Perpetuamente indeciso entre drama de tribunal, espionagem industrial e filme político, o documentário de Simon Klose atira para todo e qualquer lado, enquanto acompanha o julgamento dos três nomes por trás do Pirate Bay, o maior site de compartilhamento p2p do mundo. Surpreendentemente, o filme não se interessa em debates sobre propriedade intelectual e pirataria, e se torna um simples diário da vida dos rapazes.
Tão mal escrito quanto atuado, a estreia do canadense Jeremy Regimbal, lembra muito (até demais) o Funny Games de Michael Haneke, quando põe uma família refém de uma trupe mentalmente perturbada dentro de seu próprio lar. O roteiro, escrito pelo também protagonista Joshua Close, só não é mais óbvio por falta de espaço, e até a geralmente competente Selma Blair tem uma performance bastante duvidosa. Talvez o único ponto realmente positivo esteja na fotografia de Norm Li.
Kinky Duke já foi um diretor interessante; filmes como Primavera..., Casa Vazia e Samaria são bons exemplos de como, apesar das limitações, o cineasta já conseguiu criar coisas curiosas. Ao longo dos anos, no entanto, ele parece ter perdido a mão. Pietá, último trabalho do sul-coreano, é um filme de vingança talhado à moda da sua terra, cheio de sangue e crueldade, que prometia 'revirar estômagos', mas que no fim das contas é tão raso quanto possível. A fotografia estranha, repleta de zooms despropositados destrói alguns bons momentos, e o tom emprestado de um melodrama tipicamente americano não combinam, e apesar do filme não ser enfadonho, as coisas simplesmente parecem não funcionar.
Com um papel que marca sua saída do grupo de rostinhos bonitos de Hollywood, e entrada definitiva no rol das atrizes a se acompanhar de perto, Mary Elizabeth Winstead merece quase todos os louros por fazer com que Smashed funcione tão bem. O roteiro de Ponsoldt sobre um casal alcoólatra que começa a enfrentar problemas quando a moça resolve ficar sóbria é muito inteligente, especialmente por não transformar as duas criaturas em pessoas totalmente inconsequentes e autodestrutivas, que é como o cinema costuma retratar esse tipo, mas ainda tem grande parte dos vícios do cinema indie americano.
Ainda mais inclassificável que o resto da prodigiosa obra do tailandês, Mekong Hotel é uma simbiose de documentário e ficção sobre um ser vampiresco, e um casal apaixonado, num pequeno hotel às margens do Mekong, rio que divide a Tailândia do Laos. A intricada construção que Apichatpong propõe ao espectador é ainda mais rigorosa que seus trabalhos anteriores, que apesar de abandonar o ambiente onírico da floresta e adicionar uma verbalização rara em seu universo, confunde o olhar e a audição, misturando uma perpétua faixa musical, com folclore e política tailandesa. Boa volta a forma, depois do irregular Tio Boonme.
A estreia de Dustin Hoffman como diretor não é das coisas mais interessantes a surgir nos últimos tempos, e isso se deve basicamente a obviedade de seu roteiro que, ao tratar do mundo da ópera com tanta propriedade, esquece de trazer o público para perto de si. As performances de quase todo o elenco estão afiadíssimas, mas é difícil ter empatia pelo grupo de cantores aposentados que resolve se reunir mais uma vez para salvar sua casa de repouso, porque o texto de Ronald Harwood não é exatamente convidativo. O maior presente é a presença sempre encantadora de Maggie Smith.
Espetacular documentário sobre os grupos ACT UP e TAG, organizações civis que batalharam para garantir um tratamento digno aos portadores do vírus da AIDS nos Estados Unidos, quando a doença dizimava milhões por negligência do governo. Quase totalmente baseado em imagens de arquivo, seria fácil esquecer que se trata de uma não-ficção não fossem as discretas entrevistas que recortam os enérgicos registros da época, tamanha é a complexidade da montagem e extensão da pesquisa que o estreante David France aplica em seu filme . O filme foi indicado ao Oscar junto com os também interessantíssimos Searching for Sugarman e The Invisible War, provando que 2012 foi um ano muito valioso para os documentaristas norte-americanos.
Planejado como um making-of de Os Monstros, filme de Luiz e Ricardo Pretti, Pedro Diógenes e Guto Parente, mais conhecidos como Alumbramento, o trabalho de Marcelo Ikeda acaba por ter uma voz própria, ainda que fazendo a observação fria que esse tipo de vídeo necessita. O prólogo e epílogo do filme, onde o próprio Ikeda explana suas intenções, muda totalmente o significado dos longos momentos onde tudo que vemos são os quatro diretores com os olhares fixados num monitor, estudando o próximo plano. Os Monstros é um filme que diz muito sobre amizade, e este aqui mostra como ela flui genuinamente em frente e atrás das câmeras.
Uma recriação do Júlio César de Shakespeare dentro dos muros de uma prisão já seria uma ideia ousada o suficiente caso fossem utilizados atores profissionais, mas os Taviani, numa movimentação que demonstra o frescor que seu cinema ainda exala após longos anos de carreira, usam os próprios detentos para dar vida a César, Brutus e tantas outras figuras dramáticas. A iniciativa é, na verdade, do próprio presídio, que incentiva as artes como forma de ressocialização; mas os diretores vão muito além de um simples documentário, e trazem os ensaios para o pátio, refeitório, celas e corredores claustrofóbicos, dando ao intenso texto um peso totalmente novo, e resignificando a noção de liberdade que a imagem pode alcançar.
Criado como curta-metragem para uma tradicional compilação de diretores asiáticos e extendido posteriormente, o pesadelo claustrofóbico de Tsukamoto tem alguns momentos realmente apavorantes, como a sequência que envolve um cano de metal mas, no geral, apenas um espectador realmente avesso a espaços confinados vai ter problemas em atravessar a sessão. Os momentos finais, onde o diretor tenta inutilmente fornecer instrumentos para a leitura de seu filme, acaba atrapalhando o poder das imagens anteriores, e tirando parte da força que a experiência teria.
Ao contar, 20 anos depois, a história de 'Cabra Marcado Para Morrer', uma ficção que ele jamais pôde completar por conta do regime ditatorial que surgia em terras brasileiras, Coutinho investiga política, família, memória e o próprio cinema. Através de relatos dos camponeses que cederam suas performances para o filme original, os absurdos da vida na sombra de um governo paranoico e opressivo são contados em pequenas partes, que se unem num sombrio mosaico. Assim como o diretor aperfeiçoaria em seus trabalhos posteriores, o mais importante aqui não está no local onde a história ocorre, mas no que as pessoas tem a dizer sobre ela, seja factual ou não.
Mais um suspense policial baseado em best-sellers genéricos, gênero que parece ter tomado a Europa de assalto como provam os recentes Millenium e Headhunters, a aventura de Lasse Hallström em terras tão estranhas a ele termina melhor que o esperado, ainda que com uma tonelada de ressalvas. Os mais fervorosos fãs do livro homônimo de Lars Kepler dizem que trechos cortados e uma mudança no final original prejudicaram muito a adaptação e, de fato, ao fim da projeção realmente parecem estar faltando peças muito importantes para compreender toda a trama.
A exaustiva viagem que Mungiu propõe nas longas 2 horas e meia de Além das Montanhas não é tão apavorante quanto a de seu premiadíssimo 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, mas certamente causa uma dose equivalente de desconforto. Mungiu volta a cutucar violentamente as feridas que o regime comunista deixou na Romênia, através da história de uma freira que precisa lidar com os sentimentos dúbios que sua amiga de infância ainda nutre por ela. A cada nova curva do roteiro, que em certo ponto chega a parecer um suspense, o espectador leva mais um golpe certeiro no estômago, culminando numa das melhores cenas finais que o sempre brilhante cinema romeno já mostrou.
Não há nada de propriamente novo em Celeste e Jesse Para Sempre, terceiro longa de Lee Toland Krieger, porém a deliciosa química entre Jones e Samberg já seria suficiente para cativar a plateia, se o filme não guardasse outros trunfos. O roteiro, escrito pela própria Rashida em parceria com Will McCormack, usa artifícios cansados do cinema indie americano de forma inteligente, e não exagera em suas pretensões. Além disso, as presenças de Elijah Wood, Ari Graynor, Chris Messina e Emma Roberts são bônus deliciosos
Apesar da ousadia estética e narrativa, que usa alegorias e momentos musicais para contar a história de um amor obsessivo e homenagear o Brasil com todas as suas raízes, o longa de Jura Capela acaba enfadonho com sua prolixidade e péssima atuação do protagonista. De todo modo, é sempre bom ver Sylvia Prado e Hermilla Guedes.
Exercício extremamente cerebral e formalista criado por Robbe-Grillet, mais conhecido pelo roteiro de O Ano Passado em Marienbad, O Homem Que Mente é um eterno jogo comandado pelo personagem de Jean-Louis Trintignant, que retorna diversas vezes ao passado, para recontar uma história a partir de suas necessidades. Interessante enquanto forma, porém bastante enfadonho para se acompanhar
Se O Segredo da Cabana parecia ter esgotado as possibilidades de lidar com o imaginário que envolve as mal-afamadas construções de madeira, geralmente perdidas em algum ponto do interior americano, Resolution consegue provar, com incrível coragem e inteligência, que nem tudo já foi tentado. A história segue um rapaz que "sequestra" seu amigo viciado, na tentativa de ajudá-lo, mas começa a lidar com visitas desagradáveis e fenômenos estranhos. Mesmo com um punhado de falhas técnicas, o filme é curioso, e tem um final poderosamente absurdo.
Dumont não para de reafirmar suas preferências temáticas e estéticas, e desta vez, aliado a uma poderosa história real, ele cria um verdadeiro tour-de-force. Ao contrário do que possa parecer, o filme sobre a clausura de Camille Claudel num sanatório não é tão morosa ou triste quanto se imagina, em grande parte graças aos esforços de Juliette Binoche, que vai da histeria a frieza em segundos; e da ótima edição, que consegue manter um ritmo interessante grande parte do tempo. O terceiro ato e seus longos discursos sobre fé e religião destoam violentamente de todo o resto, mas no geral, um Dumont em ótima forma.
Seth Gordon é um exemplo perfeito do tipo genérico de diretor que a televisão e o cinema americano aprenderam a amar na última década. A maneira automatizada com a qual ele controla seus longas de ficção, especialmente este Uma Ladra Sem Limites, é reflexo da experiência adquirida dirigindo e produzindo episódios de seriados como The Office e Community. O filme é filho inegável da recente boa época para o humor norte americano, que cada vez mais valoriza seus atores cômicos, mas não consegue encontrar roteiro que esteja a altura dos mesmos. Melissa McCarthy é sempre engraçada, e Jason Bateman cai como uma luva no papel do executivo boboca, mas disso nós já sabemos. O road movie sobre opostos que vão se descobrir parecidos é tão corriqueiro que dá primeira sequência já se vê o final, sem nenhum esforço.
Abra uma sacola. Pegue Cidade dos Sonhos, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças e A Origem e jogue dentro da sacola. Chacoalhe a sacola por 1h e 40 minutos e no fim você terá algo parecido com Em Transe. Danny Boyle, como sempre, abusa de estilo para contar uma história de crime, mas dessa vez ele usa um velho artifício: se seu roteiro não é bom o suficiente, arrume uma maneira de torná-lo incompreensível. O truque acima fica a cargo da edição, que encadeia sequencias de hipnose, com sonhos e alucinações, e da virtuosa fotografia de Anthony Dod Mantle, parceiro habitual da Lars Von Trier, que mergulha os atores em luzes neon criando um clima onírico. Se não tentasse tanto, talvez conseguisse algo.
A narrativa bipartida, a intensa brincadeira com o fluxo narrativo e o desenho de som, e certo encantamento pelo cinema musical, já estavam bem aparentes em A Cara Que Mereces, primeiro longa de Miguel Gomes. Com olhadelas discretas para o universo das fábulas infantis, o filme se divide entre o mundo externo e interno do protagonista ranzinza, saltando do dia em que ele completa 30 anos para o período em que, através de diferentes facetas de sua personalidade que surgem como sete amigos, ele finalmente aceita sua nova idade.
O fato de Barbra Streisand ser uma verdadeira estrela, Omar Shariff ser um ator irretocável e William Wyler ter um punhado de obras-primas na sua carreira, não faz de Funny Girl um filme propriamente notável. A história da enérgica Fanny Brice, de seus dias humildes até o estrelato é cativante, mas observada com tanto detalhismo e melodrama que não demora a cansar. Por outro lado, vale conferir os números musicais; exibições virtuosas do talento da protagonista.
Filmes de estreia, especialmente quando criados ainda na faculdade, sempre tem um frescor muito característico, graças a liberdade criativa que os jovens realizadores possuem. Infelizmente, nenhum dos três envolvidos voltou a dirigir algo notável, se dedicando a outras áreas do cinema, mas a herança deixada por Aconteceu Perto da sua Casa, especialmente ao cinema extremo francês, foi fundamental. O falso documentário sobre uma equipe de filmagem que acompanha a vida de um assassino serial é verborrágico, violento, e surpreendentemente divertido.
Poucas sensações rendem tanto prazer a um cinéfilo quanto a de ser atirado num abismo de experimentalismo narrativo e virtuosismo estético, e este Die Parallelstrasse é um exemplo perfeito desta definição. A violenta construção de Khittl, que compreende uma obscura linha narrativa sobre cinco homens que devem analisar vários documentos antes que seu tempo esgote, é entrecortada por imagens que dialogam com o trabalho que eles fazem, mas nunca deixa exatamente claro quem são aquelas pessoas e o quê elas estão fazendo. Um criativo jogo cheio de tensão e desconfiança.
The Pirate Bay Longe do Teclado
3.9 71 Assista AgoraPerpetuamente indeciso entre drama de tribunal, espionagem industrial e filme político, o documentário de Simon Klose atira para todo e qualquer lado, enquanto acompanha o julgamento dos três nomes por trás do Pirate Bay, o maior site de compartilhamento p2p do mundo. Surpreendentemente, o filme não se interessa em debates sobre propriedade intelectual e pirataria, e se torna um simples diário da vida dos rapazes.
Em Sua Pele
2.4 156 Assista AgoraTão mal escrito quanto atuado, a estreia do canadense Jeremy Regimbal, lembra muito (até demais) o Funny Games de Michael Haneke, quando põe uma família refém de uma trupe mentalmente perturbada dentro de seu próprio lar. O roteiro, escrito pelo também protagonista Joshua Close, só não é mais óbvio por falta de espaço, e até a geralmente competente Selma Blair tem uma performance bastante duvidosa. Talvez o único ponto realmente positivo esteja na fotografia de Norm Li.
Pietá
3.8 199 Assista AgoraKinky Duke já foi um diretor interessante; filmes como Primavera..., Casa Vazia e Samaria são bons exemplos de como, apesar das limitações, o cineasta já conseguiu criar coisas curiosas. Ao longo dos anos, no entanto, ele parece ter perdido a mão. Pietá, último trabalho do sul-coreano, é um filme de vingança talhado à moda da sua terra, cheio de sangue e crueldade, que prometia 'revirar estômagos', mas que no fim das contas é tão raso quanto possível. A fotografia estranha, repleta de zooms despropositados destrói alguns bons momentos, e o tom emprestado de um melodrama tipicamente americano não combinam, e apesar do filme não ser enfadonho, as coisas simplesmente parecem não funcionar.
Smashed: De Volta à Realidade
3.5 178 Assista AgoraCom um papel que marca sua saída do grupo de rostinhos bonitos de Hollywood, e entrada definitiva no rol das atrizes a se acompanhar de perto, Mary Elizabeth Winstead merece quase todos os louros por fazer com que Smashed funcione tão bem. O roteiro de Ponsoldt sobre um casal alcoólatra que começa a enfrentar problemas quando a moça resolve ficar sóbria é muito inteligente, especialmente por não transformar as duas criaturas em pessoas totalmente inconsequentes e autodestrutivas, que é como o cinema costuma retratar esse tipo, mas ainda tem grande parte dos vícios do cinema indie americano.
Mekong Hotel
3.3 22Ainda mais inclassificável que o resto da prodigiosa obra do tailandês, Mekong Hotel é uma simbiose de documentário e ficção sobre um ser vampiresco, e um casal apaixonado, num pequeno hotel às margens do Mekong, rio que divide a Tailândia do Laos. A intricada construção que Apichatpong propõe ao espectador é ainda mais rigorosa que seus trabalhos anteriores, que apesar de abandonar o ambiente onírico da floresta e adicionar uma verbalização rara em seu universo, confunde o olhar e a audição, misturando uma perpétua faixa musical, com folclore e política tailandesa. Boa volta a forma, depois do irregular Tio Boonme.
O Quarteto
3.8 147A estreia de Dustin Hoffman como diretor não é das coisas mais interessantes a surgir nos últimos tempos, e isso se deve basicamente a obviedade de seu roteiro que, ao tratar do mundo da ópera com tanta propriedade, esquece de trazer o público para perto de si. As performances de quase todo o elenco estão afiadíssimas, mas é difícil ter empatia pelo grupo de cantores aposentados que resolve se reunir mais uma vez para salvar sua casa de repouso, porque o texto de Ronald Harwood não é exatamente convidativo. O maior presente é a presença sempre encantadora de Maggie Smith.
Como Sobreviver a uma Praga
4.2 22Espetacular documentário sobre os grupos ACT UP e TAG, organizações civis que batalharam para garantir um tratamento digno aos portadores do vírus da AIDS nos Estados Unidos, quando a doença dizimava milhões por negligência do governo. Quase totalmente baseado em imagens de arquivo, seria fácil esquecer que se trata de uma não-ficção não fossem as discretas entrevistas que recortam os enérgicos registros da época, tamanha é a complexidade da montagem e extensão da pesquisa que o estreante David France aplica em seu filme . O filme foi indicado ao Oscar junto com os também interessantíssimos Searching for Sugarman e The Invisible War, provando que 2012 foi um ano muito valioso para os documentaristas norte-americanos.
Entre Mim e Eles
3.6 2Planejado como um making-of de Os Monstros, filme de Luiz e Ricardo Pretti, Pedro Diógenes e Guto Parente, mais conhecidos como Alumbramento, o trabalho de Marcelo Ikeda acaba por ter uma voz própria, ainda que fazendo a observação fria que esse tipo de vídeo necessita. O prólogo e epílogo do filme, onde o próprio Ikeda explana suas intenções, muda totalmente o significado dos longos momentos onde tudo que vemos são os quatro diretores com os olhares fixados num monitor, estudando o próximo plano. Os Monstros é um filme que diz muito sobre amizade, e este aqui mostra como ela flui genuinamente em frente e atrás das câmeras.
César Deve Morrer
4.0 82 Assista AgoraUma recriação do Júlio César de Shakespeare dentro dos muros de uma prisão já seria uma ideia ousada o suficiente caso fossem utilizados atores profissionais, mas os Taviani, numa movimentação que demonstra o frescor que seu cinema ainda exala após longos anos de carreira, usam os próprios detentos para dar vida a César, Brutus e tantas outras figuras dramáticas. A iniciativa é, na verdade, do próprio presídio, que incentiva as artes como forma de ressocialização; mas os diretores vão muito além de um simples documentário, e trazem os ensaios para o pátio, refeitório, celas e corredores claustrofóbicos, dando ao intenso texto um peso totalmente novo, e resignificando a noção de liberdade que a imagem pode alcançar.
Haze
3.3 19Criado como curta-metragem para uma tradicional compilação de diretores asiáticos e extendido posteriormente, o pesadelo claustrofóbico de Tsukamoto tem alguns momentos realmente apavorantes, como a sequência que envolve um cano de metal mas, no geral, apenas um espectador realmente avesso a espaços confinados vai ter problemas em atravessar a sessão. Os momentos finais, onde o diretor tenta inutilmente fornecer instrumentos para a leitura de seu filme, acaba atrapalhando o poder das imagens anteriores, e tirando parte da força que a experiência teria.
Cabra Marcado Para Morrer
4.5 253 Assista AgoraAo contar, 20 anos depois, a história de 'Cabra Marcado Para Morrer', uma ficção que ele jamais pôde completar por conta do regime ditatorial que surgia em terras brasileiras, Coutinho investiga política, família, memória e o próprio cinema. Através de relatos dos camponeses que cederam suas performances para o filme original, os absurdos da vida na sombra de um governo paranoico e opressivo são contados em pequenas partes, que se unem num sombrio mosaico. Assim como o diretor aperfeiçoaria em seus trabalhos posteriores, o mais importante aqui não está no local onde a história ocorre, mas no que as pessoas tem a dizer sobre ela, seja factual ou não.
O Hipnotista
2.6 84 Assista AgoraMais um suspense policial baseado em best-sellers genéricos, gênero que parece ter tomado a Europa de assalto como provam os recentes Millenium e Headhunters, a aventura de Lasse Hallström em terras tão estranhas a ele termina melhor que o esperado, ainda que com uma tonelada de ressalvas. Os mais fervorosos fãs do livro homônimo de Lars Kepler dizem que trechos cortados e uma mudança no final original prejudicaram muito a adaptação e, de fato, ao fim da projeção realmente parecem estar faltando peças muito importantes para compreender toda a trama.
Além das Montanhas
3.9 117A exaustiva viagem que Mungiu propõe nas longas 2 horas e meia de Além das Montanhas não é tão apavorante quanto a de seu premiadíssimo 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, mas certamente causa uma dose equivalente de desconforto. Mungiu volta a cutucar violentamente as feridas que o regime comunista deixou na Romênia, através da história de uma freira que precisa lidar com os sentimentos dúbios que sua amiga de infância ainda nutre por ela. A cada nova curva do roteiro, que em certo ponto chega a parecer um suspense, o espectador leva mais um golpe certeiro no estômago, culminando numa das melhores cenas finais que o sempre brilhante cinema romeno já mostrou.
Celeste e Jesse Para Sempre
3.6 478 Assista AgoraNão há nada de propriamente novo em Celeste e Jesse Para Sempre, terceiro longa de Lee Toland Krieger, porém a deliciosa química entre Jones e Samberg já seria suficiente para cativar a plateia, se o filme não guardasse outros trunfos. O roteiro, escrito pela própria Rashida em parceria com Will McCormack, usa artifícios cansados do cinema indie americano de forma inteligente, e não exagera em suas pretensões. Além disso, as presenças de Elijah Wood, Ari Graynor, Chris Messina e Emma Roberts são bônus deliciosos
Jardim Atlântico
3.0 11Apesar da ousadia estética e narrativa, que usa alegorias e momentos musicais para contar a história de um amor obsessivo e homenagear o Brasil com todas as suas raízes, o longa de Jura Capela acaba enfadonho com sua prolixidade e péssima atuação do protagonista. De todo modo, é sempre bom ver Sylvia Prado e Hermilla Guedes.
O Homem Que Mente
3.8 8Exercício extremamente cerebral e formalista criado por Robbe-Grillet, mais conhecido pelo roteiro de O Ano Passado em Marienbad, O Homem Que Mente é um eterno jogo comandado pelo personagem de Jean-Louis Trintignant, que retorna diversas vezes ao passado, para recontar uma história a partir de suas necessidades. Interessante enquanto forma, porém bastante enfadonho para se acompanhar
Resolution
3.4 81Se O Segredo da Cabana parecia ter esgotado as possibilidades de lidar com o imaginário que envolve as mal-afamadas construções de madeira, geralmente perdidas em algum ponto do interior americano, Resolution consegue provar, com incrível coragem e inteligência, que nem tudo já foi tentado. A história segue um rapaz que "sequestra" seu amigo viciado, na tentativa de ajudá-lo, mas começa a lidar com visitas desagradáveis e fenômenos estranhos. Mesmo com um punhado de falhas técnicas, o filme é curioso, e tem um final poderosamente absurdo.
Camille Claudel, 1915
3.7 144Dumont não para de reafirmar suas preferências temáticas e estéticas, e desta vez, aliado a uma poderosa história real, ele cria um verdadeiro tour-de-force. Ao contrário do que possa parecer, o filme sobre a clausura de Camille Claudel num sanatório não é tão morosa ou triste quanto se imagina, em grande parte graças aos esforços de Juliette Binoche, que vai da histeria a frieza em segundos; e da ótima edição, que consegue manter um ritmo interessante grande parte do tempo. O terceiro ato e seus longos discursos sobre fé e religião destoam violentamente de todo o resto, mas no geral, um Dumont em ótima forma.
Uma Ladra sem Limites
2.9 496 Assista AgoraSeth Gordon é um exemplo perfeito do tipo genérico de diretor que a televisão e o cinema americano aprenderam a amar na última década. A maneira automatizada com a qual ele controla seus longas de ficção, especialmente este Uma Ladra Sem Limites, é reflexo da experiência adquirida dirigindo e produzindo episódios de seriados como The Office e Community. O filme é filho inegável da recente boa época para o humor norte americano, que cada vez mais valoriza seus atores cômicos, mas não consegue encontrar roteiro que esteja a altura dos mesmos. Melissa McCarthy é sempre engraçada, e Jason Bateman cai como uma luva no papel do executivo boboca, mas disso nós já sabemos. O road movie sobre opostos que vão se descobrir parecidos é tão corriqueiro que dá primeira sequência já se vê o final, sem nenhum esforço.
Em Transe
3.6 738Abra uma sacola. Pegue Cidade dos Sonhos, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças e A Origem e jogue dentro da sacola. Chacoalhe a sacola por 1h e 40 minutos e no fim você terá algo parecido com Em Transe. Danny Boyle, como sempre, abusa de estilo para contar uma história de crime, mas dessa vez ele usa um velho artifício: se seu roteiro não é bom o suficiente, arrume uma maneira de torná-lo incompreensível. O truque acima fica a cargo da edição, que encadeia sequencias de hipnose, com sonhos e alucinações, e da virtuosa fotografia de Anthony Dod Mantle, parceiro habitual da Lars Von Trier, que mergulha os atores em luzes neon criando um clima onírico. Se não tentasse tanto, talvez conseguisse algo.
A Cara que Mereces
3.4 15A narrativa bipartida, a intensa brincadeira com o fluxo narrativo e o desenho de som, e certo encantamento pelo cinema musical, já estavam bem aparentes em A Cara Que Mereces, primeiro longa de Miguel Gomes. Com olhadelas discretas para o universo das fábulas infantis, o filme se divide entre o mundo externo e interno do protagonista ranzinza, saltando do dia em que ele completa 30 anos para o período em que, através de diferentes facetas de sua personalidade que surgem como sete amigos, ele finalmente aceita sua nova idade.
Funny Girl - A Garota Genial
4.3 214 Assista AgoraO fato de Barbra Streisand ser uma verdadeira estrela, Omar Shariff ser um ator irretocável e William Wyler ter um punhado de obras-primas na sua carreira, não faz de Funny Girl um filme propriamente notável. A história da enérgica Fanny Brice, de seus dias humildes até o estrelato é cativante, mas observada com tanto detalhismo e melodrama que não demora a cansar. Por outro lado, vale conferir os números musicais; exibições virtuosas do talento da protagonista.
Aconteceu Perto da Sua Casa
3.8 102Filmes de estreia, especialmente quando criados ainda na faculdade, sempre tem um frescor muito característico, graças a liberdade criativa que os jovens realizadores possuem. Infelizmente, nenhum dos três envolvidos voltou a dirigir algo notável, se dedicando a outras áreas do cinema, mas a herança deixada por Aconteceu Perto da sua Casa, especialmente ao cinema extremo francês, foi fundamental. O falso documentário sobre uma equipe de filmagem que acompanha a vida de um assassino serial é verborrágico, violento, e surpreendentemente divertido.
The Parallel Street
3.9 1Poucas sensações rendem tanto prazer a um cinéfilo quanto a de ser atirado num abismo de experimentalismo narrativo e virtuosismo estético, e este Die Parallelstrasse é um exemplo perfeito desta definição. A violenta construção de Khittl, que compreende uma obscura linha narrativa sobre cinco homens que devem analisar vários documentos antes que seu tempo esgote, é entrecortada por imagens que dialogam com o trabalho que eles fazem, mas nunca deixa exatamente claro quem são aquelas pessoas e o quê elas estão fazendo. Um criativo jogo cheio de tensão e desconfiança.