i do not wish to speak about / only to speak nearby
Esse filme me dá a impressão de um salto no vazio: diante da impossibilidade de um lugar propício para "falar sobre" sem subjugação, existe um lugar para "falar ao lado" do outro sem, por sua vez, devorá-lo pelas bordas? O nó ainda está lá: a ilusão do estar consciente da inundante onipresença da linguagem nos faz pensar que agora podemos entrar na dimensão do fazer sem mutilações – a fácil audácia de dizer: eu.
Trinh Minh-ha, com toda a brincadeira seríssima que, por meio da montagem tencionando não ser coesivo-coercitiva, faz com que percamos as expectativas em relação a um filme etnográfico, me botou pra pensar sobre essa falsa iluminação – o fogo, a luz, um tema-matéria do filme, junto ao tempo, que no caso está todo recortado –, sobre esses artifícios do desilusionante.
O pau de arara é intraduzível. Colocamos na tela um desenho que esquematiza o pau de arara e poderíamos também imprimir o esquema do pau de arara e distribuir na frente das escolas. Ainda o pau de arara seria intraduzível.
Uma total consciência de si e uma total ignorância de si: Koumiko, o Japão pós-guerra e a capacidade de manter um projeto identitário sólido, sufocante, e ao mesmo tempo se olhar de fora, rir, chorar e se fetichizar através do olhar do outro. Baita filminho, vai.
Sobre pertencer e não pertencer mais. Sobre nunca ter pertencido. Sobre a esperança de ser um desconhecido, um estrangeiro. Sobre a desesperança. E ainda não esquecer as rasas raízes que se criaram em lugares quaisquer. O passo suspenso da cegonha: a contínua tensão/tenção de um novo voo.
A face, a aparência, a expressão. Cresce conosco e cria raízes muito além das bochechas, do queixo, do nariz. Não há diálogo desconsiderando a importância da aparência, negação insípida, e nem há diálogo atrelando-a apenas a uma questão estética. É identidade. Ótima frase: "A face é a porta da mente", feito.
Além do tema, gostei muito da caracterização urbana na obra de Teshigahara (só tinha visto A Mulher da Areia até então), os primeiros figurinos do personagem principal e o desenho das side stories em volta da trama. Os jogos de luz e som feitas no filme, o consultório surreal, as andanças, o aparecimento de outros personagens misteriosos, enfim, são impressionantemente colocados.
Às vezes um artista não quer alcançar algo além da própria redenção. Um salve para a cena inicial, representação atual/eterna do que é passar por uma angústia.
A areia é um absurdo que dialoga com variados dramas humanos e deixa o visual maravilhoso. Resignação/adaptação ou anseio por liberdade? Não sei qual desses sentimentos seria o mais exato para preencher a existência, e senti que o filme fica inteiro em um e depois atesta o outro. Uma boa descaminhada, um paradoxo, um bom filme.
Essencial para pensar sobre os tempos passados e, principalmente, sobre o momento que vivemos agora. Acho que assistir um vez para mim foi pouco, sinto que não peguei tudo que queria do filme e sei que tem muito mais para sentir.
Assisti Irreversível e, ao assistir Enter the void, comprovei algo que já tinha sentido no primeiro: o extremo sufoco que Gaspar Noé consegue passar ao seus espectadores. Para mim não foi genial, mas me fez sentir um sofrimento quase tangível em meus arrepios. Sua câmera rodopiante cumpre em deixar a cabeça de quem assiste tonta, confusa, para logo depois fazê-lo penetrar num mundo de choque e sujeira. É um filme para se sentir de uma forma bem sadomasoquista.
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Reagrupamento
4.2 3i do not wish to speak about / only to speak nearby
Esse filme me dá a impressão de um salto no vazio: diante da impossibilidade de um lugar propício para "falar sobre" sem subjugação, existe um lugar para "falar ao lado" do outro sem, por sua vez, devorá-lo pelas bordas? O nó ainda está lá: a ilusão do estar consciente da inundante onipresença da linguagem nos faz pensar que agora podemos entrar na dimensão do fazer sem mutilações – a fácil audácia de dizer: eu.
Trinh Minh-ha, com toda a brincadeira seríssima que, por meio da montagem tencionando não ser coesivo-coercitiva, faz com que percamos as expectativas em relação a um filme etnográfico, me botou pra pensar sobre essa falsa iluminação – o fogo, a luz, um tema-matéria do filme, junto ao tempo, que no caso está todo recortado –, sobre esses artifícios do desilusionante.
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraOrigem do drama barroco bacurense. Mas não vamos cair naquela coisa do simplismo da alegoria e
psiu
Dona Carmelita é o lulismo
Caracol
4.3 9A memória inocula pathos na película, ou a película inocula pathos na memória?
Vamos Falar do Brasil: Tortura
4.1 6O pau de arara é intraduzível. Colocamos na tela um desenho que esquematiza o pau de arara e poderíamos também imprimir o esquema do pau de arara e distribuir na frente das escolas. Ainda o pau de arara seria intraduzível.
Senhorita Oyu
4.1 14Um melodrama geométrico.
Os Primos
4.0 18A arma de Tchekhov, o filme.
Le Mystère Koumiko
4.3 3Uma total consciência de si e uma total ignorância de si: Koumiko, o Japão pós-guerra e a capacidade de manter um projeto identitário sólido, sufocante, e ao mesmo tempo se olhar de fora, rir, chorar e se fetichizar através do olhar do outro. Baita filminho, vai.
O Bebê de Rosemary
3.9 1,9K Assista AgoraRosemaria, seu primogênito e a supressão da autoridade de alguém sobre o próprio corpo. Ah, e paranoia. Paranoia por todos os lados.
O Passo Suspenso da Cegonha
4.1 17Sobre pertencer e não pertencer mais. Sobre nunca ter pertencido. Sobre a esperança de ser um desconhecido, um estrangeiro. Sobre a desesperança. E ainda não esquecer as rasas raízes que se criaram em lugares quaisquer. O passo suspenso da cegonha: a contínua tensão/tenção de um novo voo.
O Sangue de um Poeta
4.2 44"Ao quebrar uma estatua, corre-se o risco de virar uma." Essa passagem, aqui em pobre tradução, pontua iconoclastas, pontua vanguardas e revoluções.
A Face do Outro
4.2 60A face, a aparência, a expressão. Cresce conosco e cria raízes muito além das bochechas, do queixo, do nariz. Não há diálogo desconsiderando a importância da aparência, negação insípida, e nem há diálogo atrelando-a apenas a uma questão estética. É identidade. Ótima frase: "A face é a porta da mente", feito.
Além do tema, gostei muito da caracterização urbana na obra de Teshigahara (só tinha visto A Mulher da Areia até então), os primeiros figurinos do personagem principal e o desenho das side stories em volta da trama. Os jogos de luz e som feitas no filme, o consultório surreal, as andanças, o aparecimento de outros personagens misteriosos, enfim, são impressionantemente colocados.
Questão de Tempo
4.3 4,0K Assista AgoraDivertido. O filme chega num ponto em que a viagem no tempo parece normal a qualquer um. (e não é?)
8½
4.3 409 Assista AgoraÀs vezes um artista não quer alcançar algo além da própria redenção. Um salve para a cena inicial, representação atual/eterna do que é passar por uma angústia.
A Mulher da Areia
4.5 96A areia é um absurdo que dialoga com variados dramas humanos e deixa o visual maravilhoso.
Resignação/adaptação ou anseio por liberdade? Não sei qual desses sentimentos seria o mais exato para preencher a existência, e senti que o filme fica inteiro em um e depois atesta o outro. Uma boa descaminhada, um paradoxo, um bom filme.
Hiroshima, Meu Amor
4.2 315 Assista AgoraDois corpos cobertos pela poeira do que foram, do que as cidades foram. E brilha como purpurina essa dor.
A Mulher de Duas Cabeças
4.5 4Trilha sonora insistentemente triste.
Nosferato no Brasil
3.5 18"Sem sangue não se faz história" e uma embalagem de ketchup na frente da tv.
Terra em Transe
4.1 286 Assista AgoraEssencial para pensar sobre os tempos passados e, principalmente, sobre o momento que vivemos agora. Acho que assistir um vez para mim foi pouco, sinto que não peguei tudo que queria do filme e sei que tem muito mais para sentir.
Enter The Void: Viagem Alucinante
4.0 871Assisti Irreversível e, ao assistir Enter the void, comprovei algo que já tinha sentido no primeiro: o extremo sufoco que Gaspar Noé consegue passar ao seus espectadores. Para mim não foi genial, mas me fez sentir um sofrimento quase tangível em meus arrepios. Sua câmera rodopiante cumpre em deixar a cabeça de quem assiste tonta, confusa, para logo depois fazê-lo penetrar num mundo de choque e sujeira. É um filme para se sentir de uma forma bem sadomasoquista.