Acaba sendo mais fraco que o anterior em razão de que, enquanto o outro se preocupava em contar a vida de Davy Crockett, tendo portanto um mote principal para inserir as diversas pequenas lendas, aqui ele acaba focando na Corrida do Rio. O Problema é que justamente na metade do filme este mote é resolvido, puxando um elemento trazido rapidamente nesta história para terminar o roteiro, a trama dos piratas. Com isso, você tem a impressão de que o filme está se estendendo demais e que funcionaria muito melhor como dois episódios de uma série. É divertido ver por toda a ambientação criada, com barcos reais, e até a reutilização de algumas cenas dos documentários que a Disney produzia no período sobre a vida animal, mas como história em si não compensa.
Me surpreendi por ver que o principal problema do filme é ele ainda ser curto. Mesmo com mais de 140 minutos de duração, toda a história passa voando a ponto de alguns acontecimentos relevantes para essa mitologia não terem o tratamento adequado, com destaque a três:
- A Morte de Raka, que acontece com tão pouco tempo de interação entre os personagens que não te faz acreditar que ele conseguiu, nesse curto período, ensinar o suficiente para Noa.
- O aspecto religioso. Algo que já era abordado desde o filme anterior, vinculando a história de Caesar à história de Moisés e o Êxodo, tem poucos diálogos aqui e que poderiam ser tratados mais a fundo.
- O vilão, que acaba aparecendo basicamente em três cenas e, de tão pouco, não te causa grande temor no conflito final.
Ainda assim acaba sendo um filme incrível. Seus efeitos tem altos e baixos, com momentos tão bem feitos (como por exemplo um macaco cuspindo sangue ao final) acompanhado de outros que te deixam até na dúvida se você não acabou vendo um ser humano vestido de macaco, bem como a atuação da protagonista que parece até mesmo estranha em tela. Mesmo assim, a mitologia criada é tão interessante que não atrapalha na imersão da história.
Não li O Livro da Selva, e talvez por isso tenha gostado tanto de Mogli (diferente da “adaptação” anterior em animação do estúdio, A Espada era a Lei). É um filme agradável de assistir e que amplia ainda mais a tática de mercado da Disney de expandir seu público criando personagens de países diferentes, como já feito em Alô amigos, A Espada e a Rosa e Roby Roy. A técnica de animação, mesmo sendo feita em uma fase difícil do estúdio com a morte de Walt Disney, é surpreendente, e é impossível não gostar da música tema (que, confesso, ficou muito melhor dublada do que no original).
Segue um estilo bem característico das produções Disney dos anos 50 que era criar um imaginário sobre determinadas localidades ou períodos visando o futuro parque que seria inaugurado. Aqui traz o Oeste, algo que seria abordado novamente em outras produções como A Odisseia do Oeste. Sua intenção era fazer com que as pessoas criassem um interesse tão grande sobre o período que quisesse conhecer os locais ou, ao menos, uma reprodução dos mesmos, indo até o parque para participar de uma apresentação de ataque indígena, entrar em uma cabana de caçadores ou ver “figuras históricas”. Com isso, trazem uma ótima história de Davy Crockett, personagem real e fictício, com todas as dime novels criadas sobre ele. Acaba sendo interessante porque o filme assume que muito do personagem é exagero, então acaba sendo engraçado vê-lo lutar contra um urso usando somente um sorriso, fato que cria um ótimo gancho posteriormente. Infelizmente acaba ficando cansativo em seu final no Álamo, momento este que deveria ser grandioso e apoteótico, principalmente por falta de orçamento.
Esse é um dos mais fracos da Disney, talvez o mais fraco até os anos 60. Isso porque a história é genérica demais, não fazendo sentido buscarem inserir as lendas do Rei Arthur nesse meio. Acaba sendo em sua metade inicial quase como um Cinderela com personagens masculinos, para logo em seguida se aventurar em uma trama pedagógica, com ensinamentos sobre os animais, o amor e afins, até retornar de maneira repentina para resolver a trama inicial (e termina de forma igualmente repentina, durando menos de 10 minutos o segmento final). Ele não te comove e talvez o melhor momento seja a participação de Madame Mim (que, confesso, não sabia que tinha surgido com este filme. Sempre achei que era uma personagem dos quadrinhos). Vale somente pela técnica de animação, principalmente das florestas.
Apesar de tê-lo marcado como visto, não me recordava muito do filme em si. Lembro que de memória somente achava o estilo de animação de 101 Dálmatas estranho, opinião esta que mudei agora. Isso porque, se reparar bem, este é a primeira animação contemporânea do estúdio, com o mais próximo até então sendo A Dama e o Vagabundo e Peter Pan, que se passam nos anos 20/30. Aqui, ao contrário, a história se passa em sua época de lançamento, então por isso os cenários não são carregados com figuras de época, como normalmente se fazia, tendo traços propositalmente diferentes e inserindo diversos detalhes em objetos para criar um aspecto de contos de fadas em uma história atual. Traz de novo a paixão de Walt Disney por cachorros, considerando que ele dizia que A Dama e o Vagabundo era seu filme mais pessoal justamente por isso, e é lindo ver como desenham esses personagens com realismo, seja pela forma como as orelhas balançam ao vento ou como suas bochechas se esparramam quando deitam na janela. Quem ama animais vai se divertir do início ao fim.
Que filme maravilhoso. Walt Disney busca reconstruir o sucesso de Branca de Neve e aqui se utiliza da mesma estrutura para contar essa história, desde a lenda, a maldição, a floresta e até mesmo com uma cena de limpeza da cabana que remete à de Branca de Neve (e com vassouras e esfregões que se comportam como as de O Aprendiz de Feiticeiro de Fantasia). No entanto, ele vai ainda além, solucionando aqueles pequenos equívocos. Se em Branca de Neve já nos parece bizarro um príncipe aparecendo do nada e beijando alguém que nunca viu, aqui eles criam uma trama prévia, com os personagens se conhecendo a fim de não parecer tão estranho o romance final.
Tem muito do estilo de Walt Disney em buscar naturalidade nos movimentos, sendo visível a sua técnica típica de fazer com que os animadores encenassem a história e os movimentos para que fosse repetido nas telas. Então é lindo ver o movimento do príncipe sendo acorrentado e tentando fugir, ou da luta utilizando um peixe e uma bandeja pelos dois reis.
É uma delícia de assistir, sendo mais um filme do estúdio com referências à Alice, desde o buraco na árvore até o Gato de Chesire. Talvez seu único problema seja o aspecto amplo que querem conceder à figura de Totoro: você não sabe ao certo quem ele é, o que simboliza e qual a sua função. Ele simplesmente existe e qualquer interpretação que queira utilizar para esse simbolismo vai acabar sendo correta, o que no final deixa o roteiro um pouco frágil. A sorte é que os personagens são tão cativantes e a história é tão bem feita que tal aspecto pouco importa no resultado final. Você aprecia a história por si só.
Este me surpreendeu. Mesmo com um início apelando muito para o aspecto infantil (o que faz completo sentido considerando que é uma adaptação de um livro infantil), aos poucos o filme vai se alterando para tornar sua abordagem mais séria, o que é compatível com o próprio crescimento da personagem. Então o filme começa a crescer muito a partir do momento em que ela começa a fazer as entregas (a cena do cachorro é aquela que nos amarra de imediato à história) e vai percebendo aquilo que nós, que já passamos por isso, já sabemos há tempos: há pessoas boas e ruins no mundo, com algumas delas acabando com o nosso dia.
Eu tenho uma relação de amor e ódio com o Estúdio Ghibli porque normalmente, e O Castelo no Céu se inclui nisso, eu amo o traço, adoro os roteiros e tenho vontade de morar naquele universo, mas sempre chega um momento em que a trama está se estendendo além do devido e tudo começa a ficar cansativo. Se na primeira hora de duração O Castelo no Céu nos instiga em querer saber quem são aqueles personagens, qual o poder daquela pedra e como irão resolver o conflito, em sua segunda hora ele acaba demorando demais em explicar coisas que nós já compreendemos perfeitamente, como se quisesse nos mostrar quão vilão é o vilão ou o porquê devemos fazer o certo, mesmo que com sacrifícios. Te dá vontade de gritar para a tela "Já entendi! Agora resolve o problema!".
Eu odiei este filme da primeira vez que vi, tanto que me assustei ao olhar a página e ver que havia dado apenas meia estrela para ele. No entanto, depois dos anos fui compreendendo melhor e percebi que sua falha veio somente em razão de uma coisa: ganância. O Hobbit inicialmente foi idealizado para ser dois filmes, tanto que me recordo claramente de sair da sala de cinema do primeiro filme sabendo que no ano seguinte haveria o final, e durante a semana, ante a repercussão positiva, decidiram ampliar para três filmes. E esse é o erro: você consegue perceber os diversos elementos que foram inseridos unicamente para aumentar a duração da história e justificar três filmes. Se antes a pesquisa para o roteiro estava tão profunda que incluía até mesmo os apêndices não publicados de Tolkien, com a narrativa do que Gandalf faz quando abandona os anões na entrada da floresta, aqui decidem inserir uma trama romântica que fica completamente avulsa no contexto geral e ainda estraga o ritmo. Por sorte, na versão estendida esse elemento é melhor trabalhado e não incomoda tanto.
Revendo a saga do Hobbit é estranho ver como um dos elementos que mais me agradou quando foi lançado desaparece: a nostalgia. Eu lembro de ir à sessão completamente empolgado e surtar vendo novamente todos aqueles personagens da Terra Média novamente em tela e, hoje, essa sensação vai embora.
Por sorte O Hobbit não se segura somente no fator nostalgia. Ele ainda assim é um bom filme e mesmo com algumas técnicas não funcionando na televisão (o filme fora feito à época para ser visto em 3D e com a tecnologia HDR, a ponto de várias salas terem que ser equipadas para exibi-lo), você se diverte.
Seu ponto negativo é o mesmo dos livros: o fato de os personagens saírem de uma situação, resolver o conflito, entrar em outra e assim sucessivamente, o que deixa a história cansativa. Mas Martin Freeman é um Hobbit tão bom (e, para mim, o melhor Hobbit), que acaba sendo cativante vê-lo pulando pelo Condado gritando "I'm going on a adventure!".
Mesmo reconhecendo as diversas falhas ainda acabou sendo agradável de assistir. Talvez a melhor parte seja a forma como soube abordar toda a fase de reclusão do Batman. Aqui ficamos muito mais interessados em saber da vida de Bruce Wayne e da destruição do seu psicológico do que querer ver várias cenas de luta e conflito e não a toa o Batman acaba demorando para aparecer. O problema é que, com o fechamento de ciclo, o filme acaba ficando cansativo ao final quando deveria ser catártico, retirando o valor do próprio vilão, que se torna somente mais um no conflito.
Eu não me recordava que o filme fosse tão frenético. Enquanto nos costumeiros filmes do Batman sempre existe um momento de descanso, normalmente para apresentar a investigação ou uma cena romântica, estes mesmos momentos ocorrem aqui vinculados diretamente à ação ou à uma consequência drástica. Assim, todo o conflito com Rachel ainda é tenso, ou os momentos em Hong Kong. E, óbvio, o Coringa de Heath Ledger faz aumentar ainda mais essa tensão quando todas as suas inserções são tão boas e anárquicas que continuamos tenso na cadeira esperando quando ele irá aparecer de novo. Um dos grandes arrependimentos que tenho na minha vida cinéfila foi não ter visto este no cinema.
Acaba sendo bem cansativo por buscar ser fiel demais aos quadrinhos. Se lá a quantidade de diálogos e a tentativa de descobrir quem é o Feriado nos deixa apreensivos, aqui os mesmos elementos acabam ficando cansativos, principalmente pelo excesso de personagens. Se você reparar, O Longo Dia das Bruxas leva 12 edições para se desenrolar enquanto aqui os mesmos elementos acabam sendo condensados, em sua primeira parte, em menos de uma hora e meia, o que explica esse incômodo no excesso. Vale pela técnica de animação muito boa.
Talvez o maior problema aqui seja sua primeira hora inicial em que é tomado todo o cuidado para amenizar a parte criminosa da vida de Malcolm X. Como, em uma narrativa, os primeiros 30 minutos iniciais são fundamentais para nos apegarmos aos personagens, colocar Malcolm como ladrão, vigarista ou traficante automaticamente afastaria o público de sua fase engajada e religiosa. Consideraríamos um hipócrita, o que não era de forma alguma, e é por isso que esse hora inicial acaba sendo cansativa ao buscar contar a história sem se comprometer o suficiente, evitando assuntos e por vezes até mesmo usando expressões veladas para o que acontecia.
Somente após Malcolm ir para a prisão que a história passa a funcionar e você fica tenso na cadeira. De forma inteligente, Spike Lee traz muito do pensamento de Alex Haley, responsável por organizar e transcrever o livro, explicando quase de forma didática como surge o pensamento da injustiça contra os negros na história americana e como, em determinado momento, era natural imaginar todos como inimigos (algo que Haley aborda também em Raízes).
Mesmo tendo alguns momentos em que a concepção do filme aparente uma obra feita para a televisão, com cenários e fotografia fracas, a história e as atuações são tão boas que tudo se torna irrelevante. Basicamente, Spike Lee apresenta a mesma mensagem anos depois em Infiltrado na Klan, para mostrar como a injustiça continua.
Realmente a DC acertou nas adaptações de O Cavaleiro das Trevas. Tem um bom ritmo, foca no aspecto distorcido que aquele mundo ficou, mostrando como a ausência de um Batman foi prejudicial à Gotham City e mesmo sendo violento, não é uma violência gratuita, fazendo o completo sentido na forma física dos personagens e na raiva acumulada ao longo dos anos.
Apesar de eu não ser muito fã dessa ideia da gangue dos mutantes, algo que até mesmo na HQ considerava muito genérica, o filme acerta ao colocar esse aspecto mais como um plano de fundo, dando mais destaque a um Batman retornando à ativa e a própria discussão social sobre a violência crescente. Com isso, o mote dos vilões acaba sendo somente um meio para que essas discussões surjam, com todos o aspecto psicológico do Batman, o sujeito que nunca superou seus traumas, e como a sociedade encara a criminalidade. Tem uma sequência final bem cansativa, mas vale muito por toda a apresentação que faz desse "futuro" distópico.
Me surpreendi como acabei gostando. Acaba sendo diferente da HQ em dois pontos principais: a ausência de um final dúbio, já que para Grant Morrison em A Piada Mortal vemos finalmente o Batman matando o Coringa (E por isso o título A Piada Mortal), teoria que eu acho muito provável; e a também ausência de dúvida sobre se o Coringa estuprou ou não Bárbara, um dos fatores que aumentavam ainda mais o transtorno da situação para Gordon.
Ainda assim ele é bem interessante pois, para aumentar o impacto das cenas, cria toda uma sequência inicial focando na atuação de Barbara como Batgirl, um Batman que já não tem o menor resquício de Bruce Wayne, vivendo completamente imerso no papel de vigilante, e um Coringa que, talvez pela primeira vez, está atuando com um propósito bem definido ao invés de ser meramente anárquico.
Claro, considerando que a ideia é encontrar o ponto de ruptura dos personagens, poderia ter um Coringa ainda mais insano, sendo uma completa quebra de expectativa a cena musical.
Não sou fã do Studio Ghibli ou de Miyazaki; Vi apenas alguns filmes (Mononoke, Nausicaa, Kaguya e Cagliostro), nunca os grandes clássicos como O Castelo no Céu ou Chihiro, e sempre achei filmes apenas ok, muito cansativos e com pouca emoção.
O Menino e A Garça acabou sendo o filme que mais gostei e muito provavelmente pelo fato de ter visto no cinema já que, do mesmo modo que os anteriores, ele é também cansativo e lento, mas o poder dessas imagens em tela grande e o som dos pássaros nas caixas de som é algo incrível, querendo que aquela experiência dure por horas.
É basicamente a história de Alice, com o Coelho Branco sendo substituído pela Garça, o Exército de Copas pelos periquitos e a Rainha pelo Duque, e este sendo uma óbvia referência à Alemanha (e, de modo muito inteligente, não faz o duque semelhante à Hitler, mas sim a Otto Von Bismark), então vai sim ser non sense, psicodélico e por vezes muito viajado. Do mesmo modo que Alice substituía as pessoas de sua realidade por metáforas, faz o mesmo aqui.
Mas, como dito, mesmo com estes aspectos fascinantes você ainda termina o filme com uma sensação estranha, como se tivesse feito muito para transmitir pouco.
Eu gosto muito da forma como o Villeneuve não quis se prender às convenções ao fazer Duna. Se no primeiro filme ele cria uma introdução de duas horas e meia a esse universo, aqui ele pouco se importa com o excesso e vai apresentando novos personagens mesmo quando o filme já tem mais de 1 hora de duração. E mesmo sendo algo fora do comum, acaba funcionando. É claro que, por fugir das convenções, é normal que em alguns momentos pensemos “Acho que essa história ficaria melhor em uma série”, mas o filme consegue suprir as expectativas.
E talvez este seja o ponto que mais prejudique o filme: as expectativas. Queremos que seja algo catártico a ponto de gritarmos no cinema, e na realidade ele é bem comedido em sua condução.
Mesmo sendo muito bom é visível como Villeneuve faz cada cena com cuidado para não errar, e por isso alguns momentos que deveriam nos comover ou irritar acabam sendo diminuídos pelo medo de ser pedante ou clichê. Assim, por boa parte do filme parece que ele está se segurando para não ser violento demais, político demais, romântico demais, dramático demais.
É somente quando Paul assume sua figura que de fato o filme se liberta de todo esse autocontrole e a história te recompensa. Mesmo com o filme tendo um ótimo ritmo, pelo excesso acaba te sobrecarregando, não sendo difícil você sair da sessão percebendo que está com os ombros doloridos de tanta tensão.
Confesso que gostei muito do novo estilo dado ao personagem do Javier Bardem. Mesmo transformando-o em uma espécie de alívio cômico, o cara é tão bom ator e cativante que te convence e rouba a cena sempre que aparece.
Infelizmente ele é clichêzão em uma parte fundamental do filme: o início, com a criança hiperativa que gruda na vida do heroi, brigam em um determinado momento, ele se arrepende e tenta remediar o erro. Apesar de, na metade final, ele buscar desconstruir essa imagem, esse problema inicial faz com que não nos apeguemos à personagem por ser algo que já foi visto em dezenas de outros filmes. A ideia, de igual modo, também não é muito original, sendo inevitável não lembrar do Naruto com seu demônio interno. É assistível, com uma boa técnica de animação, mas mais do mesmo.
Esse filme foi uma ótima surpresa considerando que, em seus 20 minutos iniciais, ficava somente pensando "O filme vai ser só isso? Eles andando e conhecendo lugares? Como vão encher 90 minutos com isso?" sendo que, logo em seguida, você percebe como essa longa parte inicial é essencial para você compreender a relação dos dois e sentir o mesmo sentimento de desespero, tristeza e abandono durante toda a espera na praia. É justamente por causa desse início que todo o filme ganha um senso de urgência, que mesmo sem falas você consegue perceber cada um dos pensamentos dos personagens e te dá vontade de querer ajudar. É lindo ver todo o controle que a produção tem em contar essa história, inserindo nos momentos certos os alívios, os romances, o drama.
Não sei se "Meu amigo robô" seria uma tradução certa ao filme já que em alguns momentos fica meio suspeita a relação deles.
Apesar do desconforto que o filme causa em certos momentos ao reviver fatos cruéis da vida das vítimas diante das próprias, mesmo desconforto expressado pelo ator em certo momento que chega a abandonar a cena, ainda assim o filme mostra a necessidade de tais momentos ao final. Se de início considerei que toda a questão beirava a tortura psicológica, à medida que as irmãs vão contando sua história você percebe que de fato elas superaram os traumas mas eles ainda doem, e por isso que ele parece crueldade porque, se fôssemos nós, jamais iríamos querer reviver uma dor tão forte.
E é com uma sucessão de plot twists, todos muito bem utilizados, que percebemos que tal dor não é nada perto dos últimos acontecimentos de suas vidas.
Confesso que jamais imaginei que as irmãs mais velhas tinham ingressado no ISIS e, em reviravoltas contínuas, ainda mostra que houve o casamento com um líder terrorista, que sua base foi bombardeada, que elas sobreviveram, foram presas, uma teve uma filha, as irmãs mais novas também estavam num fanatismo religioso que se encerrou com o tratamento psicológico em abrigo enquanto as mais velhas foram condenadas.
Não tem como acompanhar toda essa sucessão final sem ficar de boca aberta. Se fosse um filme de ficção ninguém acreditaria.
Davy Crockett e os Piratas do Rio
3.4 1 Assista AgoraAcaba sendo mais fraco que o anterior em razão de que, enquanto o outro se preocupava em contar a vida de Davy Crockett, tendo portanto um mote principal para inserir as diversas pequenas lendas, aqui ele acaba focando na Corrida do Rio. O Problema é que justamente na metade do filme este mote é resolvido, puxando um elemento trazido rapidamente nesta história para terminar o roteiro, a trama dos piratas. Com isso, você tem a impressão de que o filme está se estendendo demais e que funcionaria muito melhor como dois episódios de uma série. É divertido ver por toda a ambientação criada, com barcos reais, e até a reutilização de algumas cenas dos documentários que a Disney produzia no período sobre a vida animal, mas como história em si não compensa.
Planeta dos Macacos: O Reinado
3.7 94Me surpreendi por ver que o principal problema do filme é ele ainda ser curto. Mesmo com mais de 140 minutos de duração, toda a história passa voando a ponto de alguns acontecimentos relevantes para essa mitologia não terem o tratamento adequado, com destaque a três:
- A Morte de Raka, que acontece com tão pouco tempo de interação entre os personagens que não te faz acreditar que ele conseguiu, nesse curto período, ensinar o suficiente para Noa.
- O aspecto religioso. Algo que já era abordado desde o filme anterior, vinculando a história de Caesar à história de Moisés e o Êxodo, tem poucos diálogos aqui e que poderiam ser tratados mais a fundo.
- O vilão, que acaba aparecendo basicamente em três cenas e, de tão pouco, não te causa grande temor no conflito final.
Ainda assim acaba sendo um filme incrível. Seus efeitos tem altos e baixos, com momentos tão bem feitos (como por exemplo um macaco cuspindo sangue ao final) acompanhado de outros que te deixam até na dúvida se você não acabou vendo um ser humano vestido de macaco, bem como a atuação da protagonista que parece até mesmo estranha em tela. Mesmo assim, a mitologia criada é tão interessante que não atrapalha na imersão da história.
Mogli: O Menino Lobo
3.6 320 Assista AgoraNão li O Livro da Selva, e talvez por isso tenha gostado tanto de Mogli (diferente da “adaptação” anterior em animação do estúdio, A Espada era a Lei). É um filme agradável de assistir e que amplia ainda mais a tática de mercado da Disney de expandir seu público criando personagens de países diferentes, como já feito em Alô amigos, A Espada e a Rosa e Roby Roy. A técnica de animação, mesmo sendo feita em uma fase difícil do estúdio com a morte de Walt Disney, é surpreendente, e é impossível não gostar da música tema (que, confesso, ficou muito melhor dublada do que no original).
Davy Crockett, O Rei das Fronteiras
3.2 2 Assista AgoraSegue um estilo bem característico das produções Disney dos anos 50 que era criar um imaginário sobre determinadas localidades ou períodos visando o futuro parque que seria inaugurado. Aqui traz o Oeste, algo que seria abordado novamente em outras produções como A Odisseia do Oeste. Sua intenção era fazer com que as pessoas criassem um interesse tão grande sobre o período que quisesse conhecer os locais ou, ao menos, uma reprodução dos mesmos, indo até o parque para participar de uma apresentação de ataque indígena, entrar em uma cabana de caçadores ou ver “figuras históricas”. Com isso, trazem uma ótima história de Davy Crockett, personagem real e fictício, com todas as dime novels criadas sobre ele. Acaba sendo interessante porque o filme assume que muito do personagem é exagero, então acaba sendo engraçado vê-lo lutar contra um urso usando somente um sorriso, fato que cria um ótimo gancho posteriormente. Infelizmente acaba ficando cansativo em seu final no Álamo, momento este que deveria ser grandioso e apoteótico, principalmente por falta de orçamento.
A Espada Era a Lei
3.8 303 Assista AgoraEsse é um dos mais fracos da Disney, talvez o mais fraco até os anos 60. Isso porque a história é genérica demais, não fazendo sentido buscarem inserir as lendas do Rei Arthur nesse meio. Acaba sendo em sua metade inicial quase como um Cinderela com personagens masculinos, para logo em seguida se aventurar em uma trama pedagógica, com ensinamentos sobre os animais, o amor e afins, até retornar de maneira repentina para resolver a trama inicial (e termina de forma igualmente repentina, durando menos de 10 minutos o segmento final). Ele não te comove e talvez o melhor momento seja a participação de Madame Mim (que, confesso, não sabia que tinha surgido com este filme. Sempre achei que era uma personagem dos quadrinhos). Vale somente pela técnica de animação, principalmente das florestas.
101 Dálmatas: A Guerra dos Dálmatas
3.6 395 Assista AgoraApesar de tê-lo marcado como visto, não me recordava muito do filme em si. Lembro que de memória somente achava o estilo de animação de 101 Dálmatas estranho, opinião esta que mudei agora. Isso porque, se reparar bem, este é a primeira animação contemporânea do estúdio, com o mais próximo até então sendo A Dama e o Vagabundo e Peter Pan, que se passam nos anos 20/30. Aqui, ao contrário, a história se passa em sua época de lançamento, então por isso os cenários não são carregados com figuras de época, como normalmente se fazia, tendo traços propositalmente diferentes e inserindo diversos detalhes em objetos para criar um aspecto de contos de fadas em uma história atual.
Traz de novo a paixão de Walt Disney por cachorros, considerando que ele dizia que A Dama e o Vagabundo era seu filme mais pessoal justamente por isso, e é lindo ver como desenham esses personagens com realismo, seja pela forma como as orelhas balançam ao vento ou como suas bochechas se esparramam quando deitam na janela.
Quem ama animais vai se divertir do início ao fim.
A Bela Adormecida
3.6 454 Assista AgoraQue filme maravilhoso. Walt Disney busca reconstruir o sucesso de Branca de Neve e aqui se utiliza da mesma estrutura para contar essa história, desde a lenda, a maldição, a floresta e até mesmo com uma cena de limpeza da cabana que remete à de Branca de Neve (e com vassouras e esfregões que se comportam como as de O Aprendiz de Feiticeiro de Fantasia). No entanto, ele vai ainda além, solucionando aqueles pequenos equívocos. Se em Branca de Neve já nos parece bizarro um príncipe aparecendo do nada e beijando alguém que nunca viu, aqui eles criam uma trama prévia, com os personagens se conhecendo a fim de não parecer tão estranho o romance final.
Tem muito do estilo de Walt Disney em buscar naturalidade nos movimentos, sendo visível a sua técnica típica de fazer com que os animadores encenassem a história e os movimentos para que fosse repetido nas telas. Então é lindo ver o movimento do príncipe sendo acorrentado e tentando fugir, ou da luta utilizando um peixe e uma bandeja pelos dois reis.
Um dos filmes mais bem construídos do estúdio.
Meu Amigo Totoro
4.3 1,3K Assista AgoraÉ uma delícia de assistir, sendo mais um filme do estúdio com referências à Alice, desde o buraco na árvore até o Gato de Chesire. Talvez seu único problema seja o aspecto amplo que querem conceder à figura de Totoro: você não sabe ao certo quem ele é, o que simboliza e qual a sua função. Ele simplesmente existe e qualquer interpretação que queira utilizar para esse simbolismo vai acabar sendo correta, o que no final deixa o roteiro um pouco frágil. A sorte é que os personagens são tão cativantes e a história é tão bem feita que tal aspecto pouco importa no resultado final. Você aprecia a história por si só.
O Serviço de Entregas da Kiki
4.3 774 Assista AgoraEste me surpreendeu. Mesmo com um início apelando muito para o aspecto infantil (o que faz completo sentido considerando que é uma adaptação de um livro infantil), aos poucos o filme vai se alterando para tornar sua abordagem mais séria, o que é compatível com o próprio crescimento da personagem. Então o filme começa a crescer muito a partir do momento em que ela começa a fazer as entregas (a cena do cachorro é aquela que nos amarra de imediato à história) e vai percebendo aquilo que nós, que já passamos por isso, já sabemos há tempos: há pessoas boas e ruins no mundo, com algumas delas acabando com o nosso dia.
O Castelo no Céu
4.2 326 Assista AgoraEu tenho uma relação de amor e ódio com o Estúdio Ghibli porque normalmente, e O Castelo no Céu se inclui nisso, eu amo o traço, adoro os roteiros e tenho vontade de morar naquele universo, mas sempre chega um momento em que a trama está se estendendo além do devido e tudo começa a ficar cansativo. Se na primeira hora de duração O Castelo no Céu nos instiga em querer saber quem são aqueles personagens, qual o poder daquela pedra e como irão resolver o conflito, em sua segunda hora ele acaba demorando demais em explicar coisas que nós já compreendemos perfeitamente, como se quisesse nos mostrar quão vilão é o vilão ou o porquê devemos fazer o certo, mesmo que com sacrifícios. Te dá vontade de gritar para a tela "Já entendi! Agora resolve o problema!".
O Hobbit: A Desolação de Smaug
4.0 2,5K Assista AgoraEu odiei este filme da primeira vez que vi, tanto que me assustei ao olhar a página e ver que havia dado apenas meia estrela para ele. No entanto, depois dos anos fui compreendendo melhor e percebi que sua falha veio somente em razão de uma coisa: ganância. O Hobbit inicialmente foi idealizado para ser dois filmes, tanto que me recordo claramente de sair da sala de cinema do primeiro filme sabendo que no ano seguinte haveria o final, e durante a semana, ante a repercussão positiva, decidiram ampliar para três filmes. E esse é o erro: você consegue perceber os diversos elementos que foram inseridos unicamente para aumentar a duração da história e justificar três filmes. Se antes a pesquisa para o roteiro estava tão profunda que incluía até mesmo os apêndices não publicados de Tolkien, com a narrativa do que Gandalf faz quando abandona os anões na entrada da floresta, aqui decidem inserir uma trama romântica que fica completamente avulsa no contexto geral e ainda estraga o ritmo. Por sorte, na versão estendida esse elemento é melhor trabalhado e não incomoda tanto.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
4.1 4,7K Assista AgoraRevendo a saga do Hobbit é estranho ver como um dos elementos que mais me agradou quando foi lançado desaparece: a nostalgia. Eu lembro de ir à sessão completamente empolgado e surtar vendo novamente todos aqueles personagens da Terra Média novamente em tela e, hoje, essa sensação vai embora.
Por sorte O Hobbit não se segura somente no fator nostalgia. Ele ainda assim é um bom filme e mesmo com algumas técnicas não funcionando na televisão (o filme fora feito à época para ser visto em 3D e com a tecnologia HDR, a ponto de várias salas terem que ser equipadas para exibi-lo), você se diverte.
Seu ponto negativo é o mesmo dos livros: o fato de os personagens saírem de uma situação, resolver o conflito, entrar em outra e assim sucessivamente, o que deixa a história cansativa. Mas Martin Freeman é um Hobbit tão bom (e, para mim, o melhor Hobbit), que acaba sendo cativante vê-lo pulando pelo Condado gritando "I'm going on a adventure!".
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
4.2 6,4K Assista AgoraMesmo reconhecendo as diversas falhas ainda acabou sendo agradável de assistir. Talvez a melhor parte seja a forma como soube abordar toda a fase de reclusão do Batman. Aqui ficamos muito mais interessados em saber da vida de Bruce Wayne e da destruição do seu psicológico do que querer ver várias cenas de luta e conflito e não a toa o Batman acaba demorando para aparecer. O problema é que, com o fechamento de ciclo, o filme acaba ficando cansativo ao final quando deveria ser catártico, retirando o valor do próprio vilão, que se torna somente mais um no conflito.
Batman: O Cavaleiro das Trevas
4.5 3,8K Assista AgoraEu não me recordava que o filme fosse tão frenético. Enquanto nos costumeiros filmes do Batman sempre existe um momento de descanso, normalmente para apresentar a investigação ou uma cena romântica, estes mesmos momentos ocorrem aqui vinculados diretamente à ação ou à uma consequência drástica. Assim, todo o conflito com Rachel ainda é tenso, ou os momentos em Hong Kong. E, óbvio, o Coringa de Heath Ledger faz aumentar ainda mais essa tensão quando todas as suas inserções são tão boas e anárquicas que continuamos tenso na cadeira esperando quando ele irá aparecer de novo. Um dos grandes arrependimentos que tenho na minha vida cinéfila foi não ter visto este no cinema.
Batman e o Longo Dia das Bruxas - Parte 1
3.7 86 Assista AgoraAcaba sendo bem cansativo por buscar ser fiel demais aos quadrinhos. Se lá a quantidade de diálogos e a tentativa de descobrir quem é o Feriado nos deixa apreensivos, aqui os mesmos elementos acabam ficando cansativos, principalmente pelo excesso de personagens. Se você reparar, O Longo Dia das Bruxas leva 12 edições para se desenrolar enquanto aqui os mesmos elementos acabam sendo condensados, em sua primeira parte, em menos de uma hora e meia, o que explica esse incômodo no excesso. Vale pela técnica de animação muito boa.
Malcolm X
4.1 267 Assista AgoraTalvez o maior problema aqui seja sua primeira hora inicial em que é tomado todo o cuidado para amenizar a parte criminosa da vida de Malcolm X. Como, em uma narrativa, os primeiros 30 minutos iniciais são fundamentais para nos apegarmos aos personagens, colocar Malcolm como ladrão, vigarista ou traficante automaticamente afastaria o público de sua fase engajada e religiosa. Consideraríamos um hipócrita, o que não era de forma alguma, e é por isso que esse hora inicial acaba sendo cansativa ao buscar contar a história sem se comprometer o suficiente, evitando assuntos e por vezes até mesmo usando expressões veladas para o que acontecia.
Somente após Malcolm ir para a prisão que a história passa a funcionar e você fica tenso na cadeira. De forma inteligente, Spike Lee traz muito do pensamento de Alex Haley, responsável por organizar e transcrever o livro, explicando quase de forma didática como surge o pensamento da injustiça contra os negros na história americana e como, em determinado momento, era natural imaginar todos como inimigos (algo que Haley aborda também em Raízes).
Mesmo tendo alguns momentos em que a concepção do filme aparente uma obra feita para a televisão, com cenários e fotografia fracas, a história e as atuações são tão boas que tudo se torna irrelevante. Basicamente, Spike Lee apresenta a mesma mensagem anos depois em Infiltrado na Klan, para mostrar como a injustiça continua.
Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 2
4.3 370 Assista AgoraRealmente a DC acertou nas adaptações de O Cavaleiro das Trevas. Tem um bom ritmo, foca no aspecto distorcido que aquele mundo ficou, mostrando como a ausência de um Batman foi prejudicial à Gotham City e mesmo sendo violento, não é uma violência gratuita, fazendo o completo sentido na forma física dos personagens e na raiva acumulada ao longo dos anos.
Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 1
4.2 356 Assista AgoraApesar de eu não ser muito fã dessa ideia da gangue dos mutantes, algo que até mesmo na HQ considerava muito genérica, o filme acerta ao colocar esse aspecto mais como um plano de fundo, dando mais destaque a um Batman retornando à ativa e a própria discussão social sobre a violência crescente. Com isso, o mote dos vilões acaba sendo somente um meio para que essas discussões surjam, com todos o aspecto psicológico do Batman, o sujeito que nunca superou seus traumas, e como a sociedade encara a criminalidade. Tem uma sequência final bem cansativa, mas vale muito por toda a apresentação que faz desse "futuro" distópico.
Batman: A Piada Mortal
3.3 495 Assista AgoraMe surpreendi como acabei gostando. Acaba sendo diferente da HQ em dois pontos principais: a ausência de um final dúbio, já que para Grant Morrison em A Piada Mortal vemos finalmente o Batman matando o Coringa (E por isso o título A Piada Mortal), teoria que eu acho muito provável; e a também ausência de dúvida sobre se o Coringa estuprou ou não Bárbara, um dos fatores que aumentavam ainda mais o transtorno da situação para Gordon.
Ainda assim ele é bem interessante pois, para aumentar o impacto das cenas, cria toda uma sequência inicial focando na atuação de Barbara como Batgirl, um Batman que já não tem o menor resquício de Bruce Wayne, vivendo completamente imerso no papel de vigilante, e um Coringa que, talvez pela primeira vez, está atuando com um propósito bem definido ao invés de ser meramente anárquico.
Claro, considerando que a ideia é encontrar o ponto de ruptura dos personagens, poderia ter um Coringa ainda mais insano, sendo uma completa quebra de expectativa a cena musical.
O Menino e a Garça
4.0 217Não sou fã do Studio Ghibli ou de Miyazaki; Vi apenas alguns filmes (Mononoke, Nausicaa, Kaguya e Cagliostro), nunca os grandes clássicos como O Castelo no Céu ou Chihiro, e sempre achei filmes apenas ok, muito cansativos e com pouca emoção.
O Menino e A Garça acabou sendo o filme que mais gostei e muito provavelmente pelo fato de ter visto no cinema já que, do mesmo modo que os anteriores, ele é também cansativo e lento, mas o poder dessas imagens em tela grande e o som dos pássaros nas caixas de som é algo incrível, querendo que aquela experiência dure por horas.
É basicamente a história de Alice, com o Coelho Branco sendo substituído pela Garça, o Exército de Copas pelos periquitos e a Rainha pelo Duque, e este sendo uma óbvia referência à Alemanha (e, de modo muito inteligente, não faz o duque semelhante à Hitler, mas sim a Otto Von Bismark), então vai sim ser non sense, psicodélico e por vezes muito viajado. Do mesmo modo que Alice substituía as pessoas de sua realidade por metáforas, faz o mesmo aqui.
Mas, como dito, mesmo com estes aspectos fascinantes você ainda termina o filme com uma sensação estranha, como se tivesse feito muito para transmitir pouco.
Duna: Parte 2
4.4 626Eu gosto muito da forma como o Villeneuve não quis se prender às convenções ao fazer Duna. Se no primeiro filme ele cria uma introdução de duas horas e meia a esse universo, aqui ele pouco se importa com o excesso e vai apresentando novos personagens mesmo quando o filme já tem mais de 1 hora de duração. E mesmo sendo algo fora do comum, acaba funcionando. É claro que, por fugir das convenções, é normal que em alguns momentos pensemos “Acho que essa história ficaria melhor em uma série”, mas o filme consegue suprir as expectativas.
E talvez este seja o ponto que mais prejudique o filme: as expectativas. Queremos que seja algo catártico a ponto de gritarmos no cinema, e na realidade ele é bem comedido em sua condução.
Mesmo sendo muito bom é visível como Villeneuve faz cada cena com cuidado para não errar, e por isso alguns momentos que deveriam nos comover ou irritar acabam sendo diminuídos pelo medo de ser pedante ou clichê. Assim, por boa parte do filme parece que ele está se segurando para não ser violento demais, político demais, romântico demais, dramático demais.
É somente quando Paul assume sua figura que de fato o filme se liberta de todo esse autocontrole e a história te recompensa. Mesmo com o filme tendo um ótimo ritmo, pelo excesso acaba te sobrecarregando, não sendo difícil você sair da sessão percebendo que está com os ombros doloridos de tanta tensão.
Confesso que gostei muito do novo estilo dado ao personagem do Javier Bardem. Mesmo transformando-o em uma espécie de alívio cômico, o cara é tão bom ator e cativante que te convence e rouba a cena sempre que aparece.
Nimona
4.1 234 Assista AgoraInfelizmente ele é clichêzão em uma parte fundamental do filme: o início, com a criança hiperativa que gruda na vida do heroi, brigam em um determinado momento, ele se arrepende e tenta remediar o erro. Apesar de, na metade final, ele buscar desconstruir essa imagem, esse problema inicial faz com que não nos apeguemos à personagem por ser algo que já foi visto em dezenas de outros filmes. A ideia, de igual modo, também não é muito original, sendo inevitável não lembrar do Naruto com seu demônio interno. É assistível, com uma boa técnica de animação, mas mais do mesmo.
Meu Amigo Robô
4.0 84Esse filme foi uma ótima surpresa considerando que, em seus 20 minutos iniciais, ficava somente pensando "O filme vai ser só isso? Eles andando e conhecendo lugares? Como vão encher 90 minutos com isso?" sendo que, logo em seguida, você percebe como essa longa parte inicial é essencial para você compreender a relação dos dois e sentir o mesmo sentimento de desespero, tristeza e abandono durante toda a espera na praia. É justamente por causa desse início que todo o filme ganha um senso de urgência, que mesmo sem falas você consegue perceber cada um dos pensamentos dos personagens e te dá vontade de querer ajudar. É lindo ver todo o controle que a produção tem em contar essa história, inserindo nos momentos certos os alívios, os romances, o drama.
Não sei se "Meu amigo robô" seria uma tradução certa ao filme já que em alguns momentos fica meio suspeita a relação deles.
As 4 Filhas de Olfa
3.8 35 Assista AgoraApesar do desconforto que o filme causa em certos momentos ao reviver fatos cruéis da vida das vítimas diante das próprias, mesmo desconforto expressado pelo ator em certo momento que chega a abandonar a cena, ainda assim o filme mostra a necessidade de tais momentos ao final. Se de início considerei que toda a questão beirava a tortura psicológica, à medida que as irmãs vão contando sua história você percebe que de fato elas superaram os traumas mas eles ainda doem, e por isso que ele parece crueldade porque, se fôssemos nós, jamais iríamos querer reviver uma dor tão forte.
E é com uma sucessão de plot twists, todos muito bem utilizados, que percebemos que tal dor não é nada perto dos últimos acontecimentos de suas vidas.
Confesso que jamais imaginei que as irmãs mais velhas tinham ingressado no ISIS e, em reviravoltas contínuas, ainda mostra que houve o casamento com um líder terrorista, que sua base foi bombardeada, que elas sobreviveram, foram presas, uma teve uma filha, as irmãs mais novas também estavam num fanatismo religioso que se encerrou com o tratamento psicológico em abrigo enquanto as mais velhas foram condenadas.
Não tem como acompanhar toda essa sucessão final sem ficar de boca aberta. Se fosse um filme de ficção ninguém acreditaria.