personagens principais "fãs" de Han Solo, Luke e Leia. O Despertar é um filme sobre legado e os novos personagens é o meio pelo qual a nova trilogia* da franquia começa a caminhar com as próprias pernas.
*Eu digo "nova trilogia", mas aposto 10 batatas rechadas que será uma trilogia de quatro filmes, seguindo a tendência Harry Potter de O Último Filme da Saga, Parte I e II, para maximizar a renda com bilheteria.
Parte VII, felizmente, com todos os retornos aos episódios anteriores, traz um elenco novo competente em personagens carismáticos e diálogos bem escritos. Os novos personagens são a força motriz da narrativa, e a tripulação original da Millenium Falcon está lá apenas para passar a tocha para o pessoal novo: Dameron Poe, o melhor piloto da aliança. Um stormtrooper vira-casaca chamado Finn.
E então temos Rey. O protagonismo feminino não é novidade do episódio VII, pois Star Wars tem um histórico sólido de mulheres que fogem dos tropos de "dama em perigo". Leia é uma princesa, mas nunca precisou de resgate, sabe usar muito bem as armas de laser e não se acovarda, assim como sua filha Padmé, que conquistou de volta seu palácio numa manobra militar da qual participou nas linhas de frente.
No entanto, Rey, diferente das deuteragonistas anteriores (Leia e Padmé), não está à margem do protagonista principal (Luke e Anakin) e não é apenas uma versão feminina dos protagonistas anteriores. Idos estão os dias do biquini de metal de Leia e o top curtinho de Padmé. A nova protagonista usa suas roupas pela praticidade. Ela não precisa de resgate (Finn tentou, mas chegou tarde) e é um deleite testemunhar o despertar da força em Rey. Nos próximos filmes, teremos o inevitável romance, mas quem será chamado de "interesse romântico" não será ela, e sim (presumivelmente) um dos rapazes. Abrams envolveu-se brevemente com Legend of Korra, seriado animado assumidamente feminista, por isso, talvez não seja conhecidência que há muito de Korra em Rey.
Na verdade é muito lógico: para reacender a magia de Star Wars valeram-se do legado deixado por George Lucas, mas a base sólida de Despertar oportuniza à equipe da nova trilogia contar novas histórias daquela galáxia muito, muito distante.
Bastardos Inglórios
4.4 4,9K Assista AgoraA vingança nunca é plena, mata a alma e envenena (a não ser que você seja a Shoshana)
Vida de Inseto
3.8 990 Assista AgoraCabeças explodem quando descobrem que Vida de Inseto é uma releitura de Sete Samurais/Sete homens e um destino
Estrada Perdida
4.1 469 Assista AgoraDe todas as imagens criadas por David Lynch, a mais estranha é essa em que o Bill Pullman toca saxofone obcenamente empolgado no começo do filme
Fim dos Tempos
2.5 1,4K Assista AgoraFui no banheiro e nem dei pause
Fome Animal
3.9 877O magnum opus do Peter Jackson não é Senhor dos Anéis; é Fome Animal.
Eu não to nem brincando
Toda Forma de Amor
4.0 1,0K Assista AgoraMinha preferencia sexual é a Melanie Laurent falando francês
Deus Não Está Morto
2.8 1,4K Assista AgoraDeus não está morto, mas este roteiro deveria estar
O Conto da Princesa Kaguya
4.4 802 Assista AgoraSou fã dos filmes da Ghibli desde sempre. O nome do estúdio e do Hayao Myiazaki para mim são sinônimos. Só agora que ele anuncia sua aposentadoria que aprendi o nome dos outros responsáveis pelos filmes reconhecendo seus méritos e o estilo de sua arte cinematográfica.
Os mundos criados por Myiazaki enaltecem o fantástico como algo “normal”, mas não subestima a representação do mundano, reunindo os dois em uma fórmula mágica que criou filmes com imagens que superam até mesmo as de nossa imaginação.Isao Takahata por sua vez costuma abordar uma perspectiva mais sóbria, dando prioridade para o emocional das histórias.
Kaguyahime no monogotari une esses dois espíritos para contar ao mesmo tempo a mágica do folclore japonês e a história de uma menina comum.
Jesus Camp
3.7 135Jesus Camp é um filme inovador, desbravando novo terreno no gênero de terror. O gênero terror nunca foi levado a sério, mas já produziu algumas das obras mais interessantes do cinema. Filmes de terror não convencionais como "Inferno de Sangue em Veneza (1973)" são os mais interessantes e passíveis de análise. Ora, um filme de terror em que ninguém morre?
A maior parte do filme se passa em um "Acampamento de Jesus" no qual crianças sofrem tortura psicológica de adultos lunáticos. E a violência vem até de seus responsáveis. Aqui se repete uma das principais convenções dos filmes de terror; a criança assustadora. Suas principais referências incluem as crianças de "A Cidade dos Amaldiçoados (1960)", "Colheita Maldita (1984)" e "O Iluminado (1980)". Mas ao mesmo tempo as crianças são vítimas dos verdadeiros antagonistas do filme: os adultos, fundamentalistas religiosos. Uma das personagens principais é claramente inspirada em Annie Wilkes, a antagonista do filme baseado no livro de Stephen King, "Misery (1990)". Chega a ser óbvio que queriam contratar Kathy Bates para o papel de Becky, mas não puderam por questões de orçamento.
Em 2006 ainda vivíamos sintomas da febre causada pelos filmes de gravação "encontrada". Um dos grandes sucessos desse subgênero do terror foi A Bruxa de Blair, um dos filmes independentes que mais arrecadou dinheiro. Esses filmes se apoiam na muleta de "isso aconteceu de verdade, então por isso é mil vezes mais assustador" e Jesus Camp é um dos maiores triunfos dessa tendência, sendo um dos filmes de terror mais real já lançados.
Evidência disso é essa página do Filmow, na qual todo mundo acredita que o filme é um documentário. Acontece que ele justamente retrata uma realidade que temos vivido ultimamente, com eleições municipais Brasil afora sendo decididas pelas igrejas. Um filme nunca foi tão real.
O Pequeno Príncipe
4.2 1,1K Assista Agora"[...] O objetivo deste "O pequeno príncipe" é justificar o rótulo "para toda a família", um propósito que tem muito de financeiro e pouco de artístico."
Monstros
4.3 509 Assista AgoraEm 2009 eu era obcecado por filmes de terror. Isso aconteceu depois de meu amigo me apresentar Evil Dead. Na época eu tinha acesso a esses filmes graças ao cine trash revival, que ainda está na ativa, mas hoje não tem o mesmo espírito (não tem comentários de visitantes ou os comentários dos administradores recomendando os filmes). De lá eu baixava toda sorte de filmes de terror: do italiano ao japônes. Do slashers ao zumbis. Foi lá também, que eu descobri o filme Monstros, de Ted Browning.
Pois é. Se você leu até aqui aqui provavelmente já conhece o filme e está pensando: Monstros nunca foi um filme de terror! Resumidamente, o filme conta a história de uma trupe circense composta por "monstros". Quando uma jovem mulher se casa com um anão, artista do circo, a trupe decide aceitá-la em sua "família". O que resulta numa das cenas mais clássicas do cinema.
Bem sabemos que nunca foi a intenção dos responsáveis pelo filme, mas é extremamente emblemático que foi justamente horror que o filme causou. Muito a frente de seu tempo, desde seu lançamento o longa tem incomodado àqueles que o assistem, tendo sua exibição proibida por mais de 30 anos. Recentemente American Horror Story explorou essa capítulo fascinante da história norte-americana, e embora tenham abordado com competência a temática dos párias, acho que contribuiu ainda mais para o espectador incauto ler errado o filme de 1932. No fim a mensagem do filme é clara, dizendo com todas as palavras que os monstros somos nós. O que o diretor provavelmente não esperava, é que sua mensagem teria ecos na recepção do público para o filme. Somos realmente monstros. Agora o filme é um clássico absoluto e não sofre a mesma censura. Isso quer dizer que evoluímos? Acredito que não, eu mesmo admito, que inicialmente foi uma curiosidade mórbida que me motivou a baixar o filme. No entanto, o filme é tão poderoso que quebrar essa percepção nos espectadores. Inclusive, há uma cena excluída, que de acordo com o roteiro, a cena em que Madame Tetrallini apresenta ao homem errante os artistas, que estão se divertindo na floresta era um pouquinho mais longa. A cena incluía mais diálogo que buscava humanizar os chamados "monstros". Ela lhe conta que eles estão "sempre em tendas abafadas, com olhos de estranhos os encarando - o que nunca os permite esquecer o que são." O homem responde de forma simpática (claramente a voz do espectador): "Quando eu for ao circo novamente, Madame, eu lembrarei!". No que ela responde: Eu sei Monsieur, você lembrará deles brincando - como crianças -, dentro todos os milhares que vêm para encará-los - para rir-se deles, para arrepiar-se - você será o único que entende."
Esta cena representa muito mais o espírito do filme do que outras em que coisas supostamente dignas do gênero horror acontecem. Não tem como não apreciar um filme que é um drama humano seja chamado Monstros.