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Zihuatanejo, Guerrero (BRA)
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Últimas opiniões enviadas

  • Felipe Holloway

    Eu achava que Insônia fosse o pior filme do Nolan, mas este Interestelar conseguiu a proeza de superá-lo de lavada. Acredito que críticos como o Pablo Villaça ainda tenham pegado leve com o filme, em suas análises.

    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    A desgraça começa quando o Dr. Brand informa a Cooper que ele é precisamente o piloto de que precisavam para aquela missão -- apenas algumas horas depois de lembrar, graças a um acontecimento totalmente fortuito, que o personagem do Matthew existia. E nem o exercício de autocrítica que se segue funciona, porque ao espanto de Cooper ("vocês nem sabiam de mim ainda há pouco"), segue-se uma pérola já clássica do fatalismo dramatúrgico: "mas ALGO trouxe você aqui". (Ai ai ai...) Tampouco o loop final consegue convencer, neste sentido, e é ainda mais deprimente que quase se possa ouvir a voz dos irmãos roteiristas dizendo "Arrá!, olhaí, você pensou que ele tivesse sido mandado para a estação secreta da NASA por acaso, mas na verdade ELE enviou as coordenadas a si próprio! Hein? Hein?" Não. Não. O Stewie de Family Guy e sua máquina do tempo já produziram desfechos menos óbvios e aviltantes do que esse -- e extremamente mais criativos.

    Já nessa primeira meia hora de filme, a expressão "save the world" é usada muito mais vezes do que o recomendado para um personagem americano pós-Segunda Guerra. Nolan decididamente não precisava condescender com esse clichê da síndrome dos autodenominados salvadores da pátria, aliás, da humanidade inteira, até porque todo o entorno (a agência espacial americana, a nacionalidade do núcleo central etc.) já aponta de forma "truísmica" para isso. Repetir tal resolução a cada cinco minutos tem mais o efeito de aproximá-lo do Michael Bay de Armagedon do que do brilhante diretor de Memento. Nem na trilogia Batman, onde a expressão ficaria menos contextualmente piegas, houve tanta ênfase literal nisso.

    Até compreendi a elipse narrativa que limou toda a parte do treinamento que alguém com a incumbência do personagem de McConaughey evidentemente carecia. A cena em que Cooper assiste às transmissões enviadas pelos filhos no período em que esteve noutro plano temporal é, de longe, a mais bela do filme, capaz mesmo de nos fazer comprar a ideia de Nolan de que o longa é uma metáfora da paternidade, do sentimento de ver a prole crescer etc. Mas a certeza de que aquele barco não tinha salvação veio na conversa sobre o amor, que já começa patética: "Sim, eu quero seguir meu coração". (NÃO, velho, pare!) Naquele instante, só a convicção de que se tratava -- inacreditavelmente -- de uma obra do mesmo diretor de Memento, de The Prestige, de TDK e de Inception, me impediu de abandonar a sessão.

    Ao contrário do que o Pablo escreveu, também acho que passa longe de ser justo comparar a explanação da Dra. Brand sobre este sentimento à de robôs. Robôs dificilmente seriam tão constrangedores, tão ridículos, tão forçados, tão... pretensamente racionais. (Você quase sente a sala de cinema enrubescendo de vergonha alheia!) E constatar que algo dessa explicação, amparada numa suposta simbiose com o conceito da gravidade (as "duas forças" que transcendem todas as cinco dimensões [Ai, meu pâncreas...]) é aproveitado no desfecho, que por sinal é mais Deus ex machina que o de LOST, deixa na boca um inevitável gosto de livro de Augutso Cury: a resposta é o amor!


    Patético define.

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  • Felipe Holloway

    Eu me lembro de ouvir meu pai lamentando o jogo de cartas marcadas em que a Fórmula 1 se tornara, antes de desligar a TV no meio da transmissão de uma corrida, num domingo de manhã. Me lembro de sua evocação (que então me pareceu exagerada, como o são em geral as preleções passadistas) de um tempo em que as provas e campeonatos eram decididos na pista, por pilotos, e não fora dela, por magnatas arrogantes e gordos, ou em que pelo menos os pilotos tinham mais colhões para se insurgir contra as decisões tomadas pelos magnatas. Um tempo que, afora pelas memórias dele e por uma ou outra imagem de arquivo nos Globo Esporte da vida, eu só consegui visualizar com nitidez – e finalmente entender, a partir de então, a melancolia saudosista do meu pai -- em dois filmes: o documentário Senna, de 2010, de Asif Kapadia, e este Rush, desde já, para mim, a obra-prima inconteste de Ron Howard.

    É possível traçar um paralelo entre a trajetória de Niki Lauda e James Hunt tal como retratada em Rush e a de Salieri e Mozart tal como mostrada em Amadeus, a cinebiografia romanceada de Milos Forman, com a diferença de que os protagonistas do filme de Howard têm bem menos propensão à unilateralidade psicológico-motivacional que os do de Forman, quem sabe por estarem mais próximos de nós no tempo, tendo sido possível a um deles, inclusive, receber consultoria direta do personagem real que o inspira, durante as filmagens. Niki Lauda, a princípio, é Salieri, o sujeito solitário, ranzinza e sem atrativos estéticos cujo talento provém menos de dom do que de árdua dedicação, e que é capaz de identificar os problemas mecânicos de um carro pela menor alteração de seus ruídos, como um médico auscultando um paciente sem o auscultador. James Hunt é Mozart, o bon-vivant que, não bastasse ser bonito, popular e, apesar de não ser propriamente rico, ter ótimos contatos, pilota com inegável destreza – e este último aspecto, concedido cumulativamente aos demais, deixa no universo em geral e em Lauda em particular um desagradável sabor de injustiça cósmica. Mas se em Amadeus a mediocridade artística de Salieri era ostensivamente contrastada com a genialidade de Mozart, fornecendo subsídio para a inveja crescente do primeiro, em Rush os valores profissionais dos pilotos oscilam conforme uma pletora de fatores, que vão de designs automobilísticos distintos a desempenhos divergentes em pista molhada, de adequação às menores regras da FIA a curvas traiçoeiras, sendo raros os momentos em que a competição se dá em absoluta igualdade de condições, só capacidade de guiar contra capacidade de guiar. A mesma complexidade comparativa ocorre no nível humano, e os traços da rivalidade vão se delineando e intensificando sem que seja possível simpatizar com Niki ou James por muito tempo, pois ambos se mostram dignos e mesquinhos em igual e alternada medida.

    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    Assim, se o pragmatismo e a sisudez excessivos de Lauda incomodam, por vezes, ao ponto de provocar irritação, sua filosofia auto-protetora de não aceitar maior porcentagem de risco de morte que os famigerados 20% ao sentar-se no cockpit e sua transformação num ser humano que acautela-se porque passou a ter “algo a perder” comovem; da mesma forma, se a falta de compromisso e a cafajestice de Hunt o tornam, em certos momentos, um mero babaca com um hobby caro, como manter-se insensível a demonstrações supremas de fidelidade ao colega e maior rival, como quando o piloto espanca o jornalista que tentara ridicularizar a aparência de Niki, depois do acidente que deformou seu rosto?

    Outro ponto extremamente interessante de Rush diz respeito aos objetivos de seus protagonistas. A Lauda não importa tanto chegar ao topo como manter-se lá, desde que entre ele e tal meta não esteja a transcendência dos 20%. Hunt, de forma diametralmente oposta, busca no esporte a existência no limite, aquela que traz como bônus do flerte com a morte o desfrute intenso da vida, mas não vê necessidade de perdurar como o melhor, como comprovou sua aposentadoria prematura. O orgulho e a certeza de que têm capacidades quase equivalentes jamais permitiriam que aventassem apropriar-se dos méritos um do outro, à maneira de Salieri, por exemplo, e acredito que a admissão de Lauda no fim do filme sobre Hunt ter sido a única pessoa que ele invejou na vida não seria permitida pelo verdadeiro Lauda, caso Hunt ainda fosse vivo. Porque o que se vê retratado na tela, entre diálogos enxutos e geniais, atuações espetaculares (Chris Hemsworth mostra do que é capaz quando não está no piloto automático para filmes terríveis, como Thor, e Daniel Brühl não só confirma a reputação de excelente intérprete como a eleva a um nível tão monstruosamente irretocável que uma indicação ao Oscar seria capaz de desmerecê-la, de tão indigna – o que falar daquele sotaque? Dos trejeitos? Dos dentinhos?) e provas emocionantes é uma espécie de ode à máxima de que ninguém gosta de dever nada a seus contemporâneos, só sendo possível admitir algo como inveja ou respeito de e por um rival quando este já não estiver aqui para vangloriar-se. Como Salieri.

    A trilha de Hans Zimmer não surpreende. Está perfeita.

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  • Felipe Holloway

    Num fragmento de conversa entre o inspetor Macieira e o escritor Estevão, no romance O Jardim do Diabo, Luis Fernando Verissimo escreve:

    -- Você há de convir que eu precisava investigar esta coincidência. Nós, da polícia, não gostamos de coincidências.

    -- Pois nós, escritores, não podemos viver sem elas.

    A afirmação de Estevão contém um truísmo, se levarmos em consideração que ele é, declaradamente, um autor de romances policiais baratos, desses que se vendem em bancas e nos quais é possível identificar uma fórmula (que o próprio Estevão reconhece e descreve, hilariamente). À parte questionamentos de ordem existencialista (contrariando todas as expectativas, atingimos o óvulo, vivemos no presente etc.), o que distingue a vida da ficção ruim (ou da ficção cujo propósito não é emular de modo fiel a vida) é isto -- as coincidências. Na vida, escassas. Na "má" ficção, excessivas. É como se a realidade fosse representada, no diálogo, pelo policial Macieira, com sua instintiva orelha em pé para a profusão de "acasos" que favoreçam determinado resultado, e a ficção despretensiosa, por Estevão, com seus enredos rocambolescos, facas que param sempre a meio centímetro do peito do herói e louras estonteantes que caem de boceta escancarada no seu pau tão logo a cavalaria chega e a situação é controlada.

    Verissimo justifica, nesse fragmento, a minha torcida de nariz para a colossal maioria dos romances formulaicos, policiais ou não. São obras que não se pretendem realistas, e onde ou a irrupção do acaso inexiste, ou existe de modo direcionado, ocasião em que deixa de ser acaso e passa a óbvio exercício lúdico da onipotência autoral. Nunca se conta com a eventualidade da mudança de caráter de um personagem, ou um tiro acidental na cabeça de outro (a referência ao Marvin é inevitável). Ao atestado de verossimilhança, prefere-se a satisfação de instintos mais elementares, como a vingança e o sexo. Manifesto de artificialidade, sim, mas com crime, castigo e trepadas!

    Portanto, da mesma forma que a natureza do trabalho de Estevão e de Agatha Christie desculpa o alto número de coincidências que nele há, a superficialidade psicológica dos personagens de Now You See Me tem como álibi a temática da prestidigitação. Não que se trate de um imperativo categórico do gênero, claro, porque assim como a literatura policial nos deu um cara como Georges Simenon, para quem o aprofundamento psicológico dos personagens, sobretudo dos vilões, era mais importante que a resolução do crime em si, temos o fascinante arco dramático construído por Nolan em torno dos dois protagonistas de "The Prestige", de muito longe o melhor filme sobre ilusionismo que já vi.

    O trunfo de Now You See Me, ou da opção do filme por não se aprofundar em seus elementos-chave, é a honestidade com que se recusa a adotar um dos principais aspectos do show de mágica. Porque desde o início somos martelados com a ideia do perigo representado pelo chamariz que desvia a atenção do truque que se desenrola sob ele. Então, em vez de nos oferecer uma história pregressa (com possíveis traumas e recalques) associada a Michael Caine, Mark Ruffalo, Morgan Freeman, Mélanie Laurent e/ou a cada um dos Quatro Cavaleiros -- como um mágico profissional exibindo assistentes calipígias e seminuas --, e assim desviar-nos do que realmente importa, o roteiro ordena que esqueçamos tais bobagens e nos concentremos na tentativa de sacar qual é a jogada. Sua falta de profundidade equivale à calculada contratação, por parte de David Copperfield, de assistentes feias.

    Não que isso ajude muito na missão detetivesca do espectador. Há tantas e tão variadas reviravoltas (sem falar nas coincidências, né, Estevão) que a certa altura simplesmente nos resignamos ao fato de que sempre vamos estar dois passos atrás do quarteto ilusionista e de seu mentor misterioso, como quem diz "Ok, me iluda, desgraçado!". Os elementos, em todo o restante da obra, para a adivinhação da virada final são quase tão nulos quanto os que a geração pré-Mister M tinha para sacar qual era a da levitação, mas não acho que se possa acusar o desfecho de deus ex machina. Justamente porque, mesmo sem Mister M, uma mente aplicada poderia chegar a uma conclusão sensata sobre o truque, nem que fosse chutando todas as possibilidades científicas. Coisa que, aliás, meu colega de poltrona no cinema fez: a cada novo personagem mostrado na tela, ele comentava com a namorada "É esse aí, ó, quer ver como vai ser esse aí?"

    Destaque para as boas atuações de Mark Ruffalo e Woody Harrelson. E para o agravamento do distúrbio psicológico do Jesse Eisenberg, que ou acredita ainda estar interpretando a metralhadora de palavras humana Mark Zuckerberg em A Rede Social, ou competindo com o cara que diz "ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado", num concurso de leitura dinâmica.

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  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

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