Você fica ludibriado, irritado, disperso e confuso. E entra nessa espiral de desgraçamento de cabeças.
O filme desnuda Mima até o âmago, mostra uma mente débil e fragilizada pela exposição de sua imagem, pelas expectativas impostas à ela e pela sua própria interpretação de si mesma. O filme transita entre o ''real'' e o ''sonho'', misturado-os, porém sempre dando sentido para a mente cansada e desvairada de Mima. Sua mente entra em loop, sua mente vê-se por fora e por dentro, sua mente se perde entre suas ações, suas atuações e suas interpretações. Nada é certo. Tudo é interpretação.
Ao meu ver o loop se passava em cenários diferentes, outra vez no quarto de Mima, outro no Rumi, isso se dá pela configuração diferente do quarto, nos peixes mortos (e ora vivos) e principalmente pelas roupas de Mima, quando é no quarto dela, ela estava vestida normalmente, quando é no da Rumi, ela está sem a parte debaixo da roupa. Ou seja, dá para imaginar que a Rumi estava a drogar Mima e, de certa forma, tentando pega a vida da mesma para ela.
O filme parece ter três camadas, e por via três níveis de quem é Mima. Temos a atriz, numa série violenta que retrata crimes e por essa vez é de uma personagens com múltiplas personalidades, a estrela pop com roupa espalhafatoso, que é incessantemente criada pelas pessoas a volta e a própria Mima, uma mulher que tenta lidar com as expectativas sobre ela e os abusos dos fãs. Todas transita no filme e na própria mente da protagonista, deixando-a eufórica, ansiosa e perdida em sua própria personalidade, passando pro uma espécie de despersonalização, perdendo-se aos poucos sua própria identidade, porque se pensar
temos a Rumi se ''apoderando' da personalidade pop star para si, temos a outra parte sendo atuada e nisso rola confusão de sentidos e acepções.
A desgraça na mente de Mima é colocada sempre em tons de vermelhos em relação ao azul, a chuva e a calmaria. A violência é constante e é sempre mostrada pela transgressão, pela insinuação de abuso. Mima é uma personagem vivendo sempre nessa sensação de invasão, de exposição e abusivo. Sempre sentindo-se nua, exposta aos olhares alheios, às vontades alheias, ela mesma é vista não como uma pessoa, mas sim como algo a ter posse, algo para a satisfação alheia, seja por fãs, sejas por seus agentes.
Ela passa por níveis e níveis de desgaste mental, desde simular um estupro até pensar que assassinou alguém, e podemos ver o sangue, o vermelho macular sua persona e sua mente.
É, sem dúvida alguma, um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos. É instigante, intrigante, denso, imersivo. É diferente do que eu imaginava. Eu esperava uma história sobre a História, por assim dizer, um foco maior no enredo, porém tive uma história sobre pessoas, sobre a complexidade da identidade de um indivíduo, sobre o querer mudar, o vestir-se para ser outro alguém, um filme sobre facetas e personas, sobre imergir na mente de um individuo, sobre autoconhecimento. E muito além desses desdobramentos psicológicos, temos uma mulher independente, que na introdução do filme já parecia estar lutando para alcançar algo, antes mesmo do filme inciar (tal qual Hannibal que já estava preso, antes do filme começar), e sozinha. Uma mulher entre os olhares afiados, inescrupulosos, nojentos de homens e dizeres machistas, com um objetivo certo e claro, um passado triste, uma mente que vai na linha tênue entre o frágil e o duro.
A atuação de Hopkins não é superestimada. É amedrontadora, sedutora, charmosa, minimalista, sutil, opressiva. Não há mais detalhes a se falar, a cada gesto, olhar, respirar percebemos Hopkins dentro da pele de Hannibal.
Uma cena é linda. Hannibal e Clarice conversam, entre dizeres de desabafos, o rosto de Hannibal aparece do lado esquerdo da mente de Clarice, representando que o mesmo já dominou sua mente, e tomou conhecimento de suas fragilidades e segredos. É poético.
Estou absurdamente extasiado depois de ver esse filme, logo dá pra imaginar o quão tendencioso posso estar sendo agora. Mas algo posso afirmar, tal qual o descobrimento e a minucia que Dr. Hannibal fez da mente de Clarice, me vejo assim agora. Completamente despisto e exposto por esse filme.
Tristemente ou não, eu sabia o que era Rosebud antes mesmo de ver o filme, havia todo o hype em cima do ''melhor filme já feito'' e apenas pensava: essa porra de contexto vai foder muito minha visão do filme.
Não fodeu.
O filme é sobre um homem ambicioso, grandioso e quer se espalhar pelo mundo e ser amado por todos. Tem opiniões sobre tudo, compra tudo que há no mundo, consegue manipular opiniões sobre uma cantora fraca, e apensar de tudo isso, restou apenas um nome em sua mente, que afinal, era
um trenó. O símbolo de uma infância perdida que lhe foi arrancada prematuramente, a lembrança de uma época onde não havia opiniões para ter, políticas para se meter, relações complexas para se envolver. Ele era apenas e somente uma criança, sem preocupações, apenas se preocupando com algo singelo e, finalmente, significativo como um trenó. Um garoto, não é um homem imerso em seus paradoxos. Todos sentimos a falta dessa pequena peça.
É um homem era mostrado sempre grudado e aos berros com outras pessoas, sempre envolto de pessoas, porém no final era mostrado distante... Sozinho... Um homem solitário que pela sua grandeza de sempre estar um passo a frente, de querer sempre tudo da sua maneira, afastou cada pessoa em sua vida. Afinal, fora um criança arrancada de seu lar, só queria amor. Só queria atenção. E também um homem que parecia querer ser visto, mas não conhecido; gostado, mas não amado, sempre, de alguma forma, mantendo distância com todos.
O filme mostra a extensão de um homem. Não há como resumir o homem em apenas uma palavra, há várias peças complexas e densas formando o que é um homem é, desde sua vida política achando que liberdade é um presente até objetos sem valor. Em um homem há peças faltando, peças importantes que são a sua base.
E no final, é um belo estude de personagem. Analisa os aspectos de suas amizades, seus amores, suas opiniões políticas, sua vida social, no fim é sobre o Cidadão Kane, o Homem Kane. Não sobre Rosebud.
Eu queria ter visto o filme sem saber que era uma alegoria bíblica, pois queria saber como eu iria reagir ao filme, provavelmente iria boiar e MUITO. É complicado esse filme, mais alguém acha que a significância/entendimento do filme se sustenta muito em ser uma analogia bíblica? E acha que se uma pessoa ver o filme sem saber disso, ela não irá aproveitar 100%?
Pelos inúmeros comentários sobre o quão reflexivo e abrangente era o filme, levei-me a pensar que tinha uma história absurdamente complexa, porém não. Eu diria que é uma história simples contando coisas complexas e reflexivas.
Primeiramente que é um filme atmosférico. A trilha sonora, o cenário, os sons do ambiente, tudo. Tudo nos dirige para um ambiente inóspito, de melancolia e solidão. Ou você sente conexão ou tédio. Eu senti conexão. Me imergi naquela cidade, me vi pelas becos, nas luzes em meio a um ambiente escuro e opressor, me vi nessa cidade de um futuro distorcido. Me senti na pele do inexpressivo Deckard e do emotivo Roy.
É como se o filme transmitisse essa ideia de uma luz frágil perante a extensa escuridão, como brasas prestes a virarem cinzas dançando na penumbra.
O filme é sobre o Roy. Ele se transforma na alma do filme e vira o centro emocional, faz com que a gente se importe com ele rapidamente, nós vemos a morte generalizada e o fim sendo para todos pelos seus olhos... Roy é humano pra caralho. Sente medo da morte, quer viver, sente raiva, euforia, tristeza. Pena que se foi com a chuva.
Talvez vocês gostem do filme, talvez não, talvez o entendam ou não. Talvez o que eu escreva faça sentido, ou não.
Fragmentado é um filme estranho e ao avesso de super-herói. Uma espécie de Shazam? Seria ''O Horda'' a vontade inerente de um garoto, que sente muita dor, de virar um super-herói e assim poder se proteger? Com inúmeras personalidades criadas a partir da necessidade de Kevin ao longo do tempo, as mesmas ao passar do tempo a fim de protegê-lo começam a consumi-lo, afinal, Kevin é fraco. Incrivelmente o filme é sobre Kevin, mas ele mal aparece no filme, é sempre citado e todas as ações se desdobram a partir dele, porém nunca é ele a tomar decisões ou tomando qualquer ação, a única ação que ele toma não é uma ação, é um pedido para alguém agir por ele.
Night tem uma visão interessante dos super-heróis, são seres desassociados, diferentes tentando sobreviver em um mundo heterogêneo, seja tentando se camuflar, seja provando ao mundo a sua existência. E pela repressão ao mundo, tem uma mente extremamente frágil e... Fragmentada. É incrível ver que existem pessoas dentro de Kevin, cada um com uma peculiaridade independente e ver James McAvoy transitar entre elas é um show, é o grande espetáculo do filme.
Kevin esteve vivo mas não agindo, reagindo. Ele mantinha os fragmentos juntos, trancafiados e enjaulados. Agora ''dormindo'', podem ir andar livremente como feras. A Besta os salvou do confinamento. A sala foi quebrada.
Além do ''Kevin'', temos a Cassey que olha... É intrigante. Diferente do Kevin que não ''existe'' no filme, a Cassey toma a ações e decisões, o background dela não é exposto didaticamente, é colocado de um jeito não linear e nada explicativo para nós, nada sobre ela fica claro, nada sobre ela fica objetivo, são apenas ondulações e imagens soltas. A verdade é: ela sentiu muita dor. E dor parece ser um definidor de águas aqui.
Só eu me incomodei com a resolução? Entendo que o filme construiu isso. O fato dela encarar a situação de forma diferente, usar mais roupas que as duas meninas, ter o instinto de sobrevivência de como falar com quem, entretanto soou Deus Ex Machina o fim. Porém entendi a ideia por trás. E outro, o fato do trauma, A dor que o filme tanto frisa vir de um abuso é... Desgastante, é usado em exaustão nos filmes e afins :/
A imersão do suspense funciona, é interessante imaginar o quão singular e estranho é a situação que as personagens se metem, porém não sei dizer que a reação delas aos fatos são necessariamente interessantes de se ver... O filme ter se construído de uma forma ''científica'' e depois ter jogado isso no lixo incomoda (eu vi Corpo Fechado) foi algo um abrupto demais, por mais que o filme textualmente fale sobre ele, em toda a sua atmosfera ele não parece comportar essa ''irrealidade'', enfim... Mas fiquei feliz com esse universo do Night.
Personagem fodona que senta a mão em geral, porém também apanha? Sim Trilha sonora fodida de boa combinando direitinho com as cenas do filme? Sim Fotografia gélida, fria transmitindo aquele ar de ambiguidade/incerteza remetendo ao contexto histórico? Sim UM FUCKING PLANO SEQUÊNCIA DE AÇÃO DAHORA? SIM
Entretanto o roteiro é fraco e até diria, confuso. Parecem expor a história quase como um power point, deixando a história chaaata., ainda por cima enfiam plot twists a fim de trazer uma reação de NOSSA e mesmo assim continuar absurdamente desinteressante. A personagem da Sofia Boutella é absurdamente desperdiçada e é somente uma ferramente de roteiro, eu ficava nauseado ao vê-la entrar em cena. E por mais que tenha a atuação do McAvoy, o David também não soa interessante mesmo que seu personagem represente um ponto interessante tanto na narrativa quanto na temática. Os pontos positivos saltam aos olhos tanto quanto a paleta de neon que a gente até ignora a história meh.
Hell or High Water - A Qualquer Custo: Secalma e o marasmo doentio
Que filme, amigos, que filme. Estou ouvindo a trilha sonora desse maldito filme enquanto escrevo isto.
Hell or High Water é uma espécie de western moderno onde dois irmãos em meio à um alastrante status quo de pobreza e miséria começam a assaltar bancos para sobreviver e, como dizem, limpar essa doença chamado pobreza que se proliferou em seus genes. É interessante ver a relação dos irmãos, é uma relação fraterna, conflituosa e até emblemática. Dá para perceber o amor nutrido pelo dois, a afeição que socos, cuspidas e empurrões ambos se fizeram num ambiente sangrento e hostil, porém nem essa criação os deixou esgotados de um certo sentimentalismo (porém com um vá se foder no final de uma palavra dócil fhdusfsd). Conflituosa ambos parecem seres diferentes nascidos em um mesmo habitat, o primeiro irmão esperto, paciente, sempre tentando fazer os roubos do modo mais cometido e sistemática possível; enquanto o outro é instável, selvagem, aleatório. Um age de modo fraternal pensando no futuro de sua família e o outro apenas segue para mais um roubo de uma maneira instintiva. E mesmo nessa dicotomia, ambos focam no objetivo e conseguem aprender um com outro, compartilhar trejeitos, afeições e maneiras de agir. Imagino como um símbolo nesse selvagem marasmo e hostil ambiente formado em torno de ambos, cada um teve uma escolha perante o mundo e em como enfrenta-lo. O primeiro irmão luta constantemente para fugir da pobreza, dessa dita doença ou ao menos resguardar os filhos disso e o segundo irmão vive nisso, aceitou isso e continua a seguir de qualquer forma. Em contrapartida temos os dois Patrulheiros um idoso e o outro mestiço numa relação politicamente incorreta, amistosa. Nos insultos do patrulheiro para com o mestiço, percebemos aquele tom conflituoso e não-gentil, porém até nisso podemos observar a camaradagem entre eles. Um Patrulheiro velho a um quê de se aposentar que sobreviveu a muita coisa e um mestiço novato em meio a um ambiente racista. O patrulheiro análogo ao segundo irmão e o mestiço ao primeiro irmão. Semelhantes, com uma relação amigável entre si, uma história e, olhe, ambos de lados opostos. As duas duplas.
- Quem é o inimigo? Vendo as reações irônicas, secas e agressivas dos habitantes das cidades, pode-se notar uma certa tensão se proliferando entre eles, lados opostos, conflituosos. Uma dupla apenas lutando para sobreviver, a outra apenas fazendo a lei e nisso as pessoas em meio disso só reagem e tentando sobreviver também, e nisso tudo quem é o culpado? Todos apenas lutando a cada hora para sobreviver, para fazer o seu e em pano de fundo a pobreza, a decadência que pegou a todos. O Patrulheiro decadente, o mestiço em meio ao racismo, um rapaz feroz que viveu num marasmo com seu irmão que só quer um lar e dinheiro para família. Todos sofrendo constantemente. Sem querer justiçar, logicamente. Apenas conjecturando. A culpa não parece desaparecer, mas diluir entre todos, todos são vítimas das circunstâncias e também lobos ferozes. A culpa não diminui, as mortes que causou e os roubos não assombraram menos. Toda a estrutura caótica e cruel recai sobre todos, a garçonete quer ter um teto para filha... Irmãos que nasceram na pobreza, os cidadãos mortos. É vago, eu sei. Mas penso como somos inimigos de tudo e todos constantemente lutando para sobreviver, a inimizade sendo até inócua e vazia sendo tragada até nós de forma forçada e sem escolhas, nascemos inimigos dos outros, porém lutando com a nossa escolha para escolher quem não é. O filme em meio a tudo isso tenta delinear as vítimas, os inimigos, os caçadores. Como as vítimas viram caçadores para não serem mais vítimas e nisso fazendo outras vítimas.
- Um mundo falido Um mundo falido sujo, isso que mostra o filme. Com cor sépia, desbotado, desgastado. Cada ambiente, cada lar, bar é velho, sujo caindo aos pedaços destruído pela falência, por um lugar quebrado. Os rostos e roupas constantemente sujas dos protagonistas, o olhar vago para longe como quem fita um sonho distante e inebriante. Todos sempre tentando de alguma forma livrar-se dessa doença chamada: pobreza. Quem já passou fome, odiou-se por não ter dinheiro nem para alimentar os filhos, a miséria correndo, pobreza até parece algo mais que um estado social. Descendo da cinematografia até a trilha sonora, o tom selvagem e de western sem lei corre por toda a cidade que só tenta se manter enquanto os indivíduos dela também tentam. Um ruído. Um silêncio. Um olhar para o nada. Somo todos uns fodidos que fodem e só sabem se foder. Tiroteios, cidades inteiras te perseguindo, olhos com olheira e aquele olhar sofrido de quem já nasceu e respirou a pobreza. E ainda vemos casas a venda, financiamento, tentativas absurdas para tentar sobreviver a uma crise generalizada. Nós aqui do Brasil que o diga. Somos apenas pessoas decadentes à procura de uma decência sequer, principalmente para nossos filhos.
Um homem com o nome prenunciado incorretamente diversas vezes, a obssessão pelas ideias fixas de fama e validação e sua "indiferença", ignorância a qualquer pensamento que contrarie sua visão idealizada de si mesmo, Rupert Alguma Coisa percorre obcecado o ideal de ser Rei por uma noite. Como um Rei Pedinte (ala Viserys) percorre uma trajetória cínica e irônica numa pele de cordeiro de comedia, que na realidade, mostra-se como uma drama do homem e sua importância e/ou insignificância perante o mundo.
Interessante observar que Rupert não se desenvolve tampouco muda no decorrer da drama, como sua obsessão é fixa, inalterada. Alimentando mais a dicotomia de que se és perpetuamente rei ou idiota, sem espaços para alterações ou ideias mais flexíveis.
Pontos como o trabalho duro, honesto e sem atalhos, a obsessão tanto pela fama como por pessoas famosas, a constante busca pela validação e reconhecimento, a fantasia doentia nublando outros viés. O filme é lento e tenta salientar e pontuar a personalidade estranha e terrivalmente persistente de seu protagonista, porém eu seu final, de fato, vislumbramos ironicamente e efemeramente a ação de um rei, a grandiosidade fugaz de quem, sabe, um eterno idiota.
Como dizia Racionais MC's:"Viver pouco como um rei ou muito, como um Zé?"
Jumanji: Bem-Vindo à Selva
3.4 1,2K Assista AgoraQuem sou eu pra não gostar de um filme que o The Rock tá? O homem é um touro
Perfect Blue
4.3 815Você fica ludibriado, irritado, disperso e confuso. E entra nessa espiral de desgraçamento de cabeças.
O filme desnuda Mima até o âmago, mostra uma mente débil e fragilizada pela exposição de sua imagem, pelas expectativas impostas à ela e pela sua própria interpretação de si mesma. O filme transita entre o ''real'' e o ''sonho'', misturado-os, porém sempre dando sentido para a mente cansada e desvairada de Mima. Sua mente entra em loop, sua mente vê-se por fora e por dentro, sua mente se perde entre suas ações, suas atuações e suas interpretações. Nada é certo. Tudo é interpretação.
Ao meu ver o loop se passava em cenários diferentes, outra vez no quarto de Mima, outro no Rumi, isso se dá pela configuração diferente do quarto, nos peixes mortos (e ora vivos) e principalmente pelas roupas de Mima, quando é no quarto dela, ela estava vestida normalmente, quando é no da Rumi, ela está sem a parte debaixo da roupa. Ou seja, dá para imaginar que a Rumi estava a drogar Mima e, de certa forma, tentando pega a vida da mesma para ela.
O filme parece ter três camadas, e por via três níveis de quem é Mima. Temos a atriz, numa série violenta que retrata crimes e por essa vez é de uma personagens com múltiplas personalidades, a estrela pop com roupa espalhafatoso, que é incessantemente criada pelas pessoas a volta e a própria Mima, uma mulher que tenta lidar com as expectativas sobre ela e os abusos dos fãs. Todas transita no filme e na própria mente da protagonista, deixando-a eufórica, ansiosa e perdida em sua própria personalidade, passando pro uma espécie de despersonalização, perdendo-se aos poucos sua própria identidade, porque se pensar
temos a Rumi se ''apoderando' da personalidade pop star para si, temos a outra parte sendo atuada e nisso rola confusão de sentidos e acepções.
A desgraça na mente de Mima é colocada sempre em tons de vermelhos em relação ao azul, a chuva e a calmaria. A violência é constante e é sempre mostrada pela transgressão, pela insinuação de abuso. Mima é uma personagem vivendo sempre nessa sensação de invasão, de exposição e abusivo. Sempre sentindo-se nua, exposta aos olhares alheios, às vontades alheias, ela mesma é vista não como uma pessoa, mas sim como algo a ter posse, algo para a satisfação alheia, seja por fãs, sejas por seus agentes.
Ela passa por níveis e níveis de desgaste mental, desde simular um estupro até pensar que assassinou alguém, e podemos ver o sangue, o vermelho macular sua persona e sua mente.
Perfect Blue
4.3 815Desgraçador de mentes esse filme.
O Silêncio dos Inocentes
4.4 2,8K Assista AgoraPUTA MERDA A CENA NA CASA.
É, sem dúvida alguma, um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos. É instigante, intrigante, denso, imersivo. É diferente do que eu imaginava. Eu esperava uma história sobre a História, por assim dizer, um foco maior no enredo, porém tive uma história sobre pessoas, sobre a complexidade da identidade de um indivíduo, sobre o querer mudar, o vestir-se para ser outro alguém, um filme sobre facetas e personas, sobre imergir na mente de um individuo, sobre autoconhecimento. E muito além desses desdobramentos psicológicos, temos uma mulher independente, que na introdução do filme já parecia estar lutando para alcançar algo, antes mesmo do filme inciar (tal qual Hannibal que já estava preso, antes do filme começar), e sozinha. Uma mulher entre os olhares afiados, inescrupulosos, nojentos de homens e dizeres machistas, com um objetivo certo e claro, um passado triste, uma mente que vai na linha tênue entre o frágil e o duro.
A atuação de Hopkins não é superestimada. É amedrontadora, sedutora, charmosa, minimalista, sutil, opressiva. Não há mais detalhes a se falar, a cada gesto, olhar, respirar percebemos Hopkins dentro da pele de Hannibal.
Uma cena é linda. Hannibal e Clarice conversam, entre dizeres de desabafos, o rosto de Hannibal aparece do lado esquerdo da mente de Clarice, representando que o mesmo já dominou sua mente, e tomou conhecimento de suas fragilidades e segredos. É poético.
Estou absurdamente extasiado depois de ver esse filme, logo dá pra imaginar o quão tendencioso posso estar sendo agora. Mas algo posso afirmar, tal qual o descobrimento e a minucia que Dr. Hannibal fez da mente de Clarice, me vejo assim agora. Completamente despisto e exposto por esse filme.
Cidadão Kane
4.3 992 Assista AgoraTristemente ou não, eu sabia o que era Rosebud antes mesmo de ver o filme, havia todo o hype em cima do ''melhor filme já feito'' e apenas pensava: essa porra de contexto vai foder muito minha visão do filme.
Não fodeu.
O filme é sobre um homem ambicioso, grandioso e quer se espalhar pelo mundo e ser amado por todos. Tem opiniões sobre tudo, compra tudo que há no mundo, consegue manipular opiniões sobre uma cantora fraca, e apensar de tudo isso, restou apenas um nome em sua mente, que afinal, era
um trenó. O símbolo de uma infância perdida que lhe foi arrancada prematuramente, a lembrança de uma época onde não havia opiniões para ter, políticas para se meter, relações complexas para se envolver. Ele era apenas e somente uma criança, sem preocupações, apenas se preocupando com algo singelo e, finalmente, significativo como um trenó. Um garoto, não é um homem imerso em seus paradoxos. Todos sentimos a falta dessa pequena peça.
É um homem era mostrado sempre grudado e aos berros com outras pessoas, sempre envolto de pessoas, porém no final era mostrado distante... Sozinho... Um homem solitário que pela sua grandeza de sempre estar um passo a frente, de querer sempre tudo da sua maneira, afastou cada pessoa em sua vida. Afinal, fora um criança arrancada de seu lar, só queria amor. Só queria atenção. E também um homem que parecia querer ser visto, mas não conhecido; gostado, mas não amado, sempre, de alguma forma, mantendo distância com todos.
O filme mostra a extensão de um homem. Não há como resumir o homem em apenas uma palavra, há várias peças complexas e densas formando o que é um homem é, desde sua vida política achando que liberdade é um presente até objetos sem valor. Em um homem há peças faltando, peças importantes que são a sua base.
E no final, é um belo estude de personagem. Analisa os aspectos de suas amizades, seus amores, suas opiniões políticas, sua vida social, no fim é sobre o Cidadão Kane, o Homem Kane. Não sobre Rosebud.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraEu queria ter visto o filme sem saber que era uma alegoria bíblica, pois queria saber como eu iria reagir ao filme, provavelmente iria boiar e MUITO. É complicado esse filme, mais alguém acha que a significância/entendimento do filme se sustenta muito em ser uma analogia bíblica? E acha que se uma pessoa ver o filme sem saber disso, ela não irá aproveitar 100%?
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraVoight Kampff
Pelos inúmeros comentários sobre o quão reflexivo e abrangente era o filme, levei-me a pensar que tinha uma história absurdamente complexa, porém não. Eu diria que é uma história simples contando coisas complexas e reflexivas.
Primeiramente que é um filme atmosférico. A trilha sonora, o cenário, os sons do ambiente, tudo. Tudo nos dirige para um ambiente inóspito, de melancolia e solidão. Ou você sente conexão ou tédio. Eu senti conexão. Me imergi naquela cidade, me vi pelas becos, nas luzes em meio a um ambiente escuro e opressor, me vi nessa cidade de um futuro distorcido. Me senti na pele do inexpressivo Deckard e do emotivo Roy.
É como se o filme transmitisse essa ideia de uma luz frágil perante a extensa escuridão, como brasas prestes a virarem cinzas dançando na penumbra.
O filme é sobre o Roy. Ele se transforma na alma do filme e vira o centro emocional, faz com que a gente se importe com ele rapidamente, nós vemos a morte generalizada e o fim sendo para todos pelos seus olhos... Roy é humano pra caralho. Sente medo da morte, quer viver, sente raiva, euforia, tristeza. Pena que se foi com a chuva.
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraTalvez vocês gostem do filme, talvez não, talvez o entendam ou não. Talvez o que eu escreva faça sentido, ou não.
Fragmentado é um filme estranho e ao avesso de super-herói. Uma espécie de Shazam? Seria ''O Horda'' a vontade inerente de um garoto, que sente muita dor, de virar um super-herói e assim poder se proteger? Com inúmeras personalidades criadas a partir da necessidade de Kevin ao longo do tempo, as mesmas ao passar do tempo a fim de protegê-lo começam a consumi-lo, afinal, Kevin é fraco. Incrivelmente o filme é sobre Kevin, mas ele mal aparece no filme, é sempre citado e todas as ações se desdobram a partir dele, porém nunca é ele a tomar decisões ou tomando qualquer ação, a única ação que ele toma não é uma ação, é um pedido para alguém agir por ele.
Night tem uma visão interessante dos super-heróis, são seres desassociados, diferentes tentando sobreviver em um mundo heterogêneo, seja tentando se camuflar, seja provando ao mundo a sua existência. E pela repressão ao mundo, tem uma mente extremamente frágil e... Fragmentada. É incrível ver que existem pessoas dentro de Kevin, cada um com uma peculiaridade independente e ver James McAvoy transitar entre elas é um show, é o grande espetáculo do filme.
Kevin esteve vivo mas não agindo, reagindo. Ele mantinha os fragmentos juntos,
trancafiados e enjaulados. Agora ''dormindo'', podem ir andar livremente como feras. A Besta os salvou do confinamento. A sala foi quebrada.
Além do ''Kevin'', temos a Cassey que olha... É intrigante. Diferente do Kevin que não ''existe'' no filme, a Cassey toma a ações e decisões, o background dela não é exposto didaticamente, é colocado de um jeito não linear e nada explicativo para nós, nada sobre ela fica claro, nada sobre ela fica objetivo, são apenas ondulações e imagens soltas. A verdade é: ela sentiu muita dor. E dor parece ser um definidor de águas aqui.
Só eu me incomodei com a resolução? Entendo que o filme construiu isso.
O fato dela encarar a situação de forma diferente, usar mais roupas que as duas meninas, ter o instinto de sobrevivência de como falar com quem, entretanto soou Deus Ex Machina o fim. Porém entendi a ideia por trás. E outro, o fato do trauma, A dor que o filme tanto frisa vir de um abuso é... Desgastante, é usado em exaustão nos filmes e afins :/
A imersão do suspense funciona, é interessante imaginar o quão singular e estranho é a situação que as personagens se metem, porém não sei dizer que a reação delas aos fatos são necessariamente interessantes de se ver... O filme ter se construído de uma forma ''científica'' e depois ter jogado isso no lixo incomoda (eu vi Corpo Fechado) foi algo um abrupto demais, por mais que o filme textualmente fale sobre ele, em toda a sua atmosfera ele não parece comportar essa ''irrealidade'', enfim... Mas fiquei feliz com esse universo do Night.
Atômica
3.6 1,1K Assista AgoraPersonagem fodona que senta a mão em geral, porém também apanha? Sim
Trilha sonora fodida de boa combinando direitinho com as cenas do filme? Sim
Fotografia gélida, fria transmitindo aquele ar de ambiguidade/incerteza remetendo ao contexto histórico? Sim
UM FUCKING PLANO SEQUÊNCIA DE AÇÃO DAHORA? SIM
Entretanto o roteiro é fraco e até diria, confuso. Parecem expor a história quase como um power point, deixando a história chaaata., ainda por cima enfiam plot twists a fim de trazer uma reação de NOSSA e mesmo assim continuar absurdamente desinteressante. A personagem da Sofia Boutella é absurdamente desperdiçada e é somente uma ferramente de roteiro, eu ficava nauseado ao vê-la entrar em cena. E por mais que tenha a atuação do McAvoy, o David também não soa interessante mesmo que seu personagem represente um ponto interessante tanto na narrativa quanto na temática. Os pontos positivos saltam aos olhos tanto quanto a paleta de neon que a gente até ignora a história meh.
Logan Lucky: Roubo em Família
3.4 254 Assista AgoraIronicamente o mais interessante aqui é como o roteiro justifica suas ''conveniências'' de roteiro.
A Qualquer Custo
3.8 803 Assista AgoraHell or High Water - A Qualquer Custo: Secalma e o marasmo doentio
Que filme, amigos, que filme. Estou ouvindo a trilha sonora desse maldito filme enquanto escrevo isto.
Hell or High Water é uma espécie de western moderno onde dois irmãos em meio à um alastrante status quo de pobreza e miséria começam a assaltar bancos para sobreviver e, como dizem, limpar essa doença chamado pobreza que se proliferou em seus genes.
É interessante ver a relação dos irmãos, é uma relação fraterna, conflituosa e até emblemática. Dá para perceber o amor nutrido pelo dois, a afeição que socos, cuspidas e empurrões ambos se fizeram num ambiente sangrento e hostil, porém nem essa criação os deixou esgotados de um certo sentimentalismo (porém com um vá se foder no final de uma palavra dócil fhdusfsd). Conflituosa ambos parecem seres diferentes nascidos em um mesmo habitat, o primeiro irmão esperto, paciente, sempre tentando fazer os roubos do modo mais cometido e sistemática possível; enquanto o outro é instável, selvagem, aleatório. Um age de modo fraternal pensando no futuro de sua família e o outro apenas segue para mais um roubo de uma maneira instintiva. E mesmo nessa dicotomia, ambos focam no objetivo e conseguem aprender um com outro, compartilhar trejeitos, afeições e maneiras de agir. Imagino como um símbolo nesse selvagem marasmo e hostil ambiente formado em torno de ambos, cada um teve uma escolha perante o mundo e em como enfrenta-lo. O primeiro irmão luta constantemente para fugir da pobreza, dessa dita doença ou ao menos resguardar os filhos disso e o segundo irmão vive nisso, aceitou isso e continua a seguir de qualquer forma.
Em contrapartida temos os dois Patrulheiros um idoso e o outro mestiço numa relação politicamente incorreta, amistosa. Nos insultos do patrulheiro para com o mestiço, percebemos aquele tom conflituoso e não-gentil, porém até nisso podemos observar a camaradagem entre eles. Um Patrulheiro velho a um quê de se aposentar que sobreviveu a muita coisa e um mestiço novato em meio a um ambiente racista. O patrulheiro análogo ao segundo irmão e o mestiço ao primeiro irmão. Semelhantes, com uma relação amigável entre si, uma história e, olhe, ambos de lados opostos. As duas duplas.
- Quem é o inimigo?
Vendo as reações irônicas, secas e agressivas dos habitantes das cidades, pode-se notar uma certa tensão se proliferando entre eles, lados opostos, conflituosos. Uma dupla apenas lutando para sobreviver, a outra apenas fazendo a lei e nisso as pessoas em meio disso só reagem e tentando sobreviver também, e nisso tudo quem é o culpado? Todos apenas lutando a cada hora para sobreviver, para fazer o seu e em pano de fundo a pobreza, a decadência que pegou a todos. O Patrulheiro decadente, o mestiço em meio ao racismo, um rapaz feroz que viveu num marasmo com seu irmão que só quer um lar e dinheiro para família. Todos sofrendo constantemente. Sem querer justiçar, logicamente. Apenas conjecturando. A culpa não parece desaparecer, mas diluir entre todos, todos são vítimas das circunstâncias e também lobos ferozes. A culpa não diminui, as mortes que causou e os roubos não assombraram menos. Toda a estrutura caótica e cruel recai sobre todos, a garçonete quer ter um teto para filha... Irmãos que nasceram na pobreza, os cidadãos mortos. É vago, eu sei. Mas penso como somos inimigos de tudo e todos constantemente lutando para sobreviver, a inimizade sendo até inócua e vazia sendo tragada até nós de forma forçada e sem escolhas, nascemos inimigos dos outros, porém lutando com a nossa escolha para escolher quem não é. O filme em meio a tudo isso tenta delinear as vítimas, os inimigos, os caçadores. Como as vítimas viram caçadores para não serem mais vítimas e nisso fazendo outras vítimas.
- Um mundo falido
Um mundo falido sujo, isso que mostra o filme. Com cor sépia, desbotado, desgastado. Cada ambiente, cada lar, bar é velho, sujo caindo aos pedaços destruído pela falência, por um lugar quebrado. Os rostos e roupas constantemente sujas dos protagonistas, o olhar vago para longe como quem fita um sonho distante e inebriante. Todos sempre tentando de alguma forma livrar-se dessa doença chamada: pobreza. Quem já passou fome, odiou-se por não ter dinheiro nem para alimentar os filhos, a miséria correndo, pobreza até parece algo mais que um estado social. Descendo da cinematografia até a trilha sonora, o tom selvagem e de western sem lei corre por toda a cidade que só tenta se manter enquanto os indivíduos dela também tentam. Um ruído. Um silêncio. Um olhar para o nada. Somo todos uns fodidos que fodem e só sabem se foder. Tiroteios, cidades inteiras te perseguindo, olhos com olheira e aquele olhar sofrido de quem já nasceu e respirou a pobreza. E ainda vemos casas a venda, financiamento, tentativas absurdas para tentar sobreviver a uma crise generalizada. Nós aqui do Brasil que o diga. Somos apenas pessoas decadentes à procura de uma decência sequer, principalmente para nossos filhos.
O Rei da Comédia
4.0 366 Assista AgoraUm homem com o nome prenunciado incorretamente diversas vezes, a obssessão pelas ideias fixas de fama e validação e sua "indiferença", ignorância a qualquer pensamento que contrarie sua visão idealizada de si mesmo, Rupert Alguma Coisa percorre obcecado o ideal de ser Rei por uma noite. Como um Rei Pedinte (ala Viserys) percorre uma trajetória cínica e irônica numa pele de cordeiro de comedia, que na realidade, mostra-se como uma drama do homem e sua importância e/ou insignificância perante o mundo.
Interessante observar que Rupert não se desenvolve tampouco muda no decorrer da drama, como sua obsessão é fixa, inalterada. Alimentando mais a dicotomia de que se és perpetuamente rei ou idiota, sem espaços para alterações ou ideias mais flexíveis.
Pontos como o trabalho duro, honesto e sem atalhos, a obsessão tanto pela fama como por pessoas famosas, a constante busca pela validação e reconhecimento, a fantasia doentia nublando outros viés. O filme é lento e tenta salientar e pontuar a personalidade estranha e terrivalmente persistente de seu protagonista, porém eu seu final, de fato, vislumbramos ironicamente e efemeramente a ação de um rei, a grandiosidade fugaz de quem, sabe, um eterno idiota.
Como dizia Racionais MC's:"Viver pouco como um rei ou muito, como um Zé?"