Cinebiografia formulaica, como esperado. Mesmo bebendo de boas fontes – a história verídica, as fotografias do caso e até mesmo o cinema de Jean Renoir – o filme não consegue mediar tais referências e acaba caindo em uma vala comum.
Ainda que o cuidado de Hirokazu Kore-eda em retratar relações familiares tão embaraçosas siga distinto, lamento não ter sido tocado pelo mais novo filme do diretor. "Assunto de Família" divaga em meio a um amplo enredo, sobrecarregado de elementos, os quais não convergem direito. Pelo menos, comigo foi assim. Por isso, lamento mesmo tal distanciamento, até porque eu ainda pretendo insistir nesse cineasta.
O conflito basilar de “Onde Começa o Inferno” pode não ser dos mais geniais, no entanto, ele abre espaço para uma sequência de ações paralelas determinantes. São desses entreatos, sobretudo do equilíbrio de Howard Hawks em lidar com o conteúdo de tais intervalos, que desponta a força dessa obra incontornável.
– Contei uma mentira. Porque encontrei um coração, contei uma mentira.
Contar com um coração, para Nozomi, funciona quase como assumir uma postura questionadora frente ao mundo corrompido pelas culturas dominantes. Serve também como uma maldição, pois a coloca em contato com os riscos da vida humana.
É assustador pensar na existência deste filme. “Primavera Numa Pequena Cidade” está localizado em um momento muito específico da história do cinema chinês – o final da segunda geração (1930-49), período que perpassa da resistência antijaponesa até a tomada do poder pelos comunistas. Ainda assim, pensando nos dias que correm, a obra se mantém inquietante no que diz respeito a maneira como desenvolve o relacionamento entre as personagens. Muito disso advém, creio eu, do fato de Fei Mu conciliar a encenação clássica com elementos surpreendentemente modernos.
É lugar-comum assinalar o respeito e a candura com a qual o filme trabalha a protagonista. Na minha perspectiva, está longe de ser um retrato vitimista, tampouco “demonizador”. De fato, uma parte dessa qualidade advém da encenação, mas creio que a atuação de Ruan Lingyu centraliza a maior parcela de tal força – a imposição física nas sequências em que ela está passeando pela rua; a entrega ao contracenar com a criança; o cenho frisado em certos momentos. A última cena reflete bem o caráter da obra: um momento catártico, embora árduo.
Por onde começar este comentário emocionado sobre “Amor Até as Cinzas”? Quem sabe pelo fato de ter assistido ao mais novo filme de Jia Zhangke em um cinema a 38 quilômetros de distância da minha casa, justamente na semana em que estou concluindo uma monografia a respeito de “Em Busca da Vida” – longa-metragem do mesmo diretor. Só por isso a sessão vem a ser inesquecível. No entanto, há algo mais: ela constatou que o cineasta se reencontrou em meio ao processo de reinvenção do próprio “fazer cinema”.
Eu ainda estou assimilando a obra e preciso de tempo para precisar algo significativo. Apesar disso, sinto a necessidade de expressar breves ponderações. A começar pelas experimentações feitas por Jia Zhangke em “Um Toque de Pecado”, as quais foram ensaiadas no subsequente “As Montanhas Se Separam”, terem alcançado uma maturidade notável em “Amor Até as Cinzas”. Eu explico por partes:
- Nessas duas obras anteriores, já conseguimos verificar o interesse do diretor em trabalhar de modo mais aberto a dramaturgia e explorar as potencialidades do cinema de gênero (primeiro wuxia e melodrama, agora romance e filme de gângster). Jia aperfeiçoou esse exercício ao ponto de “Amor Até as Cinzas” mostrar-se uma peça muito mais competente no que diz respeito à lida com tal natureza narrativa.
- Um outro aspecto interessante para pensarmos é o que levou o cineasta a resgatar imagens registradas por ele em 2001 e 2006, as quais ele utilizou em outros filmes?
Antes de atendermos a tal pergunta, vale lembrar que Jia revistou, nos longas “Um Toque de Pecado” e “As Montanhas Se Separam”, lugares marcantes de suas primeiras obras – a cidade de Fenyang serviu de locação para os dois primeiros trabalhos do diretor, “Xiao Wu” e “Plataforma”.
Retomando o cerne da questão: em “Amor Até as Cinzas” ele não apenas reencontra espaços familiares, como também reutiliza imagens, canções e trilhas sonoras dos filmes “Em Público”, “Prazeres Desconhecidos” e “Em Busca da Vida”. Além desses arquivos responderem a lógica das elipses narrativas, Jia apropria-se de tais elementos para reforçar o potencial dramático do cinema o qual está interessado.
É uma resposta razoável, uma vez que essa auto referência não se dá apenas no âmbito cinematográfico, mas também no narrativo. Vejamos, assim como no longa “Em Busca da Vida”, nesse novo filme Zhao Tao interpreta uma mulher a procura de um tal de Guo Bin na agitada Fengjie de 2006 – até o figurino é similar.
- Se nos primeiros cinco filmes de Jia Zhangke os personagens funcionam como guias do espectador por um universo que chamava a atenção do cineasta, agora, depois de “As Montanhas Se Separam” e “Amor Até as Cinzas”, essas figuras são realmente personagens – me refiro ao sentido mais clássico da encenação, o qual contrapõe o método moderno, até então em voga na filmografia do diretor. Enfim, ao meu ver eles são apresentados com maior cuidado, têm a psicologia trabalhada e suas trajetórias possuem peso.
- Ainda acerca do impacto de “Amor Até as Cinzas” na obra de Jia Zhangke: se a partir dos filmes “Em Busca da Vida” e “Inútil” ele se consagrou como um dos principais organizadores das imagens do mundo, acredito que nesta nova fase ele está interessado na construção de imagens – algo que corrobora com a simpatia pelas narrativas ficcionais.
O olhar documental do cineasta abre espaço para uma entrega ao cinema de gênero muito mais direta. Nessa perspectiva, a sequência do ataque dos motoqueiros ao carro de Guo Bin desponta como uma das melhores na filmografia de Jia.
- No final das contas, “Amor Até as Cinzas” me parece um filme sobre o reencontro – especificamente deste casal que não se vê há cinco anos e quando se topam entram em conflito; mas também do próprio diretor que revisita espaços e imagens aos quais ele já dedicou a atenção de suas lentes.
Então, narrativa e cinematograficamente é uma obra a respeito do reencontro, bem como dos conflitos gerados por essa força – tradição e modernidade; irmandade e individualidade; homem e mulher.
É engraçado pensar que este filme – metalinguístico, auto referencial, seja lá o que for – acaba tocando toda a filmografia e o momento no qual Jia Zhangke está vivendo.
- Muito doido o filme começar com um plano de “Em Público” e terminar com um zoom em uma imagem de câmera de vigilância... Ah, o gesto!
O único filme que entendeu os jogos bidimensionais de ação – como "Final Fight", por exemplo – antes mesmo deles existirem. Verdade seja dita, “The Warriors” entrega-se ao que realmente importa no cinema: registrar espaços e corpos; apreciar o deslocamento de diferentes tipos físicos pelas mais diversas superfícies.
No final das contas, entregaram uma espécie de “Thor” do Kenneth Branagh versão 2.0. O filme que uma personagem como a Capitã Marvel merecia, de fato, não existiu. Para além da narrativa protocolar – que tenta reinventar a roda com analepses vazias –, as sequências de ação despontam sem muita inspiração. A trama da guerra Kree-Skrull e tudo aquilo que ela acarreta oferece um elemento bem positivo ao enredo, até então, apático.
Pensando nos possíveis caminhos do Universo Cinematográfico Marvel pós-Ultimato, "Homem-Aranha no Aranhaverso" parece apontar para uma direção positiva. Quem sabe o melhor futuro do estúdio seja investir em projetos independentes, melhor dizendo, em filmes que não derivam de outros. Mesmo tratando-se de uma produção da Sony, essa animação comprovou que é possível uma obra isolada se aproveitar da mitologia compartilhada. Eu tenho os meus problemas com a estética "episódio proibido de Pokemon", mas tudo bem... Até porque os melhores momentos são aqueles em que as personagens à deriva no espaço-tempo encontram abrigo na troca de afeto.
Embora haja uma franca entrega as particularidades do cinema de gênero, em especial aos thrillers de espionagem da franquia James Bond, “The Eiger Sanction” possui uma construção cadenciada bem reveladora; uma encenação ainda mais significativa se colocarmos em perspectiva com o trabalho realizado por Clint Eastwood dois anos antes.
Gosto da constante sensação de ímpeto que rege o filme do início ao fim: uma força que parte do agente aposentado topando a sua última missão; atravessa locações memoráveis, como o Monument Valley e o Monte Eiger; para finalmente jogar com a natureza da suspeita e da descoberta.
A plasticidade das sequências de escalada, seja no Arizona ou nos Alpes Berneses, apresentam um contraste maravilhoso.
Muito se comenta a respeito do mal aproveitamento das imagens colhidas durante a produção de reportagens ou documentários. Esse problema pode se agravar ainda mais dependendo do objeto ou da ação que será registrado. Imaginemos a responsabilidade que é documentar o desfazimento das edificações de uma cidade com mais de dois mil anos de história; bem como a tarefa de fotografar a maior hidrelétrica do mundo, responsável por causar prejuízos incalculáveis no município do Chongqing, na China. Tanto a decepção, quanto o deslumbramento do fotógrafo diante da matéria pode tornar-se um empecilho, sobretudo no momento em que as filmagens serão decupadas.
Ainda bem que existem cineastas como o Jia Zhangke para nos ensinar a importância da resiliência na organização das imagens: aqui (youtube.com/watch?v=LsVS2Fg198g), ele dá uma verdadeira aula sobre o assunto.
O fato de Han Sanming interpretar sempre o mesmo personagem nos filmes de Jia Zhangke pode levar espectadores a subestimá-lo. A própria imposição física de Sanming é capaz de fomentar essa leitura preliminar. No entanto, depois desta revisão, ficou ainda mais evidente a força por trás da discreta fisicalidade do ator. Esse intérprete compreende as particularidades da personagem, bem como as minúcias do cenário no qual ela está inserida. O Han Sanming, que está buscando a filha de 16 anos em meio ao caos, manifesta-se por intermédio de gestos sutis (imgur.com/1J0BHp1); indícios do passado de um homem complexo, muito bem disfarçado nos detalhes da performance do Han Sanming artista.
Mesmo para a época em que foi lançado, "Breezy" apresenta um conteúdo relativamente provocador. Se colocarmos em perspectiva com os dias de hoje é um filme ameno, que apresenta uma trama não tão controversa, ainda mais se pensarmos a respeito do contexto e comportamento da personagem interpretada por William Holden. Afora essa observação, gosto da maneira como a figura da protagonista vai fazer esse homem repensar uma série de concepções enraizadas, até então, muito bem assentadas. Talvez seja a primeira obra na qual conseguimos perceber aspectos comuns da obra que o Clint vai estruturar décadas depois. Isso por causa da direção discreta, clássica – para ficarmos com um termo não tão adequado, mas que se faz claro.
A respeito das montagens paralelas usadas para representar as investigações do detetives: elas acabam antecipando com inteligência o desfecho; um verdadeiro clímax de cinema. É um final simples, de fato, mas muito poderoso.
Colocando em perspectiva os dois filmes do Fuller que eu vi na primeira semana de março: se "The Naked Kiss" afeta o espectador com urgência, "The Crimson Kimono" incita um mergulho. Sei lá, dos closes aos planos mais abertos, as imagens deste último manifestam questões muito caras. Hoje eu entendo melhor o porque de citarem esse diretor em textos sobre "Gran Torino".
Acho incrível um filme de 200 mil dólares apresentar um retrato tão profundo sobre uma sociedade desgastada. “O Beijo Amargo” revela-se aos poucos, enquanto explora a credulidade do espectador. A protagonista está buscando uma vida nova, assim como tantas outras pessoas que correm atrás do célebre sonho americano. Nessa jornada, seremos levados a confiar na superficialidade das coisas mostradas, até Fuller resolver desmontar gradualmente tudo aquilo que considerávamos real.
É uma encenação semelhante aos exercícios de soletrar praticado pelas crianças do orfanato, bem como por Kelly e Griff. As letras surgem, formam sílabas e somente depois saberemos qual é a palavra.
O documentário até apresenta articulações curiosas, mas retorna ao ponto de partida da discussão com frequência, o que resulta em um filme repetitivo. Também sinto falta de inspiração para cobrir com imagens todo o conteúdo exposto.
Apresenta uma distribuição de papéis, tal qual "Coisas Secretas", bem clara no começo a partir desta trama da enfermeira que passa a cuidar da jovem abastada. Em um primeiro momento, há uma espécie de encantamento por parte de Geneviève. No entanto, depois as posições de controle se invertem. Acima de tudo é importante destacar o peso exercido sobre as personagens no cumprimento de tais funções.
Céline adquire os poderes mediúnicos: premonições, projeções astrais e até mesmo promove curas milagrosas. A enfermeira passa por uma testação, mas observa e repreende todo o egoísmo – talvez seja esse o termo – quando recebe a visita de Céline.
"Você se banhará em um grande oceano de amor e benevolência".
Um filme que termina com um personagem declarando: "só queria dizer que te amo, antes de desligar.
O Fotógrafo de Mauthausen
3.8 127 Assista AgoraCinebiografia formulaica, como esperado. Mesmo bebendo de boas fontes – a história verídica, as fotografias do caso e até mesmo o cinema de Jean Renoir – o filme não consegue mediar tais referências e acaba caindo em uma vala comum.
O Informante
3.8 244Trata-se menos de indivíduos sob controle de entidades opressoras, do que da força dessas pessoas para se manterem íntegras em meio a tudo isto.
À Beira da Loucura
3.6 403 Assista AgoraAssistir "À Beira da Loucura" no começo da semana que antecedeu o último episódio de Game of Thrones deixou o filme ainda mais poderoso, creio eu.
Assunto de Família
4.2 400 Assista AgoraAinda que o cuidado de Hirokazu Kore-eda em retratar relações familiares tão embaraçosas siga distinto, lamento não ter sido tocado pelo mais novo filme do diretor. "Assunto de Família" divaga em meio a um amplo enredo, sobrecarregado de elementos, os quais não convergem direito. Pelo menos, comigo foi assim. Por isso, lamento mesmo tal distanciamento, até porque eu ainda pretendo insistir nesse cineasta.
Onde Começa o Inferno
4.2 128 Assista AgoraO conflito basilar de “Onde Começa o Inferno” pode não ser dos mais geniais, no entanto, ele abre espaço para uma sequência de ações paralelas determinantes. São desses entreatos, sobretudo do equilíbrio de Howard Hawks em lidar com o conteúdo de tais intervalos, que desponta a força dessa obra incontornável.
Boneca Inflável
3.9 192 Assista Agora– Contei uma mentira. Porque encontrei um coração, contei uma mentira.
Contar com um coração, para Nozomi, funciona quase como assumir uma postura questionadora frente ao mundo corrompido pelas culturas dominantes. Serve também como uma maldição, pois a coloca em contato com os riscos da vida humana.
– Ter um coração foi devastador.
Primavera Numa Pequena Cidade
3.7 8É assustador pensar na existência deste filme. “Primavera Numa Pequena Cidade” está localizado em um momento muito específico da história do cinema chinês – o final da segunda geração (1930-49), período que perpassa da resistência antijaponesa até a tomada do poder pelos comunistas. Ainda assim, pensando nos dias que correm, a obra se mantém inquietante no que diz respeito a maneira como desenvolve o relacionamento entre as personagens. Muito disso advém, creio eu, do fato de Fei Mu conciliar a encenação clássica com elementos surpreendentemente modernos.
A Deusa
4.1 9É lugar-comum assinalar o respeito e a candura com a qual o filme trabalha a protagonista. Na minha perspectiva, está longe de ser um retrato vitimista, tampouco “demonizador”. De fato, uma parte dessa qualidade advém da encenação, mas creio que a atuação de Ruan Lingyu centraliza a maior parcela de tal força – a imposição física nas sequências em que ela está passeando pela rua; a entrega ao contracenar com a criança; o cenho frisado em certos momentos. A última cena reflete bem o caráter da obra: um momento catártico, embora árduo.
Amor Até as Cinzas
3.6 30Por onde começar este comentário emocionado sobre “Amor Até as Cinzas”? Quem sabe pelo fato de ter assistido ao mais novo filme de Jia Zhangke em um cinema a 38 quilômetros de distância da minha casa, justamente na semana em que estou concluindo uma monografia a respeito de “Em Busca da Vida” – longa-metragem do mesmo diretor. Só por isso a sessão vem a ser inesquecível. No entanto, há algo mais: ela constatou que o cineasta se reencontrou em meio ao processo de reinvenção do próprio “fazer cinema”.
Eu ainda estou assimilando a obra e preciso de tempo para precisar algo significativo. Apesar disso, sinto a necessidade de expressar breves ponderações. A começar pelas experimentações feitas por Jia Zhangke em “Um Toque de Pecado”, as quais foram ensaiadas no subsequente “As Montanhas Se Separam”, terem alcançado uma maturidade notável em “Amor Até as Cinzas”. Eu explico por partes:
- Nessas duas obras anteriores, já conseguimos verificar o interesse do diretor em trabalhar de modo mais aberto a dramaturgia e explorar as potencialidades do cinema de gênero (primeiro wuxia e melodrama, agora romance e filme de gângster). Jia aperfeiçoou esse exercício ao ponto de “Amor Até as Cinzas” mostrar-se uma peça muito mais competente no que diz respeito à lida com tal natureza narrativa.
- Um outro aspecto interessante para pensarmos é o que levou o cineasta a resgatar imagens registradas por ele em 2001 e 2006, as quais ele utilizou em outros filmes?
Antes de atendermos a tal pergunta, vale lembrar que Jia revistou, nos longas “Um Toque de Pecado” e “As Montanhas Se Separam”, lugares marcantes de suas primeiras obras – a cidade de Fenyang serviu de locação para os dois primeiros trabalhos do diretor, “Xiao Wu” e “Plataforma”.
Retomando o cerne da questão: em “Amor Até as Cinzas” ele não apenas reencontra espaços familiares, como também reutiliza imagens, canções e trilhas sonoras dos filmes “Em Público”, “Prazeres Desconhecidos” e “Em Busca da Vida”. Além desses arquivos responderem a lógica das elipses narrativas, Jia apropria-se de tais elementos para reforçar o potencial dramático do cinema o qual está interessado.
É uma resposta razoável, uma vez que essa auto referência não se dá apenas no âmbito cinematográfico, mas também no narrativo. Vejamos, assim como no longa “Em Busca da Vida”, nesse novo filme Zhao Tao interpreta uma mulher a procura de um tal de Guo Bin na agitada Fengjie de 2006 – até o figurino é similar.
- Se nos primeiros cinco filmes de Jia Zhangke os personagens funcionam como guias do espectador por um universo que chamava a atenção do cineasta, agora, depois de “As Montanhas Se Separam” e “Amor Até as Cinzas”, essas figuras são realmente personagens – me refiro ao sentido mais clássico da encenação, o qual contrapõe o método moderno, até então em voga na filmografia do diretor. Enfim, ao meu ver eles são apresentados com maior cuidado, têm a psicologia trabalhada e suas trajetórias possuem peso.
- Ainda acerca do impacto de “Amor Até as Cinzas” na obra de Jia Zhangke: se a partir dos filmes “Em Busca da Vida” e “Inútil” ele se consagrou como um dos principais organizadores das imagens do mundo, acredito que nesta nova fase ele está interessado na construção de imagens – algo que corrobora com a simpatia pelas narrativas ficcionais.
O olhar documental do cineasta abre espaço para uma entrega ao cinema de gênero muito mais direta. Nessa perspectiva, a sequência do ataque dos motoqueiros ao carro de Guo Bin desponta como uma das melhores na filmografia de Jia.
- No final das contas, “Amor Até as Cinzas” me parece um filme sobre o reencontro – especificamente deste casal que não se vê há cinco anos e quando se topam entram em conflito; mas também do próprio diretor que revisita espaços e imagens aos quais ele já dedicou a atenção de suas lentes.
Então, narrativa e cinematograficamente é uma obra a respeito do reencontro, bem como dos conflitos gerados por essa força – tradição e modernidade; irmandade e individualidade; homem e mulher.
É engraçado pensar que este filme – metalinguístico, auto referencial, seja lá o que for – acaba tocando toda a filmografia e o momento no qual Jia Zhangke está vivendo.
- Muito doido o filme começar com um plano de “Em Público” e terminar com um zoom em uma imagem de câmera de vigilância... Ah, o gesto!
Jia Zhangke, um Homem de Fenyang
3.8 10Muito boa a imagem do Wang Hongwei pedindo para o Jia e o conhecido de Fenyang saírem da contraluz e depois se posicionarem fora da sombra.
Os Selvagens da Noite
4.0 597 Assista AgoraO único filme que entendeu os jogos bidimensionais de ação – como "Final Fight", por exemplo – antes mesmo deles existirem. Verdade seja dita, “The Warriors” entrega-se ao que realmente importa no cinema: registrar espaços e corpos; apreciar o deslocamento de diferentes tipos físicos pelas mais diversas superfícies.
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista AgoraNo final das contas, entregaram uma espécie de “Thor” do Kenneth Branagh versão 2.0. O filme que uma personagem como a Capitã Marvel merecia, de fato, não existiu. Para além da narrativa protocolar – que tenta reinventar a roda com analepses vazias –, as sequências de ação despontam sem muita inspiração. A trama da guerra Kree-Skrull e tudo aquilo que ela acarreta oferece um elemento bem positivo ao enredo, até então, apático.
Homem-Aranha: No Aranhaverso
4.4 1,5K Assista AgoraPensando nos possíveis caminhos do Universo Cinematográfico Marvel pós-Ultimato, "Homem-Aranha no Aranhaverso" parece apontar para uma direção positiva. Quem sabe o melhor futuro do estúdio seja investir em projetos independentes, melhor dizendo, em filmes que não derivam de outros. Mesmo tratando-se de uma produção da Sony, essa animação comprovou que é possível uma obra isolada se aproveitar da mitologia compartilhada. Eu tenho os meus problemas com a estética "episódio proibido de Pokemon", mas tudo bem... Até porque os melhores momentos são aqueles em que as personagens à deriva no espaço-tempo encontram abrigo na troca de afeto.
12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição
3.3 804 Assista AgoraFoda como ele se liberta de qualquer ligação com o primeiro filme e aproveita muito bem as peculiaridades do universo distópico.
Uma Noite de Crime
3.2 2,2K Assista AgoraO argumento é curioso, mas o filme explora mal a premissa de confinamento. Pura frustração.
Escalado para Morrer
3.0 37 Assista AgoraEmbora haja uma franca entrega as particularidades do cinema de gênero, em especial aos thrillers de espionagem da franquia James Bond, “The Eiger Sanction” possui uma construção cadenciada bem reveladora; uma encenação ainda mais significativa se colocarmos em perspectiva com o trabalho realizado por Clint Eastwood dois anos antes.
Gosto da constante sensação de ímpeto que rege o filme do início ao fim: uma força que parte do agente aposentado topando a sua última missão; atravessa locações memoráveis, como o Monument Valley e o Monte Eiger; para finalmente jogar com a natureza da suspeita e da descoberta.
A plasticidade das sequências de escalada, seja no Arizona ou nos Alpes Berneses, apresentam um contraste maravilhoso.
Em Busca da Vida
3.9 34Muito se comenta a respeito do mal aproveitamento das imagens colhidas durante a produção de reportagens ou documentários. Esse problema pode se agravar ainda mais dependendo do objeto ou da ação que será registrado. Imaginemos a responsabilidade que é documentar o desfazimento das edificações de uma cidade com mais de dois mil anos de história; bem como a tarefa de fotografar a maior hidrelétrica do mundo, responsável por causar prejuízos incalculáveis no município do Chongqing, na China. Tanto a decepção, quanto o deslumbramento do fotógrafo diante da matéria pode tornar-se um empecilho, sobretudo no momento em que as filmagens serão decupadas.
Ainda bem que existem cineastas como o Jia Zhangke para nos ensinar a importância da resiliência na organização das imagens: aqui (youtube.com/watch?v=LsVS2Fg198g), ele dá uma verdadeira aula sobre o assunto.
Em Busca da Vida
3.9 34O fato de Han Sanming interpretar sempre o mesmo personagem nos filmes de Jia Zhangke pode levar espectadores a subestimá-lo. A própria imposição física de Sanming é capaz de fomentar essa leitura preliminar. No entanto, depois desta revisão, ficou ainda mais evidente a força por trás da discreta fisicalidade do ator. Esse intérprete compreende as particularidades da personagem, bem como as minúcias do cenário no qual ela está inserida. O Han Sanming, que está buscando a filha de 16 anos em meio ao caos, manifesta-se por intermédio de gestos sutis (imgur.com/1J0BHp1); indícios do passado de um homem complexo, muito bem disfarçado nos detalhes da performance do Han Sanming artista.
Interlúdio de amor
3.6 30Mesmo para a época em que foi lançado, "Breezy" apresenta um conteúdo relativamente provocador. Se colocarmos em perspectiva com os dias de hoje é um filme ameno, que apresenta uma trama não tão controversa, ainda mais se pensarmos a respeito do contexto e comportamento da personagem interpretada por William Holden. Afora essa observação, gosto da maneira como a figura da protagonista vai fazer esse homem repensar uma série de concepções enraizadas, até então, muito bem assentadas. Talvez seja a primeira obra na qual conseguimos perceber aspectos comuns da obra que o Clint vai estruturar décadas depois. Isso por causa da direção discreta, clássica – para ficarmos com um termo não tão adequado, mas que se faz claro.
O Quimono Escarlate
4.0 20A respeito das montagens paralelas usadas para representar as investigações do detetives: elas acabam antecipando com inteligência o desfecho; um verdadeiro clímax de cinema. É um final simples, de fato, mas muito poderoso.
Colocando em perspectiva os dois filmes do Fuller que eu vi na primeira semana de março: se "The Naked Kiss" afeta o espectador com urgência, "The Crimson Kimono" incita um mergulho. Sei lá, dos closes aos planos mais abertos, as imagens deste último manifestam questões muito caras. Hoje eu entendo melhor o porque de citarem esse diretor em textos sobre "Gran Torino".
O Beijo Amargo
4.2 54 Assista AgoraAcho incrível um filme de 200 mil dólares apresentar um retrato tão profundo sobre uma sociedade desgastada. “O Beijo Amargo” revela-se aos poucos, enquanto explora a credulidade do espectador. A protagonista está buscando uma vida nova, assim como tantas outras pessoas que correm atrás do célebre sonho americano. Nessa jornada, seremos levados a confiar na superficialidade das coisas mostradas, até Fuller resolver desmontar gradualmente tudo aquilo que considerávamos real.
É uma encenação semelhante aos exercícios de soletrar praticado pelas crianças do orfanato, bem como por Kelly e Griff. As letras surgem, formam sílabas e somente depois saberemos qual é a palavra.
– Ten… Ten… And five!
Data Limite - Segundo Chico Xavier
3.6 56O documentário até apresenta articulações curiosas, mas retorna ao ponto de partida da discussão com frequência, o que resulta em um filme repetitivo. Também sinto falta de inspiração para cobrir com imagens todo o conteúdo exposto.
Céline
4.1 11Apresenta uma distribuição de papéis, tal qual "Coisas Secretas", bem clara no começo a partir desta trama da enfermeira que passa a cuidar da jovem abastada. Em um primeiro momento, há uma espécie de encantamento por parte de Geneviève. No entanto, depois as posições de controle se invertem. Acima de tudo é importante destacar o peso exercido sobre as personagens no cumprimento de tais funções.
Céline adquire os poderes mediúnicos: premonições, projeções astrais e até mesmo promove curas milagrosas. A enfermeira passa por uma testação, mas observa e repreende todo o egoísmo – talvez seja esse o termo – quando recebe a visita de Céline.
"Você se banhará em um grande oceano de amor e benevolência".
Um filme que termina com um personagem declarando: "só queria dizer que te amo, antes de desligar.
A Mansão do Inferno
3.4 184 Assista AgoraQuem procura acha...