Esse filme teve o mérito de pegar as histórias dos três slashers mais clássicos até aquele aquele ano de 1983 (Black Christmas, Halloween e Sexta-Feira 13), misturar tudo, acrescentar algumas coisas novas, e o resultado é esse filmaço Assassinatos na Fraternidade Secreta, um clássico que também passou a ser muito referenciado no gênero slasher.
Uma das comédias mais engraçadas que eu já vi na vida, que merecia ser mais conhecida. O plano dos personagens do Steve MCQueen e do Jim Hutton pra ganhar dinheiro com o computador da Marinha é muito bem elaborado e, ao mesmo tempo, os contratempos surpreendentes que vão surgindo no meio do caminho são hilariantes.
Impressionante como uma premissa simples de um ponto específico - um jarro de água quebrado na escola de uma aldeia pobre no deserto do Irã - pode levar o filme a tratar de tantos temas universais e situações tragicômicas. O cúmulo foi o final quando
surgiram até infundadas acusações de corrupção contra o professor e aquela mãe por desviarem dinheiro na compra do novo jarro.
O Jarro é um esplêndido estudo da natureza humana convivendo em comunidade e um ótimo filme sobre crianças em ambiente escolar, aqui enfrentando uma dura realidade onde até o simples ato de beber água não ocorre sem que condições adversas sejam superas pela união.
Lindo filme e bela trilha sonora. Desde Desencanto (1945) do David Lean que o cinema humanizou a imagem da mulher casada que por acaso se apaixona por um homem fora do casamento. Neste filme esta personagem é a Claire Fielding, vivida pela Lindsay Wagner. Então o que O Outro Amante do Robert Ellis Miller tem a oferecer? Justamente algo que foge do clichê da maioria dos filmes que vieram após Desencanto: o conflituoso personagem do Jack Scalia, o escritor Jack Hollander.
Diferente de quase todos os romances do gênero, Jack não é um personagem unidimensional e tão pouco é um cara bem resolvido com o fato de Claire dividir sua atenção entre ele e sua família. Depois de um início leve e romântico, ele vai se tornando inseguro, invejoso e no final passa até a ser obsessivo.
Uma das melhores cenas do longa metragem é quando Jack entra de penetra na festa de Natal de Claire, fica bisbilhotando pela casa, vai até o quarto do casal, senta na cama que ela divide com o marido e, de repente, ele sente uma epifania, passa a mão no rosto, levanta e sai como quem diz "O que que eu to fazendo aqui?" Jack está sempre a dois passos de fazer alguma merda e, quando finalmente causa um estrago na relação de Claire com a filha e se arrepende, já é tarde demais.
Apesar disso, também é o personagem que mais sofre no filme. Numa inversão de papeis, mesmo ainda mostrando os conflitos de uma mulher casada, O Outro Amante foca no tormento que é uma pessoa solteira amar uma pessoa comprometida com outro. Nesse contexto, a última cena foi dolorosa e realista.
"Pelo menos eu finalmente encontrei um final para o meu livro"
Duas curiosidades:
- Michael Jackson é o nome de um apresentador de TV que entrevista Jack. É homônimo do cantor, mas não é a mesma pessoa, não tem porque o filmow marcar o Michael Jackson cantor como parte do elenco.
- Alguns dos cenários por onde Jack e Claire passeiam são os mesmos de outra história de amor passada em São Francisco: Um Corpo que Cai (Vertigo).
e tem uma dinâmica agitada num jogo de gato e rato que prende o espectador. Porém... forçaram demais a suspensão de descrença. Hoje em dia qualquer pessoa com um mínimo conhecimento de física fica se questionando o tanto de furos da obra. Não vivemos mais no mesmo mundo que lançou De Volta pro Futuro, mas no mundo em que todo mundo assistiu Vingadores: Ultimato. Por sinal, Durante a Tormenta é na minha opinião um filme melhor que A Ligação e foi muito mais criticado justamente por possíveis incoerências na viagem no tempo.
Os Assassinatos da Rua Morgue (ou Os Crimes da Rua Morgue), de Edgar Allan Poe, é o primeiro romance policial da história da literatura, protagonizado pelo primeiro grande detetive da ficção, Auguste Dupin, investigando o primeiro crime misterioso com a primeira reviravolta (ou plot twist) final sobre a identidade do assassino, elementos que marcariam o gênero pra sempre. O livro foi adaptado quatro vezes.
A primeira vez com Bela Lugosi, Os Assassinatos da Rua Morgue de 1932, não é quase nada fiel ao original. Apresenta um vilão inédito com motivações diferentes, não há suspense ou surpresas para o público sobre quem pratica os crimes, pois esse personagem aparece desde o início junto do vilão, e tão pouco pouco o foco é no detetive Auguste Dupin, que deixou de ser detetive e foi transformado em Pierre Dupin, um mocinho romântico. A segunda vez com Karl Malden, O Fantasma da Rua Morgue de 1954 é, na verdade, uma mistura do livro com o filme de 1932. Porque parte da trama é bem fiel ao texto do Poe. Foca no detetive, no mistério e na investigação. Mas bem antes do final, surge o tal vilão exclusivo do cinema junto com o assassino e então a trama se afasta do original da metade em diante e vira um remake do filme do Bela Lugosi. A terceira vez com Jason Robards e Herbert Lom, Assassinatos na Rua Morgue ou Os Crimes Hediondos da Rua Morgue de 1971, nem dá pra dizer exatamente que é uma adaptação, já que a única ligação com a obra do Poe é que toda a trama de mistério envolve uma companhia de teatro que representa Os Assassinatos da Rua Morgue E, finalmente, a quarta vez foi com George C. Scott, Rebecca De Mornay e Val Kilmer, neste Os Assassinatos da Rua Morgue, de 1986.
Essa é, de longe, a versão mais fiel ao livro (apesar de acrescentar algumas subtramas) e também a melhor. Embora eu considere as outras divertidas, a história original do Poe é muito criativa e tem um suspense de roer as unhas. Lembro de ter visto numa tarde no SBT. Dei sorte justamente de ter pego a única versão que se preocupa em reproduzir o suspense do livro até o fim. Jeannot Szwarc é um diretor competente. Revi o filme hoje e ele passou voando. Ainda é uma ótima produção, bastante dinâmica, com excelente atmosfera de mistério. E George C. Scott entrega uma ótima performance como Auguste Dupin, que resolve um caso complicado usando nada mais que inteligência e astúcia. Recomendo aos fãs do Poe assistirem essa versão primeiro.
Filmaço de 1941 sobre um tema hoje bastante discutido: o feminicídio. Quando a história acaba, é menos importante saber a identidade do assassino do que compreender a complexa rede de relações abusivas de homens que se julgavam donos da vida e da morte de Vicki e até mesmo do destino das pessoas ao redor dela. O erro da personagem foi achar que poderia controlar a visão machista obsessiva que todos aqueles homens tinham sobre ela quando estava na cara que de um jeito ou de outro aquilo ia acabar mal. Ótima atuação do Victor Mature como um desesperado Frankie. O momento mais desconcertante foi quando descobriram
Esse é um dos melhores filmes do Frank Borzage, embora não seja dos mais lembrados. Algumas cenas impressionam porque ele mostra a Segunda Guerra (que ainda estava acontecendo quando a obra foi lançada) sem pudor:
- O Major Krupp querendo "empregar" a menina de 15 anos do orfanato. - A rapidez com que a Irmã Clothilde se corrompeu pra salvar a menina, barganhando com o nazista pra entregar a cabeça do aviador pra salvar a garota, sem se importar como isso afetaria outras pessoas da aldeia e do convento que estavam ajudando os Aliados. - O chocante fuzilamento da Madre Superiora por "acidente". - A impressionante cena do bombardeio em que John é ferido. - O fato de todo mundo na França ocupada ou ser colaborador dos nazistas ou ter seus passos rigidamente controlados por eles, mesmo a Resistência. Até o vendedor de cartão portal era um espião. - Clothilde manipulando a verdade e princípios de boa fé para enganar os nazistas e salvar John, numa conclusão da jornada dela no início do filme, e num exemplo de separação dos conceitos de moral e ética. - Major Krupp falando abertamente que vai poupar Clothilde para transformá-la em escrava sexual e tirar seu "pólen" todos os dias e o Prefeito Vitey, horrorizado, a matando com um tiro nas costas para que ela não passasse por aquilo nas mãos dele.
Um Lírio na Cruz também tem uma das cenas de despedida mais belas e tristes da história do Cinema quando
Ri bastante e me emocionei muito com esse filme. A vida e a juventude de três amigas da classe trabalhadora na Itália do pós-Segunda Guerra, Elena, Marisa e Lucia. A história é de uma simplicidade e sensibilidade desconcertante.
https://www.youtube.com/watch?v=a-be4SoHoUw&t=8s
As cenas mais hilárias são as brigas da Marisa com a vizinha fura olho, a briga que aconteceu naquela festa onde Lucia e Amadeo foram que tocava Chiquita Bacana, a fofocaiada dos vizinhos da Marisa,
É engraçadíssimo quando as três estão passeando no dia seguinte depois da confusão do falso sequestro e encontram o cara e a Lucia exclama pras amigas: "Mamma Mia! O Motorista!" Ela tinha se esquecido completamente dele!
Já os momentos mais tristes foram com a mãe da Elena e com certeza o final com o Professor.
Depois de tudo que aconteceu, o Professor percebeu que o convite do casamento entre Marisa e Augusto era o início do fim e que, em breve, Lucia e Elena também se casariam. Na década de 50, isto significava que largariam seus empregos e se dedicariam ao lar, sem que o filme precise dizer isso explicitamente, afinal, foi mais ou menos o que ocorreu com a mãe da Marisa. O que fica implícito é o futuro delas, onde a amizade tão bonita e forte entre as três seria posta a prova pelo tempo e a distância, sobretudo no caso de Lucia, que morava afastada da cidade. Fica a critério do público interpretar o que aconteceu na vida delas. Ficamos apenas com aquele gosto de quero mais. Nesse ponto somos representados pelo personagem do Professor, que representa ali os espectadores, que se apegaram a elas como se fizessem parte de suas vidas. Por isso mesmo é tão triste vê-las partir...
Miséria, superpopulação, fome, mulheres objetificadas, efeito estufa, aquecimento global, desigualdade social brutal, polícia jogando trator no povo, idosos se suicidando, indústria alimentícia produzindo lixo, burgueses mandando e desmandando na polícia, o fim das matas e dos rios, poluição do ar descontrolada, eugenia. Estamos as portas desse mundo caótico mostrado no filme. Inclusive correndo risco de virarmos
Belíssimo filme. Mistura suspense e drama pra contar uma história maravilhosa sobre doença mental e amizade. Se você tem ou teve algum tipo de transtorno psicológico vai se identificar muito. Fora isso, Stephen Boyd e Pamela Franklin tem atuações monstruosas. A trama é genial porque tem um ótimo desenvolvimento do mistério, mas o final comovente mostra que o que o diretor Charles Crichton quer é convidar o público para uma reflexão maior, que vai muito além de saber qual paciente matou o psiquiatra. A Verdade Oculta é uma das histórias mais emocionantes que eu já assisti e é brilhante ao defender sua tese de que, nos momentos mais desesperadores de nossas vidas, são os laços humanos que forjamos uns com os outros que nos mantém conectados e nos fazem sentir realmente vivos.
Depois da explicação que a Kate deu ao Miles, a primeira coisa que veio a minha mente é que aqueles arrombadores de túmulo são os capangas mais burros do mundo.
Lindo e melancólico, uma pérola esquecida dos anos 80 e um dos melhores filmes de todos os tempos sobre o tema suicídio. Me marcou muito quando criança. Uma pena que a Marisa Silver se aposentou prematuramente. Criou uma grande obra de arte e ainda arrancou a atuação da vida do Keanu Reeves.
É a Alemanha do século passado ou o Brasil de hoje? Baseado em circunstâncias reais - já que os personagens são fictícios, mas os Swing Kids realmente existiram - esse filme sofreu críticas injustas na época do lançamento. O Roger Ebert, que é um grande crítico, dizia por exemplo que se incomodava pelo filme não denunciar o antissemitismo como acreditava que deveria. Ele só se esqueceu de dizer que o filme faz faz um recorte daquela sociedade quando mesmo pessoas que se achavam boas já cediam a certos absurdos, como não achar tão errado assim a juventude nazista perseguir um garoto judeu porque a sociedade alemã já era em boa parcela antissemita e racista.
Esse é um filme maravilhoso porque trata do fascista que existe dentro de todos nós sem se apegar a nenhum tipo de moralismo. Cada um dos três amigos protagonistas é uma face do ser humano e como ele lida com a sociedade sendo dominada pelo pensamento nazisfascista de formas diferentes. Por isso esse é o melhor retrato sobre cooptação e corrupção da juventude que eu já vi num filme. Acho ele um relato muito mais honesto da atuação da juventude hitlerista na mente dos jovens do que os dois filmes A Onda, não só por ser um trabalho de época, mas fazer um raio-x da alma daquela geração.
E é uma obra de arte tão extraordinária que consegue dar um passo além e ressaltar que a arte - nesse caso, a música do povo negro - pode ser a maior arma de resistência.
Mistura única de horror e ficção científica. Afirmo tranquilamente que é um dos melhores filmes que já assisti na vida e a melhor ou uma das melhores obras já produzidas pela Hammer.
Eu acho esse filme ótimo e subestimado. Gosto muito do modo como o roteiro é estruturado, com muitas reviravoltas. James Spader é um monstro atuando. Ele consegue se sair muito bem seja como o personagem vulneravel, seja como o casca grossa.
O momento em que um dos protagonistas morre enforcado e logo a seguir seu gêmeo acorda em outro lugar sentindo o mesmo é impressionante. O final com a vingança desse e, de quebra, a descoberta sobre quem realmente matava as mulheres é surpreendente.
Idealiza países que não conhece a fundo (como mostra a cena do japonês), discrimina mulheres que tem filhos sem serem casadas, se recusa a valorizar o estudo na vida como parte integral na formação de um cidadão, quer que os pobres que querem estudar se sacrifiquem enquanto os ricos que não querem nada aproveitem a vida ao mesmo tempo em que o mercado de trabalho exige uma qualificação dos jovens sem dar experiência em troca (afinal, a maioria das vagas vai estar reservada pros filhinhos de papai quando eles forem obrigados a estudar e trabalhar numa certa idade), concentra a cultura nas regiões de alto poder aquisitivo (como na parte em que um dos personagens explica porque não voltava a zona norte do Rio de Janeiro), transforma o dinheiro no objetivo máximo da resolução dos problemas e na finalidade das relações (a cena em que o amigo do protagonista admite que fazia companhia pra tia idosa pra esperar por uma herança) e, pior, a cada geração os jovens tem seus próprios filhos e também não conseguem ter a empatia com eles que seus pais não tinham consigo.
Além do roteiro nunca mostrar o fato do Felipe e seus amigos armarem pra pegar garotas com baixa autoestima sob uma ótica crítica, a cena em que o Paulo transforma o Felipe em voyeur da sua primeira vez com a Diana é um erro. Por mais que o Paulo seja emocionalmente fudido, nada justifica ele trazer o melhor amigo pra dentro da intimidade da garota sem permissão. Ainda se o roteiro tentasse trabalhar com isso, mas ele, por mais que tente, não consegue se aprofundar nas personagens femininas. E a Alice Wegmann e a Sophia Charlotte realmente são as melhores interpretações de Tamo Junto. O Matheus Souza também está muito bem, por mais que eu torça o nariz praquele clichê de personagem. Já o Leandro Soares, não que ele esteja mal, mas acho que ele teve uma dificuldade em sacar as nuances do texto do Matheus no personagem dele. Talvez por ele ser escritor também, não conseguiu encarnar aquele personagem escrito por outro do mesmo jeito que o Matheus encarna um papel escrito por ele mesmo, por exemplo.
O fato é que o Paulo é tão mais carismático que o Felipe que o momento em que um trai o outro "vilanizou" demais o Felipe a ponto da gente não se importar tanto mais com um cara tão babaca. Eu sinceramente achei que o happy end seria Paulo e Diana. Outro problema é que a paixão entre Felipe e Julia é abrupta demais e pouco desenvolvida pra convencer o público daquele final.
Fazer referências é legal, mas no final aqueles discursos do Rocky e a fuga a la A Primeira Noite de um Homem parecem mais muletas narrativas de uma história que não sabe como concluir sua trama.
A graça da história de O Escaravelho do Diabo repousa sobre certos pilares.
1 - Alberto se unindo ao Inspetor Pimentel tentando descobrir quem matou seu irmão de maneira brutal. 2 - O clima de mistério sobre o assassino de pessoas ruivas que sempre deixa um escaravelho de lembrança enquanto bola formas criativas de eliminar suas vítimas. 3 - Os personagens da pensão de Cora O'Shea, que estão de um modo ou de outro conectados ao enigma da trama (lá viviam o assassino, uma das vítimas e vários suspeitos). 4 - O romance conturbado de Alberto e Verônica...
O pilar 1 está lá e realmente nota-se um esforço pra tornar os heróis mais tridimensionais. Alberto agora é um pré-adolescente viciado em internet (e não um jovem estudante de medicina) com transtorno de déficit de atenção e Pimentel, que virou Delegado, ficou mais idoso, sentindo os primeiros efeitos da Síndrome de Lewi. A relação entre eles é mais legal.
O pilar 2 está razoavelmente parecido. O clima de tensão que vai surgindo gradualmente graças às ações do assassino consegue pelo menos passar um pouco da sensação de inquietude do livro. Muitas das mortes criativas do livro estão no filme, acho que a única exceção foi a do pássaro. O problema é o seguinte. Você geralmente só tem duas formas de contar histórias de assassinatos misteriosos. Ou você cria um whodunit (o famoso "quem matou?") ou você mostra o assassino desde o começo como um louco. O livro é um whodunit clássico, fazendo com que a trama sempre girasse em torno dos moradores da pensão e se ancorando neles para gerar conflitos sobre a possível identidade do vilão.
No filme NÃO EXISTE A PENSÃO. O Carlo Milani simplesmente eliminou um dos pilares da obra original e preferiu mostrar o assassino o tempo todo como um maníaco obsessivo que fica isolado dos demais. Por algum motivo, o diretor esconde o rosto dele, sem necessidade alguma, já que ele não é aquele personagem surpreendente revelado no livro. Tipo, o assassino não tem uma vida normal de fachada paralela com os assassinatos, ao estilo psicopata de vida insuspeita. É um louco o tempo todo. Existe uma tentativa de explorar mais o passado e motivação do vilão no filme do que no livro, mas é só um clichê típico de filmes slasher. Não que seja ruim ou fora de contexto, mas a direção narrativa do livro colabora mais pro mistério. Quem sentir falta de ver o Inseto (ele nunca é chamado assim, o Pimentel só o chama de Escaravelho do Diabo uma vez sem motivo) de máscara, preste atenção na cena em flashback do cemitério, repetida excessivamente pelo Milani, onde podemos ver outros personagens com o visual semelhante ao do vilão no livro.
Bem, o quarto pilar do original da Lúcia Machado de Almeida também foi virado de cabeça pra baixo. Milani simplesmente detonou com um dos meus casais favoritos da série vaga-lume e cujo envolvimento tinha uma grande importância pra história. Aliás, eu não sei porque reclamaram tanto de Alberto e Hugo trocarem de idade. Pior que isso foi ver Verônica e Raquel trocarem de personalidade. De quebra, ainda viraram irmãs (!) e amigas, sendo que no livro (que eu me lembre) as duas se detestavam por ciúmes do Alberto. Imagino que quando terminaram o roteiro da adaptação, devam até ter cogitado limar a Verônica, de tão diferente que ela ficou. E quem leu o livro sabe que a Verônica é um componente essencial do clima de suspense. No filme a afastaram do Alberto e inventaram uma outra subtrama pra ela envolvendo o Hugo, que faz com que a personagem perca a importância depois de 20 minutos. Em vez de viver com aquele bando de estrangeiros na pensão, ela agora tinha sua própria família, mas tanto a Raquel quanto o personagem do pai tornaram-se muito mais importantes.
Apesar disso, nem todas as alterações são ruins, até porque o livro não era perfeito. As mudanças que três personagens fazem nos cabelos são muito interessantes e ajudam a conduzir a narrativa de modo até inesperado. O ator mirim que faz o Alberto realmente é muito bom e segura o interesse do público. Marcos Caruso idem. O personagem do padre sofre tratamento oposto ao da Verônica e ganha muito mais importância. E era óbvio que a cena do incêndio da igreja seria diferente pra criar climax, já que no livro o assassino só é revelado depois. A trilha sonora foi outra derrapada a meu ver, porque na minha opinião aquela música do final não combina em nada com a história pregressa que Milani criou, humanizando mais o vilão do livro... enquanto que a música transmite justamente o contrário. No geral, é um filme fraco, que não alcança o potencial de adaptação que O Escaravelho do Diabo original da Lúcia Machado prometia. Em parte pela falta de fidelidade a certos núcleos dramáticos da obra e em parte pela falta de uma pegada maior no clima de mistério.
Uma dica para os realizadores: O Escaravelho do Diabo é um giallo, não é um slasher.
O fato do filme já começar com aqueles berros angustiantes, as sequências de aparições da menina e da bola (ideia bastante copiada depois), as cenas da Melissa na janela, os cenários e a atmosfera (Bava sabe o quanto uma escada em caracol pode ser agoniante), o movimento da câmera na cena da menina no balanço, a boneca que aparece na cama da Mônica, o momento em que o burgomestre vai abrir o armário pra entregar o envelope e encontra a Melissa dentro do armário segurando o envelope e olhando pra ele com uma cara de psicopata (essa parte me assustou mesmo, até então eu achava que ela não podia entrar na casa dos outros e por isso olhava através da janela) e a incrível cena em que Paul corre em looping sem conseguir escapar da mesma sala e termina descobrindo que estava correndo atrás de si mesmo, fica desolado e, tonto, recua até "entrar" no retrato da casa na parede.
OK. A história podia ser melhor e mais assustadora. A Melissa foi atropelada por um cavalo numa festa na rua, pediu ajuda tocando o sino e os malucos da cidade, provavelmente todos bêbados, não quiseram se envolver, fazendo com que a doida da mãe que era médium a "convocasse" pra matar geral e se vingar. Essa revelação é tão pouco impactante que inventaram a subtrama da Mônica ser irmã gêmea da Melissa, o que não acrescenta nada de relevante ao enredo, já que não sabemos se Melissa tinha ciúme da irmã, se a culpava também por sua morte, nada. E ainda arrumaram tempo para um plot twist nos 10 minutos finais com a bruxa descobrindo que a baronesa mentiu sobre tudo, que ela não era vítima e sim controlava a Melissa e que não deu a Mônica pros empregados, eles que a levaram pra salvá-la da maldição. E, se pra acabar com aquele sofrimento todo bastava esganar a velha, por que não fizeram isso antes?
Pra quem gosta de Cinema como arte, vale muito à pena acompanhar um dos maiores artistas no auge da sua criatividade. A mise en scène do Mario Bava em Ciclo do Pavor é linda demais, provando que é possível extrair beleza até do terror. Uma obra profundamente sensorial.
Eu sugiro que as pessoas façam uma experiência: peguem o filme Peter Pan de 2003 e assistam. Aí assistam à cena cortada do final alternativo desse filme (tem na internet). Aí então assistam Hook na sequência. TUDO vai fazer sentido.
Assassinatos na Fraternidade Secreta
3.2 72Esse filme teve o mérito de pegar as histórias dos três slashers mais clássicos até aquele aquele ano de 1983 (Black Christmas, Halloween e Sexta-Feira 13), misturar tudo, acrescentar algumas coisas novas, e o resultado é esse filmaço Assassinatos na Fraternidade Secreta, um clássico que também passou a ser muito referenciado no gênero slasher.
A Máquina do Amor
3.4 4Uma das comédias mais engraçadas que eu já vi na vida, que merecia ser mais conhecida. O plano dos personagens do Steve MCQueen e do Jim Hutton pra ganhar dinheiro com o computador da Marinha é muito bem elaborado e, ao mesmo tempo, os contratempos surpreendentes que vão surgindo no meio do caminho são hilariantes.
Mais um pouco e os caras iam causar uma guerra ou uma invasão alienígena, mas no fim virou só uma muvuca no cassino.
O Jarro
4.1 31Impressionante como uma premissa simples de um ponto específico - um jarro de água quebrado na escola de uma aldeia pobre no deserto do Irã - pode levar o filme a tratar de tantos temas universais e situações tragicômicas. O cúmulo foi o final quando
surgiram até infundadas acusações de corrupção contra o professor e aquela mãe por desviarem dinheiro na compra do novo jarro.
O Jarro é um esplêndido estudo da natureza humana convivendo em comunidade e um ótimo filme sobre crianças em ambiente escolar, aqui enfrentando uma dura realidade onde até o simples ato de beber água não ocorre sem que condições adversas sejam superas pela união.
O Outro Amante
3.0 2Lindo filme e bela trilha sonora.
Desde Desencanto (1945) do David Lean que o cinema humanizou a imagem da mulher casada que por acaso se apaixona por um homem fora do casamento. Neste filme esta personagem é a Claire Fielding, vivida pela Lindsay Wagner. Então o que O Outro Amante do Robert Ellis Miller tem a oferecer? Justamente algo que foge do clichê da maioria dos filmes que vieram após Desencanto: o conflituoso personagem do Jack Scalia, o escritor Jack Hollander.
Diferente de quase todos os romances do gênero, Jack não é um personagem unidimensional e tão pouco é um cara bem resolvido com o fato de Claire dividir sua atenção entre ele e sua família. Depois de um início leve e romântico, ele vai se tornando inseguro, invejoso e no final passa até a ser obsessivo.
Uma das melhores cenas do longa metragem é quando Jack entra de penetra na festa de Natal de Claire, fica bisbilhotando pela casa, vai até o quarto do casal, senta na cama que ela divide com o marido e, de repente, ele sente uma epifania, passa a mão no rosto, levanta e sai como quem diz "O que que eu to fazendo aqui?"
Jack está sempre a dois passos de fazer alguma merda e, quando finalmente causa um estrago na relação de Claire com a filha e se arrepende, já é tarde demais.
Apesar disso, também é o personagem que mais sofre no filme. Numa inversão de papeis, mesmo ainda mostrando os conflitos de uma mulher casada, O Outro Amante foca no tormento que é uma pessoa solteira amar uma pessoa comprometida com outro. Nesse contexto, a última cena foi dolorosa e realista.
"Pelo menos eu finalmente encontrei um final para o meu livro"
Duas curiosidades:
- Michael Jackson é o nome de um apresentador de TV que entrevista Jack. É homônimo do cantor, mas não é a mesma pessoa, não tem porque o filmow marcar o Michael Jackson cantor como parte do elenco.
- Alguns dos cenários por onde Jack e Claire passeiam são os mesmos de outra história de amor passada em São Francisco: Um Corpo que Cai (Vertigo).
A Ligação
3.6 514 Assista AgoraEu acho que esse filme tem seu valor na evolução do relacionamento entre as protagonistas que,
de grandes amigas, viram inimigas mortais
Porém... forçaram demais a suspensão de descrença. Hoje em dia qualquer pessoa com um mínimo conhecimento de física fica se questionando o tanto de furos da obra. Não vivemos mais no mesmo mundo que lançou De Volta pro Futuro, mas no mundo em que todo mundo assistiu Vingadores: Ultimato.
Por sinal, Durante a Tormenta é na minha opinião um filme melhor que A Ligação e foi muito mais criticado justamente por possíveis incoerências na viagem no tempo.
Os Assassinos da Rua Morgue
3.4 6Os Assassinatos da Rua Morgue (ou Os Crimes da Rua Morgue), de Edgar Allan Poe, é o primeiro romance policial da história da literatura, protagonizado pelo primeiro grande detetive da ficção, Auguste Dupin, investigando o primeiro crime misterioso com a primeira reviravolta (ou plot twist) final sobre a identidade do assassino, elementos que marcariam o gênero pra sempre. O livro foi adaptado quatro vezes.
A primeira vez com Bela Lugosi, Os Assassinatos da Rua Morgue de 1932, não é quase nada fiel ao original. Apresenta um vilão inédito com motivações diferentes, não há suspense ou surpresas para o público sobre quem pratica os crimes, pois esse personagem aparece desde o início junto do vilão, e tão pouco pouco o foco é no detetive Auguste Dupin, que deixou de ser detetive e foi transformado em Pierre Dupin, um mocinho romântico.
A segunda vez com Karl Malden, O Fantasma da Rua Morgue de 1954 é, na verdade, uma mistura do livro com o filme de 1932. Porque parte da trama é bem fiel ao texto do Poe. Foca no detetive, no mistério e na investigação. Mas bem antes do final, surge o tal vilão exclusivo do cinema junto com o assassino e então a trama se afasta do original da metade em diante e vira um remake do filme do Bela Lugosi.
A terceira vez com Jason Robards e Herbert Lom, Assassinatos na Rua Morgue ou Os Crimes Hediondos da Rua Morgue de 1971, nem dá pra dizer exatamente que é uma adaptação, já que a única ligação com a obra do Poe é que toda a trama de mistério envolve uma companhia de teatro que representa Os Assassinatos da Rua Morgue
E, finalmente, a quarta vez foi com George C. Scott, Rebecca De Mornay e Val Kilmer, neste Os Assassinatos da Rua Morgue, de 1986.
Essa é, de longe, a versão mais fiel ao livro (apesar de acrescentar algumas subtramas) e também a melhor. Embora eu considere as outras divertidas, a história original do Poe é muito criativa e tem um suspense de roer as unhas. Lembro de ter visto numa tarde no SBT. Dei sorte justamente de ter pego a única versão que se preocupa em reproduzir o suspense do livro até o fim. Jeannot Szwarc é um diretor competente. Revi o filme hoje e ele passou voando. Ainda é uma ótima produção, bastante dinâmica, com excelente atmosfera de mistério. E George C. Scott entrega uma ótima performance como Auguste Dupin, que resolve um caso complicado usando nada mais que inteligência e astúcia. Recomendo aos fãs do Poe assistirem essa versão primeiro.
Quem Matou Vicki?
3.6 18Filmaço de 1941 sobre um tema hoje bastante discutido: o feminicídio. Quando a história acaba, é menos importante saber a identidade do assassino do que compreender a complexa rede de relações abusivas de homens que se julgavam donos da vida e da morte de Vicki e até mesmo do destino das pessoas ao redor dela. O erro da personagem foi achar que poderia controlar a visão machista obsessiva que todos aqueles homens tinham sobre ela quando estava na cara que de um jeito ou de outro aquilo ia acabar mal.
Ótima atuação do Victor Mature como um desesperado Frankie. O momento mais desconcertante foi quando descobriram
o santuário da Vicki no apartamento do Ed.
Um Lírio na Cruz
3.5 1Esse é um dos melhores filmes do Frank Borzage, embora não seja dos mais lembrados. Algumas cenas impressionam porque ele mostra a Segunda Guerra (que ainda estava acontecendo quando a obra foi lançada) sem pudor:
- O Major Krupp querendo "empregar" a menina de 15 anos do orfanato.
- A rapidez com que a Irmã Clothilde se corrompeu pra salvar a menina, barganhando com o nazista pra entregar a cabeça do aviador pra salvar a garota, sem se importar como isso afetaria outras pessoas da aldeia e do convento que estavam ajudando os Aliados.
- O chocante fuzilamento da Madre Superiora por "acidente".
- A impressionante cena do bombardeio em que John é ferido.
- O fato de todo mundo na França ocupada ou ser colaborador dos nazistas ou ter seus passos rigidamente controlados por eles, mesmo a Resistência. Até o vendedor de cartão portal era um espião.
- Clothilde manipulando a verdade e princípios de boa fé para enganar os nazistas e salvar John, numa conclusão da jornada dela no início do filme, e num exemplo de separação dos conceitos de moral e ética.
- Major Krupp falando abertamente que vai poupar Clothilde para transformá-la em escrava sexual e tirar seu "pólen" todos os dias e o Prefeito Vitey, horrorizado, a matando com um tiro nas costas para que ela não passasse por aquilo nas mãos dele.
Um Lírio na Cruz também tem uma das cenas de despedida mais belas e tristes da história do Cinema quando
Ray Milland beija as mãos de Barbara Britton antes de fugir no barco.
Le ragazze di Piazza di Spagna
3.4 2Ri bastante e me emocionei muito com esse filme. A vida e a juventude de três amigas da classe trabalhadora na Itália do pós-Segunda Guerra, Elena, Marisa e Lucia. A história é de uma simplicidade e sensibilidade desconcertante.
https://www.youtube.com/watch?v=a-be4SoHoUw&t=8s
As cenas mais hilárias são as brigas da Marisa com a vizinha fura olho, a briga que aconteceu naquela festa onde Lucia e Amadeo foram que tocava Chiquita Bacana, a fofocaiada dos vizinhos da Marisa,
(Eles conseguiram inventar uma história inédita no filme onde Elena desmaiou porque estava grávida de Augusto e por isso Marisa fugiu hahahahaha)
É engraçadíssimo quando as três estão passeando no dia seguinte depois da confusão do falso sequestro e encontram o cara e a Lucia exclama pras amigas: "Mamma Mia! O Motorista!" Ela tinha se esquecido completamente dele!
Já os momentos mais tristes foram com a mãe da Elena e com certeza o final com o Professor.
Depois de tudo que aconteceu, o Professor percebeu que o convite do casamento entre Marisa e Augusto era o início do fim e que, em breve, Lucia e Elena também se casariam. Na década de 50, isto significava que largariam seus empregos e se dedicariam ao lar, sem que o filme precise dizer isso explicitamente, afinal, foi mais ou menos o que ocorreu com a mãe da Marisa. O que fica implícito é o futuro delas, onde a amizade tão bonita e forte entre as três seria posta a prova pelo tempo e a distância, sobretudo no caso de Lucia, que morava afastada da cidade. Fica a critério do público interpretar o que aconteceu na vida delas. Ficamos apenas com aquele gosto de quero mais. Nesse ponto somos representados pelo personagem do Professor, que representa ali os espectadores, que se apegaram a elas como se fizessem parte de suas vidas. Por isso mesmo é tão triste vê-las partir...
No Mundo de 2020
3.5 155 Assista AgoraMiséria, superpopulação, fome, mulheres objetificadas, efeito estufa, aquecimento global, desigualdade social brutal, polícia jogando trator no povo, idosos se suicidando, indústria alimentícia produzindo lixo, burgueses mandando e desmandando na polícia, o fim das matas e dos rios, poluição do ar descontrolada, eugenia.
Estamos as portas desse mundo caótico mostrado no filme. Inclusive correndo risco de virarmos
ração pra nós mesmos
Verdade Oculta
3.5 7Belíssimo filme. Mistura suspense e drama pra contar uma história maravilhosa sobre doença mental e amizade. Se você tem ou teve algum tipo de transtorno psicológico vai se identificar muito. Fora isso, Stephen Boyd e Pamela Franklin tem atuações monstruosas.
A trama é genial porque tem um ótimo desenvolvimento do mistério, mas o final comovente mostra que o que o diretor Charles Crichton quer é convidar o público para uma reflexão maior, que vai muito além de saber qual paciente matou o psiquiatra. A Verdade Oculta é uma das histórias mais emocionantes que eu já assisti e é brilhante ao defender sua tese de que, nos momentos mais desesperadores de nossas vidas, são os laços humanos que forjamos uns com os outros que nos mantém conectados e nos fazem sentir realmente vivos.
Enterro Prematuro
3.5 36 Assista AgoraDepois da explicação que a Kate deu ao Miles, a primeira coisa que veio a minha mente é que aqueles arrombadores de túmulo são os capangas mais burros do mundo.
Retrato do Brasil - A Radiografia de Um Fracasso
5.0 1Link do filme no youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=GFYDq1mQmMk
Para Sempre na Memória
3.4 28Lindo e melancólico, uma pérola esquecida dos anos 80 e um dos melhores filmes de todos os tempos sobre o tema suicídio. Me marcou muito quando criança. Uma pena que a Marisa Silver se aposentou prematuramente. Criou uma grande obra de arte e ainda arrancou a atuação da vida do Keanu Reeves.
Os Últimos Rebeldes
4.0 50É a Alemanha do século passado ou o Brasil de hoje?
Baseado em circunstâncias reais - já que os personagens são fictícios, mas os Swing Kids realmente existiram - esse filme sofreu críticas injustas na época do lançamento. O Roger Ebert, que é um grande crítico, dizia por exemplo que se incomodava pelo filme não denunciar o antissemitismo como acreditava que deveria. Ele só se esqueceu de dizer que o filme faz faz um recorte daquela sociedade quando mesmo pessoas que se achavam boas já cediam a certos absurdos, como não achar tão errado assim a juventude nazista perseguir um garoto judeu porque a sociedade alemã já era em boa parcela antissemita e racista.
Esse é um filme maravilhoso porque trata do fascista que existe dentro de todos nós sem se apegar a nenhum tipo de moralismo. Cada um dos três amigos protagonistas é uma face do ser humano e como ele lida com a sociedade sendo dominada pelo pensamento nazisfascista de formas diferentes. Por isso esse é o melhor retrato sobre cooptação e corrupção da juventude que eu já vi num filme. Acho ele um relato muito mais honesto da atuação da juventude hitlerista na mente dos jovens do que os dois filmes A Onda, não só por ser um trabalho de época, mas fazer um raio-x da alma daquela geração.
E é uma obra de arte tão extraordinária que consegue dar um passo além e ressaltar que a arte - nesse caso, a música do povo negro - pode ser a maior arma de resistência.
Uma Sepultura para a Eternidade
3.6 19Mistura única de horror e ficção científica. Afirmo tranquilamente que é um dos melhores filmes que já assisti na vida e a melhor ou uma das melhores obras já produzidas pela Hammer.
A Volta de Jack, O Estripador
2.7 15Eu acho esse filme ótimo e subestimado. Gosto muito do modo como o roteiro é estruturado, com muitas reviravoltas. James Spader é um monstro atuando. Ele consegue se sair muito bem seja como o personagem vulneravel, seja como o casca grossa.
O momento em que um dos protagonistas morre enforcado e logo a seguir seu gêmeo acorda em outro lugar sentindo o mesmo é impressionante. O final com a vingança desse e, de quebra, a descoberta sobre quem realmente matava as mulheres é surpreendente.
Um Homem Sem Importância
3.9 26Como um filme de 1971 pode falar tanto sobre o Brasil de hoje? A sociedade continua com os mesmos defeitos.
Idealiza países que não conhece a fundo (como mostra a cena do japonês), discrimina mulheres que tem filhos sem serem casadas, se recusa a valorizar o estudo na vida como parte integral na formação de um cidadão, quer que os pobres que querem estudar se sacrifiquem enquanto os ricos que não querem nada aproveitem a vida ao mesmo tempo em que o mercado de trabalho exige uma qualificação dos jovens sem dar experiência em troca (afinal, a maioria das vagas vai estar reservada pros filhinhos de papai quando eles forem obrigados a estudar e trabalhar numa certa idade), concentra a cultura nas regiões de alto poder aquisitivo (como na parte em que um dos personagens explica porque não voltava a zona norte do Rio de Janeiro), transforma o dinheiro no objetivo máximo da resolução dos problemas e na finalidade das relações (a cena em que o amigo do protagonista admite que fazia companhia pra tia idosa pra esperar por uma herança) e, pior, a cada geração os jovens tem seus próprios filhos e também não conseguem ter a empatia com eles que seus pais não tinham consigo.
Um dos maiores clássicos do cinema brasileiro.
Tamo Junto
2.7 75O filme é machista demais. Esse é o principal problema, mas não o único.
Além do roteiro nunca mostrar o fato do Felipe e seus amigos armarem pra pegar garotas com baixa autoestima sob uma ótica crítica, a cena em que o Paulo transforma o Felipe em voyeur da sua primeira vez com a Diana é um erro. Por mais que o Paulo seja emocionalmente fudido, nada justifica ele trazer o melhor amigo pra dentro da intimidade da garota sem permissão. Ainda se o roteiro tentasse trabalhar com isso, mas ele, por mais que tente, não consegue se aprofundar nas personagens femininas. E a Alice Wegmann e a Sophia Charlotte realmente são as melhores interpretações de Tamo Junto. O Matheus Souza também está muito bem, por mais que eu torça o nariz praquele clichê de personagem. Já o Leandro Soares, não que ele esteja mal, mas acho que ele teve uma dificuldade em sacar as nuances do texto do Matheus no personagem dele. Talvez por ele ser escritor também, não conseguiu encarnar aquele personagem escrito por outro do mesmo jeito que o Matheus encarna um papel escrito por ele mesmo, por exemplo.
O fato é que o Paulo é tão mais carismático que o Felipe que o momento em que um trai o outro "vilanizou" demais o Felipe a ponto da gente não se importar tanto mais com um cara tão babaca. Eu sinceramente achei que o happy end seria Paulo e Diana. Outro problema é que a paixão entre Felipe e Julia é abrupta demais e pouco desenvolvida pra convencer o público daquele final.
Fazer referências é legal, mas no final aqueles discursos do Rocky e a fuga a la A Primeira Noite de um Homem parecem mais muletas narrativas de uma história que não sabe como concluir sua trama.
Goethe!
3.7 23Moral da história: mesmo que as convenções sociais possam destruir a vida e os sonhos das pessoas, a Arte e o Amor podem nos redimir.
"Isto de fato aconteceu? Tudo isto é verdade?"
"É mais do que verdade. É poesia."
O Escaravelho do Diabo
2.6 335Desperdício. Esperei por anos pelo filme baseado no livro, agora esperarei pelo remake.
A graça da história de O Escaravelho do Diabo repousa sobre certos pilares.
1 - Alberto se unindo ao Inspetor Pimentel tentando descobrir quem matou seu irmão de maneira brutal.
2 - O clima de mistério sobre o assassino de pessoas ruivas que sempre deixa um escaravelho de lembrança enquanto bola formas criativas de eliminar suas vítimas.
3 - Os personagens da pensão de Cora O'Shea, que estão de um modo ou de outro conectados ao enigma da trama (lá viviam o assassino, uma das vítimas e vários suspeitos).
4 - O romance conturbado de Alberto e Verônica...
O pilar 1 está lá e realmente nota-se um esforço pra tornar os heróis mais tridimensionais. Alberto agora é um pré-adolescente viciado em internet (e não um jovem estudante de medicina) com transtorno de déficit de atenção e Pimentel, que virou Delegado, ficou mais idoso, sentindo os primeiros efeitos da Síndrome de Lewi. A relação entre eles é mais legal.
O pilar 2 está razoavelmente parecido. O clima de tensão que vai surgindo gradualmente graças às ações do assassino consegue pelo menos passar um pouco da sensação de inquietude do livro. Muitas das mortes criativas do livro estão no filme, acho que a única exceção foi a do pássaro. O problema é o seguinte. Você geralmente só tem duas formas de contar histórias de assassinatos misteriosos. Ou você cria um whodunit (o famoso "quem matou?") ou você mostra o assassino desde o começo como um louco. O livro é um whodunit clássico, fazendo com que a trama sempre girasse em torno dos moradores da pensão e se ancorando neles para gerar conflitos sobre a possível identidade do vilão.
No filme NÃO EXISTE A PENSÃO. O Carlo Milani simplesmente eliminou um dos pilares da obra original e preferiu mostrar o assassino o tempo todo como um maníaco obsessivo que fica isolado dos demais. Por algum motivo, o diretor esconde o rosto dele, sem necessidade alguma, já que ele não é aquele personagem surpreendente revelado no livro. Tipo, o assassino não tem uma vida normal de fachada paralela com os assassinatos, ao estilo psicopata de vida insuspeita. É um louco o tempo todo. Existe uma tentativa de explorar mais o passado e motivação do vilão no filme do que no livro, mas é só um clichê típico de filmes slasher. Não que seja ruim ou fora de contexto, mas a direção narrativa do livro colabora mais pro mistério. Quem sentir falta de ver o Inseto (ele nunca é chamado assim, o Pimentel só o chama de Escaravelho do Diabo uma vez sem motivo) de máscara, preste atenção na cena em flashback do cemitério, repetida excessivamente pelo Milani, onde podemos ver outros personagens com o visual semelhante ao do vilão no livro.
Bem, o quarto pilar do original da Lúcia Machado de Almeida também foi virado de cabeça pra baixo. Milani simplesmente detonou com um dos meus casais favoritos da série vaga-lume e cujo envolvimento tinha uma grande importância pra história. Aliás, eu não sei porque reclamaram tanto de Alberto e Hugo trocarem de idade. Pior que isso foi ver Verônica e Raquel trocarem de personalidade. De quebra, ainda viraram irmãs (!) e amigas, sendo que no livro (que eu me lembre) as duas se detestavam por ciúmes do Alberto. Imagino que quando terminaram o roteiro da adaptação, devam até ter cogitado limar a Verônica, de tão diferente que ela ficou. E quem leu o livro sabe que a Verônica é um componente essencial do clima de suspense. No filme a afastaram do Alberto e inventaram uma outra subtrama pra ela envolvendo o Hugo, que faz com que a personagem perca a importância depois de 20 minutos. Em vez de viver com aquele bando de estrangeiros na pensão, ela agora tinha sua própria família, mas tanto a Raquel quanto o personagem do pai tornaram-se muito mais importantes.
Apesar disso, nem todas as alterações são ruins, até porque o livro não era perfeito. As mudanças que três personagens fazem nos cabelos são muito interessantes e ajudam a conduzir a narrativa de modo até inesperado. O ator mirim que faz o Alberto realmente é muito bom e segura o interesse do público. Marcos Caruso idem. O personagem do padre sofre tratamento oposto ao da Verônica e ganha muito mais importância. E era óbvio que a cena do incêndio da igreja seria diferente pra criar climax, já que no livro o assassino só é revelado depois. A trilha sonora foi outra derrapada a meu ver, porque na minha opinião aquela música do final não combina em nada com a história pregressa que Milani criou, humanizando mais o vilão do livro... enquanto que a música transmite justamente o contrário. No geral, é um filme fraco, que não alcança o potencial de adaptação que O Escaravelho do Diabo original da Lúcia Machado prometia. Em parte pela falta de fidelidade a certos núcleos dramáticos da obra e em parte pela falta de uma pegada maior no clima de mistério.
Uma dica para os realizadores:
O Escaravelho do Diabo é um giallo, não é um slasher.
Paixão Eterna
3.7 20Possivelmente Paixão Eterna é o filme mais bonito dos anos 80.
O Ciclo do Pavor
3.8 72Podia ser uma história comum de fantasmas, mas o Mario Brava transformou num dos maiores clássicos do cinema gótico.
Pontos altos
O fato do filme já começar com aqueles berros angustiantes, as sequências de aparições da menina e da bola (ideia bastante copiada depois), as cenas da Melissa na janela, os cenários e a atmosfera (Bava sabe o quanto uma escada em caracol pode ser agoniante), o movimento da câmera na cena da menina no balanço, a boneca que aparece na cama da Mônica, o momento em que o burgomestre vai abrir o armário pra entregar o envelope e encontra a Melissa dentro do armário segurando o envelope e olhando pra ele com uma cara de psicopata (essa parte me assustou mesmo, até então eu achava que ela não podia entrar na casa dos outros e por isso olhava através da janela) e a incrível cena em que Paul corre em looping sem conseguir escapar da mesma sala e termina descobrindo que estava correndo atrás de si mesmo, fica desolado e, tonto, recua até "entrar" no retrato da casa na parede.
Pontos baixos
OK. A história podia ser melhor e mais assustadora. A Melissa foi atropelada por um cavalo numa festa na rua, pediu ajuda tocando o sino e os malucos da cidade, provavelmente todos bêbados, não quiseram se envolver, fazendo com que a doida da mãe que era médium a "convocasse" pra matar geral e se vingar. Essa revelação é tão pouco impactante que inventaram a subtrama da Mônica ser irmã gêmea da Melissa, o que não acrescenta nada de relevante ao enredo, já que não sabemos se Melissa tinha ciúme da irmã, se a culpava também por sua morte, nada. E ainda arrumaram tempo para um plot twist nos 10 minutos finais com a bruxa descobrindo que a baronesa mentiu sobre tudo, que ela não era vítima e sim controlava a Melissa e que não deu a Mônica pros empregados, eles que a levaram pra salvá-la da maldição.
E, se pra acabar com aquele sofrimento todo bastava esganar a velha, por que não fizeram isso antes?
Pra quem gosta de Cinema como arte, vale muito à pena acompanhar um dos maiores artistas no auge da sua criatividade. A mise en scène do Mario Bava em Ciclo do Pavor é linda demais, provando que é possível extrair beleza até do terror. Uma obra profundamente sensorial.
Hook - A Volta do Capitão Gancho
3.4 282 Assista AgoraEu sugiro que as pessoas façam uma experiência: peguem o filme Peter Pan de 2003 e assistam. Aí assistam à cena cortada do final alternativo desse filme (tem na internet). Aí então assistam Hook na sequência. TUDO vai fazer sentido.